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segunda-feira, 31 de março de 2025

Cobra Spell: Ainda Bem que a Viagem no Tempo Existe na Música

 


Nesta era com a predominância das redes sociais fazendo parte do nosso cotidiano, quase que como uma extensão dos nossos corpos, muitas e muitas bandas clamam ter a capacidade de "trazer de volta o som dos anos 80". 

Não somente isso, mas há uma consciência coletiva em se contentar sendo "bandas meme", onde a preocupação com um som polido e com algum grau de qualidade real dá lugar a vídeos bestificados cuja única intenção é colecionar visualizações com um humor direcionado a pessoas com um Q.I. de um dígito, minando assim o conceito de "valor".

Felizmente, este não é o caso aqui, pois a COBRA SPELL é a filha de Sônia Anubis (mais conhecida pela sua participação na BURNING WITCHES antes mesmo de ter 20 anos de idade, e por ter feito parte da formação do grupo brasileiro de Death Metal CRYPTA), e seus atos traduzem um grau de educação musical com referências de quem entende aquilo que faz, como Yngwie Malmsteen e Marty Friedman, então uma boa qualidade é um ingrediente já garantido desta fórmula.


Quando se trata da coisa real, da música em si, não há virtualmente mudanças perceptíveis aqui, visto que este não é um material tão novo assim. E pelo que pôde ser percebido, apenas uma única pessoa entrou no estúdio para o propósito central deste lançamento: a vocalista Kristina Vega.

Substituindo o italiano Alexx Panza há cerca de três anos atrás, seu impressionante alcance vocal se casou perfeitamente com o som da COBRA SPELL, e considerando que esta não é uma alteração trivial, vamos logo apontar os dedos ao elefante na sala.

É comum entre aqueles que comparecem aos shows o questionamento óbvio: como seriam as músicas dos dois primeiros lançamentos com a voz da espanhola? Elas teriam sido escritas visando o estilo Geoff Tate da voz original?

PEGO PELO FEITIÇO. PELO FEITIÇO DA COBRA.

Como ela entrou a bordo antes do lançamento do primeiro álbum de fato (intitulado “666”, no final de 2023), era inevitável que ela teria que tomar a responsabilidade de cantar o repertório disponível nos dois primeiros trabalhos: os EP “Love Venom” (de 2020) e “Anthems of the Night” (de 2022). Tendo um feedback quase unânime do público em relação ao que ela nos ofereceu, a ideia que culminou com este EP se tornou tão comum quanto o nascer do Sol.

Pareceu-me que um ou outro leve efeito foi utilizado nas partes vocais, ou talvez seja apenas impressão minha. A questão aqui é que o conteúdo presente nos dois primeiros EPs possuem alguma diferença quando postos numa comparação direta com o álbum “666”, já que a sensação “Album-oriented Rock” (doravante conhecida como AOR) está mais presente nos dois primeiros casos. 

Deve-se frisar que eles foram publicados de maneira independente (assim como este), sendo assim, sem envolvimentos de gravadora e com mais liberdade criativa. No momento em que ouvi “FLY AWAY” pela primeira vez, fiquei convencido de que ela é remanescente dos trabalhos anteriores antes da assinatura com a Napalm Records.



Suas letras não irão ganhar nenhum prêmio, só que “letras” não são, e nem deveriam ser o tópico principal em análise numa música, ao menos é o que eu defendo. Seu conteúdo sonoro sim, tanto que ela tem um solo tão intenso que é capaz de se comunicar com o próprio núcleo da sua alma, sendo um testamento do poder de composição da líder holandesa (mais sobre isso mais tarde).

E é por estas e outras razões que “Anthems of the Venomous Hearts” se mostra um lançamento interessante, mesmo que todas as faixas presentes nos EPs anteriores não tenham sido agraciadas aqui (até “THE MIDNIGHT HOUR”, que contou com um clipe, foi guilhotinada). Pode ser também que a existência disso aqui signifique um orgulho pelas primeiras canções feitas pela COBRA SPELL, quem sabe? Tendo dito isto, analisemos o arsenal aqui presente.
 
OS ANOS 80 ESTÃO VIVOS E BEM, MUITO OBRIGADO

"FLAMING HEART", naturalmente, ganha os holofotes deste lançamento. Anteriormente disponível apenas via mídia digital, é aqui que finalmente a canção está presente em formato físico, para os aficionados em colocar as suas mãos em discos. "FLAMING HEART" carrega a alma de uma balada dos anos 80, pesadamente influenciada por DOKKEN e VIXEN, e é uma música que não soaria fora de lugar numa trilha sonora de um filme da época a qual presta homenagem. 

A força pela qual ela extrai é capaz de te deixar com um senso de nostalgia por algo que você não experenciou. Só que você esteve lá, porque há memórias escondidas deste momento localizadas nos recessos do seu coração.


 
"MOERU KOKORO" chega a ser a única novidade marcando presença, só que é exatamente a exata mesma coisa, com a diferença de ter letras em japonês, demonstrando o leque de habilidades que a vocalista Kristina Vega tem em seu arsenal em um idioma tão complicado para sequer ser pronunciado para a população ocidental. 

Parando para pensar, sua inclusão dá um toque internacional à discografia, de uma banda que já contou com membros de vários países de uma vez só (incluindo o Brasil, na forma da ex-guitarrista Noelle dos Anjos, cuja contribuição engrandeceu bastante a banda espanhola).
 
Uma curiosidade: em um vídeo de anos atrás postado nas redes sociais pela própria Sônia, ela revelou que POISON BITE foi composta em meia hora, no seu quarto. E certamente ela foi escrita após uma maratona ao estilo Netflix de ROCK GODDESS, já que a influência aqui é clara, somada com a performance mais enérgica e teatral de todo o repertório na sua versão ao vivo (quem já viu um show da COBRA SPELL sabe muito bem do que estou falando com isso aqui).

Não é tão recomendável ouvir “ACCELERATE” enquanto dirige, já que o(a) motorista corre o risco de alcançar a velocidade dos carros da franquia de videogames F-ZERO: afinal, só vale à pena se ultrapassar a marca dos 666 km/h, o que não impede dela ser beneficiada com os agudos de Kristina.


Alguém poderia achar que “SHAKE ME” é uma inclusão um tanto quanto aleatória, mas há um motivo simbólico para isso: a canção inteira é um elogio ao MÖTLEY CRUE, notadamente de “DR. FEELGOOD”, o que remete àquela menção sobre as raízes AOR vindas de “Love Venom” e de “Anthems of the Night”. Embora ela não seja tão memorável quanto as 3 outras entregas do “Love Venom”, ela ainda assim deixa a sua contribuição, em especial pelo seu refrão relativamente cativante.

HINOS NÃO SÃO TEMPORÁRIOS, SÃO PASSADOS DE GERAÇÃO A GERAÇÃO

Desnecessário dizer que ADDICTED TO THE NIGHT é um dos principais chamativos, usada geralmente nas apresentações ao vivo para finalizar os shows. Há uma verdade revirada em pedras de que se você produz um conteúdo ao ponto do destinatário responder com lágrimas (não de tristeza, mas de alegria), então o título de "artista" deixa de ser uma massagem de ego e se torna legítimo. O que é precisamente a descrição do dicionário para o interlúdio da faixa acima. 

Tocada em sua totalidade somente em shows, aqui vemos o motivo de Sônia Anubis ser um dos nomes vistos com entusiasmo até mesmo para os ouvidos cansados de pessoas com décadas de experiência e que costumam rejeitar o novo. 

É um solo executado lindamente com uma sinergia entre humano e instrumento, ao ponto da Sônia conseguir extrair um peso sentimental da sua Jackson, característica esta vista em várias ocasiões pelo ilustre Chuck Schuldiner, do DEATH, por exemplo. Então se você já se questionou se uma guitarra pode chorar, este é o momento em que você encontrará a resposta desta pergunta tão complicada.

 
Então, no final das contas, o que você recebe é um trabalho divertido, melódico e que carrega a herança de alguns dos fundadores do gênero ao qual a banda faz parte. Apesar de um grupo como a COBRA SPELL estar em perigo constante de ser acusado de uma carência de originalidade, abordá-los dessa maneira é uma mentalidade errada. 

Fica claro que o quinteto deseja prestar homenagens aos seus "heróis" dos anos 80, assim como utilizar esses ensinamentos ao trazer algo fresco para a mesa com uma roupagem atual. Ajuda com o fato de que a produção como um todo possui uma "mordida venenosa" bem moderna.

Aqueles que procuram uma mescla de Heavy Metal tradicional com Hard Rock sem ser super complicado, uma performance vocal capaz de impressionar quem tem ouvidos veteranos no ramo e solos da variante técnica “na medida certa” se sentirão em casa aqui.

Algumas pessoas precisam de drogas para sentirem a adrenalina necessária em fugir dos problemas da vida, ainda que temporariamente. Mas se você só precisa se alimentar com um som que soletra P-A-I-X-Ã-O para alcançar o mesmo objetivo, então a COBRA SPELL é exatamente o que o médico recomendaria.

Destaques principais: “Flaming Heart”, “Addicted to the Night” e “Poison Bite”

Placar: COMPRE

Texto: Bruno França 
Edição/Revisão: Caco Garcia 
Fotos: Divulgação 


Cobertura de Show: Hard ‘N Heavy Party – 22/03/2025 – Manifesto Bar/SP

No sábado, 22 de março, o Manifesto Bar em São Paulo foi palco de mais uma edição memorável da Hard N’ Heavy Party. Desde seu retorno no primeiro semestre de 2024, o evento tem trazido grandes nomes do Hard Rock, tanto do passado quanto da atualidade, como Robin McAuley, John Corabi, Erik Martensson e Adrian Vandenberg. A última edição contou com um line-up de peso, incluindo os vocalistas Ted Poley, Chez Kane e a banda inglesa Midnite City. 

A casa, que em breve mudará de endereço, abriu suas portas pontualmente às 20 horas, recebendo um público expressivo para as apresentações da noite. Com o tempo, o local foi se enchendo, o que era esperado, já que quase todos os ingressos foram vendidos. 

Os organizadores do evento, Animal Records e DNA Rock Events, ajustaram o cronograma algumas horas antes do início dos shows. A banda Midnite City, que estava programada para ser a segunda atração, acabou abrindo a noite, e essa mudança se mostrou acertada. 

Com um som que combina Hard Rock intenso e melódico, a banda, formada em 2017, surpreendeu tanto os novos ouvintes quanto os fãs de longa data. O setlist incluiu seis músicas do álbum mais recente, In At The Deep End, que, segundo o vocalista Rob Wylde, é o melhor trabalho da banda até agora. O show começou com “Ready To Go”, seguido por “Atomic”, que aumentou ainda mais a energia inicial. O público também pôde ouvir novas faixas como “Girls Gone Wild” e “Someday”, onde Rob convidou todos a cantarem juntos. Mesmo sendo uma balada, “Hardest Heat Break” manteve a energia alta, e os fãs acenderam as lanternas de seus celulares em resposta ao pedido de Rob.

Rob, que também é conhecido por seu trabalho com o Tigertailz, se destacou ao interagir com o público, cumprimentando os fãs e perguntando se estavam gostando do show. Os outros membros da banda – Miles Meakin (guitarra), Josh ‘Tabbie’ Williams (baixo), Shawn Charvette (teclado) e Ryan Briggs (bateria) – também se destacaram em suas funções, contribuindo com backing vocals vibrantes em várias canções. À medida que a apresentação avançava, mais pessoas chegavam ao Manifesto. 

Aqueles que chegaram um pouco mais tarde puderam curtir pedradas como “Raise The Dead”, “Vampires” e “All Fall Dawn”. No entanto, foi em “Can’t Wait for the Nights” que a banda conquistou completamente o público, que respondeu com o tradicional ‘ole, ole’, e Rob recebeu uma camiseta da Seleção Brasileira de Futebol de um fã. O show foi encerrado com as perfeitas “Give Me Love” e “We Belong”, finalizando com chave de ouro essa estreia da banda no Brasil.

O Midnite City despertou o interesse de quem não conhecia bem o grupo, consolidando-se como um dos melhores nomes do gênero atualmente. O feedback do público foi extremamente positivo, deixando a esperança de um retorno em breve. Rob até comentou que o público brasileiro é o melhor do mundo.

A próxima atração da noite, que também chegou diretamente do Reino Unido junto com o Midnite City, foi a incrível Chez Kane. Ninguém esperava que a cantora retornasse ao Brasil tão rapidamente, menos de um ano após sua apresentação na edição de retorno da Hard N’ Heavy Party. No entanto, devido ao grande sucesso do show anterior, sua volta foi mais do que bem-vinda, deixando-a extremamente feliz.

O show foi quase idêntico ao primeiro, com a mesma banda de apoio: Bruno Luiz (guitarra), Bento Mello (baixo), Gabriel Haddad (bateria) e Flavio Salin (teclados), que também acompanhariam Ted Poley na sequência. Desta vez, o público foi ainda maior, e aqueles que não tiveram a chance de vê-la anteriormente puderam vibrar, dançar e pular ao som de “Too Late For Love”, “All Of It”, “Get It On”, “Rock You Up” e “Rocket On The Radio”, todas capturando a verdadeira essência do Hard Rock dos anos 80 e tiradas dos seus únicos dois álbuns: o homônimo, de 2021, e o “Powerzone” de 2022.

Além de seu talento vocal, Chez se destacou por sua beleza, presença de palco e, principalmente, carisma e atitude. Em “Ball N Chain”, ela desceu do palco para cantar com os fãs e abraçar aqueles que estavam próximos, repetindo o que fez no show do ano passado. Em “Better Than Love” e “Love Gone Wild”, ela contou novamente com a participação do talentoso Bruno Sá, que tocou saxofone em ambas as músicas. É importante destacar que essa colaboração só acontece no Brasil, já que em suas apresentações na Europa não há saxofonista, o que é um motivo de orgulho para nós.

No final de seus shows, Chez sempre apresenta um cover de alguma banda que admira. Desta vez, ela escolheu “Dream Warriors”, do Dokken. Assim que Gabriel Haddad começou a tocar, o público foi à loucura com as melodias que iniciam esse clássico. Em seguida, “No Easy Way Out”, de Robert Tepper, famosa pela trilha sonora do filme Rocky Balboa, encerrou a apresentação de forma grandiosa.

A cada dia que passa, Chez Kane vem conquistando cada vez mais seu espaço como uma das melhores vocalistas femininas da atualidade. Com tanto talento e capacidade, ela certamente se tornará uma das cantoras que marcara gerações.

Finalmente, a tão aguardada atração da noite foi recebida com grande entusiasmo. Após dezoito anos de espera, Ted Poley, a voz original do Danger Danger, trouxe alegria a todos que ansiavam por seu retorno. Assim que ele subiu ao palco e começou a cantar "Horny S.O.B.", o Manifesto se transformou em uma verdadeira festa, com o público e Ted transbordando de euforia. Foi uma maneira perfeita de iniciar o domingo.

Com sua fama adquirida no Danger Danger, não poderiam faltar clássicos como “Monkey Business”, “Crazy Nites”, “Shot of Love” e “Feels Like Love”, vindas do homônimo de 1989 e do “Screw It” (1989), respectivamente. Para não passar batido as coisas mais recentes, “Youngblood”, do Tokio Motor Fist, também se fez presente nesse começo show. 

Mesmo com o passar dos anos, Ted demonstrou que ainda possui muita energia. Embora sua voz não seja mais a mesma de antigamente, isso foi compensado por sua presença magnética, bom humor e empatia, que ele exibiu durante toda o show. Se a aposentadoria está nos seus planos, conforme foi dito no anuncio, ele deveria repensar nessa decisão.

Assim como Chez Kane, Ted também fez questão de se conectar com o público, e um momento marcante foi em “Don’t Walk Away”, o maior sucesso da carreira do Danger Danger. A participação de Bruno Sá, com suas linhas de saxofone, deixou a música ainda mais encantadora. A emoção tomou conta nesse instante, afinal estávamos diante de uma das melhores baladas do gênero, e poder cantá-la ao lado da voz original foi uma experiência inesquecível.

A adrenalina só começou a diminuir quando Ted apresentou uma sequência acústica, tocando apenas com seu violão. Ele interpretou “Love”, do Tokio Motor Fist, além de “F.U.$” e “That’s What I’m Talking About”, as únicas faixas do álbum Revolve (2009), que marcou seu retorno ao Danger Danger. No entanto, a animação rapidamente voltou com as músicas “Bang Bang” e “Beat the Bullet”, que prepararam o público para mais surpresas até o final do show. 

Em “I’m Still Thinking About You”, outra linda balada do Danger Danger, Chez Kane se juntou à banda, tornando a performance ainda mais emocionante com sua voz. Ela permaneceu no palco para “Naughty Naughty”, onde, de forma surpreendente, toda a galera do Midnite City apareceu para cantar junto, criando um momento festivo na apresentação. Mas quem pensou que tudo havia terminado se enganou, ainda houve muita energia em “Don’t Blame it On Love” e no cover de “Born To Be Wild”, do Steppenwolf, que contou com a participação do vocalista Jack Fahrer, do Nite Stinger, enquanto Ted arrasava nas guitarras.

Certamente, esta foi a melhor edição da Hard N’ Heavy desde seu retorno, e muitos concordam com essa avaliação. Ao final de cada edição, surge a expectativa sobre quem estará presente na próxima, já que não é todo dia que temos a oportunidade de ver de perto os grandes nomes do Hard Rock. Por isso, a ansiedade já começa a crescer para o próximo evento, que deve ocorrer no semestre que vem.


Texto: Gabriel Arruda

Fotos: Edu Lawless


Realização: DNA Rock Events

Press: ASE Press


Midnite City – setlist:

Outbreak

Ready to Go

Atomic

Girls Gone Wild

Someday

Hardest Heart to Break

Summer of Our Lives

Raise the Dead

Vampires

All Fall Down

Can't Wait for the Night

Give Me Love 

We Belong


Chez Kane – setlist:

I Just Want You

Too Late For Love

All of it

Nationwide

Better than Love

Love Gone Wild

Ball n Chain

Get it On

Rock You Up

Powerzone

Rocket on the Radio

Dream Warriors (cover do Dokken)

No Easy Way Out (cover do Robert Tepper)


Ted Poley – setlist:

Horny S.O.B.

Youngblood

Monkey Business

Crazy Nites

Shot of Love

Feels Like Love

Don't Walk Away

Love 

F.U.$.

That's What I'm Talking About

Bang Bang

Beat the Bullet

I'm Still Think About You

Naughty Naughty

Don't Blame it On Love

Born to Be Wild (cover do Steppenwolf)

sexta-feira, 28 de março de 2025

Cobra Spell: Novo EP "Anthems of the Venomous Hearts" é Lançado Hoje

Após um anúncio surpresa no último dia 20 nas redes sociais (apesar de ter sido revelado cerca de 1 hora e meia antes, pela plataforma Bandcamp), a banda baseada na Espanha COBRA SPELL lançou ao mundo hoje, dia 28 de março de 2025, seu mais novo trabalho: o EP intitulado "Anthems of the Venomous Hearts".

Desde que a vocalista Kristina Vega se juntou ao quinteto no começo de 2022 e substituiu o vocalista original, o italiano Alexx Panza, uma regravação com o seu vocal das músicas lançadas antes do 1º álbum completo (batizado de "666", em 2023) tem sido um desejo constante entre os ouvintes. E agora, isso finalmente se tornou realidade.

O novo EP traz consigo uma compilação dos dois primeiros lançamentos da COBRA SPELL: "Love Venom" (2020) e "Anthems of the Night" (2022), revigorados com a voz e o poder marcantes de Kristina, trazendo um ar fresco para as canções dos dois primeiros EP.

Um destaque tão importante quanto é a presença de uma música muito querida por quem acompanha a COBRA SPELL: "Flaming Heart". Antes presente somente via mídia digital desde o final de 2022, pela primeira vez ela está disponível em mídia física. Como um "bônus", há a inclusão da versão em japonês dela: Moeru Kokoro.

Respeitando o formato, o restante das faixas ficou de fora, sendo estas "Come Out Tonight", "The Midnight Hour" e "Steal My Heart Away".

O EP pode ser adquirido por mídia física no site oficial da banda pelo preço sugerido de €25 (cerca de R$155), ou por mídia digital nas principais plataformas, como o Spotify, Deezer e Bandcamp (nesta, via download, pelo preço sugerido de €5,99; cerca de R$37,19).

Ainda não há confirmação do seu lançamento aqui no Brasil.

A COBRA SPELL é formada por Kristina Vega (vocais), Sônia Anubis (guitarra), Hale Naphtha (bateria), além de Adri Funérailles (guitarra em shows) e Bel Mena (baixo em shows).

Texto: Bruno França
Edição: Caco Garcia 
Fotos: divulgação

Site Oficial 

Faixas:

1) Poison Bite

2) Addicted To The Night

3) Shake Me

4) Flaming Heart

5) Moeru Kokoro (“Flaming Heart” em japonês)

6) Accelerate




terça-feira, 25 de março de 2025

Cobertura de Show: Garbage + L7 – 22/03/2025 – Terra/SP

No último sábado, 22 de março, o Terra SP recebeu uma noite histórica para os amantes do rock alternativo. O evento reuniu três gerações de mulheres poderosas no palco: a banda brasileira The Mönic, L7 e Garbage. Com setlists recheados de hinos, performances energéticas e interação intensa com o público, a noite foi um verdadeiro presente para os fãs.

Vale lembrar que tanto o Garbage quanto o L7 passaram recentemente pelo Brasil. O Garbage abriu a turnê do Foo Fighters em setembro de 2023, enquanto o L7 fez uma série de shows solo pelo país em outubro do mesmo ano. Dessa vez, ambas as bandas retornaram para uma apresentação exclusiva, proporcionando uma experiência mais intimista e voltada diretamente para seus fãs.


The Mönic: A potência nacional abrindo os trabalhos

Pontualmente às 19h30, The Mönic subiu ao palco para dar início à noite. Como é comum para bandas de abertura, o público ainda estava tímido e o som parecia estar sendo ajustado, mas isso não impediu a banda de conquistar os presentes. A cada música, Dani Buarque (vocal e guitarra), Alessandra Duque (vocal e guitarra), Joan Bedin (baixo e vocais) e Daniely Simões (bateria) foram trazendo o público para perto, culminando em uma recepção calorosa. No encerramento do set, Dani foi até a galera e abriu uma rodinha na pista premium, garantindo uma resposta entusiasmada e aplausos merecidos. Uma estreia memorável para a banda no palco do Terra SP.



L7: Punk, energia e irreverência

A casa começou a encher de verdade por volta das 20h10, e às 20h32, o L7 tomou o palco. Antes mesmo de tocar um acorde, já foram ovacionadas ao exibir seu logo no telão. A formação atual conta com Donita Sparks (vocal e guitarra), Suzi Gardner (guitarra e vocal), Jennifer Finch (baixo e vocal) e Dee Plakas (bateria).

A baixista Jennifer Finch, enérgica e carismática, não parou um segundo, pulando de um lado para o outro e interagindo com o público. A banda trouxe um setlist equilibrado entre clássicos e músicas mais recentes, sempre mantendo a vibe punk que as consagrou. Durante a performance, perguntaram ao público quem estava vendo o Garbage pela primeira vez, quem via o L7 e quem assistia ambas as bandas. Jennifer brincou, chamando os novatos de "sacrifícios virgens".

A banda abriu o show com “The Beauty Process”, já indicando que a noite seria inesquecível. Logo na segunda música, “Scrap”, cantada por Suzi Gardner, ficou evidente que o público estava totalmente envolvido. Seguiram com os clássicos “Monster”, "Fuel My Fire", "One More Thing" e "Stadium West", que foram recebidos com entusiasmo.

“Andres” também foi super bem recebida e a banda brincou dizendo que o Andres em questão era um homem brasileiro. Ao saudar o público, Donita ouviu um fã gritar “nós viemos só para ver vocês” e respondeu: “Vocês vieram nos ver? Nós viemos tocar rock and roll para vocês!”

“Must Have More” e “Bad Things” deram sequência ao show, e quando a metade do set foi alcançada, a casa já estava lotada. Emendando hit após hit, “Stuck Here Again”,

“Everglade” e “Dispatch From Mar-a-lago” fizeram o público dançar. “Shove” também fez com que grande parte do público levantasse seus celulares para filmar, sendo uma das músicas com mais interação. Mas foi em "Pretend We're Dead" que o público explodiu, cantando e filmando cada segundo. A cantora Luísa Lovefoxxx, do Cansei de Ser Sexy, banda brasileira ícone alternativo dos anos 2000, subiu ao palco na metade da música para cantar junto às suas ídolas. Em "Shitlist", outra das mais aguardadas, todos entoaram os versos em coro. O show foi encerrado com "Fast and Frightening", dedicada "a todas as mulheres".

Essa nova passagem reafirmou o carinho do público brasileiro pela banda e sua relevância no cenário do rock alternativo.




L7 – setlist:

The Beauty Process

Scrap

Monster

Fuel My Fire

One More Thing

Stadium West

Andres

Must Have More

Bad Things

Stuck Here Again

Everglade

Dispatch From Mar-a-Lago

Shove

Pretend We're Dead

Shitlist

Fast and Frightening


Garbage: Elegância e potência sonora

O aguardado show do Garbage estava previsto para as 22h e começou com poucos minutos de atraso, ao som do tema de Twin Peaks. Quando Shirley Manson surgiu no palco, deslumbrante em um vestido verde, a recepção foi ensurdecedora. A formação atual da banda inclui Shirley Manson (vocal), Duke Erikson (guitarra e teclado), Steve Marker (guitarra), Butch Vig (bateria) e Ginger Pooley (baixo).

A abertura com "Queer" já mostrou um público totalmente engajado, que seguiu cantando alto assim como as músicas que deram sequência, "Fix Me Now" e "Empty". Com um palco minimalista, sem grandes cenários ou telões, a banda apostou em um show focado na música e na presença magnética de Shirley. Em um dos momentos mais marcantes da noite, ela exaltou o L7 como "as últimas do seu tipo, autênticas e revolucionárias". 

“The Man Who Rule the World” talvez seja uma das músicas que destoa das demais, um pouco mais lenta e notei que bastante gente não a conhecia. Mas em seguida “Wicked Ways” que teve até um snippet de “Personal Jesus” do Depeche Mode, voltou a empolgar o público. Um dos momentos mais bonitos do set aconteceu em “The Trick is to Keep Breathing” com uma performance de Shirley que tirou o fôlego (piada não intencional com o título da música).

Em momentos pontuais em algumas músicas haviam animações no telão, como em “Wolves”, com jogo de imagens abstratas em preto e branco que ajudaram a climatizar o ambiente. Em seguida, apresentou sua música favorita, “Cup of Coffee” e lembrou que na ocasião de lançamento ocorreu a tragédia do 11 de setembro nos Estados Unidos e que, o álbum (terceiro até então) foi jogado para escanteio. Também aproveitou para apresentar a banda.

O setlist percorreu diversas fases da carreira da banda, com destaque para "Vow", "Special" e "Stupid Girl", que fizeram o chão tremer – literalmente – no camarote. "Only Happy When It Rains" foi um dos ápices da noite, com o público gritando cada palavra e uma introdução lindíssima. “Milk”, também um pouco mais lenta, parecia ser o que o público precisava naquele momento, talvez um descanso para o final épico da noite.

Como a banda é especialista em hits e o seu público na noite era extremamente engajado, “#1 Crush” e “I Think I’m Paranoid” também foram cantadas em coro pelos presentes. 

Mais para o final, "Cherry Lips (Go Baby Go!)" foi dedicada à comunidade trans, reforçando a mensagem inclusiva e progressista do Garbage. “Push It” finalizou a primeira parte da apresentação.

O encore veio com "When I Grow Up", fechando o show com chave de ouro.

Mais de duas décadas depois de seu surgimento, o Garbage segue entregando performances impecáveis e emocionantes, consolidando-se como uma das bandas mais queridas do rock alternativo.


Uma noite memorável

Com um lineup desses, era impossível sair decepcionado. The Mönic mostrou a força dorock nacional, o L7 reafirmou sua relevância com um show enérgico e o Garbage entregou um espetáculo emocionante e coeso. Uma noite para ficar na memória dos fãs que estiveram no Terra SP, celebrando o poder feminino no rock.







Edição/Revisão: Gabriel Arruda

Realização: Liberation MC

Press: Tedesco Comunicação & Mídia


Garbage – setlist:

Laura Palmer's Theme (som mecânico - Angelo Badalamenti)

Queer

Fix Me Now

Empty

The Men Who Rule the World

Wicked Ways (com snippets de "Personal Jesus" do Depeche Mode)

The Trick Is to Keep Breathing

Wolves

Cup of Coffee

Vow

Special

Stupid Girl

Only Happy When It Rains

Milk

#1 Crush

I Think I'm Paranoid

Cherry Lips (Go Baby Go!) (dedicada à comunidade trans)

Push it

Encore:

When I Grow Up

Cobertura de Show: Atreyu – 20/03/2025 – Carioca Club/SP

 Atreyu em São Paulo: Um show que valeu 25 anos de espera (com suor e donuts!)

Se você estava no Carioca Club na última quinta-feira, 20 de março, sabe que o Atreyu não veio ao Brasil apenas para tocar — veio para fazer história. E, cá entre nós, eles fizeram isso com direito a suor escorrendo “rego abaixo”, donuts voando pelo ar, e uma energia que deixou claro: o metalcore ainda tem muito fôlego (e fãs apaixonados).

A noite começou com um “pré-show” inusitado. Enquanto o público ainda chegava, Brandon Saller, o vocalista que parece ter sido feito para liderar multidões, subiu ao palco e anunciou que, como não havia banda de abertura, a equipe técnica da banda faria um “esquenta” com alguns covers. E não foram covers qualquer: Pantera e Metallica deram o tom, com um fã sortudo cantando “Sad But True” no palco. Para fechar com chave de ouro, Brandon mandou um “I Believe In A Thing Called Love”, do The Darkness, porque, claro, por que não?

Às 21h, com o Carioca Club ainda longe de lotar (culpa da quinta-feira e da agenda cheia de shows em março), o Atreyu entrou no palco ao som de “Sandstorm”, do Darude. Sim, aquela música que todo mundo já ouviu em algum meme ou festa aleatória. E, de repente, o clima de “Summer Eletrohits” deu lugar a um tsunami de metalcore com “Drowning”. A galera já estava cantando no topo dos pulmões, e a energia só aumentou com “Becoming the Bull”, um clássico que fez todo mundo reviver os anos 2000, quando a gente ainda usava MySpace e achava que emo hair era o ápice da moda.

Brandon, que parece ter sido abençoado por algum deus do rock com carisma infinito, não perdeu tempo. Em “The Time Is Now”, ele desceu para a pista, cantou no meio da galera, deu uma passadinha no bar para tomar um drink (sim, isso aconteceu) e ainda voltou para o palco como se nada tivesse acontecido. O cara é um show à parte.

Um dos momentos mais nostálgicos da noite foi quando Brandon reassumiu seu antigo posto na bateria para “Bleeding Mascara”, enquanto o baixista Marc “Porter” assumiu os vocais. A troca de papéis foi tão natural que deu até vontade de pedir bis só para ver mais dessa dinâmica. E falando em nostalgia, o cover de “Like a Stone”, do Audioslave, foi um dos pontos altos da noite. Simples, emocionante e com um ar de despedida, a música fez todo mundo cantar junto, mesmo que com um nó na garganta.

Mas não pense que o show foi só emoção e lágrimas (de suor, claro). O Atreyu mostrou que sabe brincar com o público. Brandon tentou aprender a falar “filha da p***” em português (e quase conseguiu), Travis Miguel mostrou que seu português está afiado (ou pelo menos suficiente para elogiar a galera), e ainda teve parabéns para uma fã aniversariante, que subiu no palco para tirar foto com a banda. Ah, e não podemos esquecer dos donuts que foram arremessados para a plateia — porque, aparentemente, metalcore e donuts são uma combinação perfeita.

O setlist foi uma viagem no tempo, com clássicos como “Ex’s and Oh’s”, “The Crimson” (minha favorita) e “Lip Gloss and Black”, que fechou o encore com chave de ouro. A banda prometeu que não vai demorar 25 anos para voltar ao Brasil, e, depois de um show desses, a gente só pode torcer para que eles cumpram a promessa.

No final das contas, o Atreyu não só fez sua estreia no Brasil, mas também deixou claro por que ainda é uma das bandas mais relevantes do metalcore, que apresentou um dos shows mais divertidos do ano. Com energia, carisma e um setlist que misturou nostalgia e modernidade, eles provaram que, mesmo depois de 25 anos de carreira, ainda sabem como fazer um show inesquecível. E, cá entre nós, a gente já está contando os dias para a volta deles. Atreyu, por favor, não nos façam esperar tanto dessa vez! 



Fotos: Gustavo Diakov (Sonoridade Underground)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: Overload



Atreyu – setlist:

Drowning

Becoming the Bull

Right Side of the Bed

Save Us

The Time is Now

When Two Are One

(i)

Bleeding Mascara

Gone

Ex’s and Oh’s

Like a Stone (Audioslave cover)

Battles Drums

Falling Down

The Crimson

Blow

Encore

Lip Gloss and Black

sábado, 22 de março de 2025

Cobertura de Show: Gutalax – 13/03/2025 – Hangar 110/SP

Depois de quase um ano esperando, os checos do Gutalax finalmente pisaram em solo brasileiro, trazendo seu goregrind repleto de humor ácido e um toque de podridão. O Hangar 110 serviu como cenário para essa experiência de extremo bom gosto, contando com as bandas de abertura Red N’ Hell, representando o Death Metal old school de São Paulo, e os veteranos do underground brasileiro, Imminent Attack, que fizeram seu retorno com um rápido set de crossover após cinco anos de hiato.

Os shows começaram pontualmente às 19h30, com a Red N’ Hell esbanjando seu Death Metal cavernoso, que manteve os espectadores animados, ainda que com algumas rodas de mosh-pit. O som da banda revelava claramente as influências de grupos clássicos como Pungent Stench, Sinister e Asphyx.

A seguir, o Imminent Attack subiu ao palco com um set curto, porém muito enérgico, e o público, já aquecido, comprovou que o corcovar continua bem vivo tanto no underground quanto fora dele no Brasil.

Chegou o momento dos verdadeiros protagonistas da festa. Desde 2010, o Gutalax vem se destacando no cenário goregrind. Embora este gênero aborde temas relacionados ao gore, mutilações e violência, a banda preferiu explorar um viés mais escatológico. Suas canções costumam trazer humor com piadas sobre fezes e referências à cultura pop, como na música "Robocock", que faz uma clara alusão ao clássico filme de ação dos anos 80, RoboCop. Uma curiosidade interessante é que Gutalax também é o nome de um laxante. Para apreciar o show, os fãs se vestiram à caráter com roupas de laboratório, bexigas, vários rolos de papel higiênico e até frangos de borracha, lançados ao acaso quando a banda subiu ao palco do Hangar 110, deixando o público em frenesi.

Com a estreia do icônico filme Ghostbusters, o Gutalax subiu ao palco do Hangar 110 para apresentar sua primeira canção, “Assmeralda”. A partir daí, o caos se instaurou: uma verdadeira hecatombe de objetos voadores, rolos de papel higiênico e pessoas invadindo o palco, enquanto o público se tornava a verdadeira atração da noite, surpreendendo a banda com tanta energia descontrolada.

A confusão tomou conta de toda a apresentação do Gutalax, e diversos convidados especiais se juntaram a eles no palco, como Thiago Monstrinho (da banda Worst) em "Shitbusters", e Fernanda Mattielo (uma fã sortuda que teve a chance de cantar ao vivo com eles) na citada"Robocock", além de uma infinidade de bonecos excêntricos.

Ao final do show, o Gutalax expressou sua gratidão pelo carinho dos fãs e a dedicação de todos que estavam presentes. O evento esgotou os ingressos meses antes da data marcada. Agora, resta saber se o Brasil está preparado para o próximo ataque flatulento dos nossos amigos inusitados.



Fotos: Lara Zugaib (Lado Direito do Palco)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 




Red N' Hell – setlist: 

UFO

Colony Death

A Corpse Putrified

Slaughter

Killing Again

Reborn to Kill


Imminent Attack – setlist: 

Secret of Skin

Rush of Violence

Couch Potato

Saint Madness

Jesus S.A.

Palhaço da Mídia

Massacre

Nova Constituição

Vidas

Abductors

Splact

Defyning Gods

Devils

Elliot


Gutalax – setlist: 

Asswolf

Assmeralda

Nosím místo ponožky kousek svojí předkožky

Shit of It All

Buttman

Šoustání prdele za slunné neděle

Robocock

Kocourek Mourek podráždil si šourek

Diarrhero

Vaginapocalypse

Polykání semena z postaršího jelena

Fart and Furious

Total Rectal

Vykouření dařbujána vietnamského veterána

Shitbusters

Strejda Donald

Nungara: Marcando uma Nova Fase com "North Star"

 

Baseado em Berlin, o trio brasileiro conhecido como NUNGARA lançou recentemente o single North Star em formato de videoclipe, a canção de cunho mais progressista até então e que encerra o EP Reflections in Stillness, lançado em 2023.

A NUNGARA é filha de Noelle dos Anjos, brasileira nascida em João Pessoa, capital da Paraíba, que se mudou para a Alemanha há 10 anos atrás. Completando o trio estão os também brasileiros Murilo Frade (bateria) e Artur Cipriani (baixo).

A líder paraibana é mais conhecida pela sua passagem pela COBRA SPELL (a qual realizou uma turnê na América Latina no ano passado com 9 shows no Brasil), e se mudou para a capital alemã com o intuito de evoluir como musicista. A culminação de tal desejo veio com o nascimento da NUNGARA, no ano de 2019.

Enquanto o mundo inteiro sucumbia diante da pandemia em 2020, Sumauma surgia como o primeiro single, chamando a atenção pelas queimadas na Floresta Amazônica. Eventualmente, o próximo single viria em 2023, batizado de "Moon Swallower", precedendo a chegada no mesmo ano do EP Reflection in Stillness, contendo 4 canções.

NUNGARA significa "igual" ou "semelhante" na língua Tupi-Guarani. A sua mistura de vocais limpos e guturais, além de riffs groovy e elementos do Progressivo, fazem com que a sua identidade e a sua personalidade sejam definidas na cena desde a sua concepção.

Em sua jornada reflexiva sobre a jornada da vida, como a de um viajante solitário na calada da noite, guiado pela Estrela do Norte, a NUNGARA o convida a assistir o clipe, dirigido pela Kumar Productions. Confira abaixo.




Texto: Bruno França
Edição/revisão: Caco Garcia 
Fotos: Andreas Gebhardt
Assessoria: Som do Darma 

Nungara Instagram 

quarta-feira, 19 de março de 2025

Cobertura de Show: Leprous – 13/03/2025 – Vip Station/SP

Não é novidade que 2025 começou sendo um prato cheio pros fãs de plantão. Inicialmente com uma predominância forte de metal extremo, hardcore e punk, o mês de março chegou pra mudar um pouco essa cena, e a gente deve ver essa balança se equilibrando mais.

Um bom exemplo disso é o metal progressivo, que somente este ano contará com nomes como Tool, Opeth, Haken e Maestrick. No entanto, a primeira banda desse gênero a desembarcar no verde e amarelo foram os noruegueses do Leprous, que, em turnê pela América Latina, encerraram sua passagem pelo Brasil ontem (13/03), em São Paulo, em promoção ao seu último álbum de estúdio, Melodies of Atonement, lançado em 2024.

Formada no início dos anos 2000 em Notodden, na Noruega, a banda sempre mostrou sua forte inclinação ao progressivo, indo na contramão dos grandes nomes da cena do país para a época. Ganhando maior visibilidade após serem banda de apoio de Ihsahn (ex-Emperor), o Leprous foi consistente em sua evolução ao longo dos anos, com oito álbuns de estúdio lançados e uma sonoridade que passou a incorporar também elementos mais atmosféricos, alternativos e até eletrônicos.

Realizando o “Come to Brazil” desde 2019 com seu álbum Pitfalls, a terceira passagem do Leprous se deu na VIP Station, em São Paulo, em plena quarta-feira à noite. Porém, com diversos nomes preenchendo as lacunas e horários das casas noturnas essa semana, acaba sendo inevitável se deparar com shows em meio à semana como a única alternativa para uma banda conseguir efetivamente realizar sua passagem pelo país. Ainda assim, pode parecer uma surpresa (ou não) que, já próximos ao horário da abertura das portas da casa, se formava uma considerável fila onde a maior característica em comum entre os presentes era a clara animação para o show.


O início da expiação

Marcada para a subida aos palcos ocorrer uma hora após a abertura, dito e feito: poucos minutos passados das 20h30, a atmosfera se instaurava com o apagar das luzes e o silêncio vindo das músicas do P.A. Aos poucos, entrava o grupo formado por Einar Solberg (vocal/teclados) e Tor Oddmund Suhrke (guitarra), únicos membros fundadores a compor a banda, com Baard Kolstad na bateria, Simen Børven no baixo, Robin Ognedal na guitarra e Harrison White nos teclados.

A atmosfera escura, porém nada silenciosa devido aos mais ávidos fãs que já se colocavam a gritar tamanha animação, pouco a pouco deu lugar às primeiras batidas de “Silently Walking Alone”, estreando a primeira de Melodies of Atonement, com a batida eletrônica extremamente presente que, com muita paixão, chamou a atenção para um dos elementos que com certeza se fez um dos grandes destaques da noite: o envolvente jogo de luzes que agiu de forma extremamente complementar a cada nota e emoção evocada nas palavras de Solberg.

Outro elemento que se fez presente desde o início foi a movimentação de palco extremamente coordenada e ainda assim orgânica, performada pelo sexteto que, de forma tão fluida, se movimentava pelo palco, de lá para cá, subindo nas plataformas da parte de trás, onde ficam a bateria e o teclado, ou nas da frente, ao lado dos microfones, para se projetar para o público. Se na primeira alguns fãs se encontravam mais acanhados, “The Price” entrava na sequência, puxando todos os “AaAah’s” que você possa imaginar em um coro que tomava a VIP Station. Faixa do quarto e aclamado álbum The Congregation, a música trouxe os elementos mais marcantes do prog característico do Leprous, além de já destacar toda a versatilidade de Einar ao assumir também os teclados, conforme as luzes piscantes elevavam ainda mais todo o drama e o peso da música.

“Illuminate” veio a seguir, mantendo as fortes raízes do prog, com toques eletrônicos mais marcantes, aquecendo cada vez mais o público que dançava e cantava ao som do refrão, totalmente cativo pelo carisma da banda como um todo, que, entre acenos, olhadas, sinais e sorrisos, parecia energizada pela conexão com o público. Mas arriscaria dizer que foi com “I Hear the Sirens” que o primeiro grande impacto da noite realmente chegou.

Isso porque, nesta música, a cena foi completamente roubada por Solberg e toda a sua capacidade vocal, indo de sua já bela voz limpa até o mais alto, agudo e dramático momento, no qual a plateia restava apenas ficar ali, parada, observando e totalmente hipnotizada pelo “canto da sereia” — mas que, diferentemente da mitologia, parecia nos afogar nas profundezas de um deleite acústico. Acredito que, independentemente de ser a primeira vez ou não assistindo a uma performance do Leprous, foi naquele momento que a magia fora lançada e a todos nós restava cada vez mais emergir naquela experiência.

Em uma dobradinha do Melodies of Atonement, tivemos na sequência “Like a Sunken Ship”, outra favorita dos fãs do mais recente álbum, que, mesclando as vozes de backing vocals e toda a atmosfera criada pela música, com os “Lá, lá, lá, lá’s” misturados ao refrão, rapidamente entra na mente, até a grande virada da música, com um Solberg agressivo com poderosos drives vocais e o mais forte agudo.


A escolha é de vocês…

A segunda metade do show teve como início uma fala mais longa de Einar para com a audiência, com os devidos agradecimentos pelo suporte e todo o amor pelo Brasil e São Paulo. Brincando com o público a todo momento, o músico questionou sobre o tempo em que o público acompanhava a banda, realmente ouvindo as respostas e interagindo com elas em um descontraído momento que culminou na necessidade de uma decisão: trazendo elementos interativos ao show, a banda deu ao público a possibilidade de escolha entre duas músicas: “Forced Entry”, do álbum de 2011, Bilateral, ou “Passing”, do Tall Poppy Syndrome, o primeiro álbum, de 2009.

Com uma vitória esmagadora por aqueles que gostariam de ouvir algo o mais antigo possível, iniciou-se a música que nos conduziu novamente para uma fase mais prog, com escalas, quebras e harmonias mais complexas e, é claro, um gutural visceral de Solberg. Com todo o arranjo agressivo e mais pesado da música, somado aos diferentes ranges vocais de Einar ao longo da faixa, a grande estrela do drama nesta, mais uma vez, foi a iluminação, que se apagava em completo escuro até a luz quente iluminar novamente a cada grito do vocalista.

Depois de todo o fôlego roubado de nossos pulmões e transferido para Einar, um lindo solo de teclado deu lugar ao início de “Distant Bells”, do álbum Pitfalls, de 2019. Uma música que serviu de perfeito contraponto e recuperação para todos os presentes, onde, àquela altura, o calor principalmente era notável aos noruegueses, que pingavam de suor pelo palco. Outros momentos marcantes deste segundo bloco da apresentação se deram após “Nighttime Disguise”, com “Unfree My Soul”, onde o peso da música se dividiu entre os integrantes, à medida que as dedilhadas iniciais e constantes da guitarra se contrastavam com as intensas batidas na percussão; somados a Baard, White, o tecladista, se unia ao mesmo para literalmente sentar a mão, deixando clara a intensidade da música, ainda somada à harmonia vocal de Einar.

“Below”, outro hit de sucesso da banda, não deixou a desejar, com o público cantando desde suas primeiras frases ao envolvimento magnético e atmosférico dos solos. Mas foi em “Faceless” que tivemos outro — e talvez o maior — ponto alto da noite. Isso porque, antes do início da música, Einar dialogou mais uma vez por um tempo com o público, comentando brevemente sobre o processo de criação e o desafio da gravação da música, que tem como característica ter sido gravada utilizando quase 200 vozes de fãs que participaram de um processo seletivo para terem suas vozes eternizadas.


Até aí tudo bem… Mas como isso se traduziu para a apresentação ao vivo? 

Simplesmente com a aparição de mais de 10 fãs da plateia, selecionados, que subiram ao palco para vivenciar este momento inesquecível junto à banda, no emocionante coro de “Never go alone / Never the unknown”. Foi extremamente emocionante observar tanto o carinho e respeito dos artistas para com o público em geral, mas também a felicidade no rosto dos escolhidos, que ali representavam também os fãs com muito amor e dedicação, de forma ainda a incrivelmente soar tão belamente enquanto um coro, para algo combinado na hora.

De quebra, a banda ganhou ainda uma capivara de pelúcia, marcando praticamente o reconhecimento e a sinalização de que os noruegueses já podem entrar com o pedido de sua dupla cidadania.


Povo do gelo, com calor nas veias

O terceiro e último bloco do show do Leprous serviu como um giro pela discografia da banda, iniciando com “Castaway Angels”, diretamente do álbum Aphelion, música que viaja em uma veia mais pop-rock e mantém a energia mais tranquila tida em “Faceless”, com foco nos belos falsetes de Einar. Veio então “From the Flame”, talvez uma das músicas mais aguardadas da noite, que já elevou a energia e trouxe toda a intensidade performática do show para o alto novamente.

Com destaque para a dupla Tor e Einar, juntamente a um público em coro, os outros integrantes não ficavam para trás, com Baard mostrando toda a paixão em cada batida e virada, Simen chegando próximo ao limite do palco apenas para se projetar o máximo possível para o público, White em um completo transe conforme se dispunha nos teclados e Robin servindo como base, mas sem perder seu brilho.

Retornando às raízes mais progressivas, “Slave” entregou tudo e mais um pouco, com sua tensão inicial através dos teclados que davam aquele peso no peito e sua crescente ao longo da música através dos riffs e das batidas frenéticas da bateria, culminando nos potentes guturais de Einar que marcaram a música até o seu fim, onde, após uma breve despedida, os músicos se retiraram do palco naquele velho protocolo do “estamos indo, talvez voltemos”, que sabemos que sempre voltam.

E não bastou muito! Aos gritos de “Olê, olê, olê, olê, Leprous, Leprous”, tínhamos um breve retorno com direito a cumprimentos da banda para com o público e um Einar tentando puxar um “Olê, olê, olê, olê”, misturado com algumas brincadeiras; a banda entrava em seu encore com “Atonement”, outro dos grandes hits do último álbum, que serviu ainda perfeitamente para esta parte final, ao comando da voz de Einar, juntamente ao backing vocal do restante da banda que, junto ao público cantando o refrão a plenos pulmões, todo o melódico e a força da música dava energia para os músicos irem de um lado para o outro, batendo cabeça, entregando uma performance totalmente intensa.

Fechando com chaves leprosas de ouro, “The Sky Is Red” foi tocada em sua intensidade junto ao jogo de luzes, mas, infelizmente, não em sua totalidade, servindo como uma sobremesa que te sacia, mas deixa com aquele gostinho de quero mais deste grande épico que em alguns momentos parece até flertar com o sinfônico, em uma das músicas que talvez melhor incorpore tanto os elementos progressivos quanto os mais característicos à fórmula atual da banda.

Algo que, de nem de longe, foi motivo para narizes torcidos, afinal, o público aparentava completa alma lavada ao final desta épica noite, que impressionou do começo ao fim pela experiência sonora e de palco, mas, acima de tudo, mostrou que o Leprous, apesar de vir dos países nórdicos, tem um sangue extremamente quente fluindo em suas veias, tamanha a demonstração das emoções no palco e do carinho com o público que se despediu pela terceira vez do sexteto, mas com certeza já desejando um breve retorno.

Com um setlist marcado pela mescla das fases da banda, a apresentação como um todo se mostrou extremamente impactante e nem um pouco enjoativa, mantendo as características clássicas, mas mostrando também sua evolução através do tempo. Com a clara e esperada predominância de Melodies of Atonement, a passagem do Leprous pelo Brasil foi extremamente envolvente, dinâmica e emocionante.


Texto: Pedro Delgado

Fotos: Gabriel Eustáquio

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Estética Torta

Press: Acesso Music


Leprous – setlist: 

Silently Walking Alone

The Price

Illuminate

I Hear the Sirens

Like a Sunken Ship

Passing

Distant Bells

Nighttime Disguise

Unfree My Soul

Below

Faceless

Castaway Angels

From the Flame

Slave

Bis

Atonement

The Sky Is Red