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terça-feira, 29 de abril de 2025

Cobertura de Show: Monsters Of Rock – 19/04/2025 – Allianz Parque/SP

No dia 19 de abril, sábado, o Allianz Parque recebeu mais uma edição do Monsters Of Rock, festival considerado um dos maiores quando o assunto é Rock e Heavy Metal no Brasil. Ao longo de seus 30 anos de história, o evento já trouxe nomes de peso como Kiss, Black Sabbath, Slayer, Suicidal Tendencies e Ratt, além de representantes nacionais consagrados como Angra, Viper e Raimundos.

Mantendo a tradição e fazendo jus ao nome, a edição comemorativa de três décadas reuniu gigantes do Hard Rock, Heavy Metal, Power Metal e Prog Metal, com um line-up formado por Scorpions, Judas Priest, Europe, Savatage, Queensrÿche, Opeth e Stratovarius. Cada banda fez a alegria dos milhares que lotaram a arena com shows impecáveis, som de altíssima qualidade e uma pontualidade britânica que surpreendeu até os mais céticos.


Stratovarius

Quem se incumbiu de iniciar os trabalhos do dia foram os finlandeses do Stratovarius. Considerado um dos nomes mais respeitados do Power Metal – o ou Metal Melódico, como os brasileiros costumam dizer –, a banda conseguiu arrastar um bom público logo cedo. Nada surpreendente, já que o grupo possui uma legião de fãs no Brasil.

Depois de dois anos sem pisar no país, dava pra perceber que a maioria estava ansiosa para ver Timo Kotipelto – que continua dispensando comentários – e companhia, prontos para entregar os clássicos que marcaram o final da década de 90, como “Forever Free”, “World on Fire”, “Paradise” (a mais festejada desse começo de set) e “Eternity”, que fizeram os falantes vibrarem.

Além dos hits do passado, o repertório incluiu músicas do mais recente trabalho, entre elas “World on Fire” e a faixa-título “Survive”, que ao vivo ganharam ainda mais peso, mostrando que a atual formação – com Matias Kupiainen (guitarra), Lauri Porra (baixo), Rolf Pilve (bateria) e Jens Johansson (teclados) – está entrosada e encaixa perfeitamente no momento atual da banda. Os melhores momentos ficaram para o final, com a execução de “Black Diamond” e “Hunting High and Low”, antecedida por “Unbreakable”, na qual Timo pediu que todos cantassem o refrão com força, e foi exatamente o que aconteceu.

Um show excelente, que mostrou por que o Stratovarius segue sendo um dos pilares do gênero.




Opeth

Na sequência, os suecos do Opeth subiram ao palco com seu som dinâmico e cheio de nuances, flertando principalmente com o Death Metal e o Progressivo No entanto, entre as sete bandas escaladas, foi a que mais destoou das demais, o que rendeu até comentários bem-humorados de amigos próximos, como “o Oasis do Heavy Metal”. Nesse momento, muitos aproveitaram para se alimentar e recarregar as energias para as atrações seguintes.

Apesar das controvérsias, o público não deixou de reconhecer o empenho e a entrega da banda no palco. O vocalista e guitarrista Mikael Åkerfeldt, com um humor inigualável, chegou a notar a distração de parte da plateia em alguns momentos, brincando e se desculpando pelas músicas serem muito longas. Ainda assim, deixou claro o quanto estava feliz por dividir o palco com tantas lendas.

O setlist, enxuto e com apenas sete músicas, trouxe duas faixas do novo trabalho, The Last Will and Testament, lançado no ano passado: “§1”, que abriu o show, e “§3”, não empolgaram tanto quanto as famosas “Master’s Apprentices”, “In My Time of Need” e “Deliverance”, esta última considerada, segundo Mikael, o maior hit da carreira da banda. 

No fim das contas, foi um show primoroso em técnica, que talvez, por seu estilo mais introspectivo, não tenha empolgado tanto quanto os demais. Isso, no entanto, está longe de significar que foi uma apresentação ruim, muito pelo contrário.






Queensrÿche

Na opinião deste que vos escreve, os shows seguintes foram os grandes destaques do festival, não apenas pela saudade que essas bandas deixaram durante os anos longe dos palcos brasileiros, mas principalmente por mostrarem, com maestria, como se faz um verdadeiro espetaculo: resgatando o legado, a essência e o melhor de suas respectivas carreiras.

Com quatro décadas na ativa, os americanos de Seattle, Queensrÿche, estrearam sua atual formação no Brasil após 12 anos desde a última passagem pelo país. Naquela ocasião, a banda enfrentava situações lamentáveis, incluindo uma suposta agressão entre os antigos membros. Agora, com uma nova formação consolidada há 10 anos – contando com o competente Todd La Torre nos vocais – , o grupo vive um momento muito diferente do turbulento cenário da década passada.

O setlist reuniu músicas do primeiro e homônimo disco, The Warning, Rage for Order, Operation: Mindcrime e Empire, considerados os trabalhos mais importantes da carreira. Os destaques ficaram por conta das faixas da fase inicial da banda, como “Queen of the Reich” e “Warning”, que se juntaram às clássicas “Operation: Mindcrime”, “Walk the Shadows” e “I Don’t Believe in Love”, levando os fãs à euforia a cada execução.

Todd La Torre atraiu a atenção de todos não apenas pelo seu talento vocal – substituindo à altura o lendário Geoff Tate –, mas também por sua presença de palco magnética e carisma. Ele demonstrou estar visivelmente feliz por ver a banda de volta ao Brasil depois de tanto tempo e agradeceu pela receptividade calorosa do público.

Os demais integrantes também receberam seus merecidos aplausos. Casey Grillo deu uma nova dinâmica à bateria da banda. Já os veteranos Eddie Jackson (baixo) e Michael Wilton entregou riffs e solos afiados ao lado de Mike Stone, mantendo vivo o legado do Queensrÿche desde os primórdios.

O show do Queensrÿche se resume a três adjetivos: pesado, energético e animal, onde tem que ter no currículo de qualquer fã de Heavy Metal que se prece. Muitos esperavam, para o final, a execução de “Silent Lucidity” e “Jet City Woman”, mas a ausência dessas faixas não desanimou o público, que ainda teve o privilégio de ouvir obras-primas como “Empire”, “Screaming in Digital” e “Eyes of a Stranger”.





Savatage

A quarta atração da tarde deixou o público empolgado desde o momento do anúncio: Savatage. Após dez anos afastados dos palcos e atendendo a incansáveis pedidos dos fãs, a banda escolheu o Brasil como ponto de partida para essa tão aguardada volta. Muitos dos presentes vestiam camisetas da banda, o que só reforça a ansiedade e a devoção dos fãs por esse retorno histórico.

A única baixa desse retorno foi a ausência do vocalista e pianista Jon Oliva, que não pôde estar presente devido a problemas de saúde. No mais, a formação seguiu praticamente a mesma de sempre, com Zack Stevens (vocal), Chris Caffery e Al Pitrelli (guitarras), Jeff Plate (bateria), além de dois tecladistas cuja identidade não consegui confirmar até o fechamento deste texto.

O repertório foi um verdadeiro greatest hits, com direito a algumas surpresas, como a inclusão de “The Ocean” e “Welcome”, acompanhadas de “Jesus Saves” – que caiu muito bem com o clima pascoal – , e “The Wake of Magellan”, que não era tocada ao vivo há bastante tempo. Já nesse início, o público se entregou completamente, criando uma conexão imediata com a banda, que mostrou não ter perdido a força. Em “Handful Of Rain” contou com a presença de uma leve garoa para combinar com o clima da música. 

Caso fosse possível, a banda teria passado todo o tempo do show executando seus maiores clássicos. No entanto, por se tratar de um festival e haver um tempo estipulado para cada apresentação, o grupo precisou selecionar cuidadosamente o repertório. Entre os destaques, estiveram as icônicas “Gutter Ballet” e “Edge of Thorns”, acompanhadas por momentos de interação com Zak jogando bolas de futebol para a plateia e até a invasão de uma fã no palco. Contudo, foi durante a execução da balada “Believe” que o momento mais emocionante da tarde se deu: um vídeo com Jon Oliva cantando e tocando piano foi exibido, acompanhado de imagens de seu irmão, o saudoso Criss Oliva – falecido em 1993. Criss também foi homenageado pouco antes do início do show, com sua guitarra sendo mostrada nos telões, coberta por rosas. O encerramento ficou por conta de “Sirens” e “Hall of the Mountain King”, deixando no ar a expectativa por um retorno em breve. 





Europe 

A participação do Europe no festival foi um verdadeiro presente para os fãs de Hard Rock. Com quatro décadas de estrada, os suecos mostraram que, mesmo com o passar dos anos, continua relevante e poderosa ao vivo. Desde o começo com “On Broken Wings”, seguida de “Rock The Night” – primeiro hit do começo da noite – ficou claro que o grupo estava ali para entregar um show memorável.

O setlist trouxe uma boa seleção de tudo que a banda fez nos anos 80 e nos últimos anos desde que retornou a ativa em 2003, incluindo “Walk the Earth”, a rápida e pesada “Scream of Anger” e “Sign of the Times”, mas foi na clássica “Carrie” que o público entrou extasse com um mar de celulares acessos e um coro cheio de emoção. Um público de todas as idades, emocionado, cantando esse hino atemporal – ver e sentir milhares de pessoas conectadas pelo mesmo sentimento foi surreal. Perceber que, mesmo depois de décadas, as bandas que fizeram nossos pais e avós vibrarem ainda despertam o mesmo entusiasmo na geração atual, trazendo uma sensação nostálgica e poderosa de que o rock, além de vivo, continua pulsando com força.

Com uma performance segura e carismática, o vocalista Joey Tempest conduziu o público com maestria, interagindo com os fãs e mostrando toda sua energia e domínio de palco. Os músicos demonstraram entrosamento e técnica, com destaque para os solos de guitarra de John Norum e os teclados marcantes de Mic Michaeli.

Cada canção foi recebida com entusiasmo pelo público. Antes do ápice, a banda ainda despojou “Ready or Not” e “Superstitious”, que teve um pequeno de trecho de “No Woman No Cry” do Bob Marley. Como era de se esperar, “The Final Countdown”, antecedida por “Cheroke”, transformou o Allianz Parque em um mar de vozes, encerrando o show de forma emocionante e com a certeza de que eles vão retornar, conforme dize Joey antes de deixar o palco.






Judas Priest

O Judas Priest, uma das maiores banda de Heavy Metal da história, entregou mais do que um show, mas sim um verdadeiro aula. Desde 1991 que a banda visita o Brasil, e o que vimos nessa última passagem é mais uma lembrança histórica que ficara guardada na memória dos fãs brasileiros, principalmente dos paulistanos.

A formação atual traz o inconfundível Rob Halford nos vocais, Ritchie Faulkner e Andy Sneap nas guitarras, Ian Hill no baixo e Scott Travis na bateria. E a verdade é que eles já entraram com o jogo ganho. A conexão com o público, a entrega no palco e o peso do som mostraram que o legado do Priest está mais vivo do que nunca.

Halford, com suas barbas brancas e marcas do tempo, provou que idade é apenas um número. Ele continua cantando como nunca, e sua presença de palco é simplesmente hipnotizante. Já a dupla de guitarristas mostrou que o peso de substituir K.K. Downing e Glenn Tipton é grande, mas Faulkner e Sneap fazem jus ao legado.

O repertório foi de tirar o fôlego. A abertura com "Panic Attack", do mais recente álbum Invincible Shield, já mostrou o que viria pela frente. Mas foi na sequência oitentista com "You’ve Got Another Thing Comin’", "Rapid Fire", "Breaking the Law", "Riding on the Wind", "Love Bites" e "Devil’s Child" – recebidas com gritos e punhos erguidos – que tudo explodiu. 

A chuva resolveu dar o ar da graça quando veio "Crown of Horns". Alguns se assustaram, outros nem ligaram, mas o que importa é que o show continuou firme. São Pedro só deu uma trégua em "Turbo Lover", que é minha favorita do Judas e, ao vivo, soa ainda mais grandiosa. Já "Victim of Changes" trouxe um momento especial: uma homenagem emocionante ao guitarrista Glenn Tipton, afastado dos palcos devido ao Parkinson. E o fechamento da primeira parte veio com a explosiva "Painkiller", que com a introdução arrebatadora de Scott Travis, levou todos ao delírio.

Mas não parou por aí. O bis veio com tudo: "Electric Eye", precedida pela clássica intro "The Hellion", abriu os trabalhos. Na sequência, "Hell Bent for Leather" marcou a entrada triunfal de Halford montado em uma Harley-Davidson, e o grand finale veio com "Living After Midnight", encerrando a noite de forma festiva, com um coro uníssono da plateia.






Scorpions

Encerrando o Monsters of Rock, o Scorpions transformou o Allianz Parque numa verdadeira celebração, vide o vídeo retrospectivo no começo relembrando os 60 anos de estrada de um dos maiores nomes do Hard Rock mundial. “Coming Home” tomou conta do palco e dos corações, abrindo o set com intensidade. “Gas in the Tank”, a única do mais recente álbum Rock Believer, veio logo depois, mostrando que o gás da banda está longe de acabar. “The Zoo” trouxe aquele peso característico, com solos estendidos e clima denso. 

Klaus Meine não tem mais o mesmo alcance vocal de décadas atrás, mas compensa com uma entrega sólida e um domínio de palco que só o tempo proporciona. Quem roubou a cena instrumentalmente foi a dupla de guitarristas Rudolf Schenker e Matthias Jabs com uma performance afiadíssima: riffs certeiros, solos bem desenhados e muita presença. Mikkey Dee brilhou com um solo de bateria pesado, relembrando seu legado com o Motörhead e mostrando que se encaixou perfeitamente na engrenagem do Scorpions. 

O set foi estrategicamente construído para equilibrar hits incontestáveis com momentos de surpresa. Um dos mais celebrados foi o medley matador reunindo “Top of the Bill / Steamrock Fever / Speedy’s Coming / Catch Your Train”, uma verdadeira viagem à fase setentista que incendiou os fãs das antigas.

A sequência emocional veio logo depois de “Bad Boys Running Wild” com “Send Me an Angel” e “Wind of Change”. O estádio inteiro virou um coral iluminado, num dos momentos mais bonitos da noite. A partir daí, foi só pancada: “Loving You Sunday Morning”, que retornou ao set após anos, “Tease Me Please Me” e “Big City Nights” foram executadas com precisão e empolgação, mantendo o público em transe.

“Still Loving You” trouxe um ar de romantismo, preparando o terreno para um dos clímax visuais da noite: “Blackout”, que veio acompanhada pela aparição de um enorme escorpião inflável atrás do palco, arrancou arrepios. Para fechar, “Rock You Like a Hurricane” veio como uma tempestade, colocando um ponto de exclamação numa noite histórica, ou melhor, dia histórico. 

Com um line-up de respeito, estrutura impecável e público apaixonado, o Monsters of Rock de 2025 entrou para a história como uma edição emblemática. Mais do que uma simples reunião de grandes bandas, foi uma celebração de gerações, estilos e memórias. Na hora de ir embora, ficou a certeza de que, enquanto houver fãs de Rock, Heavy Metal e seus variados gêneros, o Monsters seguirá mais vivo do que nunca.








Texto: Gabriel Arruda


Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: Mercury Concerts



Stratovarius – setlist: 

Forever Free

Eagleheart

World on Fire

Speed of Light

Paradise

Survive

Eternity

Black Diamond

Unbreakable

Hunting High and Low


Opeth – setlist: 

§1

Master's Apprentices

§3

In My Time of Need

Ghost of Perdition

Sorceress

Deliverance


Queensrÿche – setlist:

Queen of the Reich

Operation: Mindcrime

Walk in the Shadows

I Don't Believe in Love

Warning

The Needle Lies

The Mission

Nightrider

Take Hold of the Flame

Empire

Screaming in Digital

Eyes of a Stranger


Savatage – setlist:

The Ocean

Welcome

Jesus Saves

The Wake of Magellan

Dead Winter Dead

Handful of Rain

Chance

Gutter Ballet

Edge of Thorns

Believe

Sirens

Hall of the Mountain King


Europe – setlist:

On Broken Wings

Rock the Night

Walk the Earth

Scream of Anger

Sign of the Times

Hold Your Head Up

Carrie

Prelude

Last Look at Eden

Ready or Not

Superstitious

Cherokee

The Final Countdown


Judas Priest – setlist:

Panic Attack

You've Got Another Thing Comin'

Rapid Fire

Breaking the Law

Riding on the Wind

Love Bites

Devil's Child

Crown of Horns

Sinner

Turbo Lover

Invincible Shield

Victim of Changes

The Green Manalishi (With the Two Prong Crown) (Fleetwood Mac cover) 

Painkiller

Bis

The Hellion

Electric Eye

Hell Bent for Leather

Living After Midnight


Scorpions – setlist:

Coming Home

Gas in the Tank

Make It Real

The Zoo

Coast to Coast

Top of the Bill / Steamrock Fever / Speedy's Coming / Catch Your Train

Bad Boys Running Wild

Send Me an Angel

Wind of Change

Loving You Sunday Morning

I'm Leaving You

New Vision

Tease Me Please Me

Big City Nights

Still Loving You

Bis

Blackout

Rock You Like a Hurricane

quinta-feira, 24 de abril de 2025

Entrevista: Dynazty - Nils Molin Fala Sobre o Novo Álbum e a Vinda ao Brasil



Formado em 2008, o Dynazty evoluiu ao longo dos anos de suas origens humildes, enraizadas na cena de hard rock escandinava, para ganhar destaque na cena moderna de metal melódico.

Com trabalhos de destaque como  "The Dark Delight", que recebeu disco de ouro na Suécia, país natal da banda, e na vizinha Finlândia. Com singles como "Heartless Madness", alcançando disco de platina, e "Presence of Mind" sendo destaque nos quadrinhos da DC e na série Peacemaker da HBO.

Turnês nos últimos anos, juntamente com bandas como Sabaton, Powerwolf, Battle Beast, Pain e Kissin Dynamite ajudaram a consolidar a banda no continente europeu como um dos artistas ao vivo mais proeminentes de sua geração.

E a banda busca mais, com o mais recente trabalho lançado início deste ano, “Game of Faces”, o Dinazty mostra que não tem medo de evoluir. Falamos com o vocalista Nils Molin, que nos contou mais a respeito do novo álbum, e claro, sobre a vinda ao Brasil para o festival Bangers Open Air.



RtM: Para iniciarmos, gostaria que você comentasse o que este novo álbum tem de diferente com relação aos seus antecessores.

Nils Molin: Este álbum é definitivamente um reflexo do período em que o escrevemos, o que sempre torna as coisas um pouco diferentes do álbum anterior, “Final Advent”, por exemplo. “Final Advent” foi escrito durante a pandemia do COVID, um período em que estávamos apenas escrevendo o álbum, o que era a única coisa que podíamos fazer na época, então foi o que fizemos

E com este álbum, embora tenhamos saído mais ou menos constantemente em turnê desde o lançamento de “Final Advent” e termos escrito “Game of Faces” entre as turnês e entre outras responsabilidades e sempre que há tempo para isso, então o processo foi um pouco mais disperso do que o normal.

Mas também pelo fato de termos feito muitas turnês você pode perceber no nível de energia do álbum, se preferir, eu acho que ele tem um pouco de energia extra e talvez até mesmo agressividade.



RtM: Uma característica única para este álbum em particular, é que ele é mais pesado e mais agressivo do que, digamos, “Final Advent" e soa um pouco menos experimental do que “The Dark Delight”. É uma boa coleção, de tudo o que vocês fizeram até agora ao longo de toda a sua carreira como banda. É um ótimo álbum.

Nils: Bem, é como você disse, quero dizer, "Dark Delight" talvez eu não o chamaria de um álbum experimental por si só, mas definitivamente tinha muita dinâmica e muitas músicas entraram em territórios diferentes, etc., mas o plano de jogo com este álbum era torná-lo muito coeso e conciso. 

Tipo, este é o álbum, serão 10 ou 11 músicas e será mais ou menos a todo vapor até o final, embora tenhamos algumas músicas um pouco mais suaves no final, o que fez muito sentido quando estávamos escrevendo uma música Como "Dream of Spring", que é a penúltima música, foi na verdade uma das últimas músicas que escrevemos para o álbum, onde sentimos que precisávamos de algo um pouco mais suave, para complementar e completa-lo.



RtM: Certo. E sobre "Dream of Spring", talvez eu esteja errada,  mas para mim há um pouco daquela canção do John Lennon e da Yoko Ono nela, me lembra um pouco de "Merry Christmas" (The War is Over), não sei, talvez os coros ou algo assim. Foram intencionais ou apenas coincidência?

Nils: Hum, não acho que seja intencional, não acho que seja consciente, hum, não sei exatamente, hum, é a música de Natal com John Lennon e Yoko Ono a que você está se referindo?  Não me lembro como é.  

Não acho que tenha sido intencional, nós só queríamos escrever uma música de uma forma que não tínhamos feito, uma música mais suave, então estávamos procurando uma maneira de fazer esse tipo de canção, mas de uma forma que não tínhamos feito antes, então isso nos levou a algumas experimentações com arranjos e coisas assim. 

Mas sim, em geral, a música ou o tema lírico do álbum é muito reflexo do que vem acontecendo na Europa nos últimos anos, uma situação que não tivemos ou que nossa geração não vivenciou, que é, na verdade, uma guerra, uma situação de guerra real na Europa, então eu simplesmente tinha que escrever algo sobre tudo isso.



RtM: Talvez você esteja particularmente orgulhoso dessa música por causa dos seus
temas líricos ou algo assim, ou há alguma outra música da qual você particularmente se orgulhe de ter escrito para este álbum? 

Nils: Não acho que me orgulhe mais de uma música em particular do que de qualquer outra. Acho que são sempre peças individuais que completam o todo, por assim dizer. Considero, neste caso, “Dream of Spring” como parte integrante do ato final do álbum, por assim dizer, uma peça que estava faltando até que a escrevêssemos.

Então, com certeza, eu realmente gosto dessa música. Acho que ficou ótima, mas, novamente, é isso que penso em quase todas as músicas, ou até mesmo em todas as músicas do álbum.



RtM: Certo, e é uma ótima maneira de apresentar a próxima música, “Mystery”, que é uma ótima música também. Eu gosto dela. 

Nils: Sim, então essa música eu ia mencionar, já que estávamos falando sobre as músicas, que essa música também foi uma das últimas músicas escritas para o álbum e parecia que algo era necessário para o final do álbum, e  que talvez fosse ainda mais edificante do que “Dream of Spring”, para que ainda terminasse com o mesmo tipo de nota com que o álbum é apresentado. Essa era a ideia desse tipo de música. 



RtM: Ok! Bom, vamos falar um pouco sobre o vídeo que vocês gravaram usando inteligência artificial, e que é uma nova tecnologia  que muitas pessoas gostam, algumas pessoas não gostam, e você já tinha falado sobre tecnologia, mas de uma maneira diferente, sobre mídia social e esse tipo de coisa. Mas nós fale como você se relaciona com a tecnologia em geral e especialmente sobre o que você pensa sobre inteligência artificial e arte e esse tipo de coisa?

Nils:  Bom, para mim, antes de tudo, sei que este é um tópico controverso, e minha opinião sobre tudo isso é que não há como, neste momento, e eu não acho que provavelmente em algum momento, essa tecnologia de inteligência artificial possa substituir um artista humano.
E é uma questão filosófica, se é que algum dia poderia.

Mas definitivamente, neste momento, não há como, a principal razão pela qual usamos isso para este vídeo foi porque queríamos fazer algo visualmente diferente para a banda e porque a música em si, o tema de “Game of Faces”, é basicamente o que é real, o que é um rosto real, o que é um rosto falso e o que é uma opinião subjetiva. 

E essa coisa de vale misterioso que toda essa tecnologia de IA tem, se encaixaria em tudo muito bem nesse sentido, de que se você não consegue realmente dizer com certeza se algumas das coisas que você vê são falsas, mas, novamente, você tem essa sensação de que também é real, sim, é muito confuso, se encaixa exatamente com os temas das letras. 



RtM: Um tema delicado, mas encaixa na música.

Nils: É definitivamente algo que se encaixa com o tema da música em geral, acho que se encaixa tanto na letra quanto é um vídeo lindo para ser honesto, não se opõe à inteligência artificial e tudo mais, não acho que isso possa substituir o trabalho humano ou possa substituir qualquer coisa que possamos  fazer, mas é uma ferramenta valiosa de qualquer maneira, você sabe, é uma ferramenta, e vamos ver como vamos usá-la, e espero que não de maneiras ruins ou estúpidas, o que acontece com muita frequência. 



RtM: Sim, eu sei disso, mas, com certeza, ela não consegue competir com a criatividade humana.

Nils: Neste ponto, de fato, eu ouvi música feita por inteligência artificial e, sinceramente, não parece natural, você não consegue dizer exatamente o que é, mas não é natural, sim, há algo inerentemente errado com ela.
Mesmo que não haja nada que você não possa apontar como incorreto.

Mas seu cérebro percebe isso, então, com certeza vai levar muito tempo até que esse tipo de tecnologia se assemelhe a algo realmente humano. E, filosoficamente, não acho que possa.



RtM: Você trabalhou com Jona Tee, do Heat , no álbum “Conquerors”. Eu gostaria que você falasse um pouco sobre isso. Eu sei que já faz um tempinho desde que foi lançado, mas já que estamos aqui, vamos aproveitar esta oportunidade. Como foi trabalhar com ele nesse álbum?

Nils: Foi ótimo, resumindo, eu conheço o Jona há muitos anos e, ao longo do tempo nós conversamos um pouco aqui e ali sobre fazer algo juntos e finalmente aconteceu, e para mim isso foi simplesmente muito divertido, há uma ótima química entre ele e eu. Ficamos apenas sentados lá e trabalhando juntos, experimentando músicas, experimentando composições, vocais e tudo mais, e foi um processo muito, muito despreocupado e divertido.



RtM:  E vocês escreveram as músicas juntos, certo?

Nils: Nem todas, havia algumas, talvez metade do álbum ele já tinha escrito antes, mas na verdade reescrevemos muitas delas e então escrevemos muitas das coisas juntos também.


RtM: E quando você estava colaborando com ele, como você sabia, por exemplo “Ah, eu tenho uma ideia, mas isso é melhor para o Dynazty” ou “Ah, não, isso é melhor para o New Horizon”.  Como você diferencia e separa essas coisas? Como você mantém uma identidade artística distinta para cada um?

Nils: As coisas que eu e o Jona fizemos, nós apenas sentávamos  no estúdio dele para compor, então, não era como se eu estivesse em casa tendo ideias, porque então, pode ser mais confuso, tipo, isso é uma ideia para este álbum ou é uma ideia para o Dinazty? 

Então, nós estávamos no estúdio simplesmente gravando e escrevendo simultaneamente, de forma mais espontânea, muito, muito espontânea, na verdade. Então nunca houve qualquer dúvida se esta ou aquela seria uma música para qualquer outro álbum, seja de nossas bandas ou seja lá o que fosse, só estávamos fazendo o que estávamos fazendo na época e isso seria o álbum do New Horizons.



RtM: E o que podemos esperar do New Horizon no futuro? Há algum plano para um novo álbum ou algo assim?

Nils: Neste momento, não há um plano real para nada neste momento, quero dizer, eu e Jonah temos um milhão de responsabilidades.

E isso aconteceu de ser um momento em que poderíamos realmente fazer isso e funcionou bem e eu espero que possamos fazer outro álbum juntos em algum momento, sim, mas eu simplesmente não sei.



RtM: Você é considerado um dos melhores vocalistas da sua geração, e você explora diferentes aspectos da sua voz, você tem uma voz clara, você explora tons mais graves, mais agressivos, e às vezes um pouco de blues aqui e ali.  Como foi o processo de definir sua identidade vocal ao longo de sua carreira?

Nils: Essa é uma ótima pergunta. Eu acho que não é algo que acontece da noite para o dia, não é como você simplesmente decidir um dia “Eu serei esse tipo de cantor e/ou amanhã eu farei esse tipo de vocal”, é algo que já existe organicamente dentro de você como cantor, e eu me considero um cantor muito versátil e há ainda mais estilos de canto que eu nunca gravei ainda,  e que eu sei que poderia explorar se eu quisesse ou se eu tivesse a oportunidade, mas ao mesmo tempo eu também gosto de manter o foco no que eu quero fazer e não me dispersar muito também.

Em geral, meu princípio como cantor é sempre servir à música primeiro. O que eu quero dizer é que gostaria de fazer algo vocalmente que fosse interessante para mim, da minha perspectiva de vocalista puro, isso pode nem sempre ser a melhor coisa para a música, e isso vale para qualquer tipo de músico.

Você sabe, um bom exemplo de você é você experimentar na música sem realmente beneficiá-la, então esse tem sido meu princípio fundamental como cantor, pois sempre tento servir à música primeiro e garantir que faço justiça à música antes de fazer a mim mesmo.

Eu adoro experimentar com meus vocais, adoro ver até onde posso levar as coisas e, no que diz respeito à minha identidade como cantor, é algo que desenvolvo ao longo dos anos, não acho que você possa forçar ou empurrar em nenhuma direção específica, ou acontece ou não, conforme você experimenta, você se conhece melhor e experimenta um pouco mais, e você se desenvolve espontaneamente. 

No início da carreira é definitivamente uma questão de encontrar  seus pontos fortes
e descobrir o que você pode fazer e se desafiar a todos os tipos de limites para ver até onde poderia ir. Sim, eu fiz muito disso ao longo dos anos.



RtM:  Ok, e o que você acha o mais importante em um vocalista. Você acha que é um timbre único? A sua técnica vocal? A performance de palco?

Nils: No melhor dos mundos, uma mistura de todas essas coisas, mas eu acho que o mais importante é um bom timbre, expressão e criatividade, e eu, quero dizer, técnica é inútil se você não tiver um bom timbre. 

Técnica é inútil se você não tiver expressão, se você não tiver criatividade, então, hum, eu acho que os princípios básicos devem ser sempre um bom timbre, porque é isso que soa bem,  e expressão e criatividade, e então, se você tiver a possibilidade de explorar e ter uma ótima técnica vocal, vá em frente, certo?



RtM: Bom, estamos chegando ao final da entrevista, vocês se apresentarão aqui no Brasil pela primeira vez no Bangers Open Air em 3 de maio, quais as expectativas de vocês  para o show? 

Nils: Bem, eu tenho feito entrevistas por três horas com o Brasil agora, e todo mundo tem falado, obviamente, muito sobre este festival, e eu ouvi muito sobre ele, então, na verdade, neste momento, temos expectativas bem altas para isso, mas sim, com certeza, é um show muito difícil para nós fazermos, na verdade, teremos apenas cerca de uma hora.

Mas o principal é que estamos muito, muito animados para finalmente vir e tocar no Brasil, estamos ansiosos e sabemos que temos muitos fãs que querem nos ver há anos, estou muito animado para finalmente fazer isso e, o que é ainda melhor, é que ouvi dizer que esse festival é incrível, tem muita gente falando muito positivamente sobre ele, há uma programação fantástica de bandas este ano também.

Então, eu não sei, nós provavelmente não poderíamos estar mais animados para tocar em um festival específico este ano, como é nosso primeiro e único show até agora no país.



RTM: E considerando as diferentes fases musicais do Dynazty, como vocês montam o set list para ocasiões como esta?

Nils: Sabe, tipo, será nosso primeiro show nesse lugar e temos esses públicos diferentes, sabe, pessoas que gostam mais da fase hard rock da banda, do power metal, do metal melódico mais moderno. 



RtM: Vocês tentam misturar tudo ou é mais, eu não sei, tipo, espontâneo?

Nils: Sim eu acho que é, vai ser mais ou menos a mesma coisa que fazemos aqui, quero dizer, quando tocamos em festivais de verão europeus, por exemplo, você sempre tem que levar em conta o fato de que haverá muitas pessoas que talvez nunca tenham ouvido a banda antes, então você precisa construir um set list que funcione para os seus fãs que estão lá e para as pessoas que nunca ouviram a banda antes, e vindo ao Brasil agora, definitivamente queremos montar um set list que seja o que consideramos o melhor do Dinazty e aproveitar ao máximo o tempo que teremos no palco. 



RtM: É um tempo relativamente curto.

Nils: Sim, é difícil colocar muitas coisas em apenas uma hora, claro que é, mas vamos tentar e, claro, temos um novo álbum lançado nesse momento, então haverá algumas músicas do último álbum e então tentaremos colocar nossas músicas mais fortes e tornar o nosso set list mais forte.



RtM: Então é isso, então obrigado novamente pelo seu tempo, deixe-me dar as boas-vindas antecipadas ao Brasil,  e claro, deixe uma mensagem para seus fãs aqui.

Nils: Sim, claro, não se esqueçam de conferir nosso novo álbum, “Game of Faces”, lançado em 14 de fevereiro e nos vemos no Bangers Open Air em 3 de maio. E como eu disse antes, estamos muito, muito animados para finalmente vir e tocar no Brasil.


RtM: Obrigado novamente, Nils. 

Nils: Obrigado, tchau, tchau.


Entrevista por: Renata Carvalho 
Transcrição/Tradução e Edição: Caco Garcia 
Fotos: Divulgação 
Agradecimentos: Nuclear Blast Brasil 

O álbum do Dynazty está disponível no Brasil através da parceria Nuclear Blast e Shinigami Records 





terça-feira, 22 de abril de 2025

Cobertura de Show: Uriah Heep – 10/04/2025 – Bar Opinião/RS

Por: Vinny Vanoni

Fotos: Diogo Nunes

O Uriah Heep é uma banda que dispensa apresentações, porém irei apresentá-los, ou reapresentá-los. É uma banda britânica formada em 1969 e são considerados um dos maiores pioneiros dos gêneros do Hard Rock, Heavy Metal e Rock Progressivo do mundo. A atual formação conta com o único integrante original Mick Box na guitarra, o vocalista principal Bernie Shaw, o tecladista Phil Lanzon o baterista Russel Gilbrook e o baixista Dave Rimmer, formação que está junta desde 2013. Ao longo de sua trajetória, venderam mais de 40 milhões de discos no mundo inteiro e mais de 4 milhões só nos Estados Unidos.

Algumas de suas músicas mais conhecidas são "Look at Yourself", "Sunrise", "Lady in Black", “July Morning", "Easy Living", "Come Away Melinda", "The Wizard" e "Gipsy". Durante seus 55 anos de carreira e existência, publicaram 25 álbuns de material original, 20 álbuns ao vivo e 41 álbuns de compilações. 13 dos álbuns de estúdio chegaram ao UK Albums Chart com Return to Fantasy atingindo número 7 em 1975 e dos 15 álbuns que entraram para o Billboard 200, Demons and Wizards foi o que fez mais sucesso.

Sobre o show que ocorreu no dia 10 de abril no Opinião em Porto Alegre, da turnê de despedida da banda, “The Magician’s Farewell”, foi simplesmente magnífico, o local estava lotado, com capacidade quase esgotada, mal havendo espaço para se movimentar lá dentro. A banda fez um show simplesmente sensacional ao apresentar uma linha do tempo com músicas de diversos álbuns de sua longa carreira de 55 anos de muito Rock ’n’ Roll, tais quais Gipsy (Very ‘Eavy... Very Umble), July Morning (Look at Yourself) ambos de 1971, The Wizard e Easy Living (Demons & Wizards, 1972), Stealing (Sweet Freedom, 1973), Sunrise e Sweet Lorraine (The Magician’s Birthday, 1972), Free ‘n’ Easy (Innocent Victim, 1977), Overload e Shadow (Wake the Sleeper, 2008), Grazed by Heaven (Living the Dream, 2018) e Hurricane e Save Me Tonight de seu disco mais recente, Chaos & Colour, de 2023, o qual levou o público a loucura.

Os “dinossauros”, no melhor sentido e significado possível, do rock já começaram bem na música de abertura com Grazed by Heaven ao fazer o público cantar e bater cabeça junto com eles. Principalmente o lendário guitarrista Mick Box, que ainda manda muitíssimo bem nos acordes, provando que idade é apenas um número para quem tem vontade, ama o que faz e entende do assunto. A cada música os britânicos do Uriah faziam todo o público, pular e cantar junto nem que fosse vocalizando o ritmo.

Já as mais clássicas, como Gipsy, July Morning, The Wizard, Easy Living, Sunrise, Sweet Lorraine, Stealing e Free ‘n’Easy foram cantadas ao pé da letra pelos fãs e aficionados de todas as idades. Se vocês pensaram que as músicas mais recentes ficaram para trás, estão bem enganados! Todas foram acompanhadas com muita cantoria, bateção de cabeça e energia que permeavam desde o público até banda.

O solo de guitarra de Mick Box em “Sunrise”, provando que ainda é um Deus da guitarra, chutou o pau da barraca e levou o Opinião abaixo, fazendo com que fosse ovacionado por todos, público e banda, que estavam presentes neste show histórico! Inclusive com uma parada sensacional na música, onde as luzes se apagaram, fazendo parecer que era a última música do show, com o público continuando a aplaudir e o Uriah retornar ao palco, continuando a música.

Apesar da idade avançada os integrantes de uma das bandas mais clássicas de Heavy Metal, Hard Rock e Rock Progressivo do mundo, mandaram muito bem, provando que ainda possuem energia e vontade suficientes para ficarem na ativa por mais 55 anos!

 

 

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Entrevista – Gonzo Sandoval (Armored Saint): bateria, fotografia e paixão pelo Metal

Foto: Divulgação

Por Jessica Valentim e Gabriel Arruda 

Formada em 1982, em Los Angeles, Califórnia, o Armored Saint segue firme até hoje, realizando shows ao vivo e lançando novos discos sempre que possível. A ascensão da banda no cenário do Heavy Metal mundial ganhou força anos mais tarde com o álbum Symbol of Salvation (1991), considerado até hoje uma obra marcante do gênero. 

Além das composições impactantes, os músicos do grupo também chamaram atenção individualmente, tanto que o vocalista John Bush, que integrou o Anthrax entre 1992 e 2005, e depois de 2009 a 2010, e o baixista Joey Vera, entre 2004 e 2005, foram convidados a fazer parte da lendária banda nova-iorquina, fortalecendo ainda mais o nome do Armored Saint e atraindo novos fãs para o seu som. 

Às vésperas de se apresentar no festival Bangers Open Air, que acontece nos dias 2, 3 e 4 de maio, no Memorial da América Latina, em São Paulo, o baterista e membro fundador do Armored Saint, Gonzo Sandoval, bateu um papo com a gente. Na conversa, ele falou sobre a expectativa de retornar ao Brasil, sua preparação na bateria, a paixão pela fotografia e os próximos passos da banda.


O Armored Saint vai se apresentar na abertura do Bangers Open Air em São Paulo, no dia 3 de maio. O que os fãs podem esperar do show? Haverá alguma surpresa nas músicas que serão tocadas?

Gonzo Sandoval: Nós decidimos que vamos tocar o que há de melhor no repertório do Armored Saint, então vocês podem esperar que a maioria das nossas músicas mais conhecidas estará no setlist. Afinal, os sucessos são sempre os sucessos (risos).


Como você se prepara pessoalmente para uma turnê? Tem alguma rotina específica para se manter em forma para tocar bateria?

Gonzo Sandoval: Essa é uma excelente pergunta! Para os mais jovens, eu diria que o ideal é começar a se preparar meses antes, praticando a bateria sozinho, tocando as músicas e trabalhando na resistência antes de nos reunirmos com a banda para os ensaios. O Armored Saint é uma banda muito sortuda, pois não ensaiamos muito quando estamos juntos; geralmente fazemos apenas três ou quatro ensaios. 

Acredito que essa química entre nós é realmente especial, e percebi isso recentemente, já que em algumas das turnês que fizemos não tivemos muitos ensaios, inclusive nas últimas.

Todos nós mantemos nossas habilidades afiadas, mas no meu caso, em relação à parte física de tocar bateria, começo a me preparar bem antes e busco aumentar minha resistência. Assim, quando nos encontramos, tudo flui mais naturalmente e de forma rápida.

Você está com o Armored Saint há décadas. Como sua abordagem à bateria evoluiu ao longo dos anos?

Gonzo Sandoval: Estou com o Armored Saint há décadas, e posso dizer que minha abordagem à bateria evoluiu um pouco ao longo do tempo. Atualmente, estou utilizando a técnica AB com ABS, e tudo tem fluído muito bem. Fiz algumas alterações nos meus conjuntos de bateria e, no momento, estou tocando uma DDrum com um bumbo duplo de 22 por 20 polegadas, que produz um som incrível. Estou bastante satisfeito com essa escolha. 

Além disso, conto com o apoio de patrocinadores, como as baquetas da Scorpion Percussion e os pratos da Paiste, além do meu assento de bateria. Todos esses elementos são essenciais para o meu estilo único de tocar, que eu chamo de DRUMS OF THUNDER. Sou muito grato a todos eles! Em termos criativos, cada novo álbum traz desafios únicos. 

O John [BUSH] e o Joey [VERA] são muito criativos quando montam as demos e ideias, então as músicas exigem sempre algo novo de mim como baterista. A gente evita repetir fórmulas, cada disco é um reflexo de onde estamos musicalmente naquele momento.


Você também é apaixonado por fotografia. Pode nos contar um pouco sobre isso? Que tipo de temas você gosta de fotografar?

Gonzo Sandoval: Eu tenho uma grande paixão por capturar imagens em shows de Rock, mesmo que isso represente um desafio considerável. A iluminação varia constantemente, o que requer uma habilidade específica. Me sinto afortunado por contar com amigos talentosos na área da fotografia, como Neo Slowzauer. Igor Vidyashev, do RockXposure.com, é outro amigo e um mentor para mim. 

Minha motivação inicial para entrar no mundo da fotografia surgiu das câmeras menores. Quando a fotografia digital foi introduzida, decidi me aprofundar mais nesse campo. Em dado momento, pensei: "Sim, aprecio a fotografia, mas não quero estar preso em um quarto escuro". Eu evitava lidar com o processo de revelação de filmes em um ambiente cheio de produtos químicos e que exigia tempo. Entretanto, com a chegada da fotografia digital, é possível capturar uma imagem, visualizá-la e excluí-la em questão de segundos, o que me possibilitou experimentar e buscar composições criativas. 

Durante minha adolescência, tinha o sonho de desenhar e pintar, mas não sou muito talentoso nessas atividades. Quando peguei a câmera, percebi que podia registrar imagens de maneira similar a como se fosse um desenho ou uma pintura, apenas com um clique. A fotografia é uma arte ampla e cheia de inspiração, e eu realmente adoro isso. Aprendi muito com Igor, que mudou minha maneira de pensar e me estimulou a fotografar. 

A Canon me incentivou a explorar o universo da Nikon, e atualmente possuo uma D750 acompanhada de uma lente 24-120, que se tornou minha ferramenta de trabalho. A tecnologia evoluiu bastante, e compreender como ela funciona é fundamental para quem deseja ser fotógrafo nos dias de hoje. Não temos mais os tradicionais laboratórios fotográficos, mas sim programas de computadores que utilizamos para edição, como Photoshop e Lightroom, que nos auxiliam a criar fotos impressionantes e inspiradoras.

Você leva sua câmera em turnê? Se sim, tem alguma foto favorita que tenha tirado enquanto viajava com a banda?

Gonzo Sandoval: Eu frequentemente carrego minha câmera, mesmo que não a utilize sempre para tirar fotos. Contudo, quando participamos de festivais e eventos semelhantes, a experiência é extraordinária. Tocamos ao lado de diversas bandas que admiro, e ter a chance de obter um passe para capturar imagens desses artistas é verdadeiramente um privilégio e uma grande honra. 

Eu aprecio muito essa oportunidade e gosto de registrar momentos do rock and roll. Existem muitas fotografias disponíveis, mas sempre existem aquelas que se destacam, seja da banda ou de qualquer indivíduo que eu tenha retratado.


O Armored Saint tem uma torcida forte e fiel no Brasil. Você tem alguma experiência memorável de visitas anteriores aqui?

Gonzo Sandoval: Nós somos apaixonados pelo Brasil! No ano de 2018, visitamos São Paulo e outros lugares. Lembro que, naquela ocasião, um amigo nos auxiliou a viajar ao Brasil pela primeira vez e nos levou a um incrível restaurante brasileiro. Gosto muito de carne, e lá havia uma extensa seleção de bifes e pratos saborosos. 

A forma como eles servem os alimentos, fatiando na nossa frente, é uma experiência inesquecível. Além disso, os fãs são muito acolhedores e sempre compartilham suas experiências sobre o impacto das músicas do Armored Saint em suas vidas. 

É realmente emocionante sentir essa conexão, e nós, como banda, sentimos isso também ao nos apresentarmos lá. A recepção do público foi verdadeiramente impressionante! Estamos bastante ansiosos para retornar ao Brasil no dia 3 de maio para o Bangers Open Air. Faremos um show bem pesado no estilo do Armored Saint.

Você trabalhou com o produtor David Jerden em Symbol of Salvation, e ele faleceu recentemente. Como foi trabalhar com ele e como você acha que a influência dele moldou aquele álbum?

Gonzo Sandoval: David Jerden, que descanse em paz, eu te amo. Sim, ele faleceu há pouco tempo. Meu irmão e eu ficamos gratos por termos sido convidados para seu funeral, então estávamos presentes quando ele fez a transição para uma nova fase de sua existência; sua presença era realmente impactante. 

Lembro-me dele demonstrando interesse em ouvir a banda antes de nos ajudar a produzir nosso álbum Symbol of Salvation. Ele compareceu a um dos nossos ensaios e recordo que nós conversamos sobre bateria. Eu comentei que adorava o som poderoso, semelhante ao do AC/DC, algo grande e forte, bem impactante; esse era o tipo de batida que eu desejava. Ele disse que também gostava disso, e imediatamente criamos uma conexão. Ele nos levou a um processo de gravação no El Dorado Studio, que era o antigo estúdio de Marvin Gaye na Sunset Boulevard, em frente ao Cat and Fiddle. 

As coisas mudaram ao longo do tempo, mas aquele era o local. Ele nos permitiu acessar o estúdio e tocar as músicas que planejava gravar para nos ambientar, acho que começamos isso no primeiro dia, seguindo para o segundo, terceiro, quarto e no quinto dia já tínhamos registrado cerca de cinco músicas. Pensamos: 'uau, realmente estamos indo bem', e então ele nos disse que as faixas estavam bem gravadas e eram boas, mas não o suficiente. Assim, ele descartou aquelas cinco primeiras músicas e recomeçamos. 

As novas composições acabaram se transformando no que Symbol of Salvation representou. Achei isso uma ideia brilhante, pois estávamos convencidos de que estávamos progredindo, mas ele nos deixou nos familiarizar com o estúdio e nos fez acreditar nisso. Quando finalmente estávamos prontos, ele disse que era hora de começar a gravação do álbum. 

Para mim, isso representou uma preparação para o processo, como um aquecimento para produzir algumas músicas e avaliar nosso desempenho, com ele nos indicando que a jornada agora se iniciava em um nível mais elevado, o que achei incrível.

Olhando para o futuro, o que vem por aí para o Armored Saint depois do Bangers Open Air? Algum plano para novas músicas ou mais turnês?

Gonzo Sandoval: Você está ciente de que muitas novas músicas estão a caminho, e há bastante conteúdo do Armored Saint por vir. Estamos atualmente trabalhando em um novo álbum, e no próximo mês (N.T.: a entrevista foi feita em março), começarei a gravar cerca de cinco faixas. Portanto, estamos nos organizando e nos preparando para apresentar o que espero ser o álbum mais extraordinário do Armored Saint até hoje. Temos tido a sorte de lançar álbuns realmente bons, e cada um deles é único. 

Mas, incentivamos todos os fãs no Brasil a saírem e absorver um pouco do Armored Saint. Estaremos ocupados, e você pode ter certeza de que estamos muito animados com isso. Mantenha contato conosco através do Facebook, Instagram, perfis pessoais no Facebook e Instagram, e aproveite o show. Cuide-se e venha curtir um pouco do Armored Saint. Nós os amamos!