A Burning House, um dos redutos mais fiéis do metal underground em São Paulo, serviu um verdadeiro banquete para os fãs de metal extremo. No cardápio estavam os poloneses do Hate e o supergrupo Vltimas, que fez sua aguardada estreia em solo brasileiro. O evento reuniu admiradores sedentos por brutalidade em plena quarta-feira (02/10), para uma noite de peso e intensidade.
O Hate abriu a noite com uma apresentação que evidenciou por que é um dos nomes mais consistentes do death/black metal atual. Com o line-up formado por Adam “ATF Sinner” Buszko (vocal e guitarra), Dominik “Domin” Prykiel (guitarra), Tomasz “Tiermes” Sadlak (baixo) e Daniel “Nar-Sil” Rutkowski (bateria), os poloneses transformaram o palco em um altar de fúria e destruição. O som se manteve consistente e denso, sem espaço para distrações — tudo soava como uma máquina perfeitamente sincronizada.
O setlist percorreu diversas fases da banda, abrindo com “Sovereign Sanctity” e “Erebos”, que incendiaram o público logo nos primeiros acordes. Entre destaques como “Bellum Regiis”, “Rugia” e “Iphigenia”, o grupo alternou brutalidade e atmosfera, mantendo a plateia hipnotizada. Não à toa, foram ovacionados diversas vezes. O momento de respiro veio com “Interludium”, antes de encerrar com o peso absoluto de “Resurrection Machine” e “Hex”. Mesmo sendo a banda de abertura, o Hate dominou o palco com postura de headliner. Foi um show direto, intenso e sem artifícios — o tipo de performance que não apenas aquece o público, mas também conquista e deixa satisfeito.
Após a abertura do Hate, o Vltimas emergiu das sombras para encerrar a noite com uma performance devastadora. Essa foi a primeira vez que a banda, formada por grandes nomes do gênero, pisou em solo brasileiro, e não poupou esforços para transformar o evento em um verdadeiro ritual apocalíptico. Com energia visceral e execução impecável, o Vltimas não apenas fechou o show, como o elevou a um nível épico, conectando-se instantaneamente com o público ávido por doses brutais de metal extremo.
Formado por David Vincent (ex-Morbid Angel) nos vocais, Rune “Blasphemer” Eriksen (ex-Mayhem) na guitarra, Ype TWS no baixo, João Ribeiro na guitarra e Pawell na bateria, o supergrupo entregou um espetáculo intenso e técnico, transformando o palco em um verdadeiro inferno sonoro. A apresentação começou com “EPIC”, faixa avassaladora que explodiu como um vulcão em erupção, com os vocais guturais e ameaçadores de Vincent ecoando pela casa, reforçados por seu figurino à la Van Helsing.
“Praevalidus” e “Invictus” seguiram injetando riffs rápidos e peso, fazendo o mosh pit se transformar em um turbilhão, enquanto “Mephisto Manifesto”, mais cadenciada, evocava o melhor do black metal com solos gélidos de Blasphemer.
A intensidade não diminuiu. “Exercitus Irae” trouxe uma fúria mortal, como se a banda estivesse convocando um exército das trevas, e “Last Ones Alive Win Nothing” destacou a precisão cirúrgica de Pawell na bateria, com os bumbos soando como metralhadoras. A música é repleta de climas densos, e quem acha que David ficou deslocado apenas como vocalista engana-se, pois ele se mostra um grande frontman, que incorpora suas letras com intensidade e teatralidade.
Parecendo um terremoto, “Scorcher” e “Nature’s Fangs” chegaram misturando agressividade com momentos melódicos e perversos. O mesmo ocorreu em “Total Destroy!”, que serviu como um hino de destruição total, incitando o público a gritar e vibrar junto com a banda. Contudo, por volta das 23 horas, parte da plateia começou a deixar o local. Sem demonstrar qualquer abalo, o grupo seguiu com “Monolilith”, faixa que explorou texturas mais intensas, seguida por “Miserere” e pelo encerramento épico com “Diabolus Est Sanguis”, que finalizou o show como um verdadeiro ritual, com Vincent comandando o público como um sacerdote do apocalipse.
A banda deixou o palco rapidamente. Os fãs que permaneceram até o fim aguardaram um possível bis. Até mesmo o técnico de som manteve-se na mesa, já que o setlist indicava mais duas músicas, porém a apresentação havia sido oficialmente encerrada.
No encerramento da noite, ficou a certeza de ter presenciado um evento histórico para o metal extremo em São Paulo. O Hate reafirmou seu posto como um dos nomes mais sólidos do gênero, entregando precisão, densidade e carisma. O Vltimas, por sua vez, carregando o peso de um supergrupo e a responsabilidade de transformar expectativa em satisfação, selou sua primeira visita ao Brasil com um show devastador, que uniu grandiosidade e técnica sem perder a conexão visceral com os fãs. As performances potentes, diante de uma recepção calorosa e rodas intensas, coroaram a noite, lavando a alma do público que ansiava por esse momento.
Texto: Marcelo Gomes
Fotos: Sandra Rosato
Edição/Revisão: Gabriel Arruda
Realização: Vênus Concerts / Caveira Velha Produções / Xaninho Discos
Press: LP Metal World
Hate – setlist:
Sovereign Sanctity
Erebos
The Wolf Queen
Bellum Regiis
Valley of Darkness
Luminous Horizon
Interludium
Rugia
Iphigenia
Wrists
Resurrection Machine
Hex
Vltimas – setlist:
EPIC
Praevalidus
Invictus
Mephisto Manifesto
Exercitus Irae
Last Ones Alive Win Nothing
Scorcher
Nature's Fangs
Total Destroy!
Monolilith
Miserere
Diabolus Est Sanguis
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