Após três anos de sua última apresentação em São Paulo, o Mayhem desembarcou na Vip Station para uma celebração de quatro décadas de história, controvérsia e pura escuridão sonora. A banda norueguesa, precursora do black metal, voltou ao Brasil para comemorar seu 40º aniversário, e o que ocorreu foi uma viagem ao submundo através de seu vasto e impactante catálogo. Apesar de um atraso de uma hora devido a problemas de voo vindos do Chile, que poderia ter abalado o ânimo de qualquer público, a energia e a expectativa na Vip Station permaneceram inabaláveis, provando que a aura dos noruegueses é capaz de transcender qualquer contratempo.
Com a formação atual composta por Attila Csihar nos vocais, Teloch e Ghul nas guitarras, Necrobutcher no baixo e Hellhammer na bateria, o Mayhem subiu ao palco para entregar uma performance visceral. O set principal mergulhou em diversas fases da banda, começando com a agressividade de “Malum” e “Bad Blood”, que imediatamente acenderam a chama da intensidade. Faixas como “MILAB”, “Psywar” e “Illuminate Eliminate” demonstraram a evolução sonora da banda, mesclando a brutalidade característica com elementos mais complexos, enquanto a execução impecável da formação atual garantia que cada riff e batida atingisse o público com a força de um tridente vindo direto do inferno.
A atmosfera sombria intensificou-se ainda mais com a sequência de clássicos que definiram a trajetória do Mayhem. “Chimera” e “My Death” prepararam o terreno para a avalanche de hinos que viria a seguir. Os fãs responderam com fervor e rodas a cada nota de “Crystalized Pain in Deconstruction”, “View From Nihil” e “Ancient Skin”, evidenciando a profunda conexão do público com a obra da banda. Contudo, foi com “Symbols of Bloodswords”, “Freezing Moon” e a transcendental “Life Eternal” que o show atingiu um pico de imersão, culminando na execução majestosa da faixa-título “De Mysteriis Dom Sathanas”, um verdadeiro pilar do black metal. A inclusão de “Funeral Fog”, com o backing track vocal de Dead, foi um momento arrepiante, uma ponte direta com o passado sombrio e reverenciado da banda.
A chegada do encore veio para coroar esse momento, e foi então que o baixista Necrobutcher, em uma demonstração de pura camaradagem e respeito pela história da banda, dirigiu-se à plateia dizendo que a celebração dos 40 anos não estaria completa sem a presença de Messiah e Manheim. Assim, para delírio dos presentes, os ex-integrantes originais Messiah (vocais) e Manheim (bateria) subiram ao palco, prontos para reescrever um capítulo da história do black metal ao vivo.
O Deathcrush EP foi o foco do encore, e a execução foi nada menos que lendária. A introdução de “Silvester Anfang” criou um prelúdio sombrio e hipnotizante antes que a explosão de “Deathcrush” tomasse conta do ambiente, com Messiah no vocal e Manheim na bateria, transportando a todos para as raízes mais cruas e primitivas do Mayhem. A energia contagiante continuou com “Chainsaw Gutsfuck” e “Necrolust”, nas quais a química entre os membros originais e a intensidade da performance foram inegáveis. O ápice da noite, no entanto, ocorreu com “Pure Fucking Armageddon”, que contou com a participação de Attila Csihar e Messiah nos vocais, com Manheim mantendo a brutalidade implacável. Ver duas eras dos vocais do Mayhem compartilhando o palco foi um momento histórico e eletrizante, uma prova da duradoura e complexa linhagem da banda.
No fim, a impressão geral foi unânime: a apresentação foi uma verdadeira aula de história do black metal. O atraso inicial, rapidamente esquecido, apenas serviu para intensificar a expectativa de uma noite que reuniu lendas e celebrou a arte sombria do Mayhem. A fusão do passado e do presente no palco, com a formação atual e os membros originais, criou um evento que ficará gravado na memória dos fãs como um dos momentos mais significativos da trajetória da banda no Brasil.
Texto: Marcelo Gomes
Fotos: Roberto Sant'Anna
Edição/Revisão: Gabriel Arruda
Realização: Caveira Velha Produções
Mayhem – setlist:
Malum
Bad Blood
MILAB
Psywar
Illuminate Eliminate
Chimera
My Death
Crystalized Pain in Deconstruction
View From Nihil
Ancient Skin
Symbols of Bloodswords
Freezing Moon
Life Eternal
De Mysteriis Dom Sathanas
Funeral Fog
Silvester Anfang
Deathcrush (com Messiah nos vocais e Manheim na bateria)
Chainsaw Gutsfuck (com Messiah nos vocais e Manheim na bateria))
Necrolust (com Messiah nos vocais e Manheim na bateria))
Pure Fucking Armageddon (com Messiah e Attila nos vocai; Manheim na bateria)






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