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domingo, 13 de abril de 2025

Cobertura de Shows: Cryptopsy -

 


"Qual agressivo e técnico você quer o seu som?" A resposta é sempre "sim!"


Se você imaginava que o ATHEIST trazia muita brutalidade, então a sua definição deste termo precisa ser atualizada. Tendo passado algo ao redor de 25 minutos após a saída do palco destes, o quarteto canadense do CRYPTOPSY chegou ao palco, e sem rodeios. Com uma mala no chão ao estilo James Bond na parte central ao lado de duas caixas de retorno do som, aliado a  um atraso de 13 minutos do horário marcado, precisamente às 21:13, eles deixaram a introdução de SLIT YOUR GUTS fazer o falatório no centro das trevas completas que assaltaram o Fabrique Club.


CARNIFICINA MAGNIFICADA FRANCO-CANADENSE

Colocando o "extremo" no Metal, estes trazem uma outra vertente a um gênero já largamente conhecido pela sua característica experimental, com um pouco menos de malabarismo teórico e sendo guiados pelo desespero e pela violência. Os headliners da Burn Into Pieces Tour são liderados por Flo Mounier (Bateria), acompanhados de Matt McGachy (Vocal), Christian Donaldson (Guitarra) e Remi LeGresley (Baixo).

Uma apresentação dominada pelo álbum que os elevaram ao padrão de referência da brutalidade técnica, None So Vile, já era algo esperado. O que não impediu que LASCIVIOUS UNDIVINE desse as caras, vinda do álbum mais recente, As Gomorrah Burns, do ano retrasado, preenchendo o telão com a gárgula imponente que compõe a capa do mencionado álbum (nota do escritor: álbum este que foi uma verdadeira "volta à forma" dos canadenses).

A aparição da grandiosa GRAVES OF THE FATHERS vem com uma declaração de intenção: não importa o quão intelectualizado seja o indivíduo que goste dela, toda e qualquer capacidade cerebral do próprio se voluntaria a ficar de lado e dar vez aos instintos mais bestiais que o homo sapiens sapiens carrega em seu DNA possuírem o seu corpo. Naturalmente, durante a execução deste autêntico Hino da Agressividade, os moshes foram tomando forma, abrindo mão da timidez da apresentação anterior.

NENHUM TÃO VIL, MAS AINDA ASSIM VIL O SUFICIENTE


Destaque aqui para a capacidade de bangear de McGachy. Se você já viu como funciona um ventilador da Arno na potência máxima, é aqui que você testemunha isso pessoalmente, pois as giradas de cabeça de Matt se transformam nas hélices poderosas do ventilador em questão, podendo fazer com que muitos se perguntem se ele seria um parente de grau distante do famoso Corpsegrinder neste aspecto.

Mesmo sabendo bem o que o seu público curte (os trabalhos do memorável vocalista Lord Worm), isso não os impediram de diversificar um pouco o seu cardápio com o surgimento de SIRE OF SIN, que possui a participação do atual vocalista. Tal surgimento teve uma presença de pouca duração, já que após esta, Matt McGachy revela que o próximo petardo viria quando ele ainda tinha 10 anos de idade.

"Tem alguém aí na platéia old-school o suficiente?"

Como None So Vile já havia dado as caras, o palpite tradicional seria só um: era a vez do clássico Blasphemy Made Flesh tomar conta, através de OPEN FACE SURGERY, transformando a casa de shows numa autêntica vórtice desgovernada de entropia. 

SERIAL MESSIAH entrou imediatamente em rápida sucessão, sem querer saber do estoque de energia do público ali presente, dando sequência à chacina sonora deselegante que testava constantemente a capacidade do sentido da audição dos felizardos a estarem em seu alcance: com amor, do Canadá.


“FECHE OS OLHOS. ISSO PODE DOER MUITO”

GODLESS DECEIVER chega a ser a faixa mais interessante para quem é brasileiro, e mostra uma conexão dos canadenses com o nosso público. Entregando um sorrisão entre as músicas (em contraste com a cara de poucos amigos, atributo quase sine qua non para a invocação dos vocais vindos do Abismo), Matt a anuncia dizendo que ela foi escrita baseado em um fato do Brasil: o perigo das fake news em nossa sociedade. 

Se trata do mórbido caso de Fabiane Maria de Jesus, que encontrou uma partida prematura após ser brutalizada por moradores do Guarujá, estado de São Paulo. 

O motivo do ocorrido foi uma falsa acusação em uma rede social ao associá-la ao sequestro de crianças para o uso em rituais de magia negra - tanto que, na própria letra da música, você encontra o termo "bruxa", em bom Português. Aqui foi um dos pontos mais altos de todo o show, e com razão, pois se trata de um acontecimento que ganhou uma repercussão, que tão "geral", virou internacional, mostrando o lado obscuro que a internet pode causar.

Obviamente, a ausência de None So Vile seria tão rápida quanto a um comercial de televisão que impede o consumo do seu programa favorito, já que BENEDICTINE CONVULSIONS daria o ar da desgraça imediatamente, mantendo a prevalência do material da época de Lord Worm.

Uma tentativa de tentar decifrar o que e proferido pelo vocalista Matt McGachy seria uma tarefa quase hercúlea, já que a não ser que o ouvinte já tenha as letras em mente, o que se ouvia eram gritos necromânticos de uma agonia ambiental vindos de um gêmeo perdido do atual governador de São Paulo (Tarcísio de Freitas). A performance de Flo Mounier pode muito bem ser descrita como uma AK-47 agindo no meio de uma guerra em formato humano, com blast beats que parecem ser mais rápidos do que a infame "arma do Rambo" em ação por segundo. 

Não é surpreendente que o mesmo seja considerado um dos melhores do seu ramo, já que apesar de parecer ser uma máquina corporificada, ele entrega aquilo que é escutado no CD ali, na tua frente. Com a agravante de uma tocada tão natural quanto as necessidades do corpo humano. A tonalidade visceral do baixo, casada com a acústica profana e digna de uma vórtice deturpada do Inframundo comandaram as almas de quem ousou pisar no Fabrique Club.


A abertura em playback de PHOBOPHILE anunciava um dos maiores pilares de None So Vile, querida pelos fãs desde que veio ao mundo. Era bem nítido perceber que havia uma míriade de padrões comportamentais distintos: alguns estavam em estado de êxtase generalizada, outros soltando a sua animosidade interna com uma brutalidade auditiva maior do que um corpo é capaz de suportar, alguns com euforia notável, já que a referida faixa é motivo de orgulho para os apreciadores do "Metal da Morte".


VOLUNTARIAMENTE, EU OBSERVO O ABISMO, TORCENDO PARA QUE ELE ME OLHE DE VOLTA


O encerramento dado por outro presente do renomado segundo álbum foi feito por ORGIASTIC DISEMBOWELMENT, sendo aquela a última oportunidade da noite para todo mundo realizar o cárdio do dia sem nenhuma moderação. 

Mesmo sendo uma apresentação de duração menor do que a anterior, e de ter sido explicitado por Matt sobre a ausência de um bis, a elevação do famigerado "chifre do Metal" foi praticamente unânime, contando até com a presença de membros do próprio ATHEIST durante a execução do ato final, comemorando junto com a galera, como o próprio Kelly e o baixista Yoav.

Uma Sexta à noite muito digna de ser o rolê do final de semana é a característica-chave desta ótima parceria entre a Chamuco, a Xaninho Discos e a Caveira Velha Produções, que terminou num horário ainda possível para aqueles que dependem do transporte público para locomoção.

É de se louvar a capacidade acústica do Fabrique, que não deixou NADA a desejar mesmo para casas de maior tradição e com capacidade maior, como o Carioca Club.

Deve-se notar que ainda havia espaço disponível para mais pessoas preencherem o local, o que foi algo lamentável: talvez porque muitos ainda estão sentindo os efeitos financeiros do final de ano, ou talvez pela tempestade de opções de entretenimento que viriam nas próximas semanas. 

Fato é que tanto o ATHEIST demonstrou com maestria o fato de serem uma referência para não só os seus apreciadores mais lineares, mas aqueles que também estão com uma mentalidade mais "fora da caixa", e o CRYPTOPSY ser um dos nomes mais pronunciados quando estamos falando de música extrema vinda do Canadá, que consegue entregar uma apresentação fidedigna do que ouvimos no CD, não importando que quem a toque seja uma gama de musicistas diferentes.

No final, as memórias são tudo o que restam, e dedos cruzados para que o retorno destes Mestres do Death Metal ocorra num intervalo de tempo menor do que o habitual.

Texto: Bruno França

Edição/Revisão: Caco Garcia 


Setlist:

1) Slit Your Guts

2) Lascivious Undivine

3) Graves of The Fathers

4) Sire of Sin

5) Open Face Surgery

6) Serial Messiah

7) Godless Deceiver

8) Benedictine Convulsions

9) Flayed The Swine

10) Phobophile

11) Orgiastic Disembowelment





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