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domingo, 18 de maio de 2025

Cobertura de Show: Foreigner – 10/05/2025 – Espaço Unimed/SP

O tempo frio, nublado e chuvoso de sábado, dia 10 de maio, não deixou as pessoas sossegadas em casa. Muito pelo contrário: as ruas e os comércios estavam tomados por gente comprando, de última hora, o presente das mães para o dia seguinte. Mas, além disso, muitos rumaram ao bairro da Barra Funda para assistir a dois shows. Não, não fui ver o System of a Down, que foi a escolha da maioria. Sendo diferente de todos, optei, é claro, pelo show do Foreigner.

Formada em 1976, com nove álbuns de estúdio e cerca de 80 milhões de discos vendidos, a banda é uma das mais bem-sucedidas da história do rock. Além disso, ajudou a definir o estilo AOR ao lado de nomes como Journey e Toto. Quer mais? Eles também são responsáveis por uma das músicas mais famosas do mundo, “I Want to Know What Love Is”, que, tenho certeza, você já ouviu em algum lugar – numa festa, na rádio ou até no ambiente de uma loja.

A última vez que o Foreigner veio ao Brasil foi em 2013, ou seja, quase 12 anos sem a presença deles por aqui. O Espaço Unimed, local escolhido para essa tão esperada volta, não atingiu sua lotação máxima, mas recebeu um público bem expressivo. Como se trata de uma banda de outra época, arrisco dizer que a maioria das pessoas ali tinha entre 50 e 60 anos. Poucos eram menores de 30 ou estavam por volta dessa idade. Ainda assim, havia gente de todas as gerações na plateia, mostrando que o grupo conseguiu conquistar novos fãs ao longo do tempo. E a grande surpresa da noite foi a participação de Lou Gramm, vocalista original da banda, que se afastou dos palcos por motivos de saúde.

Os vocalistas Eric Martin e Jeff Scott Soto, muito queridos pelos brasileiros, trouxeram o melhor de suas carreiras como uma forma rápida de recarregar as energias antes do grande momento da noite.

Acompanhados por BJ (que fez backing vocal, guitarra e teclado), Leo Mancini (guitarra), Henrique Canale (baixo) e Edu Cominato (bateria) – integrantes do Spektra –, Eric foi o primeiro a reviver alguns dos momentos mais marcantes ao lado do Mr. Big. Começou com a animada “Daddy, Brother, Lover, Little Boy (The Electric Drill Song)”, seguida por “Take Cover”, uma faixa mais calma. Esse clima mais introspectivo permaneceu até o final do show, com baladas como “Wild World”, “Shine” e “Green-Tinted Sixties Mind”.

Comparando com a última vez em que vi Eric com o Mr. Big – no último show da banda no Brasil durante o Summer Breeze – ele se saiu melhor desta vez. Naquele momento, achei sua voz abaixo do esperado. Agora, com o apoio do Spektra (como mencionado), ele conseguiu dar um gás extra às músicas. Para Edu Cominato, foi como estar em casa: ele teve a oportunidade de tocar com o Mr. Big nos últimos shows da banda. No geral, foi uma participação agradável e bastante proveitosa.


Se Eric distribuiu carisma com leveza, Jeff Scott Soto foi o oposto. Sua entrada com “This House Is on Fire”, faixa do novo álbum do W.E.T., APEX – lançado em março –  deixou todo mundo empolgado. Depois veio “I’ll Be Waiting”, do Talisman, um dos maiores hits dele, que fez todo mundo cantar junto na hora certa – virou tradição quando ele interpreta essa música ao vivo. Ainda rolou um medley incrível com “Warrior” e “Fool, Fool”, relembrando os tempos em que Jeff fazia parte da banda do guitarrista Axel Rudi Pell.

É impressionante pensar que, quase chegando aos 60 anos, Jeff ainda mantém uma voz impecável. Prova disso foi a clássica “Crazy”, cover de Seal, que mostrou toda sua versatilidade e como consegue encaixar seu talento em diferentes estilos musicais. Depois veio “Alive”, do Sons of Apollo; no entanto, por algum motivo – talvez uma brincadeira – Jeff e seus parceiros do Spektra não conseguiram executá-la após três tentativas frustradas. No lugar dela entrou “Separate Ways”, do Journey.

O encerramento ficou por conta de dois duetos entre Jeff e Eric, cada um cantando uma música marcante de suas carreiras. “Livin' the Life”, que fez parte da trilha sonora do filme Rock Star, chegou a levantar suspeitas de uma participação de Jeff Pilson no palco antes de finalizar com “To Be with You”, sucesso nas rádios e um verdadeiro clássico.

Exatamente às 22h em ponto, sob uma iluminação eletrônica cheia de luzes pulsantes, o Foreigner entrou no palco com força total. Começaram com hits dos anos 70: “Double Vision” e “Head Games”, que receberam uma recepção calorosa graças à performance impecável dos músicos, dando para perceber como seria a noite.

Atualmente, ninguém na banda faz parte da formação original. A dupla de guitarristas, contendo Bruce Watson e mais um que não consegui identificar o nome, está entre os pontos altos dessa fase atual, entregando riffs e solos incríveis – até mais pesados e impactantes do que nas versões originais.

E o baixista Jeff Pilson? Conhecido pelos trabalhos com Dokken e Dio, ele foi praticamente o maestro da noite: circulava pelo palco interagindo com os colegas e mostrou ser muito mais do que um excelente baixista, mas também um ótimo pianista. Sua participação em “Cold as Ice”, um dos maiores sucessos da banda nessa noite, foi emocionante quando as vozes da plateia começaram a se levantar.

Mas quem realmente roubou a cena foi Luis Maldonado, responsável pelos vocais principais nesta turnê devido à impossibilidade de Kelly Hansen sair dos EUA por problemas com visto. E esse cara cantou demais! Foi algo fora do comum.

O setlist seguiu com famosa “Waiting for a Girl Like You”, trazendo um clima mais romântico e aconchegante naquela noite fria. Depois veio “That Was Yesterday”, com seus teclados marcantes que deixaram todo mundo em transe, preparando o terreno para as divertidas “Dirty White Boy” e “Feels Like the First Time”, que fizeram muita gente dançar.

Em “Urgent”, o palco foi tomado por um espetáculo de luzes vibrantes e explosões de fumaça. Logo em seguida, o tecladista Michael Bluestein e o baterista Chris Frazier assumiram o centro das atenções com seus respectivos solos.

Com a banda completa novamente no palco, “Juke Box Hero” foi a deixa não só para os momentos finais do show, mas também para a entrada do grande convidado da noite. Bastou Lucas pegar mais um microfone e posicionar um pedestal ao seu lado para que o público começasse a chamar por Lou Gramm, e ele apareceu para cantar os versos finais da música.

Ao adentrar no palco, já deu para notar sua dificuldade de locomoção. Sua voz até soou bem, embora distante dos tempos áureos, o que já era de se esperar. Mas só o fato de vê-lo ali, mesmo que por alguns instantes, já fez tudo valer a pena.

“Long, Long Way From Home” foi o pedágio para o grande momento da noite, com a nada menos que “I Want to Know What Love Is”. Vê-la cantada ao vivo pela voz original arrancou prantos da maioria dos presentes. “Hot Blooded” encerrou a apresentação de forma animada.

O show foi uma parte importante da turnê de despedida da banda. É uma decisão compreensível, embora também cause uma certa tristeza, já que foi a última oportunidade de assistir ao vivo aos clássicos que fizeram parte desse espetáculo e que marcaram época. Daqui por diante, só nos resta guardar com carinho essa noite inesquecível na memória e continuar celebrando o legado deles através das músicas que nos conquistaram ao longo do tempo.




Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: Mercury Concerts



Eric Martin – setlist:

Daddy, Brother, Lover, Little Boy (The Electric Drill Song)

Take Cover

Wild World

Shine

Green-Tinted Sixties Mind


Jeff Scott Soto – setlist:

This House Is on Fire / I'll Be Waiting

Warrior / Fool Fool

Crazy (Seal cover)

Separate Ways (Worlds Apart) (Journey cover)


Jeff Scott Soto / Eric Martin – setlist:

Livin' the Life

To Be With You


Foreigner – setlist:

Double Vision

Head Games

Cold as Ice

Waiting for a Girl Like You

That Was Yesterday

Dirty White Boy

Feels Like the First Time

Urgent

Juke Box Hero (com Lou Gramm)

Long, Long Way From Home (com Lou Gramm)

I Want to Know What Love Is (com Lou Gramm)

Hot Blooded (com Lou Gramm)

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