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domingo, 29 de junho de 2025

Cobertura de Show: Best Of Blues And Rock – 14/06/2025 – Parque Ibirapuera/SP

Listar todas as bandas mais influentes da história do rock não é tarefa das mais fáceis. Ainda em 2025, algumas lendas continuam por aí, lançando discos e fazendo shows ao vivo. Uma dessas lendas é Vincent Damon Furnier, mais conhecido como Alice Cooper, que voltou ao Brasil após sete anos no último dia 14 de junho, sábado, como parte do segundo fim de semana de Best of Blues and Rock – festival que vem ganhando cada vez mais destaque no calendário cultural, não só de São Paulo, mas de todo o país.

Com uma carreira que se estende por décadas, Alice é um dos pioneiros do chamado shock rock. Seus shows oferecem uma verdadeira experiência teatral, com guilhotinas, cobras e referências a filmes de terror – tudo isso para garantir um espetáculo completo. Aos 77 anos, ele ainda mantém o alto nível de suas apresentações. Quem esteve no festival, realizado no Parque Ibirapuera, viveu um momento de pura energia, aplausos, gritos e diversão.

No terceiro dia de festival, além de Alice Cooper, tivemos a participação de três nomes importantes da cena nacional. Às 16h, os guitarristas Marcão Britto e Thiago Castanho – ao lado dos bateristas André “Pinguim” Ruas e Bruno Graveto, o baixista Denis “Mascote” Rodrigues e o vocalista Rafael Carleto –, que fizeram parte do Charlie Brown Jr., abriram o evento. A trupe animou o público que chegou cedo, matando a saudade dos grandes hits como “Me Encontra”, “Céu Azul”, “Te Levar Daqui”, “Hoje Eu Acordei Feliz”, “Luta Pelo Que É Meu” e “Zóio de Lula”, sucessos absolutos dos anos 90 e 2000.

Marcão e Thiago foram o centro das atenções com seus riffs e solos marcantes. Além de demonstrarem toda a habilidade na guitarra, os dois interagiram com o público, demonstrando alegria e gratidão por participarem do festival. Antes de “Só Os Loucos Sabem”, Thiago falou sobre a importância da trajetória do Charlie Brown Jr., que já soma 30 anos, com 10 discos lançados e diversos singles executados nas principais rádios do país. Ele pediu respeito a essa história, valorização do que é nosso e que nunca esqueçamos das bandas nacionais. O repertório ainda incluiu “Como Tudo Deve Ser”, dedicada a Chorão e Champignon, e “Tamo Aí na Atividade”. A apresentação terminou com chave de ouro ao som de “Proibida Pra Mim”.

Muitas pessoas, assim como eu, se perguntaram quem era Larissa Liveir minutos antes de ela subir ao palco. A segunda atração do dia é uma das grandes revelações da guitarra atualmente. Seus vídeos viralizaram no TikTok e no YouTube, o que ajuda a entender seu rápido sucesso. Aqueles que a acompanham nessas plataformas tranquilizaram os que não a conheciam com elogios – que logo se confirmaram quando ela começou o show com “Whole Lotta Love” (Led Zeppelin), seguida por “Sad But True” (Metallica) e “War Pigs” (Black Sabbath).

O repertório foi uma homenagem aos ícones do rock, mas o mais interessante foi ver como Larissa conseguiu imprimir sua própria personalidade em cada um dos clássicos. A seleção ainda incluiu “Johnny B. Goode” (Chuck Berry). Além de talentosa, Larissa mostrou ser carismática e não escondeu a emoção de estar no festival ao lado de grandes nomes. Um dos momentos mais especiais foi quando Nita Strauss – usando uma camiseta do Sepultura e que mais tarde tocaria com Alice Cooper – surgiu de surpresa para toca “The Trooper” (Iron Maiden) ao lado da novata. Sem dúvida, o ponto alto da apresentação.

Essa estreia ao vivo no Best of Blues and Rock mostrou que um futuro promissor aguarda Larissa. Com tanto talento e empatia, ela certamente atrairá a atenção de patrocinadores, bandas e artistas de renome.

O Black Pantera, terceira atração do dia, elevou o nível da noite com sua mistura de hardcore, punk e metal. Um mês após participarem do festival Bangers Open Air, Charles e Chaene Gama (vocal, guitarra e baixo, respectivamente), junto com Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria), mostraram mais uma vez por que são uma das bandas que mais crescem no cenário brasileiro. Mesmo diante de um público que não costuma ser associado ao estilo da banda, o trio conquistou novos fãs por meio de faixas como “Candeia” – que abriu o show com muita vibração – , “Provérbios”, “Padrão É o Caralho”, “Mosha” e “Perpétuo”.

Mais adiante, a clássica “Fogo Nos Racistas” marcou o momento de maior interação com o público: todos se ajoelharam a pedido da banda e pularam durante o refrão, o que já é de costume todas que ela é executada ao vivo. “Tradução” trouxe uma sensação de calmaria, enquanto “Fudeu” misturou elementos de funk – extraídos dar cordas pesadas do baixo de Chaene – com punk. “Só As Minas”, como o próprio nome indica, promoveu o tradicional mosh feminino.

Perto do final, o trio estreou ao vivo o novo single em inglês, “Unfuck This” – uma excelente tentativa de conquistar espaço no mercado internacional, especialmente após o convite para se apresentarem no Hellfest, na França. “Dreadpool”, “Revolução É o Caos” e “Boto Pra Fuder” encerraram o set com intensidade, deixando o público pronto para a grande atração da noite.

De forma direta e ao ar livre, quase sem rodeios, o palco foi decorado com duas escadas nas laterais, um telão interativo, duas criaturas e uma cortina vertical em formato de jornal, estampando os olhos de Alice Cooper com a frase: “Banned In Brazil! Trial set: for deeds against humanity”, que em tradução livre significa “Proibido no Brasil! Julgamento marcado: por atos contra a humanidade”. Logo após, a cortina foi rasgada ao meio pelo Alice para que, junto com a banda começassem a noite com “Lock Me Up” e “Welcome to the Show”, esta última do álbum mais recente, Road (2023), que fez parte do setlist de 23 músicas. 

Embora continue lançando novidades com certa frequência, Alice decidiu focar nos clássicos, especialmente os da década de 70: hits como “No More Mr. Nice Guy”, “I’m Eighteen” e “Under My Wheels” fizeram o público cantar junto com entusiasmo, hipnotizados pela energia de Alice e pela performance da banda, que atualmente conta com Ryan Roxie, Tommy Henriksen e Nita Strauss nas guitarras, Chuck Garric no baixo e Glen Sobel na bateria.

O início nostálgico também trouxe surpresas. Com som claro e equilibrado, músicas como “Bed of Nails”, “Snakebite” e “Lost in America”, intercaladas com as famosas “Billion Dollar Babies” e “Be My Lover”, deram peso e intensidade à noite. “He’s Back (The Man Behind the Mask)” e a radiofônica “Hey Stoopid” encerraram essa primeira parte do show, com dois momentos inusitados: uma fã empolgada que tentou tirar uma foto com Alice, mas que logo foi esfaqueada pelo Jason (sim, aquele mesmo!), e uma entrada de Kyler Clark, fotógrafo e assistente de Alice, que também não teve um final feliz, sendo apunhalado pelo patrão.

Já nesse ponto, Alice havia conquistado todo o público. E, conforme o show avançava, seu impacto só crescia. “Welcome to My Nightmare” abriu caminho para os momentos mais cênicos da apresentação, com Alice assumindo a pose de uma boneca – como se estivesse torturando em “Cold Ethyl”. Essa cena serviu de introdução para a entrada de Sheryl Goddard, esposa de Alice, que protagonizou uma atuação provocante em “Go to Hell”. A performance preparou o terreno para a clássica “Poison”, cantada a plenos pulmões pelas milhares de pessoas presentes.

É impressionante vê-lo com a mesma disposição de sempre, sem sinais de cansaço, mesmo após tantos anos. Os três guitarristas demonstraram sinergia o tempo todo, trocando sorrisos e criando uma atmosfera contagiante. Ainda assim, Nita Strauss acaba roubando a cena – afinal, é considerada uma das melhores guitarristas da atualidade.

Voltando ao show, o telão atrás do palco exibiu uma antiga cena de Alice com o saudoso Vincent Price – ator e dublador que marcou época e conhecido pela sua narração em “Thriller", do Michael Jackson – anunciando o próximo ato com “The Black Widow”. A música começou com um solo arrebatador de Nita Strauss, enquanto apenas a banda estava no palco fazendo toda a base instrumental como se estivesse fazendo uma 'jam session'. 

Em seguida, Alice retornou amarrado em uma camisa de força para a climática “Ballad of Dwight Fry”, antes de ter sua cabeça cortada na guilhotina durante “Killer”. Nesta parte, Sheryl Goddard voltou ao palco, desta vez caracterizada como Maria Antonieta, dando um beijo em Alice antes de sua decapitação. Ela permaneceu em cena durante “I Love the Dead”, lamentando enquanto segurava a cabeça de seu marido.

“School’s Out” veio em clima festivo, com balões gigantes sendo lançados sobre a plateia e estourando quando se aproximavam de Alice. A performance contou ainda com uma breve palinha de “Another Brick in the Wall”, do Pink Floyd, e a apresentação de toda a banda por Alice. Sem dúvida, foi o momento mais animado da noite – mas também o indício de que o fim estava próximo. Antes do encerramento definitivo, ele mandou um “one more” e voltou para o bis, encerrando o show com “Feed My Frankenstein”, que contou com a presença de um Frankenstein gigante no palco.

O Best of Blues and Rock acertou em cheio ao escalar Alice Cooper para abrir o segundo fim de semana do festival. Por se tratar de um artista que não vem com frequência ao Brasil, a espera sempre é angustiante, mas totalmente recompensadora quando, de repente, ele retorna e entrega uma experiência para levarmos conosco pelo resto da vida, que foi caso do show redigido nesta resenha. Mantendo esse nível de energia e entrega, Alice ainda tem muito chão pela frente, pois saúde e disposição ele certamente tem para continuar encantando plateias de antigas e novas gerações pelo mundo afora.





Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Dançar Marketing



Alice Cooper – setlist:

Lock Me Up/Welcome to the Show

No More Mr. Nice Guy

I'm Eighteen

Under My Wheels

Bed of Nails

Billion Dollar Babies

Snakebite

Be My Lover

Lost in America

He's Back (The Man Behind the Mask)

Hey Stoopid

Welcome to My Nightmare

Cold Ethyl

Go to Hell

Poison

The Black Widow

Ballad of Dwight Fry

Killer

I Love the Dead

School's Out

Bis

Feed My Frankenstein

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