Shinigami Records (Nac.) / Nuclear Blast (Imp.)
Por Amanda Misturini
Ícones do thrash metal da Bay Area, o Testament retorna após 5 anos com seu décimo quarto álbum de estúdio, Para Bellum, lançado pela Nuclear Blast Records. O título deriva da expressão latina Si vis pacem, para bellum — que significa “Se queres paz, prepara-te para a guerra”.
O álbum reflete a indignação sobre o rumo em que a humanidade vem caminhando referente às suas criações e desenvolvimento. Para Bellum é a definição que o Testament encontrou, de forma urgente, em gritar ao mundo o caos implementado pela velocidade em que a modernidade tem avançado como suas novas tecnologias têm mudado a forma de agir e pensar da sociedade.
Tal qual uma verdadeira aula de thrash metal e calibrado no mais alto nível de sofisticação, com forte presença da atmosfera black metal - evidenciada pela união das referências de Eric Peterson e Chris Dovas -, cada faixa tem sua personalidade, a fim de agradar a todos os gostos, do fã mais raiz ao mais moderno da banda.
Sem dó nem piedade e com a bateria rasgando o silêncio da expectativa pela nova obra em “For the Love of Pain”, Chris Dovas, com toda a sua potência e técnica surpreendente, deposita sua identidade marcante e fortes referências de black metal junto de Eric Peterson, com quem cultivou uma estreita relação durante todo o processo das novas composições.
Os vocais atuais de Chuck Billy, anteriormente apreciados em “Infanticide A.I” e “Shadow People”, agora impressionam com um gutural sombrio e poderoso, rememorando obras aclamadas da banda no final dos anos 1990 como “The Gathering”.
“Infanticide A.I”, primeiro single do novo álbum, lançado em 21 de agosto deste ano, denuncia a indignação pelos tempos atuais terem sido inundados pela utilização desenfreada de inteligência artificial em diversas esferas da sociedade. Um grande exemplo é a belíssima arte de capa pintada novamente por Eliran Kantor, reflete a essência do álbum como um todo e, especialmente, desta faixa.
Segundo single lançado em 12 de setembro, “Shadow People” possui ótima cadência de ritmo muito característica de um thrash bem estruturado. Equilibrado entre velocidade rápida e moderada, com ótimos riffs, pausas e um foco especial no solo, é uma música que proporciona a todos os instrumentos terem seu brilho e destaque durante todo o andamento.
Para os fãs do velho Testament(o), a essência de clássicos atemporais como “The Ballad”, “The Legacy” e “Return to Serenity” é resgatada na quarta faixa “Meant to Be”. Ela inicia com dedilhados sutis, antecipando a força que estaria por vir. Ter uma música como essa no álbum demonstra o cuidado em acrescentar uma pitada de cada elemento que moldou a identidade da banda em uma única obra, como um respiro sem abandonar o peso e emoção que ela carrega da metade para o final da faixa, apresentando um solo marcante e muito feeling.
“High Moon” inicia sem dó nem piedade com os guturais destruidores de Chuck Billy, anunciando o que seria uma das faixas mais pesadas do álbum.
A receita perfeita para um thrash metal de qualidade é encontrada nessa música: cadência, peso, o baixo de Steve DiGiorgio trazendo a atmosfera obscura, a combinação técnica de Alex Skolnick e Eric Peterson nos riffs marcantes e a precisão da bateria de Chris.
“Witch Hunt” é o convite ideal para um Wall of Death de respeito. Começa com riffs velozes e técnicos, seguidos por um gutural em ascensão que provoca o sentimento de destruir tudo o que vem pela frente. Uma das faixas que revela a verdadeira essência do Testament: crua, veloz, visceral e pesada. Arrisco dizer que a maior demonstração da atmosfera black metal do álbum está presente nessa composição, com a bateria quase que ininterrupta no pedal duplo e riffs que a acompanham de forma perfeitamente sincronizada.
Com um vocal mais limpo que as duas faixas anteriores, Chuck Billy explora uma região média e limpa com drives rasgados em “Nature of the Beast”, lembrando bastante a época de Dark Roots of Earth. Possui grande presença de elementos modernos como a sensação de um ritmo mais dançante e melodias bem distribuídas. Essa faixa possivelmente poderá agradar os fãs mais recentes.
“Room 117”, também com perceptível influência moderna, explora muitas melodias do início ao fim, vocais em uma região média-aguda mas com peso característico mais acentuado no refrão. A combinação criativa da cozinha com os solos traz uma harmonia excelente na metade da música.
“Havana Syndrome” tem um começo marcado por riffs melódicos para depois revelar um thrash pesado e cadenciado, muito bem produzido e equilibrado com vocais rasgados. É uma música que explora tonalidades mais agudas na voz de Chuck e ainda consegue entregar uma estrutura forte e com muita identidade.
“Para Bellum”, faixa-título que encerra a obra, possui a mesma influência moderna das anteriores sem deixar a essência raiz de lado. Longa introdução, seguida de um vocal extremamente visceral e brutal durante toda a extensão da música, devidamente explorada e depositada por Chuck Billy. Com ritmos variados, estrofes pesadas, ponte e refrão entregam muita velocidade utilizando a tradução em latim como elemento expressivo na letra. A música ainda navega nos refrões entre o instrumental do black metal ao mesmo tempo do thrash e finaliza com o dedilhado que assina o fim dessa guerra, o cessar do sofrimento e da angústia moderna. Para Bellum encerra de forma sutil, demonstrando total equilíbrio entre o fim e o início apoteótico da primeira faixa.
Um álbum extraordinário do início ao fim, na medida certa e para todos os gostos, que agrada desde o fã mais raiz ao mais recente. Testament ainda tem muita lenha para queimar e agora, mais do que nunca, com uma máquina na bateria que resgata a energia necessária para continuarem produzindo obras-primas como Para Bellum.
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Fred Kowalo |
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