Gothic Rock finlandês,
os Vampiros de Helsinki fazem bom show de redenção
O frio fim de inverno paulistano era o ambiente perfeito para um show “trevoso”! Foi nesse momento propício que, após pouco mais de um ano de se apresentarem no Summer Breeze Brasil 2024, o The 69 Eyes, uma das mais icônicas e cultuadas bandas de gothic rock, ou gothic metal, como preferirem, voltou a São Paulo para único show no Brasil.
Expectativas existiam - e muitas. Na fila do evento, pessoas chegaram às sete horas da manhã para ficarem na “grade” (não havia grade, no fim das contas, o que é um problema, mas falaremos depois disso). Mais que isso, falamos com pessoas que vieram de Belém-PA, outros de Minas Gerais, só para assistirem o show. Não podemos deixar de citar isso, pois indica muito bem o quão apaixonados são os fãs da banda, e do gênero em geral. Além de tudo, o show do ano passado, no Summer Breeze Brasil, havia sido um tanto prejudicado por problemas técnicos persistentes, e um dos mais criticados do festival por esse motivo, então seus fiéis admiradores precisavam de uma redenção nesse específico quesito.
Com curto atraso - tolerável, dado o ótimo horário agendado -, quando as portas do Fabrique abriram, já havia uma boa fila na porta, embora nada que demonstrasse o quão cheio estaria. Acreditem, foi bem cheio (não lotado, mas cheio)! Poucos minutos após aberta a casa, o com capacidade ainda pela metade, a banda Drama subiu ao palco para a abertura do evento. Um grupo de faz uma interessante mistura de pós-punk com alguns elementos eletrônicos, como um New Order encontrando o Depeche Mode, foram muito aplaudidos em sua ótima apresentação. Não para menos, é exatamente o que se espera de um evento com a maior parte dos presentes pertencentes à sub-cultura gótica, e suas músicas “de Madame” (em referência à tradicional balada gótica paulistana, Madame, antigo Madame Satã) fazem parte da vida cotidiana desse povo. Começamos bem a noite, que ainda melhoraria!
Um dos pontos mais altos da noite, e uma grata surpresa, foi a banda When I Die. Mais pesados que a anterior, já se aproximando mais do “metal”, têm uma formação curiosa: eles não têm baterista! Isso não só não prejudica, como deixa seu som único. As baterias eletrônicas dão uma estética dançante ao som, e a densidade das vozes - tanto masculina quanto feminina - criam um ambiente soturno. Destaco o magnífico cover de Hells Bells do AC/DC, que embora seja um verdadeiro hard rock, em sua roupagem original, nessa releitura absurdamente criativa se encaixou no ambiente e até parecia que foi composta para ser assim - claro, sem desmerecer a original dos australianos, que é um clássico absoluto. Quando colocam duas bandas de abertura em um evento, ficamos muitas com pé atrás, pois chega a ser cansativo. Mas ali, não foi o caso. O When I Die merece um posto de destaque na cena gótica brasileira. Eu não criticaria uma pessoa que me falasse que foram os melhores do evento, embora não os principais.
Chegava o momento, então, dos donos da festa. Os Vampiros de Helsinki, em sua quarta passagem pelo país. Anteriormente, haviam fechado uma das noites do Summer Breeze Brasil 2024; em 2010, seu único show solo por aqui, e vinte anos atrás, uma apresentação diurna no Live N Louder.
No ano passado, apesar das expectativas - já que tinham cancelado apresentações no país anos antes -, o show foi cheio de problemas técnicos, e até mesmo o setlist teve que ser reduzido, com intervalos longos entre músicas que só pioraram pela presença de Supla tendo que improvisar coisas a falar no palco. Merecíamos mais, com todo respeito ao Papito, que fez o que podia. Essa era a oportunidade, e para casa cheia, ainda por cima!
Subiram ao palco com um tempo considerável de intervalo, mas dentro dos conformes, por se tratar da atração principal. Começaram bem, já com clássicos - no caso, Devils, e depois Feel Berlin, outra das antigas. É até engraçado ouvir a voz cantada do vocalista Jyrki 69, bem grave, mas quando fala, tem uma voz bem diferente, que nada lembra toda aquela profundidade. Isso não é uma crítica, e sim um elogio a alguém que tem ótima técnica e controle vocal. Em presença de palco, contudo, quem rouba a cena é o baterista Jussi 69 - animado, enérgico, toca jogando os braços para cima, e marretando a caixa de seu instrumento. Uma crítica, porém, é quanto ao som: não, não tivemos os problemas infindáveis da apresentação do Summer Breeze, mas pouco se ouvia do baixo, e da própria bateria, a caixa era muito mais alta que o resto das peças, e até encobria muitas partes do instrumental.
Em se tratando do setlist, foi o famoso “jogar seguro”. Não diferiram do que vinham fazendo recentemente, que na verdade é até interessante, com músicas que não tinham sido tocadas no Brasil, e que começaram a tocar ao vivo faz pouco tempo. Apesar disso, apenas uma do último, e excelente, disco mais recente, Death of Darkness - a ótima Drive -, o que é uma pena. Também apostaram muito em sua carreira de meados dos anos 2000, que não é exatamente a mais querida entre os fãs, com um punhado de clássicas, mas sem canções bem melhores mais antigas. Claro, algumas excelentes, como Gothic Girl, Brandon Lee e o bom cover do Boycott, Gotta Rock não podiam faltar, e não faltaram.
No geral, uma noite de redenção, após o complicado show anterior, que foi bem sucedida. Não uma apresentação fora de série, nem impecável, mas com um setlist completo, sem qualquer “B.O.”, e uma performance tecnicamente excelente de cada um dos músicos. O famoso “play safe” funcionou muito bem, e os horários amistosos a todos deixou tudo melhor.
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