Uma banda que merece ser olhada com muito mais atenção, fundada em 2005 em São José dos Campos (SP), o Chaos Synopsis já possui um currículo bem invejável, tendo já 3 full-lenghts de estúdio e um ao vivo, tendo também vários shows fora do Brasil, alcançando boa repercussão lá fora. Com o mais recente trabalho, "Gods of Chaos" (2016), onde estreou nova formação, o grupo recebeu novamente muitos elogios pelo seu Death/Thrash vigoroso, criativo e de muito boa técnica, sendo relacionado em muitas listagens de melhores do ano. No ano passado a banda prosseguiu a tour de divulgação, retornando inclusive ao exterior para 23 shows, passando por 7 países, prosseguindo depois para mais shows pelo Brasil.
Conversamos com o fundador Jairo Vaz Neto para falar sobre "Gods of Chaos", que traz sua temática voltada a deuses antigos de diversas culturas, além de nos contar mais sobre as 4 tours pelo exterior e desse caminho ascendente que o grupo vem percorrendo. Confira a seguir.
(English Version)
RtM: Saudações Jairo, vamos iniciar já falando sobre o "Gods of Chaos". Bom, nos álbuns anteriores vocês sempre focaram em algum tema central, gostaria então que vocês nos falassem sobre a escolha do conceito do álbum, que fala sobre deuses antigos. Como surgiu a ideia?
Jairo Vaz Neto:
Quando fomos convidados para gravar o split“Intoxicunts” (2016), escrevi uma
letra sobre o deus do caos egípcio Apep. Quando terminei a letra, me veio na
hora o nome do álbum e a temática, que gostei muito.
RtM: Ainda sobre o conceito, a parte lírica dos seus álbuns é sempre muito
interessante. Como foi a pesquisa e escolha dessas figuras mitológicas
abordadas nas músicas?
Jairo: Costumo
fazer as pesquisas e dar uma lida rápido sobre o tema em questão, com isso vão
surgindo as figuras escolhidas e então me aprofundo em cada um. No caso em
questão, fiz questão de tentar incluir figuras de todos os locais do globo, com
um panteão vasto e que remete a várias diferentes eras.
"Todos os instrumentos ouvidos no álbum foram gravados de amplificadores, sem alterações de timbres na mixagem, deixando o mais próximo possível do som que fazemos em shows." |
Jairo: Não foi
algo muito pensado, geralmente colocamos um prazo final e trabalhamos para que as
músicas estejam prontas naquela data, então nos juntamos e vemos o que sai.
Acho que trouxemos um pouco do que fazíamos em “Kvlt ov Dementia”, assim como
inserimos mais melodias, contribuição essa vinda do Diego Sanctus, que trouxe
muito da sua forma diferente de criação.
RtM: A produção me soou também mais crua. Vocês optaram por algo mais cru
propositalmente, a fim de ressaltar o peso e brutalidade de “Gods of Chaos”?
Gostaria que vocês comentassem um pouco a respeito da produção do álbum.
Jairo: Foi
proposital. Queríamos um álbum sem nada além de guitarra, baixo, bateria e
vocal, sem inclusão de samplers e tal. Todos os instrumentos ouvidos no álbum
foram gravados de amplificadores, sem alterações de timbres na mixagem,
deixando o mais próximo possível do som que fazemos em shows.
RtM: O álbum marca a estreia de Luiz e Diego nas guitarras, então gostaria
que vocês comentassem sobre essas mudanças de line-up, que critérios são
valorizados para a busca de novos membros, até para não comprometer a
identidade da banda, e o que a dupla trouxe de novo ao seu som?
Jairo: Os dois
são grandes guitarristas, cada um a sua maneira. Diego tem muitas ideias de
composições e melodias, contribuindo muito para a criação das músicas. Quanto
ao Luiz, além das contribuições nos solos dos álbuns, ele é o cara que vale a
pena ter na estrada, além de ser muito divertido, está conosco como roadie
desde 2013 e entende bem o que é estar na estrada.O principal pra gente, além
de ser responsável, é curtir viajar, se divertir conosco e ter vontade de
chegar sempre mais longe.
"Algo bem legal desse som, Raising Hell, é que a letra foi escrita pelo meu avô, em uma antiga poesia dele, chamada ‘A Tríade Satânica’." |
Jairo:“Raising Hell”acho
que é a música com a pegada mais Chaos Synopsis de todo o álbum e acredito que
traga o tema mais conhecido, Satanás, que em nosso país, trata-se da mais
conhecida figura mitológica. Algo bem legal desse som é que a letra foi escrita
pelo meu avô, em uma antiga poesia dele, chamada ‘A Tríade Satânica’. “Sixteen Scourges” tem aquela pegada do
death metal dos anos 90, brutal e rápida, trazendo Ahriman, o mal encarnado, da
primeira religião monoteísta que se tem conhecimento.Os dois tem uma ligação,
por tratarem-se basicamente da mesma figura, sendo que boa parte da história do
cristianismo é influenciado pelo Zoroastrismo.
RtM: Vocês buscaram temas em diversas culturas, e destaco “Storm of Chaos”,
inspirada na mitologia Taino e “The
Beast that Sieges Heaven”, que fala de Typhoon, da mitologia grega, deus da seca,
que representa o ar em sua forma mais furiosa. Gostaria que vocês falassem um
pouco mais também destas duas músicas.
Jairo:
“Storm of Chaos” é uma das músicas mais rápidas da banda, com uma pegada brutal,
exatamente para refletir a deusa dos furacões, que destrói tudo que passa pela
frente.“The Beast” tem uma boa inspiração na música “Chaos Synopsis”, a primeira
composição da banda. Uma pegada destruidora, com riffs fortes e mudanças de
andamento, principalmente durante a batalha entre Zeus e Typhoon no Monte
Olimpo, na parte lírica.
RtM: A banda este ano foi para sua quarta tour pelo exterior, é isso?
Conte-nos como surgiram essas oportunidades, pois muitas bandas ainda somente
sonham em tocar fora do país.
Jairo: Após a
primeira vez em 2010, na qual fomos na cara e na coragem com 3 shows marcados e
chegando lá marcamos mais alguns, conseguimos muitos contatos, que mantemos até
hoje, além de termos ganhado cada vez mais fãs pelo velho continente, o que
facilita e muito a nossa ida e as negociações de shows. Além disso, nosso
manager Xandão, da On Fire Booking, trabalha incessantemente para que as tours
sejam cada vez maiores e que sempre passem por novos locais.
"Vendemos cerca de 500 CDs nesta tour, o que para uma banda underground, é um número bem considerável." |
Jairo: O que
facilita muito em excursionar pela Europa é que as distâncias são menores, as
estradas melhores e é comum ao pessoal ir em shows dia de semana. Tocar todos
os dias traz muita experiência quanto ao business, compromissos com horários,
seguir regras e conviver com um monte de pessoas diferentes.A cada tour temos
um retorno maior, economicamente falando, pois os números de vendas sempre
aumentam a cada tour. Vendemos cerca de 500 CDs nesta tour, o que para uma
banda underground, é um número bem considerável.
RtM: O Nervochaos passou por alguns problemas em sua recente tour lá fora,
especificamente em Bangladesh, onde não puderam se apresentar, ficando detidos
no aeroporto. Vocês chegaram a passar por alguma situação desconfortável em
alguma tour? Seja aqui ou lá fora?
Jairo: No geral
somos muito bem recebidos por todos os promoters, tanto aqui quanto lá, o que
mais pega em uma tour é mesmo a condição física. Esse ano mesmo, tínhamos um
show em Praga na República Tcheca, estávamos vindo de um show em Berlin na
noite anterior que o frio estava extremo e não conseguimos tocar devido a febre
e dor no corpo de dois integrantes. Nem sempre temos hotel pra dormir, muitas
vezes devido a distância dormimos na van enquanto viajamos e chega uma hora que
o corpo não aguenta.
RtM: Mesmo o Metal Extremo brasileiro tendo boa representatividade e
reconhecimento, o que vocês acham que falta para mais bandas aqui do Brasil
conseguir uma exposição maior, e ter, por exemplo, condições receber um suporte
como recebeu o Sepultura, que está com a Nuclear Blast lá fora, e um Krisiun, e
até um Nervosa, que estão em selos porte, como Century Media e Napalm Records?
Jairo:
basicamente, como a maioria das bandas não ganha grana, fica difícil investir
em propaganda. Selos grandes investem em bandas que trarão retorno financeiro e
para isso uma banda precisa aparecer muito pela via independente ou ter um
padrinho que faça as vias. Trata-se de muito trabalho acompanhado de um pouco
de sorte. Além de tudo, estamos muito distantes dos grandes polos do metal,
Europa e EUA, o que dificulta que o som chegue até as pessoas certas.
"Tenho um pensamento de que não importa o fim, mas sim a caminhada." |
Jairo: Estamos a
toda marcando shows para a divulgação de “Gods of Chaos”, porém já temos
planejado tudo que faremos até 2020, mas foquemos no agora, além dos shows,
devemos gravar alguns sons para o lançamento de um 7 EP para 2018. Se tem algo
que gostamos, é gravar! Continuamos passo a passo, fazendo com que todos os
shows sejam excelentes e divertidos para nós e público, independente de quantos
estejam nos assistindo. Tenho um pensamento de que não importa o fim, mas sim a
caminhada.
RtM: Pessoal, obrigado pela atenção, que venham muitas conquistas para a
banda, fica o espaço para sua mensagem final, lembrando que estamos disponibilizando a
entrevista também em inglês, a fim de atingir os sues fãs lá fora, e também
apresentar a banda a mais pessoas.
Jairo: Eu que
agradeço pelo espaço, por estudarem a história da banda e se aprofundarem nos
temas pra criar a pauta, isso é muito importante e demonstra um respeito muito
grande pela banda.Agradeço a todos que apoiam a banda e espero encontrar todos
na estrada qualquer hora dessas.
Entrevista: Carlos Garcia
Fotos: Arquivo da banda
Assessoria: Rômel Santos
Chaos Synopsis Facebook
Youtube
Entrevista: Carlos Garcia
Fotos: Arquivo da banda
Assessoria: Rômel Santos
Line-up
Jairo
Vaz - Voice of Command and Heavy Attack
Friggi - Mad Beats
Luiz
Ferrari - Deadly Arrows
Diego
Santos - Tormentor
Chaos Synopsis Facebook
Youtube
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