quarta-feira, 29 de abril de 2020

Kamala: “O mundo já tem muita coisa “pesada/negativa”, mas acho extremamente importante, passar algo positivo nas letras”


Entrevista por: Renato Sanson


Músico entrevistado: Raphael Olmos (guitarra/vocal) – Banda: Kamala de Campinas/SP.

“Eyes of Creation” (18) é o mais recente lançamento do Kamala onde apresenta sua nova formação, mostrando uma sonoridade ainda mais agressiva e instigante. Como está sendo este novo momento?

Está sendo espetacular, a Isabela Moraes (bateria) trouxe muito groove para a banda, e ao vivo, a energia dos 3 nos palcos está sendo super elogiada pelos fãs e pelos jornalistas.


Além de “Eyes of Creation” vocês lançaram em 2019 o seu primeiro disco ao vivo o “Live in France” que é exclusivamente para as plataformas streamings. Porque a França? Como foi esta turnê?

 Esse álbum foi gravado na nossa 6º tour europeia, e desde a 2º, a França foi um país que nos “abraçou” e começamos uma linda relação. Sem dúvida é o país europeu que mais tocamos, sendo que uma das turnês, foi feita inteiramente na França.

Esse álbum não estava nos nossos planos, e assim como para os fãs, foi uma ótima surpresa para a banda também. Foi gravado no último show dessa turnê, e única coisa que sabíamos, era que a casa de show transmitia a Live através da sua página no Facebook. Por ser o último show da tour, estávamos uma máquina, e assim que acabou, antes de ir embora, o técnico de som falou “o show inteiro foi gravado multi pista, vocês gostariam de levar as tracks?”. E quando escutamos, ficamos impressionados com a qualidade. Mostramos para o Ricardo Biancarelli (produtor do nosso próximo álbum) e ele pirou também, e fez a mixagem e masterização. Voltamos no final de outubro e em dezembro decidimos lançar exclusivamente em todas as plataformas de streaming, para não perder o “time”, já que na minha opinião foi a melhor turnê que fizemos.

O álbum foi escolhido por muitos jornalistas como melhor álbum ao vivo nacional, então, não poderíamos estar mais felizes com esse lançamento! E sem dúvida, um álbum ao vivo, com muita energia e orgânico (pois nem planejávamos e sabíamos que estava sendo gravado dessa forma), simboliza muito o bom momento que estamos vivendo.


Essa jogada de ter certos materiais lançados apenas nas plataformas digitais é uma grande sacada e vejo no marketing do Kamala essa desenvoltura com o mundo digital, transformando essa nova era em um aliado e não em um inimigo. Esse pensamento mais universal de divulgação trouxe quais benefícios?

Eu sou colecionador de CD’s, mas mesmo eu, mudei minha forma de consumo. Temos que enxergar o mercado e sempre buscar adaptar e evoluir.

Além do LIVE IN FRANCE, temos outro álbum lançado exclusivo digital, que é o EP “Consequences of Our Past - VOL 1”, que é dedicado a regravações de músicas antigas com essa nova cara da banda. Os três primeiros álbuns do Kamala tinham 2 guitarristas e afinações mais baixas, e quando viramos um trio à partir do MANTRA (2015), novos arranjos nas músicas antigas foram feitas e muito bem aceitas ao vivo.

O streaming é mais do que realidade e a principal forma de consumo de música hoje, quem for contra esse formato, está dando um “tiro no pé”.

Referente as ideias de divulgação no meio digital, quem cuida desta parte criativa?

Nós mesmos... ainda somos uma banda 100% independente, então tudo do KAMALA é feito e desenvolvido pela banda.


Mesmo tendo o mundo digital ao seu lado vocês também prezam pelo lançamento físico de seus álbuns. Qual a importância do material lançado fisicamente para a banda?

Nossos álbuns de inéditas continuam e sempre vão continuar tendo em formato físico, pois o álbum além das músicas, tem todo o trabalho gráfico junto, que simboliza cada nova obra, conceito das letras... cada novo álbum é um novo capítulo da banda, e merece ter todo esse cuidado áudio/visual.

E também temos boas vendas de CD’s nos shows e encomendas, pois querem autografados, e galera sabe o quanto isso ajuda a manter viva uma banda independente!

Algo que me chama muito a atenção no som do Kamala é a parte lírica, onde os temas se conectam desde o primeiro álbum, baseado em Chakras e energia. Como surgiu esta ideia?

O mundo já tem muita coisa “pesada/negativa”, somos uma banda de metal, mas acho extremamente importante, passar algo positivo nas letras, pois música é uma das principais formas de arte para se conectar e se purificar.

Já tivemos fãs que falam o quanto nossas letras ajudaram em momentos difíceis, então antes de escrever cada letra, sabemos que a música não será só nossa, e que temos responsabilidade com cada palavra colocada. Bandas como o Gojira, seguem por essa linha... e também não nos sentimos confortáveis escrevendo sobre algo que não vivemos e acreditamos.

Qual a sua relação com este mundo das energias?

Acredito que tudo que fazemos reflete aqui mesmo, desde os pequenos atos. Se você fizer o bem, ele volta, o mesmo se você fizer o mal... cedo ou tarde, tudo retorna.


Musicalmente fica quase impossível encontrar um estilo para o Kamala, já que a diversificação sonora é latente, mas sem perder um pingo de agressividade, muito pelo contrário, crescendo ainda mais a cada lançamento.

Eu falo que somos uma banda de Metal (hehe), claro que o thrash é uma das nossas principais influências, mas não podemos nos limitar. A cada novo álbum a banda está crescendo mais mesmo, fruto de muito trabalho e foco... acredito também que isso reflete o amadurecimento nas composições e também como músicos ao vivo, que é a real prova de uma banda.

Estamos passando por uma transformação mundial com está pandemia. Como vocês estão lidando com este novo momento?

Um momento muito estranho... acredito que muito disso está acontecendo por alguma coisa que só vamos entender lá na frente. A humanidade historicamente tem pandemias, mas acho que especificamente essa, está fazendo a gente refletir mais ainda. Refletir o quanto estamos egoístas, o quanto deixamos de lado coisas simples e importantes. E é um período de auto avaliação e também de reinvenção. Pessoalmente, estou buscando me manter positivo e produtivo, e trazendo novidades na parte de vídeo e interação nas mídias sociais.


Para 2020, quais são os planos?

 Eram muitos hehehe mas por conta da pandemia, estamos com uma grande “nuvem” e não sabemos o que será desse ano.

O novo álbum está pronto, tínhamos iniciado o processo de procura de gravadoras internacionais e temos uma próxima tour europeia para o segundo semestre, mas infelizmente não sabemos o que vai acontecer, todo dia o mundo muda, está até difícil ver o que será duas semanas para frente, imagina então meses. Mas tudo isso uma hora vai passar, então temos que nos cuidar e cuidar de quem está em volta de nós, para sair o melhor possível dessa.

Uma das formas que estamos fazendo para suprir a falta de shows, é o lançamento de vários vídeos semanais no nosso canal do YouTube, algo que ajuda o pessoal nesse período de isolamento também. E claro, quem puder escutar nossas músicas nas plataformas de streaming, ajuda muito a banda na parte de gerar receita.

Se te perguntassem hoje, “me indique um disco da sua banda para ouvir e porque” qual você escolheria?

O próximo (risos), pois é um álbum que estamos muito confiantes. Mas dos lançados, eu acho que o LIVE IN FRANCE reflete muito o que a banda é... a energia ao vivo, e tem músicas de quase todos os álbuns, então acho que é uma boa indicação!


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Formação:
Raphael Olmos - guitar/vocals
Allan Malavasi - bass/vocals
Isabela Moraes - drums


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