Uma ascensão meteórica ao quase esquecimento. Esse parâmetro pode
definir como foi a carreira do Armored Saint. Se no final dos anos 80 a banda
chegou a um ótimo reconhecimento, na década seguinte não podemos dizer o mesmo,
pois tanto seu mentor, o baixista Joey Vera, quanto o vocalista John Bush estavam
envolvidos com outros projetos (Anthrax e Fates Warning).
Pois bem, passado um período de hibernação o Armored Saint voltou a
respirar, o que foi o indicio de que um dia poderiam retornar à todo vapor. E
podemos dizer que isto de fato se concretizou, desde a saída de Bush do Anthrax o
Saint ganhou mais espaço, e retornaram com força total com seu novo disco, o
excelente “Win Hands Down”.
Para contar um pouco dessas histórias (incluindo o convite para o
Metallica), conversamos com o líder e fundador Joey Vera, que nos falou suas impressões sobre o
novo álbum, a época de sucesso com o lançamento de “Symbol of Salvation” e
muito mais!
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RtM: Olá Joey, obrigado pelo seu tempo e atenção para nos responder a esta entrevista! Estamos muito felizes pela oportunidade e com o novo álbum. Bem, falando no álbum recentemente lançado, "Win Hands Down", que está tendo um excelente impacto entre os fãs. Como é para você ver esta grande e positiva repercussão? Seria o reconhecimento merecido que Armored talvez não teve nos anos 80 e 90?
Joey: Bem, foi grande e bastante inesperado realmente. Mas eu não sinto que nós merecêssemos alguma coisa apesar de tudo. Na verdade, as expectativas não eram por uma grande resposta. Temos que manter os pés no chão com nossas pretensões.
RtM: "Win Hands Down" tem recebido ótimas críticas e figurado em charts ao redor do mundo. A resposta então foi maior e mais rápida do que as suas expectativas iniciais? E, a julgar pelo título do álbum, ou foi uma feliz coincidência, ou penso que havia a certeza de que tinham um grande material em mãos! He he he! Armored Saint vai vencer com uma mão nas costas!! Grande álbum!
Joey: Obrigado. Mas, novamente, nós realmente partimos sem expectativas. O fato de que eu intitulei o álbum com a primeira faixa do disco não tem nada a ver com o que estamos tentando dizer sobre nós mesmos. Nós escrevemos uma música chamada “Win Hands Down”, e nós sentimos que musicalmente seria uma grande faixa de abertura. Isso é tudo.
RtM: O fato é que "Win Hands Down" é álbum poderoso e melódico, que traz muito do metal clássico, mas nunca datado, inclusive sendo uma tempestade de ar fresco, adjetivos que eu vi em vários comentários. A que você atribui toda essa energia que emana do álbum? Vocês sentiram durante a produção que estavam tendo um momento especial, ou simplesmente deixaram fluir naturalmente, seguindo seus instintos?
Joey: Sim, foi praticamente uma coisa natural. Desde o início, eu estava ansioso para fazer este registro soar grande e exuberante. Portanto, há um monte de overdubs e peças que criam esta parede de som. Eu também estava empurrando-nos a tocar com arranjos e orquestrações dentro das canções, porém sempre mantendo um senso de poder. Não foi nada super calculado, mas mais arriscando.
RtM: Senti uma banda muito livre, sem se preocupar com limites, e isso pode ser sentido em todo o álbum, com a inclusão de efeitos e elementos que deram um "brilho" especial ao som. Os efeitos em seu baixo, por exemplo, as canções "An Exercise in Debaouchery" e "Muscle Memory". Eu gostaria que você comentasse um pouco mais sobre estas duas faixas e estes "novos" elementos na música da banda.
Joey: Bem, acho que nossa banda sempre foi um pouco “simples” em termos de produção. Gastamos um monte de discos tentando capturar o nosso som "ao vivo", afinal nós somos uma banda de alta energia ao vivo. Mas desta vez, eu queria ir um pouco além em termos de produção. Eu queria que fosse épico. Também estou envolvido em diferentes tipos de música e é divertido achar um lugar para adicionar instrumentos étnicos ou sons estranhos. Foi um exercício para desafiar a criatividade, mantendo um sentido ou urgência.
RtM: A
faixa-título é também um destaque, bom, o álbum todo está ótimo, gostaria que
você comentasse um pouco mais sobre isso, a mensagem que traz as letras, e
também a capa do álbum, que é criativa e divertida, mostrando um jogo de cartas
em um saloon, onde algumas pessoas parecem tentar levar vantagem sobre os
outros utilizando-se de artifícios tecnológicos.
Joey: O título vem de uma expressão usada em corridas de cavalo, e ela define uma vitória muito fácil. Quando um jockey está muito à frente dos outros cavalos, ele vai tranquilo e "ganha com uma mão nas costas" (Win Hands Down). John escreveu as letras sobre os tempos em que éramos jovens e explorávamos a vida e a música com os amigos. O momento em que estamos cheios de admiração e de energia. A vida era mais simples e mais fácil, então. É uma celebração da música da vida.
Não tem nada a ver com a forma como vemos a nós mesmos como uma banda. A ilustração da capa veio do nada. John não parava de dizer que a faixa-título lembrava de imagens do velho oeste. Então eu juntei esta ideia de pegar o velho oeste e jogá-lo em um lugar etéreo, é em algum lugar entre Westworld e Blade Runner. Eu queria que fosse uma obra de arte independente, ambígua. Eu busquei luz e inspiração dos velhos mestres como Rembrandt e Carravaggio.
RtM: Falando na produção, as músicas e ideias já estavam sendo trabalhadas durante esses cinco anos sem lançar material novo? Foi um processo demorado a composição e a própria produção, ou as coisas fluíram mais rápido, devido a vontade de fazer um novo álbum do Armored Saint?
Joey: É assim que foi: Nós não compusemos nada até cerca de Janeiro de 2013. Foi então que eu comecei a colocar pra fora algumas ideias. Então John me perguntou se eu estava compondo e eu disse que sim, então eu fiz-lhe uma demo de umas duas músicas, então, ele ficou animado e escreveu letras para elas e foi nesse momento que começamos a compor este álbum. Mas a nossa forma de trabalhar é muito lenta. Nós dois temos famílias e nossas vidas são bastante ocupadas, por isso, fazemos música sempre que podemos encontrar tempo. Não temos a gravadora nos dizendo que temos que fazer algo até uma determinada data. Acabamos por trabalhar em nosso próprio ritmo, e temos muita sorte de ter isso.
Joey: O título vem de uma expressão usada em corridas de cavalo, e ela define uma vitória muito fácil. Quando um jockey está muito à frente dos outros cavalos, ele vai tranquilo e "ganha com uma mão nas costas" (Win Hands Down). John escreveu as letras sobre os tempos em que éramos jovens e explorávamos a vida e a música com os amigos. O momento em que estamos cheios de admiração e de energia. A vida era mais simples e mais fácil, então. É uma celebração da música da vida.
Não tem nada a ver com a forma como vemos a nós mesmos como uma banda. A ilustração da capa veio do nada. John não parava de dizer que a faixa-título lembrava de imagens do velho oeste. Então eu juntei esta ideia de pegar o velho oeste e jogá-lo em um lugar etéreo, é em algum lugar entre Westworld e Blade Runner. Eu queria que fosse uma obra de arte independente, ambígua. Eu busquei luz e inspiração dos velhos mestres como Rembrandt e Carravaggio.
RtM: Falando na produção, as músicas e ideias já estavam sendo trabalhadas durante esses cinco anos sem lançar material novo? Foi um processo demorado a composição e a própria produção, ou as coisas fluíram mais rápido, devido a vontade de fazer um novo álbum do Armored Saint?
Joey: É assim que foi: Nós não compusemos nada até cerca de Janeiro de 2013. Foi então que eu comecei a colocar pra fora algumas ideias. Então John me perguntou se eu estava compondo e eu disse que sim, então eu fiz-lhe uma demo de umas duas músicas, então, ele ficou animado e escreveu letras para elas e foi nesse momento que começamos a compor este álbum. Mas a nossa forma de trabalhar é muito lenta. Nós dois temos famílias e nossas vidas são bastante ocupadas, por isso, fazemos música sempre que podemos encontrar tempo. Não temos a gravadora nos dizendo que temos que fazer algo até uma determinada data. Acabamos por trabalhar em nosso próprio ritmo, e temos muita sorte de ter isso.
RtM: E como
surgiu a ideia de ter a participação da Pearl Aday (filha de Meat Loaf) na
faixa "With a Full Head of Steam"? Os vocais ficaram matadores, casando perfeitos
nesta canção. O fato de vocês terem contato com o marido dela, Scott Ian
(Anthrax), acredito ter facilitado essa opção.
Joey: Sim. Enquanto nós trabalhávamos no álbum, John disse que queria fazer um dueto com uma cantora. Mas nós não sentíamos que alguma das músicas era a certa, até que escrevemos esta. Ela (Pearl) foi a escolha certa, somos todos amigos e eu a vejo regularmente durante todos esses anos de amizade. Foi automático.
RtM: Em 91 o Armored Saint teve uma parada considerável em suas atividades, John Bush estava com Anthrax e você com Fates Warning. Em algum momento vocês cogitaram parar definitivamente com as atividades da banda?
Joey: o Saint não fez nada entre 92-99, quando decidimos compor e gravar “Revelations”. Scott teve uma pausa com o Anthrax pra fazer o SOD, por isso decidimos que era hora de fazer um álbum. Mas em nossas mentes era apenas um.
Joey: Sim. Enquanto nós trabalhávamos no álbum, John disse que queria fazer um dueto com uma cantora. Mas nós não sentíamos que alguma das músicas era a certa, até que escrevemos esta. Ela (Pearl) foi a escolha certa, somos todos amigos e eu a vejo regularmente durante todos esses anos de amizade. Foi automático.
RtM: Em 91 o Armored Saint teve uma parada considerável em suas atividades, John Bush estava com Anthrax e você com Fates Warning. Em algum momento vocês cogitaram parar definitivamente com as atividades da banda?
Joey: o Saint não fez nada entre 92-99, quando decidimos compor e gravar “Revelations”. Scott teve uma pausa com o Anthrax pra fazer o SOD, por isso decidimos que era hora de fazer um álbum. Mas em nossas mentes era apenas um.
RtM: 1991 marca também o lançamento de um dos melhores
álbuns de sua carreira, o clássico "Symbol of Salvation". Como foram
os momentos de composição e produção do álbum? E você poderia nos contar um pouco
mais sobre a abordagem lírica dele?
Joey: Foi uma gravação difícil de fazer, logo após de dizer adeus ao nosso amigo e guitarrista David Prichard, vítima da leucemia. A maioria das canções foram escritas por Dave e nós sentimos como se tivéssemos muito a provar e fazê-lo orgulhoso. Por isso, foi muito emocional. Liricamente foi um tempo de provação para nós. Fomos demitidos da gravadora Chrysalis no final de 1988, e poderia não haver outra gravadora interessada. Nós compusemos, voltamos para nossos trabalhos regulares, durante cerca de 3 anos. Assim, as letras são sobre esse tempo em nossas vidas. Algumas delas são material ficcional, mas algumas são muito pessoais.
RtM: Em 2000 a banda retornou ativa lançando dois álbuns, "Revelations" (00) e "Not to the Old School" (02). Como foi compor estes dois álbuns após quase 10 anos parados? E nesses discos foram incluídas composições antigas?
Joey: “Revelations” foi tipo uma vibe de bem-vindo ao lar para nós. Foi apenas uma coisa divertida para fazer juntos e nos divertir entre nós. Foi bom trabalhar juntos novamente. “Nod to...” foi mais uma coisa que fizemos para os fãs. Ele tem um monte de faixas ao vivo e faixas demo. Músicas que nunca havíamos gravado, apenas demos. Era para ser um presente aos nossos fãs dentro do que nós trabalhamos.
Joey: Foi uma gravação difícil de fazer, logo após de dizer adeus ao nosso amigo e guitarrista David Prichard, vítima da leucemia. A maioria das canções foram escritas por Dave e nós sentimos como se tivéssemos muito a provar e fazê-lo orgulhoso. Por isso, foi muito emocional. Liricamente foi um tempo de provação para nós. Fomos demitidos da gravadora Chrysalis no final de 1988, e poderia não haver outra gravadora interessada. Nós compusemos, voltamos para nossos trabalhos regulares, durante cerca de 3 anos. Assim, as letras são sobre esse tempo em nossas vidas. Algumas delas são material ficcional, mas algumas são muito pessoais.
RtM: Em 2000 a banda retornou ativa lançando dois álbuns, "Revelations" (00) e "Not to the Old School" (02). Como foi compor estes dois álbuns após quase 10 anos parados? E nesses discos foram incluídas composições antigas?
Joey: “Revelations” foi tipo uma vibe de bem-vindo ao lar para nós. Foi apenas uma coisa divertida para fazer juntos e nos divertir entre nós. Foi bom trabalhar juntos novamente. “Nod to...” foi mais uma coisa que fizemos para os fãs. Ele tem um monte de faixas ao vivo e faixas demo. Músicas que nunca havíamos gravado, apenas demos. Era para ser um presente aos nossos fãs dentro do que nós trabalhamos.
RtM: Joey você é conhecido por sua excelente técnica e poder de composição, esses adjetivos chamaram a atenção do Metallica. Eu sei que você provavelmente já respondeu a essa pergunta milhares de vezes, mas, por que você não aceitou entrar no Metallica após a morte de Cliff Burton? Quando Jason Newsted deixou a banda o seu nome também foi lembrado. Naquele momento eles vieram falar com você sobre isso? (acho que você não aceitaria o cargo, porque talvez você não teria liberdade criativa no Metallica.)
Joey: Bem, eles fizeram contato comigo, mas não pelas razões que você indicou. Eles estavam em um momento terrível e tendo de fazer audições de baixistas, e eles odiavam. Eles queriam tocar com amigos, pessoas que conheciam, por isso Lars me chamou para uma jam e ver o que acontecia. Mas eu estava bem em meios às gravações de “Raising Fear” com o Saint. Eu não estava em um momento da minha vida em que eu estava procurando uma mudança. Eu não senti que era o momento certo de deixar a minha banda, e amigos de infância, bem no meio disso. Então, eu não quis. Eu não era o cara certo. Jason era.
Quando Jason deixou a banda ele mencionou o meu nome na imprensa uma vez, e isso é o fim de tudo. Em retrospectiva, eu não acho que eu teria sido criativamente feliz no Metallica. James e Lars são uma grande equipe. Eles não precisam de outra pessoa dentro da bolha. Mas eu gosto da música que eu fiz e todas as pessoas que eu trabalhei desde então, eu não poderia imaginar minha vida de outra maneira.
RtM: Além do Saint, onde você escreveu seu nome na história do Heavy Metal, você é parte de um outro gigante, o Fates Warning, que fez inúmeras turnês e gravou cinco álbuns. Como foi essa experiência de tocar com uma lenda como Fates Warning?
Joey: Tocar com Fates tem sido muito gratificante. Em tantos níveis. Fiz grandes amigos para toda a vida, eu toquei com alguns dos melhores músicos da cena e eu me tornei um músico e compositor muito melhor. Estar no Fates fez-me um músico melhor. Totalmente.
RtM: E com
tantos anos de estrada, vendo tantas bandas surgirem e desaparecem também, assim
como novos estilos e sub-estilos, como você compara a cena de hoje com os anos
80, onde começou a sua história?
Joey: Passou por muitas fases, algumas das quais eram uma merda, e algumas das quais são muito interessantes. Há muito mais lá fora agora do que há 30 anos atrás, mas depois de você peneirar a merda, há algumas joias lá fora.
RtM: E quais novas bandas chamam sua atenção e que você acha que terão uma longevidade
Joey: Eu nunca posso dizer se alguém vai ter longa carreira nos dias de hoje. Tudo sobe e desce tão rapidamente. Os dois álbuns anteriores do Between The Buried And Me chamaram minha atenção, e esse próximo deve ser mais um passo na direção certa.
Joey: Passou por muitas fases, algumas das quais eram uma merda, e algumas das quais são muito interessantes. Há muito mais lá fora agora do que há 30 anos atrás, mas depois de você peneirar a merda, há algumas joias lá fora.
RtM: E quais novas bandas chamam sua atenção e que você acha que terão uma longevidade
Joey: Eu nunca posso dizer se alguém vai ter longa carreira nos dias de hoje. Tudo sobe e desce tão rapidamente. Os dois álbuns anteriores do Between The Buried And Me chamaram minha atenção, e esse próximo deve ser mais um passo na direção certa.
RtM: Muito obrigado mais uma vez pelo seu tempo Joey, e deixamos este espaço final para que você envie uma mensagem para seus fãs na América do Sul! Esperamos ver vocês em breve aqui no Brasil! The Saints are marching!
Joey: Obrigado a todos os nossos fãs. Nós não poderíamos fazer nada disso sem vocês, vocês são muito pacientes e agradecemos-lhes por estarem conosco.
Entrevista:
Carlos Garcia e Renato Sanson
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