quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Tuatha de Danann: "Queremos nos manter relevantes e capazes de nos desafiar"



O Tuatha de Danann surgiu em Varginha, Minas Gerais, em 1994, ainda sob o nome Pendragon, mudando para o nome atual pouco tempo depois, pois procuravam algo que melhor se encaixava às inspirações do grupo na música e culturas celta. Tuatha de Danann era o povo da deusa Danu, raça de seres encantados da Irlanda mítica. A banda foi forjando uma identidade musical muito forte e original, mesclando o Heavy Metal às nuances celtas, folk e medievais, além de outros ingredientes. O certo é que no Tuatha de Danann a liberdade criativa é a palavra de ordem.  (Read the english version)

Com seis trabalhos de estúdio lançados, sem contar a regravação de 2016 do primeiro EP, o Tuatha de Danann sempre se colocou entre as principais e mais originais bandas do cenário brasileiro, inclusive conquistando muitos fãs e bons resultados em diversos países da Europa, tendo se apresentado no Wacken em 2005, durante a divulgação de "Trova di Danu" (2004), álbum lançado por um grande selo, e que alçou a banda a um patamar maior, inclusive proporcionando a gravação do DVD acústico "Acoustic Live" (2009), porém alguns desgastes, atrasos e descumprimentos de prazos pela gravadora, além de outros fatores, levaram a dissolução da banda em 2010.

Mas em 2013 a banda retorna disposta a recuperar o tempo perdido, e lançam em 2015 o elogiado "Dawn of a New Sun". Agora em 2019 o Tuatha de Danann apresenta seu álbum mais diversificado, "The Tribes of Witching Souls", trazendo as características marcantes de sua sonoridade, como as melodias celtas e medievais, canções com climas festivos e empolgantes, mas também com temáticas mais sérias e atuais, e até fatos históricos de Minas Gerais.


Conversamos com o fundador, vocalista e multi-instrumentista Bruno Maia para saber um pouco mais sobre o novo álbum, a parceria com Martin Walkyer (Ex-Skyclad), o posicionamento firme da banda contra injustiças, ganância, racismo, e fascismo, ou seja, elementos tóxicos que têm crescido preocupantemente. Confira!


Road to Metal: Para começar, gostaria que você falasse a respeito da atual fase da banda, desde o retorno com “Dawn of a New Sun” após um hiato, e agora com este novo trabalho, “The Tribes of Witching Souls”. Gostaria que você falasse sobre o que aquele hiato e as mudanças na formação representaram para a banda. 
Bruno Maia: Houve um hiato de 3 anos sem banda. Isso foi de dezembro de 2010 até meados de 2013. Voltamos em 2013 para alguns shows esporádicos e daí lançamos o “Dawn” em 2015. O “Dawn” foi um disco que gostei demais de fazer e lançar, pois pessoalmente meus últimos 2 lançamentos até o “Dawn” tinham sido bem complexos, bem progressivos, que foram o disco do Braia e do Kernunna, e o “Dawn” veio mais direto, sem tanta viagem, do jeito que precisava. Adoro esse disco e o som dele. Depois disso, lançamos em 2016 uma nova versão de nosso primeiro disco, daí o guitarrista saiu em 2017, e em 2018, bem no início do ano, foi a vez do Rodrigo baterista; ambos saíram por conta própria e nós, nunca pensamos em parar.  


RtM: Vocês seguiram então somente com 3 membros oficiais.
Bruno: Hoje, de membros fundadores estou eu e o Giovani na formação, já o Edgard está conosco oficialmente há apenas 15 anos e nosso relacionamento é muito legal, positivo e sem fissuras. Temos todo o clima e amizade necessários para continuar com o Tuatha por muito tempo ainda e pra mim, sinceramente, a banda vive um ótimo momento repleto de leveza, vontade e positividade. As coisas não acontecem por acaso, foi necessário isso tudo acontecer pra banda estar aqui ainda e o fato de termos lançado um trabalho novo com tanta relevância agora é a prova disso que falo.


RtM; Você  já vinha falando que este novo álbum seria o mais diversificado da banda. Algo que percebi foi uma atmosfera mais “séria”, digamos, com menos temas fantástico e “festivos”. Quais elementos você acredita que são os mais diferentes e surpreendentes que o ouvinte vai encontrar?
Bruno: O disco é bem diversificado mesmo, pode sacar que as músicas não tem nada a ver uma com a outra, mas todas carregam um elemento Tuatha. Temos uma carga identitária muito forte que foi moldada ao longo dos anos, uma marca composicional que possuímos que só o Tuatha tem, ou no máximo alguma coisa do Braia ou Kernunna. Os elementos mais festivos e alto astral você encontrará apenas na faixa título (talvez até demais, uma vez que essa música é uma das mais positivas e pra cima que já ouvi), já as outras tem elementos diversos que vêm de fontes variadas de inspiração.

"O motivo de continuarmos a criar é ser relevantes pra nós mesmos e nossa música ser capaz de nos desafiar e encantar."
RtM: O Tuatha é uma daquelas bandas que possuem uma sonoridade própria, algo difícil, principalmente em tempos atuais, e também, acredito, proporciona uma liberdade musical ampla, permitindo ousar, e neste álbum ficou demonstrada ainda mais essa liberdade, e a sensação de que a banda pode ir ainda muito mais além. Gostaria que você comentasse a respeito.
Bruno: Que legal você captar isso! É gratificante que alguém fora do núcleo criador perceba isso e aponte. Mas eu acredito que este é o motivo e o porquê de continuarmos a fazer música: ser relevantes pra nós mesmos e nossa música ser capaz de nos desafiar e encantar ainda. Não faria sentido fazer o mesmo som sempre. E o mais legal é que conseguimos isso sem abandonar nossos elementos próprios e tão característicos. Creio que estamos vestidos de nós mesmos e sem medo de seguir adiante.


RtM: Sim, justamente, se o músico não buscar se desafiar, ousar, acredito que, tanto ele como o público perderão o interesse! Bom, você já citou antes a faixa título, que também foi o primeiro single, e ela trouxe os elementos já familiares aos fãs da banda, uma típica música do Tuatha. Vocês escolheram já a canção principal justamente por isso? Gostaria também que você falasse um pouco mais sobre ela.
Bruno: Exatamente, a “Tribes…” foi lançada primeiro até pra galera que nos acompanha sacar que a banda continuava firme e forte. Esse som é um trem 100% Tuatha de Danann . . . ela tem a levada típica de nossas aberturas de disco, o clima pra cima, com abafadas legais de guitarra, uma melodia bem Beatles e os temas celtas perpassando toda a canção. Sem contar com a participação dos duendes e tudo mais. 


RtM: Já o segundo single, “Your Wall Shall Fall”, traz elementos diferentes, tratando um tema bem atual e forte, saindo das temáticas mais fantasiosas. E tem um convidado bem especial, Martin Walkyier, ex-Skyclad, e grande influência do Tuatha. Gostaria que você falasse um pouco mais a respeito dessa canção e claro, da participação do Martin.
Bruno: Cara, essa música a gente tinha feito em 2017, da última vez que ele esteve aqui no Brasil, mas ele nunca ficava satisfeito com a letra, sempre a mudava, o que foi, inclusive, um dos motivos desse lançamento atrasar . . . MAS, é uma canção muito forte, muito pesada e direta, se comparada a outras do Tuatha de Danann, e a letra do Martin é fabulosa, como sempre. A gente ficou muito amigo ao longo dos anos e ficou muito natural as participações. Hoje em dia soa natural, mas há 15 anos isso  (ser parceiro do Martin) seria um sonho. Um sonho alcançado!


"Creio que estamos vestidos de nós mesmos e sem medo de seguir adiante."
RtM: O vídeo para essa música também ficou muito legal, inclusive houve uma campanha da banda para que os fãs, admiradores e amigos enviassem vídeos, os quais alguns seriam usados na edição do clipe. Fale-nos mais a respeito dessa ideia e sua avaliação sobre o resultado final, e se as reações, ao vídeo e canção, foram os esperados.
Bruno: Foi muito legal essa coisa! Foi ideia do próprio Martin, pois pessoas de qualquer lugar do mundo poderiam comprar essa ideia. A letra, embora faça alusões ao “famigerado” muro do Trump, questiona a ganância, a tirania do mercado, os governos autoritários, beligerantes e critica  tudo que divide e oprime o ser humano. É um tema anti tirania e fascismo. Gente dos EUA, Irlanda, Rússia, França, México e vários outros locais enviaram vídeo.


RtM: Aproveitando o tema, parabéns a você e a banda por tocar em assuntos mais delicados, e por posicionamento importante em momento complicado, tanto da humanidade em geral, quanto no nosso país. E gostaria de saber sua opinião quanto ao papel dos músicos, mesmo sofrendo críticas de algumas pessoas, em mostrar um posicionamento claro e firme contra injustiças e desigualdades sociais.
Bruno: O mundo inteiro está experimentando um tipo de guinada à direita e à violência (seja esta no nível discursivo ou físico). Não é só aqui no Brasil, infelizmente. Vivemos numa época que, em teoria, é a que mais temos acesso a informação, a conteúdos, a obras inteiras, trabalhos científicos de universidades do mundo todo e que, mesmo assim, sinistramente, existe muita gente que se informa pelo telefone através de vídeos ou memes quaisquer produzidos por sabe-se lá quem, sabe-se lá por quais motivos e sabe-se lá financiado por quem. 

Aqui no Brasil a coisa ficou tão noia que há muitos  seguidores de astrólogos, de músicos crentes frustrados, tem gente que acha que tortura é algo besta, que é coisa pouca. Muita gente relativizando a desumanidade, a crueldade e a ternura. Quanto ao papel do músico, não acho que ninguém é obrigado a fazer música ativista ou política, mas acho de uma contraditoriedade  doente o tal do headbanger conservador.


RtM: Prosseguindo com os temas do álbum, “Conjura” é uma de minhas preferidas, e traz uma tema histórico, sobre a Inconfidência Mineira. Gostaria que você comentasse mais a respeito dessa canção e a ideia de falar sobre esse tema.
Bruno: Pois é, pode soar como uma grande e fabulosa quimera, uma banda brasileira que canta em inglês, tem um nome celta, influências da música tradicional irlandesa tratar de um assunto tão brasileiro em uma canção. Mas é isso! Eu sou um estudioso da história de Minas Gerais, seu período colonial, seu povoamento e formação sobre vários aspectos. Somos de Minas Gerais e temos uma história muito peculiar aqui no estado graças aos achados do ouro e de diamantes. A chamada Febre do Ouro fez com que Minas efetuasse a maior migração de gente da Europa pra cá, todo mundo atrás do enriquecimento rápido pelo ouro e pedras preciosas. 

Os europeus e sertanistas  enfrentaram serras altíssimas, feras desconhecidas, índios ferozes e muitas outras adversidades pra encontrar seus tesouros nas bandas de cá; eram aventureiros destemidos e gananciosos, muitas vezes fugidos ou exilados de Portugal. Somou-se a este ideário da riqueza rápida um número absurdo de escravos trazidos da África e todos os horrores da escravidão, a alta religiosidade dos jesuítas e das irmandades e ainda o despotismos de régulos donos do sertão. Pronto! Temos todos os ingredientes pra mais sangrenta e estranha história possível. Minas viveu um período que faria os faroestes americanos parecerem Ursinhos Puff. (Muito boa! hahaha)




RtM: Um tema muito Rico!
Bruno: Quero ainda, um dia, fazer um disco conceitual sobre este épico mineiro, vamos ver! Sobre a “Conjura”, queríamos de alguma  forma tratar desse movimento rebelde que vivemos no final do século XVIII, que ficou conhecido como a Inconfidência Mineira e que teve como mártir o alferes Silva Xavier, Tiradentes, que foi o único executado e teve seus membros espalhados pelo Caminho Novo da Estrada Real. Essa conjuração mineira é ainda muito estudada e vem sido desvendada ano a ano pela Historiografia. Não se tratou apenas de, como muito se falou, de uma  “Revolução dos Poetas”;  foi, sim,  um movimento heterogêneo e importante que reuniu intelectuais ilustrados (alguns poetas de renome e talento), fazendeiros, militares, homens poderosos e alguns desgraçados que vieram a trair o movimento como a hoje tão celebrada “Delação Premiada”, que pretendiam uma revolução anti colonialista e republicana, livrar a colônia da metrópole. Infelizmente essa tema nos soa atual, pois vemos o país se sublevando a interesses do IMPÉRIO e entregando suas riquezas, energia e muito do setor estratégico ao capital internacional e mesmo a governos imperiais.



RtM: “Turn” foi uma das que achei mais novidades com relação à suas composições anteriores, e é uma ótima canção, trazendo uma atmosfera mais suave, melodiosa, elementos Folk/Pop, que também percebi no projeto Auri, do Tuomas Holopainen e Troy Donockley. A letra também é muito bonita “Esta vida é uma tela em preto e branco, e cabe a você preenche-la com cores que você gosta...”, e o refrão fala em “Construir novas pontes fora das muralhas”. Nos fale um pouco mais a respeito dessa canção e sobre a letra dela.
Bruno: Eu não conheço esse som que você citou, embora conheça os caras. A “Turn” é uma peça diferenciada dentro do nosso cancioneiro, ela tem um groove bem empolgante, uns elementos talvez “pop” como você disse, mas tem seu peso também. A letra trata mais da omissão de que muitas vezes nos deixamos dominar, sabe? Quando não tomamos partido ou quando deixamos o lado mau vencer e preferimos não nos envolver. Muitas vezes o mal acontece porque o bom não se manifestou, e outras vezes, por achar que não precisamos nos envolver um fato isolado pode crescer em escala e se tornar situação. Acho que a letra  trata disso, ter de  pensar mais, não ser pensado por outros e não sermos omissos, conformados e permissivos.


RtM: “Warrior Queen” soa épica e dramática, com as melodias de flauta e bandolim em destaque, me transportou para uma cena da série Vikings! Ha ha! Conte-nos um pouco mais sobre essa faixa e as inspirações para compô-la.
Bruno: Essa aí foi a última música a entrar no disco. Um amigo queria uma trilha pra uma lutadora de MMA e queria algo bem bélico, medieval, celta, viking, essas coisas. Eu brinquei com ele mostrando um amontoado de clichês e ele adorou….daí eu me convenci que podia ficar legal sim se trabalhasse melhor essa inspiração que me veio meio que de brincadeira….deu no que deu. A letra é inspirada em grandes guerreiras e rainhas guerreiras celtas, como a Boudicca. É uma letra que enaltece a bravura de muitas mulheres, sua dignidade e protagonismo.



RtM: “Outcry”, originalmente gravada no "Dawn of a New Sun", ganhou uma versão mais folk/medieval, e pelo que pude ouvir, acredito que seja, se não 100%, quase totalmente acústica. E que pegada e força nas melodias marcantes e refrão!
Bruno: Adoramos fazer essa versão da Outcry, ficou bem folk mesmo! A letra, infelizmente, é um retrato do Brasil desde a época das descobertas até hoje em dia com essa situação colonial e de entrega ao capital estrangeiro que começou com Pau Brasil, Cana de Açucar, Ouro/Diamante, Café até chegar hoje em dia com o capital estrangeiro por trás das movimentações financeiras e nossos tesouros privatizados, vimos Mariana, Brumadinho e deve vir mais por aí, pois a mentalidade do capital é essa, a rapina: leva-se o lucro e deixa a miséria.


RtM: Outra que aparece em nova versão é “Tan Pinga Ra Tan” (gravada no álbum "Tingaralatingadun" de 2001), com arranjos orquestrais ficou com uma atmosfera incrível. Você teve a intenção de dar uma nova vida a esta importante canção?
Bruno: "Tan Pinga Ra Tan" (N. do R.: a terra da alegria e dos prazeres, criação do Tuatha, baseada nas mitologias que os inpiram) é uma de nossas músicas mais cantadas e queridas. Ela tem uma linda melodia que é forte e parece ser a trilha de um sonho. Queríamos abordá-la de uma outra forma e ficou muito legal assim.


RtM: E como você tem sentido as primeiras reações do público à novas canções nesses primeiros shows da tour?
Bruno: Cara, as pessoas que compraram o disco e falaram conosco tem gostado muito. Até agora as criticas tem sido bem positivas e melhor, eles apontam esses novidades que colocamos nas músicas como potências….Tá demais!!!

"Enquanto tiver gente respondendo a nossa música teremos estímulo pra continuar."
RtM: Finalizando, diga-nos quais as expectativas para este ano e o que vocês almejam para a banda, que possui as qualidades suficientes para alcançar um público maior mundialmente. Você acredita que tenham perdido um pouco de tempo também com o hiato até o lançamento de “Dawn of a New Sun”?
Bruno: Com certeza, ficamos muito tempo sem lançar nada novo. Em 2004, lançamos o “Trova di Danú”. Porém, se bobear, dados os problemas que tivemos com a gravadora naquele ano, o disco foi lançado mesmo  em 2005. Depois disso, lançamos o DVD acústico em 2009, o que foi muito massa até por sermos, acredito, a primeira banda brasileira de Metal a lançar um DVD acústico oficial.

Sofremos muito com atrasos de selos àquela época, o que acabou nos desmotivando, a mim principalmente, tanto que me fez lançar um disco solo ainda em 2007. Somou-se a a isso problemas internos e pessoais, e a banda parou em 2010 quando eu saí no fim do ano. Voltamos pouco tempo depois, mas foi sim muito tempo perdido. Sobre conquistar público maior mundo afora, esperamos que sim. Ávidos e cheios de vontade nós estamos, nunca foi tão legal o clima na banda e isso nos motiva a seguir em frente . . . enquanto tiver gente respondendo a nossa música teremos estímulo pra continuar.

Entrevista: Carlos Garcia
Fotos: Arquivo da banda

Line-Up:
Bruno Maia - vocais, flauta, guitarra, bandolim
Giovani Gomes - baixo, vocais
Edgard Britto - teclados 


Discografia:

2001 - Tingaralatingadun
2002 - The Delirium has Just Began
2004 - Trova di Danú
2015 - Dawn of a New Sun
2019 - The Tribes of Witching Souls
EPs
1999 - Tuatha de Danann
2016 - Tuatha de Danann (Relançamento do EP com 6 faixas bônus regravadas)
DVDs
2009 – Acoustic Live
Demos
1995 - The Last Pendragon (Primeira demo, lançada quando a banda se chamava Pendragon)
1998 - Faeryage (Segunda demo, agora com o nome 'Tuatha de Danann')

O álbum "The Tribe of Witching Souls" pode ser adquirido nos links abaixo:
Heavy Metal Rock Label/Store
Site Oficial da Banda
CD Baby
Die Hard Store


       


         


       


     




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