Certamente o maior vocalista brasileiro dentro do Metal, esse é Andre
Matos, carismático, batalhador e muito atencioso com seus fãs. São mais de 20
anos de carreira, e por onde passou deixou sua marca com grandes sucessos,
como: Angra, Viper, Shaman e etc.
Atualmente comemorando os 20 anos do álbum que o projetou para o mundo “Angels
Cry”, que chega na parte final da turnê com saldo extremamente positivo.
E é com essa lenda que batemos um papo, onde Andre fala de seus planos
futuros, de “Angles Cry” entre outras coisas de sua carreira de grande relevância.
Confira agora mesmo:
Road to Metal: Em 2013 você retornava a Porto Alegre/RS para primeira
parte da tour de 20 anos do disco “Angels Cry”. E uma semana antes do show os
ingressos já estavam esgotados. Como foi aquela apresentação para banda?
Andre Matos: Foi um grande reconhecimento. E serviu também de
alavanca para continuarmos firmes na proposta da turnê, pois a resposta do
público foi fantástica. Tenho um carinho especial pelo público Rio-grandense,
que acompanha minha carreira desde sempre e nunca falta a qualquer apresentação
no Estado. E olha que já fiz apresentações de vários tipos: com as bandas
anteriores, projetos paralelos e até mesmo os inesquecíveis concertos junto à
Orquestra da Ulbra. Algum tempo atrás, estivemos em Torres; não sabíamos o que
esperar. Me tocou bastante o fato de que, além do público local, houve gente
que cruzou o Estado viajando 400, 500 quilômetros apenas para nos ver. Essa é a
grande satisfação de se ter um público extremamente fiel.
RtM: E qual expectativa para essa nova volta onde divulga a segunda
parte da tour de comemoração de “Angels Cry”?
AM: É o retorno depois de
tanto tempo passado daquele primeiro show, e também um tipo de despedida. Esta
turnê se estendeu bem além do planejado; não sabíamos que havia tanta gente
querendo ver, e tivemos de nos desdobrar para chegar aos lugares onde não
tínhamos ido ainda. Ao mesmo tempo, os que já viram queriam ver mais uma vez.
E, de fato, depois de incorporar bem este repertório, posso dizer que nos
sentimos bem mais à vontade e que neste momento chegamos à plenitude em termos
de execução das músicas. Na minha opinião, o show está perfeito; se pudesse,
não pararia tão cedo - porém tem de haver uma renovação a cada ciclo e é hora
de irmos nos despedindo deste formato, que certamente deixará saudades.
RtM: Teremos alguma surpresa no setlist?
AM: Desde aquele primeiro
show em POA muita coisa mudou; a própria dinâmica da apresentação está
"turbinada". Teremos surpresas, sim. Normalmente, não tocamos menos
de 2h30 - mas há casos em que, dependendo do público e do clima, chegamos a
ultrapassar às 3 horas de show. Que todos se preparem, pois isso pode
perfeitamente acontecer.
RtM: Outro disco que em breve estará completando 20 anos será o
clássico “Holy Land”, você planeja algo dessa mesma intensidade para comemorar?
AM: Há muitos e muitos
pedidos neste sentido. Chegamos a um ponto na carreira em que não se pode
negligenciar os marcos definitivos. Estamos começando a planejar os passos para
o ano que vem, e é lógico que isto vem à tona. Se fizermos, será para fazer à
perfeição. Aguardem as novidades.
RtM: Em contrapartida a banda Andre Matos continua a divulgação de “The
Turn of the Lights” (2012), como está sendo a aceitação do público? E teremos
material novo em breve?
AM: Considero o The Turn of
the Lights um dos melhores álbuns de minha carreira como um todo (seria injusto
escolher "o melhor"). Vimos apresentando as músicas deste álbum
durante toda esta turnê. Porém ainda não tocamos todas elas ao vivo. Um disco
normalmente tem um tempo de maturação, tanto para os músicos quanto para o
público. E o "The Turn of the Lights" está alcançando este ponto exatamente
agora, dois anos após seu lançamento. Ou seja: ainda há muito o que mostrar ao
vivo de todo esse material, e pretendemos continuar trabalhando nisso, seja
nesta ou numa futura turnê. Quanto a material novo, já começamos a desenvolver
ideias, mas resolvi não me impor qualquer prazo definitivo. Há muitos projetos
em pauta e vamos dando forma a eles na medida em que os mesmos forem
amadurecendo naturalmente.
RtM: Andre gostaria que nos fala-se um pouco da importância de “Angels Cry” em sua carreira e de como surgiu a ideia de fazer a tour de 20 anos.
AM:
Começando pela ideia, esta surgiu depois da turnê de reunião do Viper, onde
executamos na íntegra os dois primeiros álbuns. Aquilo foi algo que nos trouxe
bastante satisfação, principalmente ao ver o tipo de reação e emoção que
provocava em boa parte do público. Não estou no Angra há tempos, porém como um
dos fundadores da banda e dos criadores do "Angels Cry", resolvi assumir a tarefa
de reproduzir a mesma experiência.
Tenho a sorte de contar com uma
banda de primeira categoria, que soube executar e interpretar o álbum com
perfeição. Talvez até melhor do que o que fazíamos na época - dada a nossa
falta de experiência então. Além disso, a presença do André Hernandes e do Hugo
Mariutti na banda - que são músicos que, de certa forma, vivenciaram de perto
todo aquele período , ajudou ainda mais que o resultado final soasse 100%
original. O "Angels Cry" foi minha primeira experiência internacional,
trabalhando junto a produtores renomados e estúdios lendários. Muito do que sei
hoje, aprendi naqueles meses de preparação e produção.
Apesar de ter sido um período intenso, tenho
boas lembranças de tudo - e obviamente tudo isso transparece ao vivo. As
músicas também são especiais e tenho um prazer especial ao cantá-las novamente
cada vez, e também compartilhar esses momentos com o público que, assim como eu,
também considera muitas dessas músicas como uma espécie de "trilha
sonora" de algum momento em suas vidas. Importante ressaltar que, nada
disso faria sentido se não executássemos o álbum na íntegra. Esse foi o grande
desafio no início da turnê. Agora, no final da turnê, além de empolgante, passa
a ser especial: sentiremos bastante falta, quando acabar. Quem sabe daqui a 10
anos, novamente? (risos)
RtM: Nessas, quase, três décadas de profissão na música, o que mais
mudou positiva e negativamente?
AM: Praticamente nada. Mudam os desafios, muda a velocidade, muda a
tecnologia. Mas, na essência, a busca é a mesma. E a motivação também. Poderia
elencar uma série de diferenças - não mudanças - que surgiram em três décadas;
mas temos a sorte de lidar com algo imponderável que é a música, levando-se em
conta todos os altos e baixos. Feliz ou infelizmente (depende do ponto de
vista), a música não pode ser replicada artificialmente - e, sob esse aspecto,
o fato de se excursionar e tocar ao vivo hoje mais do que antes, é extremamente
positivo. Pois é somente aí que se tira a prova dos nove: e os bons realmente
sobressaem. Portanto, a busca pela perfeição e pelo fator surpresa da música
(como em qualquer forma de arte) permanece a mesma. Dos tempos de Bach até os
dias de hoje.
RtM: Como você administra o relacionamento música e vida pessoal, quando
está trabalhando no processo criativo? Você deixa outras pessoas de fora da banda ter
contato com as composições, ou prefere isolar-se?
AM: É exatamente ao
contrário. Considero que necessito das ideias e opiniões dos meus companheiros
- e também de terceiros - para que não me perca numa suposta bolha criativa que
pode acabar engolindo somente a mim e a ninguém mais. Temos de pensar esse processo
como um diálogo: de nada adianta criar um monólogo que vai apenas em uma
direção sem saber se isto reverbera do outro lado.
Composição é de fato um tipo de
doação, onde se expõe muito de um universo próprio; porém não se pode deixar de
lado o caráter de comunhão com o resto do mundo, senão de nada vale. A função
do artista é reinterpretar e reapresentar uma realidade - ou as fantasias
surgidas dela - numa visão essencialmente subjetiva. Se isto não encontra eco
nas outras pessoas, não é arte. Mesmo que este eco demore tempos para
retornar... Muitas vezes as obras estão à frente de seu tempo. Mas é esta
certeza de que se pode ajudar a "acender uma luz" na alma dos outros
que nos move pra frente.
RtM: Sobre o álbum ao lado de Timo Tolkki, como você se sente a
respeito desse trabalho, sobre o qual havia uma expectativa grande, porém não
obteve a repercussão esperada. E também gostaria que você comentasse sobre as
declarações de Timo, que ficou descontente quanto aos shows aqui no Brasil,
reclamando da infraestrutura, logística e shows em lugares menores do que os
esperados.
AM: Eu não comento essas declarações, porque são exclusivamente de
responsabilidade dele. Para mim, estava tudo indo muito bem. Foi uma surpresa,
não apenas para mim, como para todos os demais que faziam parte do projeto, o
momento em que o Timo anunciou que interromperia tudo até então, e que tinha
inclusive planos de deixar a própria carreira musical.
Nos coube apenas respeitar a sua decisão.
Obviamente, lamentamos, pois a banda era muito boa. Para mim foi uma honra ter
feito parte deste projeto junto a músicos incríveis - incluindo o próprio Timo
- e prefiro me ater aos bons momentos que passamos juntos. De qualquer forma,
era claro para mim que minha prioridade era a carreira solo e o Symfonia uma
banda paralela. Talvez a última na qual tenha me aventurado.
RtM: Depois de tantos anos na música, ter um reconhecimento no Metal
mundial, para essa geração mais recente que conselhos você daria e que
elementos você acredita que são essenciais para uma banda se diferenciar no
cenário, consolidar-se e ter uma longevidade?
AM: Fazer música pela paixão que se tem pela música apenas - e
excluir quaisquer outros motivos fúteis. Isto não é receita de sucesso (pois
este depende de uma série de fatores, alguns até desagradáveis) - mas é um
segredo de longevidade: evoluir fazendo o que se gosta e se acredita,
independente de "dar certo" ou não. Não se pode medir o verdadeiro
sucesso pelo acúmulo material, nem em função do "status". O verdadeiro
sucesso é saber que você fez alguma diferença com a sua obra, e este é um
prazer bastante subjetivo que, na minha opinião, não deve ser ostentado por
ninguém.
RtM: Gostaria de saber os seus planos futuros, se você tem em mente
algum trabalho buscando, quem sabe, elementos fora do Metal, como no Virgo,
ou, quem sabe nem saindo fora dos seus trabalhos mais aclamados, mixando Metal,
música clássica e elementos da música brasileira e latina, como no Angra e
Shaman. Quem sabe uma Opera Rock/Metal?
AM: Sempre houve tais planos. E enquanto eu estiver na ativa,
sempre haverá. Como disse anteriormente, aguardem as novidades. Elas virão
certamente. Tive muitas experiências novas e interessantes nos últimos anos que
também me influenciaram e trouxeram novas ideias. É praticamente impossível
ficar parado no tempo; certamente muitos desses projetos serão os que nortearão
minha carreira daqui pra frente. Obrigado!
Entrevista por: Renato
Sanson/Carlos Garcia/Uillian Vargas
Edição/revisão: Renato Sanson
Imagens: Divulgação
Nenhum comentário:
Postar um comentário