O Eluveitie nasceu em 2002 sob a
imponência e misticismo dos Alpes suíços, e sua música inspirada na mitologia
celta, história gaulesa e a cultura protoindo-europeia. O grupo foi se tornando
um dos grandes nomes do Folk Metal, sub-estilo do Heavy Metal que,
naturalmente, mixa as nuances tradicionais do gênero, além do Melodic Death
Metal às influências folclóricas, utilizando sonoridades e instrumentos típicos
da cultura celta e gaulesa.
Desde sua estreia com o álbum “Spirit” (2006)
a banda começou a criar uma identidade musical bem própria, trazendo letras
também bem profundas, abordando temas históricos, filosóficos e folclóricos.
O sucesso e reconhecimento
mundial chegaram com o álbum “Slania” (2008), o qual foi considerado o trabalho
que consolidou o estilo da banda, e até então, o auge de sua maturidade. Inclusive o álbum recebeu uma nova versão comemorando os 10 anos de seu lançamento.
E agora em 2019, a banda
apresentou seu novo trabalho, “Ategnatos”, que é a palavra gaulesa para
“renascer”. Um álbum místico e filosófico, onde o Eluveitie traz a mitologia, a
crença pagã e a espiritualidade para o nosso mundo moderno. Mudança e renovação.
Isto, naturalmente, tem um preço.
Sempre há sofrimento antes da felicidade. E sempre
há escuridão antes da luz. Obscuro e sério em sua atmosfera e carisma, e também
oculto, arcano e elitista, o álbum em si é um manifesto, um trabalho altamente
dramático e embelezado no qual a sociedade de hoje se vê no espelho da antiga
mitologia e cultura celta.
A banda retornou ao Fascination Studios, onde também mixaram "Slania". A sonoridade, cada vez mais
lapidada e trabalhada, muitas vezes com composições melodiosas e limpas, como
“Ambiramus”, que segue aquela linha de músicas como "A Rose For Epona", por exemplo, com belas melodias, vocais femininos e um folk mais contemporâneo, canções que são capazes de agradar ouvidos menos acostumados ao estilo e
aos momentos de mais peso.
E o peso e densidade sonora são também adjetivos do som dos suíços, pois as músicas são preenchidas por esses elementos folk, que se juntam ao peso e agressividade nas peças mais voltadas ao Melodic Death e Folk
Metal mais direto, como podemos perceber na própria faixa título.
O peso do Eluveitie é diferente, principalmente onde as canções trazem atmosferas místicas, quase com ar de trilha sonora de série ou filme épico, casando perfeitas com o conceito lírico como por exemplo em “The Raven
Hill”.
São 16 faixas, mas o grupo soube dosar com equilíbrio as músicas, mantendo o álbum sempre interessante, intercalando momentos mais pesados e agressivos, com essas peças mais melodiosas, com atmosferas mágicas, por vezes melancólicas, como a já citada "Ambiramus" e também em "Breathe", onde mais uma vez se destacam os vocais femininos, os instrumentos étnicos e os violinos.
Chrigel Glanzmann
Os arranjos orquestrais preenchidos pelo colorido dos instrumentos étnicos é destaque também, como em "The Slumber", onde os vocais limpos femininos e guturais se contrapõem, gerando uma atmosfera bela, pesada e mágica.
A banda destaca que compôs o
álbum enquanto estava na Universidade de Artes de Zurique e consideram o
processo um produto de toda a banda, espontâneo, resultado das ideias dos nove
membros, onde as canções foram sofrendo modificações enquanto ainda estavam em
desenvolvimento.
O Eluveitie é uma banda diferente, merece o reconhecimento mundial, e mesmo com as diversas trocas de formações, seu líder Chrigel Glanzmann tem o mérito de guiar a formação da personalidade da banda, mantendo-a, mas sem abrir mão da evolução, e "Ategnatos" é a prova.
O álbum está disponível no Brasil pela gravadora Shinigami Records, trazendo uma edição com faixas bônus.
O Tuatha de Danann surgiu em Varginha, Minas Gerais, em 1994, ainda sob o nome Pendragon, mudando para o nome atual pouco tempo depois, pois procuravam algo que melhor se encaixava às inspirações do grupo na música e culturas celta. Tuatha de Danann era o povo da deusa Danu, raça de seres encantados da Irlanda mítica. A banda foi forjando uma identidade musical muito forte e original, mesclando o Heavy Metal às nuances celtas, folk e medievais, além de outros ingredientes. O certo é que no Tuatha de Danann a liberdade criativa é a palavra de ordem. (Read the english version)
Com seis trabalhos de estúdio lançados, sem contar a regravação de 2016 do primeiro EP, o Tuatha de Danann sempre se colocou entre as principais e mais originais bandas do cenário brasileiro, inclusive conquistando muitos fãs e bons resultados em diversos países da Europa, tendo se apresentado no Wacken em 2005, durante a divulgação de "Trova di Danu" (2004), álbum lançado por um grande selo, e que alçou a banda a um patamar maior, inclusive proporcionando a gravação do DVD acústico "Acoustic Live" (2009), porém alguns desgastes, atrasos e descumprimentos de prazos pela gravadora, além de outros fatores, levaram a dissolução da banda em 2010.
Mas em 2013 a banda retorna disposta a recuperar o tempo perdido, e lançam em 2015 o elogiado "Dawn of a New Sun". Agora em 2019 o Tuatha de Danann apresenta seu álbum mais diversificado, "The Tribes of Witching Souls", trazendo as características marcantes de sua sonoridade, como as melodias celtas e medievais, canções com climas festivos e empolgantes, mas também com temáticas mais sérias e atuais, e até fatos históricos de Minas Gerais.
Conversamos com o fundador, vocalista e multi-instrumentista Bruno Maia para saber um pouco mais sobre o novo álbum, a parceria com Martin Walkyer (Ex-Skyclad), o posicionamento firme da banda contra injustiças, ganância, racismo, e fascismo, ou seja, elementos tóxicos que têm crescido preocupantemente. Confira!
Road to Metal: Para começar, gostaria que você
falasse a respeito da atual fase da banda, desde o retorno com “Dawn of a New
Sun” após um hiato, e agora com este novo trabalho, “The Tribes of Witching
Souls”. Gostaria que você falasse sobre o que aquele hiato e as mudanças na formação representaram para a banda.
Bruno Maia: Houve um hiato de 3 anos sem
banda. Isso foi de dezembro de 2010 até meados de 2013. Voltamos em 2013 para
alguns shows esporádicos e daí lançamos o “Dawn” em 2015. O “Dawn” foi um disco
que gostei demais de fazer e lançar, pois pessoalmente meus últimos 2
lançamentos até o “Dawn” tinham sido bem complexos, bem progressivos, que foram
o disco do Braia e do Kernunna, e o “Dawn” veio mais direto, sem tanta viagem,
do jeito que precisava. Adoro esse disco e o som dele. Depois disso, lançamos
em 2016 uma nova versão de nosso primeiro disco, daí o guitarrista saiu em
2017, e em 2018, bem no início do ano, foi a vez do Rodrigo baterista; ambos
saíram por conta própria e nós, nunca pensamos em parar.
RtM: Vocês seguiram então somente com 3 membros oficiais.
Bruno: Hoje, de membros
fundadores estou eu e o Giovani na formação, já o Edgard está conosco
oficialmente há apenas 15 anos e nosso relacionamento é muito legal, positivo e
sem fissuras. Temos todo o clima e amizade necessários para continuar com o
Tuatha por muito tempo ainda e pra mim, sinceramente, a banda vive um ótimo
momento repleto de leveza, vontade e positividade. As coisas não acontecem por
acaso, foi necessário isso tudo acontecer pra banda estar aqui ainda e o fato
de termos lançado um trabalho novo com tanta relevância agora é a prova disso
que falo.
RtM; Você já vinha falando que este novo
álbum seria o mais diversificado da banda. Algo que percebi foi uma atmosfera
mais “séria”, digamos, com menos temas fantástico e “festivos”. Quais elementos
você acredita que são os mais diferentes e surpreendentes que o ouvinte vai
encontrar?
Bruno: O disco é bem diversificado
mesmo, pode sacar que as músicas não tem nada a ver uma com a outra, mas todas
carregam um elemento Tuatha. Temos uma carga identitária muito forte que foi
moldada ao longo dos anos, uma marca composicional que possuímos que só o
Tuatha tem, ou no máximo alguma coisa do Braia ou Kernunna. Os elementos mais festivos
e alto astral você encontrará apenas na faixa título (talvez até demais, uma vez
que essa música é uma das mais positivas e pra cima que já ouvi), já as outras
tem elementos diversos que vêm de fontes variadas de inspiração.
"O motivo de continuarmos a criar é ser relevantes pra nós mesmos e nossa música ser capaz de nos desafiar e encantar."
RtM: O Tuatha é
uma daquelas bandas que possuem uma sonoridade própria, algo difícil,
principalmente em tempos atuais, e também, acredito, proporciona uma liberdade
musical ampla, permitindo ousar, e neste álbum ficou demonstrada ainda mais
essa liberdade, e a sensação de que a banda pode ir ainda muito mais além.
Gostaria que você comentasse a respeito.
Bruno: Que
legal você captar isso! É gratificante que alguém fora do núcleo criador perceba
isso e aponte. Mas eu acredito que este é o motivo e o porquê de continuarmos a
fazer música: ser relevantes pra nós mesmos e nossa música ser capaz de nos
desafiar e encantar ainda. Não faria sentido fazer o mesmo som sempre. E o mais
legal é que conseguimos isso sem abandonar nossos elementos próprios e tão
característicos. Creio que estamos vestidos de nós mesmos e sem medo de seguir
adiante.
RtM: Sim, justamente, se o músico não buscar se desafiar, ousar, acredito que, tanto ele como o público perderão o interesse! Bom, você já citou antes a faixa título, que também foi o primeiro single, e ela trouxe os elementos já familiares aos fãs da banda, uma típica
música do Tuatha. Vocês escolheram já a canção principal justamente por isso?
Gostaria também que você falasse um pouco mais sobre ela.
Bruno: Exatamente, a “Tribes…” foi
lançada primeiro até pra galera que nos acompanha sacar que a banda continuava
firme e forte. Esse som é um trem 100% Tuatha de Danann . . . ela tem a levada
típica de nossas aberturas de disco, o clima pra cima, com abafadas legais de
guitarra, uma melodia bem Beatles e os temas celtas perpassando toda a canção.
Sem contar com a participação dos duendes e tudo mais.
RtM: Já o segundo single, “Your Wall
Shall Fall”, traz elementos diferentes, tratando um tema bem atual e forte,
saindo das temáticas mais fantasiosas. E tem um convidado bem especial, Martin
Walkyier, ex-Skyclad, e grande influência do Tuatha. Gostaria que você falasse
um pouco mais a respeito dessa canção e claro, da participação do Martin.
Bruno: Cara, essa música a gente tinha
feito em 2017, da última vez que ele esteve aqui no Brasil, mas ele nunca
ficava satisfeito com a letra, sempre a mudava, o que foi, inclusive, um dos
motivos desse lançamento atrasar . . . MAS, é uma canção muito forte, muito
pesada e direta, se comparada a outras do Tuatha de Danann, e a letra do Martin é
fabulosa, como sempre. A gente ficou muito amigo ao longo dos anos e ficou
muito natural as participações. Hoje em dia soa natural, mas há 15 anos isso (ser parceiro do Martin) seria um sonho. Um sonho alcançado!
"Creio que estamos vestidos de nós mesmos e sem medo de seguir adiante."
RtM: O vídeo para essa música também
ficou muito legal, inclusive houve uma campanha da banda para que os fãs,
admiradores e amigos enviassem vídeos, os quais alguns seriam usados na edição
do clipe. Fale-nos mais a respeito dessa ideia e sua avaliação sobre o
resultado final, e se as reações, ao vídeo e canção, foram os esperados.
Bruno: Foi muito legal essa coisa! Foi
ideia do próprio Martin, pois pessoas de qualquer lugar do mundo poderiam
comprar essa ideia. A letra, embora faça alusões ao “famigerado” muro do Trump,
questiona a ganância, a tirania do mercado, os governos autoritários,
beligerantes e criticatudo que divide e
oprime o ser humano. É um tema anti tirania e fascismo. Gente dos EUA, Irlanda,
Rússia, França, México e vários outros locais enviaram vídeo.
RtM: Aproveitando o tema, parabéns a
você e a banda por tocar em assuntos mais delicados, e por posicionamento
importante em momento complicado, tanto da humanidade em geral, quanto no nosso
país. E gostaria de saber sua opinião quanto ao papel dos músicos, mesmo
sofrendo críticas de algumas pessoas, em mostrar um posicionamento claro e
firme contra injustiças e desigualdades sociais.
Bruno: O mundo inteiro está
experimentando um tipo de guinada à direita e à violência (seja esta no nível
discursivo ou físico). Não é só aqui no Brasil, infelizmente. Vivemos numa
época que, em teoria, é a que mais temos acesso a informação, a conteúdos, a
obras inteiras, trabalhos científicos de universidades do mundo todo e que,
mesmo assim, sinistramente, existe muita gente que se informa pelo telefone
através de vídeos ou memes quaisquer produzidos por sabe-se lá quem, sabe-se lá
por quais motivos e sabe-se lá financiado por quem. Aqui no Brasil a coisa
ficou tão noia que há muitosseguidores
de astrólogos,de músicos crentes frustrados,
tem gente que acha que tortura é algo besta, que é coisa pouca. Muita gente
relativizando a desumanidade, a crueldade e a ternura. Quanto ao papel do
músico, não acho que ninguém é obrigado a fazer música ativista ou política,
mas acho de uma contraditoriedadedoente
o tal do headbanger conservador.
RtM: Prosseguindo com os temas do álbum,
“Conjura” é uma de minhas preferidas, e traz uma tema histórico, sobre a
Inconfidência Mineira. Gostaria que você comentasse mais a respeito dessa
canção e a ideia de falar sobre esse tema.
Bruno: Pois é, pode soar como uma grande
e fabulosa quimera, uma banda brasileira que canta em inglês, tem um nome
celta, influências da música tradicional irlandesa tratar de um assunto tão
brasileiro em uma canção. Mas é isso! Eu sou um estudioso da história de Minas
Gerais, seu período colonial, seu povoamento e formação sobre vários aspectos.
Somos de Minas Gerais e temos uma história muito peculiar aqui no estado graças
aos achados do ouro e de diamantes. A chamada Febre do Ouro fez com que Minas
efetuasse a maior migração de gente da Europa pra cá, todo mundo atrás do
enriquecimento rápido pelo ouro e pedras preciosas. Os europeus e
sertanistasenfrentaram serras
altíssimas, feras desconhecidas, índios ferozes e muitas outras adversidades
pra encontrar seus tesouros nas bandas de cá; eram aventureiros destemidos e
gananciosos, muitas vezes fugidos ou exilados de Portugal. Somou-se a este
ideário da riqueza rápida um número absurdo de escravos trazidos da África e
todos os horrores da escravidão, a alta religiosidade dos jesuítas e das
irmandades e ainda o despotismos de régulos donos do sertão. Pronto! Temos
todos os ingredientes pra mais sangrenta e estranha história possível. Minas
viveu um período que faria os faroestes americanos parecerem Ursinhos Puff. (Muito boa! hahaha)
RtM: Um tema muito Rico!
Bruno: Quero ainda, um dia, fazer um disco conceitual sobre este épico mineiro,
vamosver! Sobre a “Conjura”, queríamos
de algumaforma tratar desse movimento rebelde
que vivemos no final do século XVIII, que ficou conhecido como a Inconfidência
Mineira e que teve como mártir o alferes Silva Xavier, Tiradentes, que foi o
único executado e teve seus membros espalhados pelo Caminho Novo da Estrada
Real. Essa conjuração mineira é ainda muito estudada e vem sido desvendada ano
a ano pela Historiografia. Não se tratou apenas de, como muito se falou, de
uma“Revolução dos Poetas”;foi, sim,um movimento heterogêneo e importante que reuniu intelectuais
ilustrados (alguns poetas de renome e talento), fazendeiros, militares, homens
poderosos e alguns desgraçados que vieram a trair o movimento como a hoje tão
celebrada “Delação Premiada”, que pretendiam uma revolução anti colonialista e
republicana, livrar a colônia da metrópole. Infelizmente essa tema nos soa
atual, pois vemos o país se sublevando a interesses do IMPÉRIO e entregando
suas riquezas, energia e muito do setor estratégico ao capital internacional e
mesmo a governos imperiais.
RtM: “Turn” foi uma das que achei mais
novidades com relação à suas composições anteriores, e é uma ótima canção,
trazendo uma atmosfera mais suave, melodiosa, elementos Folk/Pop, que também
percebi no projeto Auri, do Tuomas Holopainen e Troy Donockley. A letra também
é muito bonita “Esta vida é uma tela em preto e branco, e cabe a você
preenche-la com cores que você gosta...”, e o refrão fala em “Construir novas
pontes fora das muralhas”. Nos fale um pouco mais a respeito dessa canção e
sobre a letra dela.
Bruno: Eu não conheço esse som que você citou, embora conheça os caras. A “Turn” é uma peça diferenciada dentro do nosso
cancioneiro, ela tem um groove bem empolgante, uns elementos talvez “pop”como você disse, mas tem seu peso também. A
letra trata mais da omissão de que muitas vezes nos deixamos dominar, sabe?
Quando não tomamos partido ou quando deixamos o lado mau vencer e preferimos
não nos envolver. Muitas vezes o mal acontece porque o bom não se manifestou, e
outras vezes, por achar que não precisamos nos envolver um fato isolado pode
crescer em escala e se tornar situação. Acho que a letratrata disso, ter depensar mais, não ser pensado por outros e não
sermos omissos, conformados e permissivos.
RtM: “Warrior Queen” soa épica e
dramática, com as melodias de flauta e bandolim em destaque, me transportou
para uma cena da série Vikings! Ha ha! Conte-nos um pouco mais sobre essa faixa
e as inspirações para compô-la.
Bruno: Essa aí foi a última música a
entrar no disco. Um amigo queria uma trilha pra uma lutadora de MMA e queria
algo bem bélico, medieval, celta, viking, essas coisas. Eu brinquei com ele
mostrando um amontoado de clichês e ele adorou….daí eu me convenci que podia
ficar legal sim se trabalhasse melhor essa inspiração que me veio meio que de
brincadeira….deu no que deu. A letra é inspirada em grandes guerreiras e
rainhas guerreiras celtas, como a Boudicca. É uma letra que enaltece a bravura
de muitas mulheres, sua dignidade e protagonismo.
RtM: “Outcry”, originalmente gravada no "Dawn of a New Sun", ganhou uma versão mais folk/medieval,
e pelo que pude ouvir, acredito que seja, se não 100%, quase totalmente
acústica. E que pegada e força nas melodias marcantes e refrão!
Bruno: Adoramos fazer essa versão da
Outcry, ficou bem folk mesmo! A letra, infelizmente, é um retrato do Brasil
desde a época das descobertas até hoje em dia com essa situação colonial e de
entrega ao capital estrangeiro que começou com Pau Brasil, Cana de Açucar, Ouro/Diamante,
Café até chegar hoje em dia com o capital estrangeiro por trás das
movimentações financeiras e nossos tesouros privatizados, vimos Mariana,
Brumadinho e deve vir mais por aí, pois a mentalidade do capital é essa, a
rapina: leva-se o lucro e deixa a miséria.
RtM: Outra que aparece em nova versão é “Tan Pinga Ra
Tan” (gravada no álbum "Tingaralatingadun" de 2001), com arranjos orquestrais ficou com uma atmosfera incrível. Você teve a
intenção de dar uma nova vida a esta importante canção?
Bruno: "Tan Pinga Ra Tan" (N. do R.: a terra da alegria e dos prazeres, criação do Tuatha, baseada nas mitologias que os inpiram) é uma de nossas
músicas mais cantadas e queridas. Ela tem uma linda melodia que é forte e
parece ser a trilha de um sonho. Queríamos abordá-la de uma outra forma e ficou
muito legal assim.
RtM: E como você tem sentido as
primeiras reações do público à novas canções nesses primeiros shows da tour?
Bruno: Cara, as pessoas que compraram o
disco e falaram conosco tem gostado muito. Até agora as criticas tem sido bem
positivas e melhor, eles apontam esses novidades que colocamos nas músicas como
potências….Tá demais!!!
"Enquanto tiver gente respondendo a nossa música teremos estímulo pra continuar."
RtM: Finalizando, diga-nos quais as
expectativas para este ano e o que vocês almejam para a banda, que possui as
qualidades suficientes para alcançar um público maior mundialmente. Você
acredita que tenham perdido um pouco de tempo também com o hiato até o
lançamento de “Dawn of a New Sun”?
Bruno: Com certeza, ficamos muito tempo
sem lançar nada novo. Em 2004, lançamos o “Trova di Danú”. Porém, se bobear,
dados os problemas que tivemos com a gravadora naquele ano, o disco foi lançado
mesmoem 2005. Depois disso, lançamos o
DVD acústico em 2009, o que foi muito massa até por sermos, acredito, a
primeira banda brasileira de Metal a lançar um DVD acústico oficial.
Sofremos
muito com atrasos de selos àquela época, o que acabou nos desmotivando,a mim principalmente, tanto que me fez lançar
um disco solo ainda em 2007. Somou-se a a isso problemas internos e pessoais, e a banda
parou em 2010 quando eu saí no fim do ano. Voltamos pouco tempo depois, mas foi
sim muito tempo perdido. Sobre conquistar público maior mundo afora, esperamos
que sim. Ávidos e cheios de vontade nós estamos, nunca foi tão legal o clima na
banda e isso nos motiva a seguir em frente . . . enquanto tiver gente
respondendo a nossa música teremos estímulo pra continuar.
Entrevista: Carlos Garcia
Fotos: Arquivo da banda
Line-Up:
Bruno Maia - vocais, flauta,
guitarra, bandolim
Giovani Gomes - baixo, vocais
Edgard Britto - teclados
Discografia:
2001 - Tingaralatingadun
2002 - The Delirium has Just
Began
2004 - Trova di Danú
2015 - Dawn of a New Sun
2019 - The Tribes of Witching
Souls
EPs
1999 - Tuatha de Danann
2016 - Tuatha de Danann
(Relançamento do EP com 6 faixas bônus regravadas)
DVDs
2009 – Acoustic Live
Demos
1995 - The Last Pendragon
(Primeira demo, lançada quando a banda se chamava Pendragon)
1998 - Faeryage (Segunda demo,
agora com o nome 'Tuatha de Danann')
Os mineiros do Tuatha De Danann estão na estrada desde 1998, e são aquele tipo de banda do seleto grupo o qual moldou uma identidade sonora própria marcante. Neste esperado novo trabalho, sucessor de "Dawn of a New Sun" (2015) - o qual marcou o retorno da banda após terem encerrado as atividade em 2010 - tendo um hiato até 2013, Bruno Maia já vinha anunciando que seria o álbum mais diversificado do Tuatha de Danann.
A faixa título, "The Tribes of Witching Souls", foi lançada como single ano passado, apresentando todos aqueles elementos já familiares aos fãs da banda, como as melodias celtas e medievais, o clima empolgante e festivo, mitologia e criaturas fantásticas. O refrão e melodias são irresistíveis, impossível não grudar na mente. Duendes, fadas, Finganforn e outras criaturinhas cantam junto à você e a banda no refrão!
A partir do segundo single, "Your Wall Shall Fall" (composta em parceria com Martin Walkyer, Ex-Skyclad), os novos elementos já deram as caras, em uma canção direta, pesada e deixando de lado as temáticas mitológicas para abordar temas atuais como a ganância, tirania e fascismo pelo mundo. Talvez seja a presença e co-autoria de Martin, mas a canção me lembrou bastante a fase clássica do Skyclad.
Os elementos folk, celta e medievais, mixados ao Heavy Metal e nuances progressivas e viajantes, continuam sendo marcas fortes da personalidade musical da banda, mas eles fazem em "The Tribes..." o que todo artista deveria, ou seja, ousar e se desafiar, trazendo algo novo aos seus trabalhos, sem perder identidade, mantendo o interesse do ouvinte em sua música, e claro, a motivação própria do artista em se superar e criar. Esta é outra marca forte da banda, a liberdade criativa.
Bom, já comentei sobre a faixa título, e que abre o álbum, e "Your Wall Shall Fall", a quarta faixa, prossigo então com as demais faixas, e temos "Turn", uma faixa também bem diferente, segunda canção do álbum, e os novos elementos soam excelentes, temos aqui uma sonoridade bem interessante, destacando o whistle e riffs de guitarra com groove. Uma peça de Folk/Pop, melodiosa e com uma letra muito marcante, mandando o recado de que você não deve se omitir, "Turn this damned world upside down... build new bridges, off the walls".
"Warrior Queen" é uma tema com clima épico, remetendo a trilhas estilo "Brave Heart", os vocais femininos e os arranjos de bouzouki se destacam; "Conjura" inicia com as guitarras e flautas duelando, nuances progressivas e arranjos de banjo e violino contribuem para os climas da canção, que tem como tema a inconfidência mineira.
A seguir, duas canções já conhecidas, mas com novas roupagens. "Outcry", originalmente gravada em "Dawn of a New Sun", aparece aqui em uma versão folk e acústica, com vários arranjos de cordas, como banjo e viola. Ficou excelente e contagiante. "Tan Pinga Ra Tan", canção título do álbum "Tingaralatingadun" de 2001, e que possui uma das mais marcantes e bonitas melodias da banda, também recebeu uma cara nova, com uma atmosfera suave, arranjos orquestrais e belos vocais femininos, ficando ainda mais "mágica". Há ainda duas bônus, "Rhymes Against Humanity (versão demo 2004)" e "The Tribes of Witching Souls Versão demo instrumental".
Ficou aquele sabor de "quero mais", torcemos então que seja possível eles nos trazerem novos trabalhos em espaços mais curtos.
Os elementos tradicionais, as marcas fortes do Tuatha de Danann estão presentes, e junto aos arranjos folk e celta, temos essas nuances inesperadas, temáticas históricas, atuais e "reais" ao lado dos tradicionais temas fantasiosos e climas festivos.
Mas CUIDADO! Alto risco de viciar no álbum, e ainda os vizinhos acharem que você está louco ao verem você saltitando e cantarolando os refrãos e melodias! Uma das melhores bandas do Brasil quer recuperar o terreno perdido e levar sua música à todos os confins deste planeta.
Quase cinco anos após o lançamento do seu auto-intitulado debut, os italianos do Furor Gallico apresentam uma variedade ainda mais rica na sua sonoridade que tem como base o Folk e Celtic Metal, contrapondo com passagens mais extremas, neste segundo play, "The Songs From the Earth", que terá seu lançamento oficial amanhã, 17/02 (o álbum foi disponibilizado hoje para audição no Spotify).
Bem recebido pela crítica, o debut abriu caminhos e chamou atenção para a banda, que excursionou com nomes conhecidos da cena, como Stratovarius, Haggard, Elvenking, Arkona, Eluveitie e Cucified Barbara.
Gravado na Itália no renomado Metropolis Studio, mixagem e masterização no Alpha Omega Studios, estúdios onde também passaram trabalhos de gente como Depeche Mode, Carcass e Behemoth, sendo feito um ótimo trabalho, pois o álbum soa "orgânico", como deve ser, para que a atmosfera da música da banda não fosse prejudicada com, por exemplo, excesso de polidez. A belíssima capa foi concebida por Kris Verwimp, responsável por trabalhos para bandas como Arch Enemy, Marduk e Absu.
"The Song of the Earth" é a canção que serve de porta de entrada para o mundo do grupo, o barulho da chuva caindo (dá até pra sentir o cheiro da terra molhada), seguido das melodias celtas, misturando-se ao peso das guitarras e vocais ora berrados, ora guturais, violinos, flautas e coros que vão dando um colorido diferenciado. Melodia e peso contagiantes, criando uma atmosfera mágica, excelente abertura, o jogo parece ganho já de início.
"Nemàin's Breath" não deixa o nível cair, mostrando que eles não colocaram tudo de si apenas na impressionante abertura, destacando nesta faixa as belíssimas passagens acústicas, se contrapondo a agressividade dos vocais; falando nos momentos mais acústicos, "Diluvio", por exemplo, é uma "balada", cantada em italiano, com lindas atmosferas acústicas, vocais limpos, destacando o belo e melodioso solo de guitarra, e, claro, os sempre presentes arranjos de violino e flauta.
A variedade e a criatividade da música do Furor Gallico permeia pelas 9 faixas, sendo que cada uma delas apresentam novas surpresas, seja em momentos mais rápidos e mais Metal, ou nos mais acústicos e medievais, e até alguns trechos que podemos chamar de "inusitados" (você vai ter que ouvir pra saber, não vou entregar tudo aqui). O certo é que a atenção do ouvinte é mantida, graças a essa variedade e o poder cativante da atmosfera Folk/Celta criada, em ótimas melodias e refrãos, que por vezes soam como cânticos tribais, mas também trazem momentos "festivos" (ouça "Squass", que deixa espaço até para acordes tipicamente 'bluesy'.), tudo abrilhantado pelo muito bom uso dos instrumentos imprescindíveis para essas atmosferas, como bagpipes, harpa celta, violinos, flautas e bouzouki.
Nada aqui soa deslocado, com as ideias e arranjos se complementado maravilhosamente.
Uma verdadeira ode à natureza e aos nossos ouvidos, inspirada e orgânica música, e não é indicado somente a aficcionados pelo estilo. O Furor Gallico mostrou neste segundo álbum que veio para se firmar entre os grandes nomes do estilo.