Entrevista por: Renato Sanson
“Faithless” nasceu ao meio à crise pandêmica. Conte-nos esse processo criativo e o quanto isso influenciou positivamente e negativamente a banda.
Pedro Valença – ‘Faithless’ nasceu de fato durante a pandemia do covid-19. Devido ao isolamento não tivemos como divulgar nosso terceiro álbum, ‘Subversive Need’, com apresentações ao vivo. Então, com a obrigatoriedade do confinamento, começamos a compor, porém a fonte de inspiração estava esgotada, o que tornou mais difícil a composição. Se pelo lado positivo tínhamos tempo de sobra, o lado negativo era encontrar inspiração musical e psicológica em tempos tão difíceis.
Guilherme Silva – O cenário trágico que estávamos vivenciando naquele período nos inspirou com temas para quase todas as músicas do disco, acho que não ter ficado alheio ao que estava acontecendo com a sociedade brasileira e minorias de todo o mundo, foi o que nos trouxe esse sentimento de revolta que imprimimos em faixas como ‘This Land Will Never Disappear’, ‘Fatal Choice’, ‘Manifesto (Antifascista)’, ‘Orphaned Land Never Existed’.
Já “Subversive Need” foi lançado se não me engano umas 3
ou 4 semanas antes do decreto da pandemia. Um álbum muito aclamado, mas que
acabou ficando ofuscado pelo caos em que vivíamos. Como foi lidar com esse
momento, tendo um material tão bom recém-lançado?
Pedro Valença – ‘Subversive Need’ foi lançado dia 6 de março de 2020. Em 20 de março do mesmo ano, quatorze dias depois, um decreto legislativo reconhecia o estado de calamidade pública. Aqui em Pernambuco já estávamos em confinamento alguns dias antes. Nos restou divulgar o álbum através da internet, com vídeos de Live Sessions, Collabs, participando de Festivais Online. Para ser sincero foi bem frustrante ter uma obra pronta e não poder divulga-la como merecia.
Guilherme Silva – Além do lançamento do disco físico pela Europa (pelos selos neerlandeses Big Bad Wolf Records e Headbanger Records), nós nos empenhamos em promover o ‘Subversive Need’ de todas as maneiras que eram possíveis durante a pandemia, buscamos explorar nossas músicas através de todos os formatos de materiais do audiovisual que estavam sendo utilizados pelas bandas, para compensar os meios presenciais. Fizemos playthrough, festivais online, vídeos collab com outras bandas parceiras, Split Cams, live sessions. Tudo isso na base do DIY!
O nome da banda (Pandemmy) trouxe algum problema nesses últimos anos da covid-19?
Pedro Valença – Não que tenhamos notado. Apenas a pergunta sobre o nome da banda voltou a ser frequente nas entrevistas. Mas essa curiosidade é normal, não nos incomoda. A propósito, o nome Pandemmy está associado a um conceito de pandemia SONORA. Como um desejo de nossa música se espalhar mundo afora.
Voltando a “Faithless” temos um álbum fantástico e que
mostra um Pandemmy maduro, agressivo e ainda mais técnico. Como foi desenvolver
essas composições tão abrasivas e que casassem com o tema lírico?
Pedro Valença – A parte instrumental foi bem difícil, porque começamos a compor este álbum sem muita inspiração decido aos motivos já citados. Mas aos poucos algumas ideias foram tomando forma e no final de 2023 estávamos com 8 novas faixas. Uma delas foi descartada, mas que um dia será novamente trabalhada, e resgatamos o single de 2018, ‘This Land Will Never Disappear’, para uma nova versão. A parte lírica não seria sobre temas atuais, eu iria escrever sobre histórias fictícias, como permaneceu em ‘The Shadow’ e ‘Blood Never Lies’, mas diante de tantos absurdos, ficou impossível não externar nossa revolta em nossas letras. Acredito que ‘Faithless’ é uma evolução natural do Pandemmy.
Guilherme Silva – Esse processo de desenvolvimento foi algo bem natural, visto que as faixas, em sua maioria, tratam de questões atuais que já vínhamos vivendo, acompanhando e cultivando os sentimentos e a energia que colocamos no disco.
Pois a ideia proposta nas letras seguiu o mesmo caminho do álbum anterior. Criticar essa distopia politica em que estamos vivendo a anos. Para o futuro, a ideia é seguir nesta batida ou pretendem abordar outros assuntos?
Pedro Valença - Em ‘Faithless’ as letras são mais específicas. Escrevi sobre temas mais específicos se comparado com ‘Subversive Need’. Vamos continuar com essas temáticas (anti-imperialismo, anti-fascismo, anti-neoliberalismo) para os próximos trabalhos, é algo que combina com a nossa identidade musical. Talvez tente escrever um álbum inteiro sobre a questão da Palestina, que é um assunto que venho me dedicando há quase dez anos.
Pedro Valença – Sinceramente, quase nada. Tem sido um caminho de muito aprendizado e amadurecimento. Seria muito fácil julgar o passado com a experiência do presente. Óbvio que temos nossos arrependimentos, mas eles também nos forjaram. Guilherme e eu conversamos sobre isso esses dias. O conhecimento que temos hoje é também fruto dos erros do passado.
Guilherme Silva – Acho que, levando em consideração a experiência e o conhecimento que adquirimos de lá para cá, hoje nós traçamos caminhos mais assertivos em termos de composição, pré-produção e produção de um disco. Com isso, nós conseguimos atingir mais qualidade no que buscamos em termos de sonoridade.
Seguindo ainda o raciocínio da linha tempo, quais composições indicariam para conhecer a Pandemmy e por quê?
Pedro Valença – Nosso som é principalmente uma mescla entre o Death e o Thrash Metal. Baseado nisso, diria que as faixas: ‘Heretic Life’, ‘Circus Of Tyrannies’, ‘Xenophobia’ e ‘The Shadow’ são um bom começo para quem quer conhecer nosso trabalho.
Guilherme Silva – ‘Self Destruction’, ‘Almost Dead’, ‘Unwitnessed’, ‘Neohate’ e ‘Fatal Choice’, eu acredito que são faixas bem diversificadas entre si, apesar de todas soarem pesadas e agressivas, cada uma traz algo bem característico do Pandemmy, seja uma melodia, um refrão mais impactante, linhas de guitarras mais técnicas, a união de elementos do Death e do Thrash Metal.
Falando em futuro, já pensam em material inédito?
Pedro Valença – ‘Faithless’ só tem 6 meses de lançamento. Ainda queremos explorá-lo pelos próximos três anos. Temos lançado álbuns a cada quatro anos, e tem sido uma boa janela de tempo. O que posso adiantar é que antes do nosso quinto álbum, há planos para uma coletânea com músicas antigas, que não foram lançadas em álbuns oficiais, e um Split com uma banda sul americana.
Como vocês enxergam hoje o mercado musical com toda essa tecnologia? O material físico ainda se faz presente na Pandemmy?
Pedro Valença – Lançamos todos os nossos quatro álbuns em formato físico. Apesar de termos apenas algumas cópias do segundo álbum e muitas unidades de ‘Faithless’, não sei até quando vamos continuar lançando álbuns em CDs. A procura vem diminuindo bastante. Eu adoro a ideia da materialidade de uma obra de arte, mas somos uma banda underground...
Pergunto isso, pois, sou um apreciador do material físico e penso que nada pode substituir esse conceito.
Pedro Valença – Concordo contigo. Nada como apreciar um CD ou Vinil, ler o encarte, apreciar a arte de um artista gráfico, que transformou um conceito musical em imagens. Além de se informar sobre os créditos, ler as letras. Infelizmente a sociedade pós-moderna aderiu a um ritmo desumano em que essas simples apreciações estão se tornando ultrapassadas.
Encerrando, deixo aqui uma pergunta: Se pudessem definir a Pandemmy em uma frase qual seria?!
Pedro Valença – Uma banda de Metal brasileiro com músicas instigadas e letras inspiradas nas revoltas das injustiças sociais. Muito obrigado à Road to Metal pelo espaço. Apoiem o metal nacional, as mídias sobre Heavy Metal. Tudo faz parte de uma cena.
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