quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Lynch Mob: O Último Rugido

Frontiers Records (Imp.)

Por Paula Butter

A tarefa de resenhar um álbum tão importante, sempre é um desafio, primeiro por ser uma banda com muita história e que passou muitas fases do Hard Rock estadunidense e, por que não, do Rock raiz mundial? George Lynch e companhia conseguiram sobreviver com maestria por vários anos, enfrentando a era Grunge, o fortalecimento dos Pop Stars, enfim, várias décadas de mudanças. Entretanto sempre fiel ao gênero, adaptando-se ao contexto e sempre entregando aos fãs música despretensiosa e de qualidade. 

Portanto a despedida da banda não poderia ser diferente, um álbum desafiador, tanto em sua arte, quanto em suas faixas. Fica difícil definir a melhor ou a intermediária, enfim, começo com a que chamou mais atenção, os singles “Saints and Sinners” e “Dancing With The Devil” realmente foram ótimas escolhas para os primeiros lançamentos. Qualidade musical impecável, músicos afiadíssimos, vocais perfeitos, o resultado que  pode se chamar de Hard Rock atual e agradável para os ouvidos, e não somente dos fãs, para quem está começando no gênero é uma boa pedida.  

Seguimos em frente, “Love In Denial” é uma boa surpresa, bem ritmada e que traz um pouco da era Glam Rock a tona, na sequência  a desafiadora “Machine Bones”. Já em “Follow Me Down” vem aquela canção com refrões cantantes e atmosfera vintage, dando um toque diferenciado na audição do álbum. Enfim, a pérola escondida “Golden Mirror”, um instrumental fabuloso e que nos leva para outras eras. 

Na sequência “Sea Of Stones” dando um ar mais lento e alternativo, mas sem perder a linha conceitual da obra e dando destaque nas melodias e vocais, trazendo também solos de guitarra que flertam com o Blues.

Para finalizar, temos a balada “The Stranger”, não que uma música de Hard Rock possa ser considerada uma completa balada, mas me atrevo a dizer que é o mais próximo deste conceito, dentre as faixas de “Dancing With The Devil”. Finalizando com a “Bonus Track” intitulada “Somewhere”, onde todo o tradicionalismo da banda é resgatado nos minutos finais da despedida. 

Definitivamente, o Lynch Mob venceu as barreiras do tempo e conseguiu encarar com dignidade e talento, desde o início, com os cabelos compridos e calças justas, ao visual atual moderno, mas ainda arrojado, que só a maturidade traz. 

Uma despedida com “chave de ouro”, frase um tanto piegas, mas que na falta de uma melhor, continua sendo a opção que define o reconhecimento de uma vida dedicada ao Rock N’ Roll.

Frank Lopez


Entrevista - Jack Grisham (T.S.O.L): Entre Horror, Humor e Humanidade

Kitten Robot

Por Paula Butter

A Road To Metal bateu um papo descontraído com Jack Grisham, grande personalidade do punk rock horror e vocalista do T.S.O.L, e ficamos sabendo um pouco mais deste carismático californiano que inspirou várias bandas da atualidade

A entrevista aconteceu às vésperas do show da banda em São Paulo, no dia 29 de novembro de 2025, juntamente com outra banda épica, o Adolescents. 

Jack Grisham é um músico daqueles do qual você nunca esquece, carismático, sincero e disposto a responder às mais difíceis perguntas, sem perder o bom humor. Começamos com o básico, sobre seu entusiasmo ao voltar para o Brasil e qual sua relação com o público brazuca, e a resposta veio com um sorriso sincero e muitos elogios ao país e especialmente às pessoas. Ele disse que conhece muitos brasileiros que surfam com ele, e são muito bons no esporte e nas conversas, e em suas palavras atrapalhadas “muito intensas” no melhor sentido. Relatou também algumas vindas ao Brasil em grandes eventos e que sempre gostou muito da experiência. 

Com relação aos shows do T.S.O.L. e das outras bandas das quais fez parte, ele disse que as horas mais cansativas são as longas viagens que uma turnê demanda, ainda mais nesta fase da vida, mas que ainda se sente feliz e enérgico em cima do palco. Relatou ainda (com muitas risadas), que recentemente excursionou com alguns músicos alemães e fizeram juntos alguns shows em Berlim, que fica bem longe da Califórnia, e apesar da diferença cultural e linguística, foi muito divertido. 

Figura centrada nas questões sociais e políticas da atualidade, deixou claro que a fase atual do True Sounds Of Liberty está mais madura e focada em agradar aos fãs. Ao falar sobre o novo álbum da banda A-Side Graffiti, ele relata que trata-se de um apanhado de inspirações, como em uma arte feita em grafite, dele e dos integrantes da banda, em suas palavras “Fizemos canções que remetem ao que gostamos, como filmes de horror, histórias engraçadas, homenagens, inclusive tem uma dedicada ao grande Bowie, clássicos de horror, reinvenção de antigos hits, vamos fazer o que temos vontade e é isto, com certeza resultou em um ótimo álbum”. 

Jack também contou um pouco sobre a versão de “Sweet Transvestite”, que gravou com Keith Morris do Circle Jerks. Além disso, também foi produzido um videoclipe com animações para lá de irreverente e um certo humor negro.  A música original fez parte do clássico “The Horror Picture Show” de 1974, e rendeu boas risadas durante sua explicação sobre refazer este clássico, juntamente com o amigo Keith. E pode-se perceber que ele realmente colocou sangue e suor nesta faixa, tanto que a pergunta sobre a releitura de “What a wonderful World” ficou só na pauta. 

Inclusive, a banda pretende executar algumas das novas canções no show de São Paulo, juntamente com os clássicos, é claro. Aproveitando a descontração, arrisquei a pergunta sobre o set list no Brasil e se teríamos a chance de ouvir alguma canção do quarto álbum da banda “Revenge”, que ficou famoso em 1986. Porém, Grisham mostrou-se sincero em dizer que esta época não se encaixa mais na dinâmica atual da banda, falou que não se sentiria confortável em executar as canções deste álbum, mesmo porque na época, a formação da banda era outra, e não tem motivos para reviver este momento passado, e ainda afirmou que o pensamento engloba todos os músicos da banda. Atualmente, a cortesia chama atenção nas pessoas, é muito gratificante entrevistar alguém que consegue falar sobre uma fase pessoal ruim com elegância, este é Jack Grisham. 

A fim de mudar os ares da questão anterior, o assunto foi a cena do punk na Califórnia, tanto décadas atrás, quanto em 2025. Segundo o vocalista, a troca de integrantes entre as bandas é constante, e no final todos acabam se encontrando e sem mágoas, tudo muito natural, surgem projetos aqui e ali, participações em shows e tudo certo, como se fosse uma grande família. Nesta parte da entrevista, surgem nomes como Bad Religion, dentre outros gigantes do punk californiano. 

Enfim, a grande pergunta: “O Punk ainda tem alguma relevância social atualmente? Para você, o que é ser Punk em 2025?”. A questão o pegou em cheio, mas após uma pequena pausa, Grisham começou a falar no sentido mais humano da palavra. Ele disse que apesar de estarmos em uma época “politicamente correta”, o preconceito ainda existe, algumas vertentes do punk não aceitam mudanças de estilos, roupas ou modo de vida, são muito radicais, enquanto que a maioria continua achando que o punk é somente contracultura, e não se encaixa nas lutas sociais da atualidade, outros pensam ser somente uma “modinha” que insiste em continuar entre nós. Em vez de preconizar a união, o movimento acaba incentivando a desunião entre os fãs do estilo. E segundo, Jack, isto não pode acontecer, os fãs de punk precisam se unir, e também aprender gentilezas, dizer “Bom Dia” ou “Olá” para o vizinho, o colega ao lado no show de sua banda favorita, enfim, não julgar, mas sim acolher. E independente do estilo de música, a união contra as desigualdades é mais importante do que a roupa ou o som que o outro ouve. Então, para resumir, o punk atual precisa de gentileza, de informação, de acolhimento e principalmente de união.

Bom, recado dado, vamos para o final, carreira e planos futuros. Jack falou com orgulho que não possui redes sociais em seu nome pessoal, pois acredita que as pessoas conseguem fazer amizades pessoalmente e não só através das telas. Contou o dia em que conheceu um “cara que usava sapatos sem meias” e disse: “No começo achei estranho, mas no final das contas, acabamos nos encontrando eventualmente e viramos colegas. E sabe de uma coisa? Eu também passei a não usar meias (risadas) e me sinto ótimo com isto”. 

Grisham, que também é escritor e já concorreu ao cargo de governador da Califórnia, falou que no momento está escrevendo outro livro. Segundo ele, estar sempre trabalhando em algo é muito importante para se manter ativo, independente do que for, mas no momento seu foco são os shows deste ano e seu futuro livro.

E o mais importante, o recado final do músico foi: “Continuar fazendo o que gosta, independente do que seja e sempre tentar ser uma pessoa melhor e mais gentil, sem comprometer sua identidade, isto é ser punk”.

A banda T.S.O.L. vai se apresentar em São Paulo, juntamente com o Adolescents, no dia 29 de novembro, no Cine Joia. 

Os ingressos estão disponíveis através do site da Fastix: https://fastix.com.br/events/adolescents-eua-t-s-o-l-eua-em-sao-paulo

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Cobertura de Show: Picture – 23/11/2025 – Manifesto Bar/SP

Novembro está sendo um mês de celebrações! Mesmo com cancelamento do Artillery e Atrophy no Burning House no mesmo dia, o metal em São Paulo não parou e trouxe mais uma comemoração de 45 anos - após o Grave Digger na semana anterior no Carioca Club.

Desta vez, o Picture apareceu para comemorar em terras brasileiras a mesma idade de surgimento em uma passagem brilhante por São Paulo, sendo o Manifesto Bar praticamente a segunda casa do quinteto holandês (por onde fez show ano passado, além de gravar um DVD ao vivo em 2019). O público reviveu uma de suas noites mais especiais no domingo, consagrando um dos ícones absolutos do Heavy Metal europeu. 

Subiram ao palco entregando um show intenso, honesto e histórico — um daqueles eventos que lembram por que o metal clássico permanece tão vivo no Brasil. O público fiel ao estilo chegou cedo ao Manifesto Bar. 

A recente expansão da casa, agora com capacidade ampliada e som mais robusto, mostrou seu valor: a combinação de palco novo, iluminação forte e o público enérgico criou o clima ideal para uma noite de pura celebração.

Ao som nas caixas de Kashmir (Led Zeppelin) e sem grandes cerimônias, o PICTURE iniciou o show com a energia de quem nunca saiu da estrada. Com "Griffons Guard the Gold", o impacto foi imediato: guitarras afiadas, bateria firme e a presença marcante de Peter Strykes, que assumiu os vocais com autoridade absoluta. 

Sua voz, firme e melodiosa, mostrou que o frontman  estava muito bem na noite com a casa respondendo à altura! Logo nos primeiros minutos, já era possível perceber que a interação entre banda e público seria um dos pontos altos da noite.

O repertório transitou entre os clássicos que tornaram o PICTURE referência do metal europeu. Hinos antigos como “Eternal Dark”- disco que revelou a banda aos fãs brasileiros, “Lady Lightning” e “Bombers” foram recebidos como velhos amigos: refrões cantados em uníssono, braços erguidos, headbanging constante — o público brasileiro mostrou mais uma vez por que é conhecido como um dos mais apaixonados do mundo. 

Os fãs mais antigos pareciam revitalizados a cada riff familiar, enquanto os mais jovens, muitos deles vendo a banda pela primeira vez, eram carregados pela força desse heavy metal direto, sem truques, sem frescura.

A dupla de guitarristas, Len Ruygrok e Appie de Gelder, foi um espetáculo à parte. Os solos em duetos, as harmonias e os ataques sincronizados trouxeram a sensação de estar assistindo a uma verdadeira aula de metal clássico. Nada de exageros ou virtuosismo gratuito — apenas técnica, pegada e feeling. 

Na retaguarda, os veteranos Rinus Vreugdenhil (baixo) e Laurens Bakker (bateria) seguraram tudo com precisão e peso. Bakker, um dos fundadores da banda, mostrou vigor impressionante, enquanto Rinus entregou linhas sólidas que vibravam pelo chão do Manifesto que em determinado momento do show, desceu do palco foi tocar seu baixo no meio do público. 

O encerramento veio com alguns dos maiores clássicos da banda “Make You Burn” e “No No No”, levando o público ao delírio. Dezenas de vozes se uniram nos refrões, enquanto a banda tocava com a mesma energia do início do show. Quando as luzes finalmente se acenderam, ficou clara a sensação de que todos presenciaram algo único: não apenas um show, mas um marco para fãs de heavy metal tradicional.


Texto: Anderson Bellini 

Fotos: Pri Secco

Edição/Revisão: Gabriel Arruda / Roberto "Bertz"


Realização: Open The Road Agency


Picture – setlist:

Griffons Guard the Gold

Message From Hell

Blown Away

Line of Life

Lousy Lady

Diamond Dreamer

Eternal Dark

You're All Alone

The Blade

Get Back or You Fall

Bombers

Live by the Sword

Power of Evil

Heavy Metal Ears

The Hangman

Unemployed

Nighttiger

Lady Lightning

Encore:

Make You Burn

No No No

terça-feira, 25 de novembro de 2025

Cobertura de Show: Grave Digger – 14/11/2025 – Carioca Club/SP

Este ano de 2025, o Brasil alcançou a segunda posição no ranking mundial de mercados de shows ao vivo. Isso se justifica quando as bandas retornam por aqui num curto espaço de tempo (principalmente pós-pandemia) para consagrar sua história, recomeçar ou comemorar algum disco clássico específico que esteja completando algumas décadas de aniversário. O público brasileiro está passando por algumas transições onde a velha guarda e um público novo se encontram, colocando as bandas em turnê por várias cidades e estados sem medo de errar, pois o público vai estar presente.

Numa sexta-feira (14/11) no Carioca Club, essa estatística se concretiza ao receber a lenda do Heavy Metal alemão Grave Digger, comemorando 45 anos de trajetória e divulgando o novo disco Bone Collector (2025) - 22º disco da carreira - marcando a história do Metal na discografia de uma banda de quase meio século. 

A abertura ficou por conta da banda JUST HEROES, que recebeu a missão de abrir para os alemães depois serem os vencedores do concurso realizado pela Roadie Crew entre 50 bandas. Foi uma das melhores bandas de abertura de shows que assisti este ano, performance de palco, composições muito bem pensadas e harmonizadas com as distorções propositalmente remetendo as guitarras do Judas Priest. O vocalista Mr. Machine tomou a frente destacando muito o visual quanto sua potência vocal afinadíssimo, lembrando muito o Tim Ripper Owens, uma clara e notória influência desse espetacular e injustiçado vocalista. 

O som de palco estava impecável; Flavio Souza Jr. e Wander Cunha (guitarras) duelaram solos, Fabio Gomes (baixo) deu o groove certo nas músicas e o ex-baterista do Manowar, Marcus Castellani, não polpou uma peça da bateria para executar as músicas, elevando ainda mais qualidade do quinteto. O público foi surpreendido com uma qualidade acima da média para bandas desse gênero. Acredito que essa força do JUST HEROES supre uma necessidade de subir o patamar do profissionalismo na cena, pois mostraram isso a cada música e aproveitaram cada minuto dessa oportunidade. Destaque para "Heroes", "Survivor of Hate", "Horsepower" e o cover do Judas Priest "Breaking the Law".

É a vez da lenda entrar em cena. A casa foi tomada, uma massa gritava em som de torcida Olêee olê olê olê olêee... Digger...Digger; e o quarteto arrebentou tudo! Abriram com "Reign of Bones/Twilight of the Gods" pra testar o som e Tobias Kersting foi ajustando o timbre na guitarra, mas já foi uma pedrada na vidraça. 

O vocal de Chris Boltendahl - único membro original desde o início da banda - estava afiadíssima e se mostrou muito bem fisicamente, tanto no cuidado com a voz durante todos esses anos quanto no desempenho na postura de palco, agitando com o público, com a banda, além do carisma emblemático com o público entregando um show de ponta a ponta com muito entusiasmo; um verdadeiro headbanger! O baixista Jens Becker, um pouco mais contido, segurou muito bem a base e dispensa apresentações desde 1998, quando assumiu o posto da banda após sua passagem pelo Running Wild; além do baterista Marcus Kniep, na bateria desde 2018, engrandeceu o show com som pesado no majestoso desemprenho da bateria.

Mesclar um repertório de 45 anos de trajetória não é nada fácil, ainda mais o público exigente como é do Grave Digger. Do álbum lançado este ano, destacaram "Kingdom of Skulls" e o repertório passou por clássicos, destaques para "The Keeper of the Holy Grail", "Valhalla", "The Dark of the Sun", "Excalibur", "Back to the Roots", "Rebellion (The Clans Are Marching)" e tendo tempo para mais quatro bônus, incluindo "Witch Hunter" (espetacular) e fechando com a imortal "Heavy Metal Breakdown", tendo final épico por parte de Chris Boltendahl.

Estive em outubro de 2003 no finado DirecTV Music Hall para vê-los pela primeira vez; reencontrar a banda de forma espetacular novamente após 22 anos é muito significativo para o Heavy Metal brasileiro. O Grave Digger é uma entidade global do Metal, resgata fãs, trás público novo, revela bandas de abertura que vão dar continuidade no ideal desses quatro headbangers que sentem o público brasileiro e nosso país como a casa e a família a ser visitada. Um dos melhores shows que está marcado neste ano de 2025 com certeza.


Texto: Roberto "Bertz"


Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Opus Entretenimento 


Just Heroes – setlist:

Heroes 

Angels Deserve to Live

Forever in my Heart 

Vital Signs 

Hurts Like Fire 

Survivor of Hate

You Will Never Heal 

Horsepower


Grave Digger – setlist:

Reign of Bones/Twilight of the Gods

The Grave Dancer

Kingdom of Skulls

Under My Flag

Valhalla

The Keeper of the Holy Grail

The Dark of the Sun

The Curse of Jacques

Shadows of a Moonless Night

The Round Table (Forever)

Excalibur

The Devils Serenade

Back to the Roots

Rebellion (The Clans Are Marching)

Bis

Scotland United

Circle of Witches

Witch Hunter

Heavy Metal Breakdown

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Cobertura de Show: Gloryhammer – 16/11/2025 – Carioca Club/SP

Gloryhammer estreia no Brasil com show no Carioca Club

Na noite de 16 de novembro de 2025, a banda suiça de power metal Gloryhammer fez sua aguardada estreia em solo brasileiro, apresentando-se no Carioca Club, em São Paulo. Liderada pelo carismático vocalista Sozos Michael e pelo tecladista Christopher Bowes(também fundador do Alestorm), a banda combina power metal sinfônico com um universo de fantasia próprio, repleto de reis, batalhas, magia e, claro, martelos sagrados.

Pontualmente às 20h, o grupo subiu ao palco em uma casa com público reduzido, reflexo dos preços um pouco elevados para uma banda ainda pouco conhecida e em ascensão. Mesmo assim, quem esteve presente foi presenteado com uma apresentação cheia de energia e diversão.

A banda iniciou a apresentação com uma dobradinha “The Land of Unicorns” e “He Has Returned”, dando o tom da aventura que viria pela frente. Na sequência, “Fly Away”, embalou o público, que já ao final da apresentação gritava pela música “Hootsforce”, prontamente respondido por Sozos: “Ainda não chegou a hora”.

Mais adiante, quase na metade do show tivemos, “Gloryhammer”, faixa que sintetiza a proposta da banda: batalhas, reinos e magia. O público respondeu à altura, cantando e acompanhando a banda no refrão, “Glory! Hammer!”.

O set seguiu com “Fife Eternal”, música que parecia saída diretamente de um game RPG, o público cantava, pulava, enquanto alguns se divertiam em uma rodinha mosh.

Na reta final, tivemos uma sequência de “Universe on Fire”, “The Unicorn Invasion of Dundee” e, finalmente, a mais aguardada pelo público, “Hootsforce”. Logo nos primeiros acordes, o público começou o coro: “Hoots! Hoots! Hoots!”. A banda em sintonia com o público entrou no clima, o vocalista, empunhando seu “martelo”, se divertia no palco, enquanto cantava, no refrão todos cantavam juntos: “Hootsforce, we are the Hootsforce!”. Esse momento foi sem dúvidas o ápice da noite.

O show foi encerrado às 21h25, após pouco mais de 1h20 de apresentação e 15 músicas no setlist. Embora a casa não estivesse lotada, a energia do público e o carisma da banda garantiram uma noite mágica, assim como as músicas que tocaram. Para uma primeira passagem pelo Brasil, o saldo foi extremamente positivo. Com maior divulgação, o Gloryhammer tem grande potencial para figurar em festivais brasileiros nos próximos anos e conquistar ainda mais fãs com seu universo épico e sonoridade divertida.


Texto: Guilherme Soares 

Fotos: Pri Secco

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Overload Brasil 

Press: Tedesco Comunicação & Mídia


Gloryhammer – setlist:

The Land of Unicorns

He Has Returned

Fly Away

Angus McFife

Questlords of Inverness, Ride to the Galactic Fortress!

Wasteland Warrior Hoots Patrol

Gloryhammer

Fife Eternal

Masters of the Galaxy

On a Quest for Aberdeen

The Siege of Dunkeld (In Hoots We Trust)

Keeper of the Celestial Flame of Abernethy

Universe on Fire

Hootsforce

The Unicorn Invasion of Dundee

Cassidy Paris: Juventude, Atitude e a Nova Face do Hard Rock

Frontiers Records (Imp.)

Por Paula Butter

Cassidy Paris lança seu segundo álbum, pela Frontiers, desta vez mais maduro e com letras mais pessoais. A australiana com ares de diva dos anos 80, veio com objetivo de incentivar as novatas a chegar no topo do rock mainstream. a artista apresenta uma mistura de hard rock com baladas e refrões românticos e também apimentados, mas não deixando de lado o tempero que tanto funcionou com as musas rock n´roll de décadas passadas, a revolta em forma de refrões afiados. Inclusive segundo a própria Cassidy, o álbum reflete sua jornada na música e situações pessoais que precisou enfrentar durante o processo rumo ao reconhecimento. 

“BitterSweet” reflete bem o conjunto de faixas e seus significados, ou seja, um gostinho doce, porém amargo, referindo-se aquela sensação de experimento e surpresa na descoberta de que às vezes os opostos combinam muito bem. Logo na primeira faixa, “Butterfly”, percebe-se um ar de single, daqueles para ouvir no carro para animar o dia. Musicalmente é bem estruturada como todas as faixas, os vocais da cantora alternam na forma de suavidade e acidez, sempre com guitarras e ritmos que acompanham sua entonação do começo ao fim. 

E assim, se desenrolam faixas seguintes, “Nothing Left To Lose” dá bastante destaque à voz de Cassidy, iluminando sua maturidade artística. Em “Finish What We Started” percebe-se uma pegada bem mais Hard Rock, daqueles que dá vontade de sair dançando, e também traz a nostalgia do passado. Já “Gettin’ Better” é uma ótima “quase” balada, tendo em vista que os arranjos são bem dinâmicos, e também carrega mais densidade emocional nas letras. 

Após um pouco de melancolia, chega a divertida “Give Me Your Love” para levantar o astral, nada de mais, porém tem aquela pegada do Glam Rock com momentos em que a voz de Cassidy alterna para um estilo bem charmoso, porém com atitude. Acredito ser um dos destaques do álbum até agora, ao lado da primeira faixa. A sétima música pode ser considerada a balada principal, “Can't Let Go”, bem feita, mas nada de novo. Entretanto, um artifício genial na composição das faixas de “BitterSweet”,  é o fato de que quando o ouvinte está prestes a dar o stop, pronto! Eis que chegam “Undecided” e “Sucker For Your Love”, surpresas de alto nível, com direito a solos de guitarra, bateria forte, ritmo, Hard Rock da melhor qualidade. Considero duas pérolas do álbum, dignas de serem repetidas várias vezes. 

As últimas faixas voltam a carregar um tom mais melancólico, com exceção da ótima “Turn Around And Kiss Me”, literalmente uma reviravolta musical, como se a protagonista assumisse o controle de forma permanente e decidida, como em um filme, onde a melhor parte é aquela antes do fim. Com a empolgação, vem a última canção “Stronger”, muito bem construída, mas fica atrás da penúltima, em termos de inovação. Entretanto vem para consolidar de forma correta, a obra da jovem artista australiana. Lançamento perfeito para incentivar as mulheres a lutarem pelo seu lugar no mainstream do Hard Rock. E novamente, não se deixem levar pela pouca idade da moça, ela realmente sabe o que está fazendo.



quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Treat: Nostalgia, Técnica e Emoção

Shinigami Records (Nac.) / Frontiers Records (Imp.)

Por Paula Butter

O Treat está com álbum novo, e valeu a espera, esta banda sueca, cuja trajetória teve início nos anos 80, vem com tudo, traz a nostalgia, a diversidade sonora, e ainda com uma qualidade acima da média. Logo no início da audição, há um breve momento estilo “Blade Runner”, para logo, alternar para o puro Hard Rock, daqueles animados com uma pitada de glam que tanto fez sucesso há algumas décadas atrás. 

As três primeiras músicas, “Out With A Bang”, “Rodeo” e “1985” soam leves, com muitos backing vocals, teclados, refrãos melódicos, enfim, tudo garantido no pacote Hard/Glam, e são realmente ótimas. 

À medida que as faixas vão avançando, podemos notar um acréscimo de peso e o tom passa a ser mais tradicional do Hard Rock, com muitos riffs e solos de guitarra, vocais mais sérios, mostrando que nem tudo é festa. 

Não costumo fazer comparações entre bandas, afinal, cada uma é única, no entanto utilizo o artifício do cinema, dos filmes de épocas diversas, isto para que o leitor tenha um vislumbre do que esperar. Desta maneira a coisa não fica na mesmice, e como fã de rock e cinema, acredito que as duas artes andam juntas.

Pois bem, a partir de “Hand On Heart” o tom e as letras ficam um pouco mais melancólicas, soando como a despedida de uma era em particular, o estilo mais balada e melódico se intensifica. Inclusive este era um dos objetivos dos músicos, contar uma história através do estilo próprio do grupo, na passagem dos anos. Destaque para “Heaven 's Waiting” e “Back to the Future”, em minha opinião as melhores do álbum, por conseguir transparecer uma profusão de sentimentos que poucas obras conseguem. Definitivamente merecem ser ouvidas mais de uma vez. 

Interessante, a astúcia dos músicos, que vale ressaltar, estão em formação original desde o último álbum, em 2022, em compor a ordem das faixas. Explico, em “Mad Honey” começam a aparecer elementos do rock progressivo, passagens mais elaboradas, dando aquela sensação de virada de disco. Saem de cena os filmes mais simples, é chegada a era da tecnologia e dos efeitos especiais, deixando as emoções um pouco de lado e focando no escapismo.

E como um presente pelas provas de vida, chegam as baladas de alto escalão “Your Majesty” e “Night Brigade”. Estas, aparentemente como uma retomada do controle e dos sentimentos, um recomeço. Na sequência, a incompreendida e divertida “In The Blink Of An Eye”, mudando o ritmo novamente, exatamente como o título diz, e levantando o astral dos fãs. 

Por fim, “One Minute To Breathe” , faixa com início melódico, bem composta, com sequência de riffs de guitarras afiadas, mas voltando às raízes. A música é um retorno ao início, mas com mais precisão técnica nos arranjos. Um presente aos fãs, uma comemoração em forma de hit dos anos 80. 

Para finalizar, acredito que o Treat conseguiu realizar sua volta às origens com maestria



Cobertura de Show: Glenn Hughes – 16/11/2025 – Vip Station/SP

Entendo que, em todo debate sobre quais são os melhores vocalistas da história, sempre serão citados Freddie Mercury, Robert Plant, Elvis Presley, Ronnie James Dio, entre outros que marcaram época e influenciaram gerações de cantores ao redor do mundo. Não discordo dessas escolhas, porém, do meu ponto de vista, elas soam um tanto manjadas. Com cinco décadas de carreira, Glenn Hughes, que voltou ao Brasil após se apresentar no festival Bangers Open Air, poderia tranquilamente ocupar o posto de um desses nomes. É difícil descrever sua apresentação no último dia 16 de novembro, em São Paulo, no Vip Station, pois mais uma vez o The Voice of Rock, e o cantor branco favorito de Stevie Wonder, nos surpreendeu mais uma vez.

Como já é de praxe em todos os shows da Dark Dimensions, houve uma banda de abertura para aquele tradicional aquecimento antes da atração principal. A escolhida desta vez foi a mineira Electric Gypsy, que abriu quase todos os shows da turnê, com exceção de Porto Alegre e Curitiba. Formada durante a pandemia, a banda participou da última turnê do saudoso Paul Di’Anno tanto no Brasil quanto na Europa em 2023. Suas influências vão de Great White, L.A. Guns e um pouco de Lynch Mob, nomes das décadas de 80 e 90, além de um leve flerte com os anos 70, especialmente da escola Bad Company. O resultado é um hard rock competente e muito bem executado.

As composições, principalmente as do segundo e mais recente álbum, Mothership (2023), agradaram o público que esteve presente para vê-los. Além delas e das faixas do debut homônimo, lançado em 2021, a banda incluiu alguns covers no setlist. O primeiro foi “Hot for Teacher”, do Van Halen, que evidenciou a competência e a técnica dos músicos ao encarar uma das músicas mais difíceis da banda. O segundo foi “Shoot to Thrill”, do AC/DC, que, conforme descreveu o vocalista Gus, serviu como um belo aquecimento para o que vai rolar no Morumbis entre fevereiro e março do próximo ano. Outro grande destaque ficou para “Right On”, que combinou perfeitamente com as características do dono da noite, e para “Till the Levee Runs Dry”, a qual Gus desceu do palco para cantar bem perto de quem estava na grade.

Falando no Gus, que é praticamente um crossover entre Steven Tyler e Vince Neil, o vocalista comandou a plateia com uma atitude imparável, digna de um verdadeiro frontman. Já o guitarrista Nola consegue emular muito bem as influências dos grandes guitarristas que fizeram sucesso nos anos 80, lembrando especialmente o lendário George Lynch em seu timbre. Mas nada disso adiantaria se eles, Pete (baixo) e Robert Zimmerman (bateria), que completam a banda, não tivessem uma ótima presença de palco. O mais interessante é que são quatro jovens na casa dos 30 anos praticando um estilo musical direcionado a um nicho específico, mas que pode, sem dúvida, despertar o interesse não só do público mais jovem, mas de todas as faixas etárias. O show, no geral, foi muito bom. Uma escolha mais do que acertada.

Com a casa lotada, bastaram apenas trinta minutos para que a grande estrela da noite subisse ao palco. Às 21h em ponto, Glenn e seu duo já mandaram ver com a mistura de hard, soul e funk em “Soul Mover”, que, com seu poderoso refrão, conquistou o público de imediato. Na sequência, “Muscle & Blood”, do extinto projeto Hughes/Thrall, que rendeu apenas um disco, manteve o calor sonoro na temperatura certa. Se na versão original, em estúdio, a música já tem um forte impacto, ao vivo ficou ainda mais. Para completar essa primeira trinca, “Voice in My Head”, do recém-lançado Chosen (2025), mostra que Glenn continua compondo ótimas músicas.

A escolha do setlist, nas palavras do próprio Glenn, foi mais do que acertada, como se comprovou na hora de tocar “One Last Soul”, extraída do primeiro álbum de um dos melhores supergrupos da última década, o Black Country Communion. O mais interessante nesses primeiros minutos de show é ver que a obra de Glenn pós-Deep Purple atingiu um grande público, que recebeu essas músicas de forma grandiosa, assim como “Can’t Stop the Flood”, responsável por colocar mais groove na noite, e “First Step of Love”, outra da parceria com o guitarrista Pat Thrall.

Além de mostrar que sua voz continua sendo uma força da natureza, Glenn se mostrou gentil em todos os momentos, sempre expressando seu carinho pelos fãs brasileiros. Relembrou seus saudosos amigos Mel Galley e Dave Holland. Este último, segundo contou, recebeu um telefonema de Rob Halford pedindo seu contato para entrar no Judas Priest. Glenn também compartilhou como uma jovem chamada Ivana, que mais tarde se tornaria sua namorada, inspirou a para compor “Way Back to the Bone”, do Trapeze, que fez todos no Vip Station dançarem a seu pedido.

Continuando a relembrar os seus tempos de Trapeze, “Medusa”, o grande hit da sua primeira banda e primeiro estopim da noite, trouxe uma carga de emoção, dramaticidade e peso, que se estendeu em “Grace”, fruto da sua outra parceria importante com Tony Iommi. Antes de executá-la, Glenn teceu elogios ao mestre dos riffs, perguntando “como pode um homem tão calmo, de voz mansa, consegui compor riffs tão raivosos?” A única falha nesta parte do show foi o som, com o baixo encobrindo a guitarra do dinamarquês Søren Andersen. Essa fase, que rendeu o álbum Fused (2005), foi concluída com “Dopamine”, tocando apenas a parte do refrão.

“Chosen”, outra faixa do recém-lançado álbum de mesmo nome, preparou o terreno para a grande catarse da noite: “Mistreated”, obra-prima do clássico Burn (1974), do Deep Purple. A plateia esteve insana do primeiro ao último minuto deste que é um dos maiores clássicos da história do rock. A música permitiu que Glenn mostrasse toda a sua potencialidade vocal, arrepiando a alma de quem teve a oportunidade de ver e ouvir. Houve também um rápido solo de guitarra de Søren, que executou com sabedoria as linhas criadas por Ritchie Blackmore, Joe Bonamassa, Paty Thrall e Mel Galley na noite. Já “Stay Free”, do último e quinto disco do Black Country Communion, mostrou o bom gingado de Glenn antes daquela saída marota que todos já conhecem.

Para o final, Glenn trouxe mais um pouco de passado e presente, começando com “Coast to Coast”, com ele sozinho no palco fazendo voz e violão. “Black Country”, música que dá nome a um dos melhores supergrupos que mencionei anteriormente, colocou o Vip Station de cabeça para baixo, com direito a um rápido solo de bateria, inspirado em ritmos brasileiros, de Ash Sheehan. O encerramento não poderia ser outro senão a radiofônica “Burn”, que fez todos irem aos berros assim que Søren despejou um dos riffs mais importantes da história do rock e, por que não, da música.

Todos saíram e voltaram para suas casas com um sorriso de orelha a orelha. E, retomando aquela conversa do início, é fato que nomes como Robert Plant, Rob Halford, Bruce Dickinson e até mesmo os saudosos Elvis Presley e Freddie Mercury sempre terão seu lugar na mente de cantores e de qualquer fã de rock. Mas de uma coisa eu tenho certeza: mesmo com 74, 75, 76 ou até 80 anos, a voz de Glenn continuará intacta como sempre. Um show que, conforme dito pelo vocalista do Spektra, BJ – que inclusive esteve ao meu lado em parte da apresentação –, não dava para perder de jeito nenhum, ainda mais se realmente foi a última vez, como anunciado. Mas prefiro não acreditar muito nisso, pois Glenn ainda tem fôlego de sobra para cantar essas músicas que os fãs tanto amam.


Texto: Gabriel Arruda 

Fotos: Amanda Vasconcelos 

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Dark Dimensions

Press: JZ Press 


Glenn Hughes – setlist: 

Soul Mover

Muscle and Blood

Voice in My Head

One Last Soul

Can't Stop the Flood

First Step of Love

Way Back to the Bone

Medusa

Grace / Dopamine

Chosen

Mistreated

Stay Free

Bis 

Coast to Coast

Black Country

Burn

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Cobertura de Show: Grave Digger – 12/11/2025 – Tork N' Roll/CWB

Noite de Heavy Metal épico em Curitiba!

Quarta feira foi noite de Heavy Metal em Curitiba, a banda Grave Digger comemorando seus 45 anos de estrada, juntamente com os suecos do Ambush fizeram mais um dia de semana revigorante para os headbangers da cidade. E ainda teve abertura dos brazucas do Hellway Train para animar o público do happy hour, afinal os trabalhos começaram cedo, por volta das 19:40. 

O evento aconteceu na casa de shows Tork N´Roll, queridinha do público do rock, afinal possui toda a estrutura para deixar qualquer público confortável, ar condicionado, camarotes com jogos, muitas mesas, praça de alimentação completa, incluindo estação central de bebidas e uma adega para os amantes do vinho. Neste dia, não teve separações de pista, sendo que todos tinham o mesmo acesso à frente do palco, com exceção dos camarotes, com vista superior. 

A banda Hellway Train trouxe um repertório autoral, bem executado, porém o volume estava um pouco acima do esperado, prejudicando um pouco a experiência. Os mineiros apresentaram um setlist recheado de canções old school com um toque mais acelerado, deram prioridade para as canções de seu álbum “Borderline”, lançado ano passado (2024) e é claro alguns singles anteriores que fizeram sucesso. 

Ao decorrer do show, o som me lembrou muito o Judas Priest, o que sempre é bem vindo. Apesar da energia e odes de revolta ao sistema e as crenças coletivas, a casa ainda estava um pouco vazia. 

Mas a explicação talvez seja que na mesma noite ocorreu a apresentação do cantor Billy Idol na cidade, e na noite anterior, o Tork N´Roll recebeu os gigantes do Power Metal Hammerfall, com casa lotada. Então, acredito que a onda de shows praticamente simultâneos tenha dividido o público da cidade.

Mas deixemos os pormenores de lado e vamos apresentar os suecos do Ambush, banda formada em 2013 e muito aguardada pelo público brasileiro. Cabe ressaltar, que o grupo é destaque dentre a panelinha da NWOTHM (New Wave Of Traditional  Heavy Metal) pela sua qualidade e originalidade na revitalização do Heavy Metal “Old School”. 

Os músicos subiram ao palco no horário previsto e com muito vigor, digno de banda no auge. A este ponto da noite, a pista já estava bem movimentada com a frente do palco tomada, restando somente as laterais da grade de proteção com algum espaço, para aqueles que preferiram ficar nas mesas se deliciando com as comidinhas de boteco.

A primeira música “Firestorm”, já um clássico da banda, foi avassaladora, deixando o público bem eufórico. Mas um problema técnico na luz, durante a execução da segunda canção, deixou os músicos suecos no escuro, literalmente. Mas existem momentos onde o profissionalismo e garra aparecem, sendo assim, o Ambush continuou a tocar perfeitamente, ganhando a admiração de todos que lá estavam. 

Muitos tentavam iluminar o palco com seus celulares, mas em vão. O apagão continuou durante boa parte do show, mas podia-se ver a movimentação dos técnicos da casa e da banda para solucionar o problema o mais breve possível. Tanto que não houve pausa para anúncios, somente os comentários divertidos da banda, tentando tornar o momento mais descontraído e envolvente.

Após a escuridão, veio a luz, mas somente no início da execução de “Come Angel Of the Night”, que inclusive foi anunciada pelo vocalista, em tom de risada, como sendo bem apropriada para o momento, que tudo começou a voltar ao normal. 

Ressaltando um parabéns a todos os envolvidos em resolver o problema com a celeridade necessária. Inclusive quem estava ao lado direito do palco, presenciou o alívio da equipe técnica, que resultou em abraços e comemorações silenciosas. 

A partir dali foi só comemoração e alegria ao som do Heavy Metal potente do Ambush, que finalizou o show com nada menos que “Don't Shoot (Let 'em Burn)” de seu álbum de estréia.

Por fim, após as emoções dos capítulos anteriores, a tensão e ansiedade cresceu em todos os presentes. Nos bastidores, podia-se ver os integrantes do Grave Digger nos últimos preparativos para sua entrada. Isto graças às aberturas de portas e janelas transparentes que separam banda e público no local. 

Mas somente os olhares curiosos conseguem perceber este tipo de movimentação, que ainda desperta a nostalgia e glamour dos anos de ouro do Metal. 

Mais do que pontualmente, sobem ao palco os músicos que marcaram gerações e influenciaram muitas das bandas do momento, com vocês: Grave Digger! É só o que vem nos pensamentos são “Como descrever esta dinâmica entre carisma, musicalidade, presença e peso?”. Simplesmente não é possível sem ter estado lá. 

O setlist começou com “Reign of bones”, e logo após o término da música, conseguiu se ouvir um alarme tocando, que segundo os falatórios, tratava-se do acionamento acidental do alarme de incêndio da casa. 

Apenas um susto imperceptível, bora para o show, e chegam “Under My Flag”, “Valhalla”, “The Dark of The Sun”, todas cantadas em uníssono pelos fãs. 

Inclusive, entre uma canção e outra, uma pausa para o grito da plateia clamando o nome “Digger” repetidas vezes. 

Pontos fortes da apresentação durante a execução de “Excalibur”, “The Devils 's Serenade” e “Back To The Roots”, esta última, precedida das palavras “Estão prontos para um pouco de Old School Heavy Metal!”. Mas também não faltaram os novos petardos do último álbum da banda “The Bone Collector”, muito bem distribuídos dentre a vasta discografia presente no repertório.

Cabe relatar também uma cena muito emocionante e genuína, por volta das 22 horas ao lado do palco, apoiados em caixas de equipamentos, estavam alguns dos integrantes do Ambush, com os olhos vidrados, assistindo ao show inspirador do Grave Digger. 

Convém ressaltar que a banda ganhou mais presença e força nesta apresentação, em local mais intimista. Fato este, perceptível para os que assistiram a apresentação dos alemães no festival Bangers Open Air 2023 em São Paulo (Na época, ainda chamado de Summer Breeze Brasil). Realmente o palco menor e mais próximo do público fez toda a diferença. 

Por último, não posso deixar de falar que apesar dos longos anos de estrada, o grupo parece ter bebido da famosa “Fonte da juventude”, lenda ligada ao explorador espanhol Ponce de León, tamanha vitalidade e energia apresentada por Chris Boltendahl e companhia. Mais um show com a excelência do Heavy Metal alemão! 

Agradecimentos a produtora Caveira Velha Produções, por trazer a turnê “Latin America Celebrations” a Curitiba. 


Texto: Paula Butter 


Edição/Revisão: Gabriel Arruda




Ambush – setlist:

Firestorm

Possessed by Evil

Evil in All Dimensions

Maskirovka

Desecrator

Hellbiter

Come Angel of Night

Bending the Steel

Natural Born Killers

Don't Shoot (Let 'em Burn)


Grave Digger – setlist:

Reign of bones

Twilight of the Gods

The Grave Dancer

Kingdom of Skulls

Under My Flag

Valhalla

The Keeper of the Holy Grail

The Dark of the Sun

The Curse of Jacques

Shadows of a Moonless Night

The Round Table (Forever)

Excalibur

The Devils Serenade

Back to the Roots

Rebellion (The Clans Are Marching)

Scotland United

Circle of Witches

Witch Hunter

Heavy Metal Breakdown