domingo, 29 de junho de 2025

Cobertura de Show: Best Of Blues And Rock – 14/06/2025 – Parque Ibirapuera/SP

Listar todas as bandas mais influentes da história do rock não é tarefa das mais fáceis. Ainda em 2025, algumas lendas continuam por aí, lançando discos e fazendo shows ao vivo. Uma dessas lendas é Vincent Damon Furnier, mais conhecido como Alice Cooper, que voltou ao Brasil após sete anos no último dia 14 de junho, sábado, como parte do segundo fim de semana de Best of Blues and Rock – festival que vem ganhando cada vez mais destaque no calendário cultural, não só de São Paulo, mas de todo o país.

Com uma carreira que se estende por décadas, Alice é um dos pioneiros do chamado shock rock. Seus shows oferecem uma verdadeira experiência teatral, com guilhotinas, cobras e referências a filmes de terror – tudo isso para garantir um espetáculo completo. Aos 77 anos, ele ainda mantém o alto nível de suas apresentações. Quem esteve no festival, realizado no Parque Ibirapuera, viveu um momento de pura energia, aplausos, gritos e diversão.

No terceiro dia de festival, além de Alice Cooper, tivemos a participação de três nomes importantes da cena nacional. Às 16h, os guitarristas Marcão Britto e Thiago Castanho – ao lado dos bateristas André “Pinguim” Ruas e Bruno Graveto, o baixista Denis “Mascote” Rodrigues e o vocalista Rafael Carleto –, que fizeram parte do Charlie Brown Jr., abriram o evento. A trupe animou o público que chegou cedo, matando a saudade dos grandes hits como “Me Encontra”, “Céu Azul”, “Te Levar Daqui”, “Hoje Eu Acordei Feliz”, “Luta Pelo Que É Meu” e “Zóio de Lula”, sucessos absolutos dos anos 90 e 2000.

Marcão e Thiago foram o centro das atenções com seus riffs e solos marcantes. Além de demonstrarem toda a habilidade na guitarra, os dois interagiram com o público, demonstrando alegria e gratidão por participarem do festival. Antes de “Só Os Loucos Sabem”, Thiago falou sobre a importância da trajetória do Charlie Brown Jr., que já soma 30 anos, com 10 discos lançados e diversos singles executados nas principais rádios do país. Ele pediu respeito a essa história, valorização do que é nosso e que nunca esqueçamos das bandas nacionais. O repertório ainda incluiu “Como Tudo Deve Ser”, dedicada a Chorão e Champignon, e “Tamo Aí na Atividade”. A apresentação terminou com chave de ouro ao som de “Proibida Pra Mim”.

Muitas pessoas, assim como eu, se perguntaram quem era Larissa Liveir minutos antes de ela subir ao palco. A segunda atração do dia é uma das grandes revelações da guitarra atualmente. Seus vídeos viralizaram no TikTok e no YouTube, o que ajuda a entender seu rápido sucesso. Aqueles que a acompanham nessas plataformas tranquilizaram os que não a conheciam com elogios – que logo se confirmaram quando ela começou o show com “Whole Lotta Love” (Led Zeppelin), seguida por “Sad But True” (Metallica) e “War Pigs” (Black Sabbath).

O repertório foi uma homenagem aos ícones do rock, mas o mais interessante foi ver como Larissa conseguiu imprimir sua própria personalidade em cada um dos clássicos. A seleção ainda incluiu “Johnny B. Goode” (Chuck Berry). 

Além de talentosa, Larissa mostrou ser carismática e não escondeu a emoção de estar no festival ao lado de grandes nomes. Um dos momentos mais especiais foi quando Nita Strauss – usando uma camiseta do Sepultura e que mais tarde tocaria com Alice Cooper – surgiu de surpresa para toca “The Trooper” (Iron Maiden) ao lado da novata. Sem dúvida, o ponto alto da apresentação.

Essa estreia ao vivo no Best of Blues and Rock mostrou que um futuro promissor aguarda Larissa. Com tanto talento e empatia, ela certamente atrairá a atenção de patrocinadores, bandas e artistas de renome.

O Black Pantera, terceira atração do dia, elevou o nível da noite com sua mistura de hardcore, punk e metal. Um mês após participarem do festival Bangers Open Air, Charles e Chaene Gama (vocal, guitarra e baixo, respectivamente), junto com Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria), mostraram mais uma vez por que são uma das bandas que mais crescem no cenário brasileiro. Mesmo diante de um público que não costuma ser associado ao estilo da banda, o trio conquistou novos fãs por meio de faixas como “Candeia” – que abriu o show com muita vibração – , “Provérbios”, “Padrão É o Caralho”, “Mosha” e “Perpétuo”.

Mais adiante, a clássica “Fogo Nos Racistas” marcou o momento de maior interação com o público: todos se ajoelharam a pedido da banda e pularam durante o refrão, o que já é de costume toda vez que ela é executada ao vivo. “Tradução” trouxe uma sensação de calmaria, enquanto “Fudeu” misturou elementos de funk – extraídos dar cordas pesadas do baixo de Chaene – com punk. “Só As Minas”, como o próprio nome indica, promoveu o tradicional mosh feminino.

Perto do final, o trio estreou ao vivo o novo single em inglês, “Unfuck This” – uma excelente tentativa de conquistar espaço no mercado internacional, especialmente após o convite para se apresentarem no Hellfest, na França. “Dreadpool”, “Revolução É o Caos” e “Boto Pra Fuder” encerraram o set com intensidade, deixando o público pronto para a grande atração da noite.

De forma direta e ao ar livre, quase sem rodeios, o palco foi decorado com duas escadas nas laterais, um telão interativo, duas criaturas e uma cortina vertical em formato de jornal, estampando os olhos de Alice Cooper com a frase: “Banned In Brazil! Trial set: for deeds against humanity”, que em tradução livre significa “Proibido no Brasil! Julgamento marcado: por atos contra a humanidade”. Logo após, a cortina foi rasgada ao meio pelo Alice para que, junto com a banda começassem a noite com “Lock Me Up” e “Welcome to the Show”, esta última do álbum mais recente, Road (2023), que fez parte do setlist de 23 músicas. 

Embora continue lançando novidades com certa frequência, Alice decidiu focar nos clássicos, especialmente os da década de 70: hits como “No More Mr. Nice Guy”, “I’m Eighteen” e “Under My Wheels” fizeram o público cantar junto com entusiasmo, hipnotizados pela energia de Alice e pela performance da banda, que atualmente conta com Ryan Roxie, Tommy Henriksen e Nita Strauss nas guitarras, Chuck Garric no baixo e Glen Sobel na bateria.

O início nostálgico também trouxe surpresas. Com som claro e equilibrado, músicas como “Bed of Nails”, “Snakebite” e “Lost in America”, intercaladas com as famosas “Billion Dollar Babies” e “Be My Lover”, deram peso e intensidade à noite. “He’s Back (The Man Behind the Mask)” e a radiofônica “Hey Stoopid” encerraram essa primeira parte do show, com dois momentos inusitados: uma fã empolgada que tentou tirar uma foto com Alice, mas que logo foi esfaqueada pelo Jason (sim, aquele mesmo!), e uma entrada de Kyler Clark, fotógrafo e assistente de Alice, que também não teve um final feliz, sendo apunhalado pelo patrão.

Já nesse ponto, Alice havia conquistado todo o público. E, conforme o show avançava, seu impacto só crescia. “Welcome to My Nightmare” abriu caminho para os momentos mais cênicos da apresentação, com Alice assumindo a pose de uma boneca – como se estivesse torturando em “Cold Ethyl”. Essa cena serviu de introdução para a entrada de Sheryl Goddard, esposa de Alice, que protagonizou uma atuação provocante em “Go to Hell”. A performance preparou o terreno para a clássica “Poison”, cantada a plenos pulmões pelas milhares de pessoas presentes.

É impressionante vê-lo com a mesma disposição de sempre, sem sinais de cansaço, mesmo após tantos anos. Os três guitarristas demonstraram sinergia o tempo todo, trocando sorrisos e criando uma atmosfera contagiante. Ainda assim, Nita Strauss acaba roubando a cena – afinal, é considerada uma das melhores guitarristas da atualidade.

Voltando ao show, o telão atrás do palco exibiu uma antiga cena de Alice com o saudoso Vincent Price – ator e dublador que marcou época e conhecido pela sua narração em “Thriller", do Michael Jackson – anunciando o próximo ato com “The Black Widow”. A música começou com um solo arrebatador de Nita Strauss, enquanto apenas a banda estava no palco fazendo toda a base instrumental como se estivesse fazendo uma 'jam session'. 

Em seguida, Alice retornou amarrado em uma camisa de força para a climática “Ballad of Dwight Fry”, antes de ter sua cabeça cortada na guilhotina durante “Killer”. Nesta parte, Sheryl Goddard voltou ao palco, desta vez caracterizada como Maria Antonieta, dando um beijo em Alice antes de sua decapitação. Ela permaneceu em cena durante “I Love the Dead”, lamentando enquanto segurava a cabeça de seu marido.

“School’s Out” veio em clima festivo, com balões gigantes sendo lançados sobre a plateia e estourando quando se aproximavam de Alice. A performance contou ainda com uma breve palinha de “Another Brick in the Wall”, do Pink Floyd, e a apresentação de toda a banda por Alice. Sem dúvida, foi o momento mais animado da noite – mas também o indício de que o fim estava próximo. Antes do encerramento definitivo, ele mandou um “one more” e voltou para o bis, encerrando o show com “Feed My Frankenstein”, que contou com a presença de um Frankenstein gigante no palco.

O Best of Blues and Rock acertou em cheio ao escalar Alice Cooper para abrir o segundo fim de semana do festival. Por se tratar de um artista que não vem com frequência ao Brasil, a espera sempre é angustiante, mas totalmente recompensadora quando, de repente, ele retorna e entrega uma experiência para levarmos conosco pelo resto da vida, que foi caso do show redigido nesta resenha. Mantendo esse nível de energia e entrega, Alice ainda tem muito chão pela frente, pois saúde e disposição ele certamente tem para continuar encantando plateias de antigas e novas gerações pelo mundo afora.





Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Dançar Marketing



Alice Cooper – setlist:

Lock Me Up/Welcome to the Show

No More Mr. Nice Guy

I'm Eighteen

Under My Wheels

Bed of Nails

Billion Dollar Babies

Snakebite

Be My Lover

Lost in America

He's Back (The Man Behind the Mask)

Hey Stoopid

Welcome to My Nightmare

Cold Ethyl

Go to Hell

Poison

The Black Widow

Ballad of Dwight Fry

Killer

I Love the Dead

School's Out

Bis

Feed My Frankenstein

Entrevista: Roy Khan – Redescobrindo O Seu Amor Pelo Metal

Por Amanda Vasconcelos

Fotos: Amanda Vasconcelos (Roy Khan) e Caike Scheffer (Roy Khan e Edu Falaschi)

Roy Khan é um daqueles vocalistas que merecem uma posição de destaque no cenário do Metal – e de forma mais do que merecida –, sendo capaz de conquistar até os menos sensíveis com seu timbre angelical e elegante.

Afastado dos holofotes desde sua saída do Kamelot, em 2011, o norueguês vem reconquistando espaço desde que se reuniu novamente com o Conception. No entanto, foi após sua participação no show de Edu Falaschi, em janeiro do ano passado, em São Paulo, que Khan percebeu o quanto ainda pode ir além. A partir dessa experiência, decidiu investir em uma promissora carreira solo.

Essa nova fase começa oficialmente no próximo dia 5 de julho, com um show imperdível em que ele apresentará o clássico The Black Halo na íntegra, acompanhado por uma orquestra sinfônica.

Em meio aos ensaios, o vocalista conversou com o Road to Metal sobre esse novo momento da carreira. Confira a entrevista!


O que te levou a voltar a compor e cantar? Foi mais como um insight, um chamado interno ou você sentia falta da música no geral?  

RK: Bom, mesmo durante a minha pausa, eu ainda tocava um pouco de piano e compunha algumas músicas. Mas só quando me reconectei com o pessoal do Conception, em 2016, que realmente senti que era algo que eu queria muito fazer de novo, que é voltar à cena do metal.

Acho que foi uma combinação de um chamado interior e de sentir falta disso tudo. Ainda sou muito apaixonado por isso. Eu sou um pouco como um cavalo de circo. No fim das contas, eu meio que sabia que isso acabaria me puxando de volta. Então, aqui estou eu.

A sua forma de cantar através dos anos se transformou, e hoje além de transmitir mais leveza, é tão pessoal que dá a sensação de que você está conversando diretamente com quem te ouve. Esta transformação foi intencional considerando quem você é hoje ou ocorreu naturalmente com o tempo?

RK: Obrigado! Eu realmente aprecio o fato de que as pessoas percebam o meu canto e a minha performance como algo pessoal. Sempre foi importante para mim que tudo o que eu canto e escrevo seja algo que tenha um significado para mim. Acho que isso torna muito mais fácil interpretar de forma convincente. E, claro, minha voz muda com o tempo, minha mente também muda com o tempo – e tudo isso se reflete na forma como eu canto e me apresento.

Em relação ao seu processo criativo, há algum contexto que o favoreça a inspiração (momento, hora do dia, ambiente, humor)? Ele passou por mudanças ao longo de cada projeto?

RK: Ah, boa pergunta. Às vezes, as ideias simplesmente surgem do nada enquanto estou fazendo algo totalmente diferente, aí eu preciso tomar cuidado para anotar ou gravar. Mas quando marcamos uma sessão de composição, sempre tentamos nos afastar da vida cotidiana. A gente se isola numa cabana nas montanhas para garantirmos que não haja distrações e que estejamos em um ambiente que proporcione espaço para a criatividade. E isso sempre foi assim, basicamente.

Suas composições de forma geral, são com base em coisas que você acredita, vivências pessoais, histórias que te marcaram ou apenas é conduzido pela sua inspiração momentânea?

RK: Como eu disse, tudo o que eu escrevo e canto é muito mais fácil de interpretar de forma convincente se eu realmente acreditar naquilo ou tiver algum tipo de conexão pessoal com o tema. Ao mesmo tempo, a inspiração do momento é importante, mas isso não é algo com o qual se possa contar sempre. Então, o ideal é estar em um ambiente, em uma situação, que seja inspiradora de alguma forma.

Tem algo muito bonito na forma como suas músicas acolhem. Você pensa nisso – em quem vai ouvir – quando compõe? Já ouviu algum relato de fã que te emocionou?

RK: Obrigado! É, eu realmente penso em como tudo que eu escrevo pode ser percebido pelo ouvinte. E eu tenho várias experiências de fãs que ouviram minhas músicas e elas realmente significaram algo em suas vidas. Tenho várias cartas em casa de pessoas dizendo que minhas músicas salvaram suas vidas e que também significaram algo em relacionamentos com outras pessoas. E isso, realmente, faz todo esse trabalho duro valer muito a pena.

Como você enxerga sua relação com os palcos? Sentiu que houve mudança de significado em relação à sua performance e entrega emocional?

RK: Sim, como em tudo na vida, acho que a idade e a experiência realmente te deixam mais confiante no que você está fazendo. E isso também se aplica a mim. Eu não sinto que o significado de se apresentar ou a entrega emocional – que sempre foram importantes para mim – tenham mudado. Tudo gira em torno de estar totalmente presente no momento e criar uma conexão especial com o público.

Como você sente o público neste retorno? Os fãs antigos conseguiram caminhar com você até aqui ou você acha que está trazendo um novo público nessa nova fase?

RK: O público é realmente o fator X, ele significa tudo quando se trata de fazer um show de sucesso. Se você não tem o público com você é meio difícil estar lá em cima, embora eu seja profissional e tudo mais, mas isso me afeta de alguma forma. Eu encontro muitas pessoas que me acompanham durante toda a minha carreira – ou pelo menos há muito tempo. E algumas delas trazem amigos, filhos… E é muito legal ver pessoas novas e jovens na plateia. Talvez a coisa mais legal seja ver todas as pessoas que descobriram o Kamelot depois que eu saí e achavam que nunca teriam a chance de me ver ao vivo. Ver que elas tiveram essa chance de me ver no palco me deixa feliz.

Sua parceria com artistas brasileiros como o Edu Falaschi e a banda Maestrick foi algo pontual ou você sente que pode ser o início de algo maior? Podemos esperar mais colaborações suas com músicos daqui?

RK: Sim, é meio engraçado eu ter essa conexão com o Brasil agora. Depois do show no Tokio Marine Hall no ano passado com o Edu Falaschi, a gente começou a conversar sobre fazer algo assim de novo em conexão com o 20º aniversário do The Black Halo.

O Edu é um cara incrível, um grande músico, um excelente compositor e uma pessoa super bacana e gentil. O mesmo vale para o pessoal do Maestrick. Na verdade, neste momento, estou em São José do Rio Preto ensaiando com o Maestrick, porque eles vão ser a minha banda nesse show do dia 5 de julho.

E sim, acho que vem mais coisa por aí. Talvez a gente componha algumas músicas juntos, talvez façamos mais shows juntos. Já tem alguns marcados para este outono. Então, sim, as coisas estão indo muito bem.

Sobre a sua carreira solo, tem algo que você gostaria que a gente, como fãs, soubéssemos desde já sobre esse projeto? E o que podemos esperar do que vem por aí?

RK: Esses primeiros shows em que estou apresentando músicas do Kamelot são, de certa forma, o pontapé inicial da minha carreira solo. E vem mais por aí! Haverá material novo, mais colaborações e... bom, quem sabe o que mais? Estou muito empolgado com tudo isso, e o meu conselho é: fiquem ligados, porque tem mais vindo aí.

O que você gostaria de dizer para quem vai estar na plateia te esperando no dia 05/07, ansiosos por esse reencontro – não só como o artista, mas como o Roy Khan em essência?

RK: Eu, pessoalmente, estou extremamente empolgado com isso. Estou muito feliz por ter essa chance de subir ao palco e cantar essas músicas que significam tanto para mim. Também sei que isso significa muito para muitos fãs, e sou muito grato ao Edu Falaschi por me dar essa oportunidade de tocar para um público como esse. Agora, espero que a gente grite junto, ria junto, chore junto e se divirta o máximo possível. Com certeza vou dar o meu melhor! E espero ver vocês lá no dia 5 de julho, no Tokio Marine Hall, em São Paulo. Aí vou eu!


sábado, 28 de junho de 2025

Cobertura de Show: Best Of Blues And Rock – 08/06/2025 – Parque Ibirapuera/SP

O domingo, 8 de junho, amanheceu com céu limpo e uma expectativa vibrante no ar. Foi ao som de soul, funk e brasilidade que o segundo dia do Best of Blues and Rock 2025 deu início a mais uma jornada musical no Parque Ibirapuera.

Quem teve a honra (e a responsabilidade) de abrir os trabalhos foi a poderosa Paula Lima, em um show especial com o projeto batizado de Soul Lee  uma homenagem vibrante, cheia de afeto e atitude à lendária Rita Lee. Com sua voz potente, presença cativante e um repertório que celebrou o legado de Rita com alma e personalidade, Paula transformou a tarde em um ritual de amor à música brasileira.

O setlist trouxe versões cheias de suingue e sofisticação de clássicos como "Agora Só Falta Você" e "Mania de Você", tudo com o tempero próprio de Paula, que costurou cada música com histórias, reverência e energia. Acompanhada por uma banda afiada e dançante, ela deu novo corpo às canções de Rita, sem perder a essência original, a ousadia e a liberdade. Foi uma abertura afetiva e poderosa dessas que já chegam dizendo a que vieram. O festival começou o segundo dia não só celebrando o rock, mas também reconhecendo suas raízes múltiplas, fortes, femininas e cheias de cor.

Quando o céu escureceu, o Barão Vermelho subiu ao palco  e, em segundos, transformou o festival numa máquina do tempo, onde cada riff parecia abrir uma janela para a história do rock brasileiro. Sem cerimônia, a banda chegou com o peso de quem carrega décadas de estrada e a leveza de quem ainda tem muito a dizer. Foi um show que misturou memória e uma energia crua que só o Barão sabe entregar. O público, que já lotava a área diante do palco, respondeu à altura: braços erguidos, olhos brilhando e vozes entregues em cada refrão de "De Puro Êxtase" e "Pro Dia Nascer Feliz".

Como grande fã da banda em todas as suas formações, não poderia estar mais satisfeita: um show vibrante, enérgico e completo. Todos da banda estavam completamente entregues e felizes por estarem ali. Ao final, o Barão provou mais uma vez por que continua relevante mesmo depois de quatro décadas de estrada. Não é só pela história  é pela presença, pela entrega e pela verdade que colocam em cada acorde.

Richard Ashcroft, ex-líder do The Verve, veio para a penúltima apresentação do dia com sua camiseta amarela da Seleção Brasileira de Futebol. A atmosfera do parque mudou assim que os primeiros acordes de "Sonnet" ecoaram. O público, que já havia cantado e dançado o dia inteiro, mergulhou em um estado quase hipnótico, embalado pelas melodias melancólicas e pelas letras carregadas de sentimento.

Entre as faixas de sua carreira solo, como "A Song for the Lovers" e "Break the Night with Colour", e os aguardados clássicos do The Verve, Richard mostrou por que é uma das vozes mais singulares da música alternativa.

Sempre muito carinhoso, Richard parecia mais à vontade no segundo dia: dançava pelo palco, corria, interagia mais com a banda. Sempre segurando o símbolo da camisa com a bandeira do Brasil, beijava, mordia, sempre entusiasmado. Ashcroft encerrou seu show com classe, reverência e alma  sem exageros, sem pressa. Apenas deixando a música falar por si  e ela falou alto.

O segundo dia do Best of Blues and Rock 2025 foi encerrado com uma verdadeira aula de musicalidade e conexão ao vivo. A Dave Matthews Band, um dos nomes mais aguardados do festival, subiu ao palco quando a noite já tomava conta do Parque Ibirapuera  e entregou um show hipnótico, vibrante e emocionalmente expansivo. Logo nos primeiros minutos, ficou claro: não seria apenas uma apresentação, mas uma experiência sonora completa. Com sua formação plural  que une rock, jazz, folk e improvisos virtuosos , a banda guiou o público por um repertório repleto de surpresas, transições inesperadas e momentos de pura contemplação.

Clássicos como "Don’t Drink the Water" surgiram em versões estendidas, com solos criativos e interações espontâneas entre os músicos. O palco virou um organismo vivo, em constante transformação, com cada integrante trazendo sua identidade para o coletivo  do violino ao saxofone, da percussão ao groove do baixo.

Dave Matthews, sempre carismático em sua simplicidade, falou com o público com o sotaque arrastado e o sorriso tímido que o tornaram um ícone. Fez piadas, interagiu com o público, e suas expressões faciais marcaram o show do começo ao fim.

Em algumas músicas, as pessoas dançavam de olhos fechados, como se estivessem em outro tempo. Em outras, batiam palmas em uníssono, criando momentos coletivos de arrepiar. Houve até um cover de "Just Breathe", do Pearl Jam – e, na minha opinião, eles podiam gravar e lançar essa versão. Ficou incrível e emocionante!

A Dave Matthews Band encerrou o primeiro final de semana do festival não com uma explosão, mas com uma elevação. Um final que não gritou  sussurrou alto. Um encerramento à altura de dois dias intensos de música e emoção. Um lembrete de que, no fim das contas, o que fica é aquilo que toca fundo  como só a música ao vivo consegue fazer

Texto: Mayara Dantas

Fotos: Mariana Dantas 

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Dançar Marketing 

Press: Marra Comunicação


Barão Vermelho – setlist:

Maior Abandonado

Por que A Gente é Assim?

Bete Balanço

Tente Outra Vez (Raul Seixas cover)

Pense e Dance

O Tempo Não Para (Cazuza cover)

Meus Bons Amigos

Down em Mim (Cazuza cover)

Por Você

Codinome Beija-Flor (Cazuza cover)

Malandragem Dá Um Tempo (Bezerra da Silva cover) 

Puro Êxtase

Amor pra Recomeçar (Frejat cover ) 

Pro Dia Nascer Feliz


Richard Ashcroft - setlist:

Weeping Willow

Music Is Power

Lover

Sonnet

Break the Night With Colour

The Drugs Don't Work

Lucky Man

Bitter Sweet Symphony


Dave Matthews Band - setlist: 

Warehouse

Dancing Nancies

The Best of What's Around

Why I Am

Lie in Our Graves (com "Wonderful Tonight")

Pantala Naga Pampa

Pig

Rapunzel

Lover Lay Down

Idea of You

#41 (feat Gabriel Grossi)

Say Goodbye

The Space Between

Madman's Eyes

Crush

Grey Street

All Along the Watchtower (Bob Dylan cover) (com "Stairway to Heaven" )

Bis

Just Breathe (Pearl Jam cover)

Two Step

Cobertura de Show: Best Of Blues And Rock – 07/06/2025 – Parque Ibirapuera/SP

Nem o frio e a chuva típicos de junho conseguiram esfriar os ânimos do público que lotou o Parque Ibirapuera no primeiro fim de semana do festival.

Entre riffs históricos e novos talentos promissores, o evento provou mais uma vez por que é um dos grandes marcos do calendário musical brasileiro. Um festival cheio de atitude  das bandas ao público presente – que não deixou a desejar quando o assunto é entretenimento de qualidade e música boa.

E não poderia haver escolha melhor para dar o pontapé inicial do que a Cachorro Grande. A banda gaúcha, conhecida por sua energia crua e potente, subiu ao palco com a missão de abrir o festival – e fez isso com a maestria de quem conhece bem o rock’n’roll. Foi uma entrada com o pé na porta: distorção no talo, carisma no palco e um repertório que fez até os mais jovens cantarem junto. Com hits como "Você Me Faz Continuar" e "Sinceramente", o grupo entregou um show vibrante e nostálgico, emocionando fãs antigos e reacendendo o espírito garageiro que marcou sua trajetória. A apresentação não só matou a saudade, como também provou que o rock nacional segue pulsando forte.

O céu de São Paulo escurecia e a temperatura caía, mas o clima no Parque Ibirapuera esquentava na mesma proporção  muito por conta da chegada de Richard Ashcroft ao palco. O ex-líder do The Verve, uma das vozes mais emblemáticas do britpop, entregou um show memorável, carregado de emoção, presença de palco e aquele toque agridoce que só ele sabe dosar.

Vestido com sua jaqueta característica e óculos escuros – que já se tornaram quase uma extensão da persona , Ashcroft conduziu o público por uma viagem intensa entre o lirismo melancólico e a grandiosidade sonora que marcaram sua carreira. Hits como "Sonnet", "Break the Night with Colour" e, claro, "Lucky Man" arrancaram coros apaixonados da multidão, que entoava cada verso como uma oração.

Um detalhe que chamou a atenção de muitos foi a camisa que Richard escolheu para o show: nada menos que uma camiseta do grande Ayrton Senna – uma bela homenagem aos fãs brasileiros, e que funcionou muito bem.

Sem surpresas, veio "Bitter Sweet Symphony". Quando os primeiros acordes ecoaram pelo parque, o público se transformou em um coral de milhares de vozes. Foi um daqueles momentos raros e intensos em que artista e plateia se fundem – uma catarse coletiva que, por si só, justificou o valor do ingresso (ainda que muito criticado). Na coletiva de imprensa, Richard comentou que gostaria de voltar ao Brasil em um show solo, pois, em festivais, não consegue ter noção do tamanho de sua base de fãs. Espero que ele realmente volte – e veja que tem muitos fãs ansiosos esperando por esse retorno. E posso afirmar: esta que vos fala é uma dessas pessoas.

Após uma sequência de grandes nomes, coube à Dave Matthews Band a missão de encerrar o primeiro dia do Best of Blues and Rock 2025.

Com seu formato único – que mistura rock, jazz, folk e improvisos quase psicodélicos , o grupo liderado por Dave Matthews entregou uma performance hipnótica e envolvente, fazendo o público oscilar entre momentos de pura contemplação e explosões de euforia. Confesso que não sabia que a banda tinha fãs tão fiéis e comprometidos! Conheci e conversei com gente de todos os cantos: membros de fã-clubes, casais que tiveram o relacionamento marcado pela banda, famílias inteiras... Foi uma das coisas mais lindas de se ver.

Canções como "Crash Into Me", "Walk Around the Moon" e "Ants Marching" ganharam longas passagens instrumentais e solos inspirados, evidenciando a absurda sintonia entre os músicos. Com seu carisma tranquilo e falas entre músicas que misturavam gratidão e brincadeiras com o público brasileiro, Dave parecia completamente à vontade. Ele realmente é muito carismático  e ainda contou com uma participação especial de um gaitista brasileiro Gabriel Grossi emocionando a plateia.

O encerramento veio sem pressa – como é típico da banda , com longos aplausos e aquele sentimento coletivo de não querer que acabe, fazendo com que todos aproveitassem cada segundo e ouvissem cada instrumento sem pressa.

A Dave Matthews Band não apenas fechou a noite: deixou uma assinatura musical delicada e poderosa no festival. Um final digno de um primeiro dia que foi, do começo ao fim, um tributo ao poder atemporal da música ao vivo. Um show que valeu cada minuto e cada centavo do ingresso. Foi um encerramento potente e emblemático  e uma escolha certeira ter a banda como headliner nos dois primeiros dias do Best of Blues and Rock.

OBS: O show do Vitor Kley não foi incluído nesta resenha por não estar alinhado à linha editorial do site.


Texto: Mayara Dantas

Fotos: Mariana Dantas

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Dançar Marketing 

Press: Marra Comunicação


Richard Ashcroft – setlist: 

Sonnet

Space and Time

Weeping Willow

A Song for the Lovers

Break the Night With Colour

The Drugs Don't Work

Lucky Man

Bitter Sweet Symphony


Dave Matthews Band – setlist:

Don't Drink the Water

So Much to Say

Anyone Seen the Bridge

Too Much

You Never Know

Grace Is Gone

Satellite

Walk Around the Moon

You Might Die Trying

Gravedigger

What Would You Say (feat. Gabriel Grossi)

Crash Into Me

Jimi Thing

Everyday

Typical Situation

You & Me

Shake Me Like a Monkey

Tripping Billies

Bis

Peace on Earth

Ants Marching

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Cobertura de Show: Beherit – 22/05/2025 – Carioca Club/SP

O black metal é conhecido mundialmente por sua atmosfera obscura e intensa. Não por acaso, os países escandinavos, como Finlândia e Noruega, foram berços de alguns dos maiores nomes da cena — entre eles, Beherit.

Formada em 1989, a banda carrega um nome que significa “Satanás” em siríaco, refletindo fielmente sua proposta sonora. Beherit se destaca pela sonoridade agressiva e caótica, que mistura elementos de death metal, thrash e grindcore. Além disso, incorpora passagens de dark ambient, criando uma atmosfera ritualística e sombria, que envolve o público em uma experiência de black metal cru, extremo e avesso a qualquer apelo comercial.

Beherit retornou aos palcos em 2024 após mais de três décadas sem apresentações ao vivo. Essa nova fase incluiu shows históricos em diversos países, bem como sua primeira apresentação no Brasil em maio de 2025.

O setlist preparado para o show em São Paulo trouxe um equilíbrio entre os hinos indispensáveis da carreira e faixas mais difíceis de serem executadas ao vivo. Clássicos como "Sadomatic Rites", "The Gate of Nanna", e "Unholy Pagan Fire" figuraram como pilares da apresentação, mantendo a conexão direta com o Drawing Down the Moon de 1993, e com o culto formado ao redor de The Oath of Black Blood de 1991.

Diferente dos primeiros shows desse retorno, que priorizaram quase integralmente Drawing Down the Moon e alguns poucos extratos do The Oath of Black Blood,  a apresentação em São Paulo trouxe uma leve expansão, como por exemplo tocandoca faixa "Pagan Moon", oferecendo aos presentes uma experiência diferente. A utilização de intros e outros elementos dark ambient entre as músicas ampliou a atmosfera ritualística que acompanha a essência do Beherit desde suas fases mais experimentais.

A proposta da apresentação manteve a essência do Black Metal, um show com efeitos de luzes escuras, que escondiam as faces dos integrantes em sua totalidade, bem como uma performance sem interações com o público, que deixava ainda mais visível a proposta do Beherit sem apelos comerciais.


Texto: Letícia Spizzirri

Fotos: Matheus "Mu" Silva (Metal Na Lata)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Estética Torta / Talent Nation

Press: Tedesco Comunicação & Mídia


Beherit – setlist:

Lord of Shadows and Goldenwood

Salomon's Gate

Nocturnal Evil

Sadomatic Rites

Grave Desecration

Witchcraft

Black Arts

The Gate of Nanna

Unholy Pagan Fire

Lord of Shadows and Goldenwood

All in Satan

Pagan Moon

sábado, 21 de junho de 2025

Cobertura de Show: Kiko Loureiro – 07/06/2025 – Tokio Marine Hall/SP

No último dia 7 de junho, numa noite fria de sábado, o guitarrista Kiko Loureiro se apresentou no Tokio Marine Hall, tocando músicas de sua carreira solo e sucessos das bandas pelas quais passou, como Angra e Megadeth. Como esperado, tivemos a aguardada participação do guitarrista radicado no Japão, Marty Friedman, que se juntou a Kiko para tocarem faixas do Megadeth, Angra e também de sua própria carreira solo.

O show de abertura, que começou às 20h55, ficou por conta do guitarrista Andy Addams. O colombiano-americano subiu ao palco demonstrando grande técnica, vestindo um colete de LED que chamava atenção com seu jogo de luzes. A banda de apoio era formada pelo baixista David Sanchez e pelo baterista Luigi Paraventi. O curto show teve foco em composições próprias do guitarrista, mas o bom público já presente se animou com versões de “Separate Ways (Worlds Apart)” (Journey), “Eruption” + “Ain’t Talkin’ ‘Bout Love” (Van Halen), além de um mix de trilhas sonoras de desenhos animados e jogos de videogame, como “Os Cavaleiros do Zodíaco”.



Andy Addams – setlist:

Andy Addams

Redemption

Black Moon

The Eyes of the Moon/When the Spirits Collide

Solo de guitarra + Silver Tears

Solo de baixo

Everlasting Faith

The Warrior

Solo de bateria

Piedra de Fuego

Mashup


Às 22h, o público começou a ouvir a introdução do show, e, um a um, os músicos da banda de apoio – e que banda! – formada por Bruno Valverde (bateria), Luiz Rodrigues (guitarra) e Felipe Andreoli (baixo), subiram ao palco. Foi então que, para o delírio da plateia, surgiu Kiko Loureiro. O guitarrista promove atualmente seu álbum mais recente, Theory of Mind (2024), e iniciou a apresentação com a espetacular “Blindfolded”, seguida por “Reflective”, “Overflow”, “No Gravity” e “Pau-de-Arara”.

O público também teve o privilégio de ouvir faixas da “era Kiko Loureiro” no Megadeth, que marcaram presença no repertório com destaque. “Conquer or Die!” do álbum Dystopia (2016), além da faixa-título “Dystopia” e “Killing Time”, foram interpretadas pelo próprio Kiko nos vocais. Outro momento memorável foi o medley de músicas do Angra, executado pela banda – ocasião em que o público assumiu os vocais, cantando com empolgação cada verso.

Antes da metade do show, Kiko abriu espaço no palco para dois jovens guitarristas tocarem com a banda – um gesto muito bacana, mostrando apoio e incentivo a possíveis futuros astros da guitarra. Após essa surpresa, o show retornou à fase solo de Kiko com “Mind Rise”, também do novo álbum.

Na sequência, o vocalista Alírio Netto subiu ao palco para cantar “Nothing to Say”, “Angels and Demons” e “Late Redemption” (esta última com trechos de “Heaven and Hell”, do Black Sabbath, ao lado de Kiko). Os momentos com Alírio foram certamente um dos destaques da noite, graças à sua poderosa interpretação e presença de palco.

Então chegou o instante mais aguardado da apresentação: Kiko anunciou a entrada de Marty Friedman. Juntos, tocaram “Hyper Doom”, e logo depois veio um momento divertido – Kiko brincou que Marty poderia ser preso se não executasse o solo de “Tornado of Souls”. Curiosamente, o guitarrista americano tocou apenas o solo, ao lado de Kiko, sem a música completa. Em seguida, os dois fizeram uma belíssima homenagem à música popular brasileira, interpretando as clássicas “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga, e “Brasileirinho”, de Waldir Azevedo.

O show então se encaminhou para o final com a execução da dramática “Tearful Confession”, do álbum Drama (2024), seguida por uma releitura emocionante de “Rebirth”, com Alírio Netto de volta aos vocais, encerrando com “Enfermo”, faixa do primeiro álbum solo de Kiko Loureiro.


Texto: Eduardo Okubo Junior

Fotos: Roberto Sant'Anna

Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: Top Link Music


Kiko Loureiro – setlist:

Blindfolded

Reflective

Overflow

Killing Time (Megadeth, com Kiko cantando)

Pau-de-Arara

No Gravity

Carry On / Spread Your Fire / Nova Era / Morning Star / Evil Warning / Speed (Medley Angra)

Conquer or Die (Megadeth)

Dystopia (Megadeth, com Kiko cantando)

Jam (participação de jovens guitarristas)

Mindrise

Nothing to Say (Angra, com Alirio Netto)

Angels and Demons (Angra, com Alirio Netto)

Late Redemption (Angra) + Heaven and Hell (Black Sabbath) (Alirio Netto e Kiko Loureiro)

Hyperdoom (Marty Friedman)

Tornado of Souls (Megadeth, com Kiko Loureiro e Marty Friedman)

Medley: Asa Branca (Luiz Gonzaga) / Brasileirinho (Waldir Azevedo) (Kiko Loureiro e Marty Friedman)

Tearful Confession (Marty Friedman)

Rebirth (Angra) (com Alirio Netto, Kiko Loureiro e Marty Friedman)

Enfermo