quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Entrevista: Mad Grace - Promovendo a Reivenção de um Segmento Alternativo

 

- Olá Pedro. Obrigado pela sua gentileza em nos atender. Parabéns pelo lançamento do Single “Golden Devil”.

R: Eu fico extremamente honrado em falar um pouco sobre a banda, é um enorme prazer! Estou muito grato por curtir nosso som, essa música em específico é muito importante pra mim e está sendo para os fãs também!


- Como você pode descrever o trabalho na composição deste tipo de sonoridade?

R: Posso descrever como o trabalho mais profundo que tivemos, e cuidadoso também... Tratávamos a "Golden Devil" como um vidro frágil que poderia quebrar a qualquer instante. Sabíamos que essa música tinha que sair mais perfeita do que as outras por ser uma composição mais leve e gentil. Até que ficamos muito contentes com o resultado, era o que buscávamos. Além de ser uma limpeza mental e espiritual, é uma ótima música pra pegar estrada.


- Eu escutei o material diversas vezes e, só após várias tentativas, consegui captar parte das suas ideias. Os fãs têm sentido este tipo de dificuldade também?

R: O que venho trocado ideia com a galera é que cada um entende a música de uma forma, isso é maravilhoso, pois acertamos na mosca. Era realmente este presente que queria ter entregado, que cada pessoa se sentisse única ouvindo e que conversasse consigo mesma. Esta é a intenção da música, parar, pensar, refletir consigo. Eu não saberei a resposta nunca, vocês é que sabem.


- Existem planos para o lançamento dos Singles no exterior, no formato físico? Tivemos contato até agora, apenas o formato digital nacional...

R: Ainda estamos planejando a prensagem física, em breve iremos anunciar algo bem bacana para quem é fã de colecionar trabalhas assim como eu [risos].


- Adorei o fato de trabalharem com o inglês, mas isso não pode vir a atrapalhar vocês no mercado nacional?

R: O que posso dizer é que não dá pra agradar todo mundo. Escolhi o inglês por ser o meu método natural de composição, e sendo assim, funciona muito bem. Meu foco sempre foi o mundo lá fora.


- Como estão rolando os shows em suporte ao material? A aceitação está sendo positiva?

R: Os fãs estão amando os materiais e a energia ao vivo é ainda mas intensa, sempre positivos e eles se sentem abraçados com essa coisa toda... Fico maravilhado o quanto estamos aumentando nossa fanbase e fazendo mais amizades, o contato com a galera é sempre muito importante.


- Quem assinou a capa do CD? Qual a intenção dela e como ela se conecta com o título?

R: A capa é realmente um único sentimento que queria expressar, desespero e burnout. Já o nome sangue é pela época de pandemia onde crescemos, trabalhamos e evoluímos a banda, entregamos a alma e todo o sangue que tínhamos trabalhando nisso... Então resolvemos dar este nome em português mesmo, por mais que cantemos em inglês, nossas origens sempre serão brasileiras. É o nosso DNA, nosso SANGUE.


- “Golden Devil” foi todo produzido pela banda, confere? Foi satisfatório seguirem por este caminho?

R: Cada um de nós trabalhávamos em cada detalhe, cada take... Até que ela soasse perfeita aos nossos ouvidos. Nosso produtor (Alonso Góes) sempre dava mais atenção pra ela, e viravamos noites juntos tentando achar o tom... Após tanto trabalho e noites em claro, conseguimos e estamos satisfeitos com a execução final.


- Imagino que já estejam trabalhando em novas composições. Se sim, como está se dando o processo e como ele está soando?

R: Já estamos com um disco e meio a frente, e as músicas estão mais agressivas e com o dedo ainda mais fundo na ferida. O que posso dizer é que estamos focando nas origens do blues mais intensamente do que nas canções anteriores, tocar com mais alma, transformar a dor em algo bom e bonito.


- Novamente parabéns pelo trabalho e vida longa ao MAD GRACE.

R: Eu fico honrado em contar um pouco do que é a Mad Grace e nossa jornada até aqui. Sempre um prazer!




quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Cobertura de Show: Cemetery Skyline – 16/09/2025 – Hangar 110/SP

Na última terça-feira (16/09), o Hangar 110 foi palco de uma apresentação memorável. Pela primeira vez em território brasileiro, a banda Cemetery Skyline realizou um espetáculo que combinou intensidade, peso e emoção. O público paulistano, já habituado a receber grandes nomes internacionais, respondeu com devoção a cada nota que ecoava pelo espaço.

O supergrupo, que reúne integrantes de bandas como Dark Tranquillity, Sentenced, Amorphis e Dimmu Borgir, é formado por Mikael Stanne (vocal), Markus Vanhala (guitarra), Santeri Kallio (teclado), Victor Brandt (baixo) e Vesa Ranta (bateria). O quinteto desembarcou no Brasil para promover o álbum Nordic Gothic (2024), em um show exclusivo em São Paulo. O título do trabalho define de maneira precisa o estilo da banda.

Com um público modesto, porém caloroso, o grupo iniciou a apresentação com "Behind the Lie", estabelecendo o tom sombrio e introspectivo que marcaria todo o concerto. A plateia acompanhou com palmas ritmadas enquanto Mikael Stanne transmitia toda a dramaticidade de sua interpretação vocal. A sequência com "Torn Away" e "The Darkest Night" intensificou o clima, com refrães entoados em coro por um público que parecia conhecer cada palavra.

Antes de anunciar "Anomalie", o vocalista declarou: “Só temos um álbum, então vamos tocá-lo na íntegra”, arrancando aplausos entusiasmados. O público, ainda que pequeno, mostrou-se barulhento e participativo, ovacionando a banda. A satisfação era nítida nos rostos dos músicos. Em "The Coldest Heart", o lado mais sombrio e atmosférico da banda se evidenciou, criando uma sensação hipnótica entre os presentes, sem que isso diminuísse a vibração da plateia, que reagia intensamente a cada nota.

Um breve solo de guitarra introduziu "Never Look Back", composição marcada por melodias expressivas. Após a execução, o vocalista agradeceu emocionado o carinho do público. O ápice emocional surgiu em dois momentos: primeiro com a delicada "When Silence Speaks", durante a qual a plateia observava as melodias que pareciam se transformar em imagens; em seguida, com a surpreendente versão de "I Drove All Night" (Roy Orbison), que arrebatou os presentes em uma mistura de nostalgia e reverência. Já o interlúdio instrumental de "Konevitsan kirkonkellot", tema tradicional finlandês, foi recebido com reverência solene, como se todos partilhassem do mesmo ritual.

Quase no encerramento, "Violent Storm" demonstrou a maturidade da banda, destacando os vocais limpos de Mikael Stanne e um refrão marcante. Entretanto, nenhuma execução foi tão simbólica quanto "Alone Together". Antes de iniciar a faixa, o vocalista, visivelmente emocionado, solicitou um minuto de silêncio em memória de Tomas Lindberg, vocalista da banda At the Gates, falecido no mesmo dia. Com imagens projetadas nos telões, a homenagem foi respeitada de forma comovente. O ar melancólico da canção contagiou o Hangar 110 inteiro se transformou encerrando a apresentação de maneira emocionante, talvez o momento mais intenso da noite.

O Cemetery Skyline não apenas apresentou um show tecnicamente impecável, marcado pela perfeita química entre os músicos, como também estabeleceu uma conexão profunda com o público brasileiro. As reações oscilaram entre a euforia e a introspecção, comprovando que o metal é uma linguagem que transcende fronteiras. 


Texto: Marcelo Gomes


Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: Overload Brasil



Cemetery Skyline – setlist:

Behind the Lie

Torn Away

The Darkest Night

Anomalie

The Coldest Heart

Never Look Back

When Silence Speaks

Nothing From This World

I Drove All Night (Roy Orbison cover)

In Darkness

Konevitsan kirkonkellot 

Violent Storm

Alone Together

Hate Orgasm: Um Chamado ao Desencanto e Trevas com Trilha Blackned/Death Metal

 


A banda Hate Orgasm surgiu em 2001 como projeto paralelo de J. Cyborg Daemon, consolidando-se oficialmente em 2003. Com influências do Black/Death Doom Metal (Sarcófago, Thou Art Lord, Rotting Christ), lançou as fitas “Doom/Solution/Manifest” (2006) e “Feast to a Legion of Possessed Pigs” (2008), que é uma homenagem direta ao filme "Evilspeak" de 1981, que apresenta uma legião de porcos satânicos. Sim, é isso mesmo que você leu.

Após o fim da formação original em 2009, J. Cyborg Daemon manteve o projeto como banda solo, retomando as atividades em 2015 com novas composições. 


O som atual preserva a essência antiga, mas incorpora elementos do old school Death Doom Metal (Deicide, Obituary, Benediction, Cianide, Asphyx), buscando intensidade, visceralidade e peso. 

As letras transitam por ocultismo, demonolatria, satanismo, horror e apocalipse, compondo uma proposta extrema e perturbadora, do jeitinho que a gente gosta.

O material já está disponível via Misanthropic Records e  foi lançado sob o título “Awakening By Disenchantment”, reforçando a identidade underground. Enfim, vamos analisar as sete faixas do debut:

Na primeira faixa, "The Prayer of Nothingness", a letra assume a forma de uma invocação profana, quase como uma paródia de uma oração cristã, mas voltada para o capiroto. O tom é bem ritualístico, parecendo uma missa de Anton LaVey.



Em “At Moloch's Kingdom Celebration”, segunda faixa do álbum, a gente acaba em um culto ao deus Moloch que envolve sacrifício humano. A letra descreve um ambiente do capiroto, onde sacerdotes e sacerdotisas monstruosos se entregam a práticas sexuais em meio ao ritual. O auge é quando recém-nascidos são lançados ao fogo. Essa aqui é pura possessão demoníaca, invocações e blasfêmia.

A terceira faixa, “Enthronement” é puro fim dos tempos: forças abissais acabando com o mundo todo e fogo jorrando da terra.

Em “Awakening by Disenchantment”, quarta faixa, aborda-se a misantropia e forças sobrenaturais, onde uma espécie de "conhecimento oculto" e um profundo desprezo pelo mundo e raça humana.


A quinta faixa, "To Where Belial Wildly Blows", gira em torno da figura de Belial, um dos nomes associados ao diabo na tradição bíblica e demonológica e rei da Goetia. Aqui Belial é exaltado ao máximo. Ela é o puro suco do black/death metal extremo, em que o discurso é construído em oposição ao cristianismo.

Já em "Black Magic Addicts", sexta faixa do “Awakening By Disenchantment”, a letra volta para o brutal, mas dessa vez tem um tom cinematográfico junto. A parte mais memorável da música fala de entranhas devoradas por porcos, e acaba se conectando ao clássico EvilSpeak (1981) e seus porcos satânicos.

A sétima e última faixa "Vengeance Achieved" invoca entidades demoníacas, como Lúcifer, Satanás e o Príncipe das Trevas para que se manifestem e concedam poder. A letra recria a invocação usada por Stanley Coopersmith em Evilspeak (1981), quando chama Satanás através de um grimório traduzido por computador possuído. 


Dá para ver que o filme foi inspiração durante várias fases do projeto.

“Awakening by Disenchantment” entrega com competência o que se propõem, com uma boa produção e é indicado aos aficionados a um Blackned Death Metal direto e old School.

Texto: Mellissa Freitas
Edição: Carlos Garcia 






terça-feira, 23 de setembro de 2025

Entrevista: Uganga - Assumindo um Novo Patamar Dentro do CrossOver Nacional

 


A banda mineira Uganga, liderada pelo vocalista Manu Joker, é um dos nomes mais consistentes e respeitados do metal brasileiro, com uma trajetória marcada pela fusão de thrash, hardcore e elementos experimentais que sempre desafiam os limites do gênero. 

Agora, o grupo retorna com força total apresentando seu mais novo trabalho, “Ganeshu”, um álbum que reforça a identidade única da banda, ao mesmo tempo em que abre novas possibilidades sonoras e líricas. 

Conversamos com Manu Joker sobre esse lançamento, o processo criativo por trás das composições e os caminhos que o Uganga trilha neste novo momento da carreira.


- Olá Manu. Obrigado pela sua gentileza em nos atender. Parabéns pelo lançamento do álbum “Ganeshu”, mais um trabalho de alto nível.

Manu Joker: Salve pessoal, fico feliz que gostaram do álbum e será um prazer falar sobre música com vocês.


- Como você pode descrever o trabalho na composição deste tipo de sonoridade?

Manu Joker: Eu acho que todo trabalho a que você se dedica com afinco e amor, como no nosso caso, é árduo e gratificante. Compor, produzir e gravar “Ganeshu” foi uma jornada épica cara!


- Ouvi o álbum diversas vezes para conseguir assimilar melhor a proposta do trabalho. Os fãs têm sentido este tipo de dificuldade também? Como tem sido os feedbacks?

Manu Joker: Eu recebo todo tipo de feedback, tanto o mais imediato, aquele logo após a primeira audição no calor do momento, quanto algo tipo o seu, onde se escuta o material repetidas vezes. 

Eu nem vejo como dificuldade pra falar a real, e aqui me coloco como ouvinte de música. Cada um está num momento, com um número X de informações na cabeça e cada um vai “entender” essa obra a sua maneira e no seu tempo.

- Existem planos para o lançamento de “Ganeshu” no exterior, no formato físico? Tivemos contato até agora, apenas o formato digital nacional.

Manu Joker: Sim, já lançamos outros álbuns no exterior e definitivamente queremos fazer isso com “Ganeshu”, porém no momento estamos focados no lançamento do CD físico no mercado nacional, o que deve ocorrer até o início de 2026.


- O fato de vocês trabalharem com o português chega a dificultar o alcance no mercado internacional?

Manu Joker: No Uganga eu sempre escrevi em português, desde as primeiras demos 3 décadas atrás. Salvo raras exceções como a faixa “Dawn” seguiremos assim pois ao meu ver traz mais verdade no nosso caso. As letras tem a essência do nosso dia a dia e creio que ficam mais fortes assim, na nossa língua, com a gírias e referênciais do lugar de onde viemos. Pode ser que atrapalhe se o foco for o mercado internacional? Talvez. 

Mas já estivemos em tours no exterior, passamos por 17 países até aqui e o retorno sempre foi muito bom. Nos álbuns lançados lá fora temos textos em inglês explicando as letras, eu também faço isso nos shows e o público recebe bem. Curto várias bandas brasileiras que cantam em inglês assim como português, cada um vai na sua e tá tudo certo.


- Como estão rolando os shows em suporte ao disco? A aceitação está sendo positiva?

Manu Joker: Muito, já foram quase 30 apresentações da “Ganeshu Tour” e a recepção ao material novo tem sido extremamente positiva. Acho de verdade que o Uganga vive um momento poderoso e convido a todos pra chegar junto e conferir.

- Quem assinou a capa do CD? Qual a intenção dela e como ela se conecta com o título?

Manu Joker: A arte gráfica ficou por conta do Artur Fontenelle da Deadmouse Design e traz elementos que representam a fusão de duas entidades tidas como malditas por quem gosta de falar sobre o que não sabe. São elas Ganesha e Exu. Eu pensei numa terceira entidade imagética que fundisse essas duas figuras em uma só e aí nasceu “Ganeshu”, representada na capa pelo gato preto, os garfos e a flor de lótus. 

Nós do Uganga também fundimos elementos diferentes na nossa música, como o hardcore, o metal ou o dub e não raro também somos incompreendidos e julgados por isso. Por isso gosto de definir nosso estilo como crossover, porém o nosso tipo de crossover. 

As cores vermelho e preto também ajudam a referenciar o simbolismo de ambas amarrando todo o conceito. Falar do conceito aqui levaria horas e mesmo assim você poderia ter uma visão diferente, então prefiro deixar no ar.


- “Ganeshu” foi todo produzido pela banda? Conte-nos sobre o processo de produção.

Manu Joker: Na verdade eu divido a produção com nosso amigo de longa data Gustavo Vazquez do Rocklab Estúdio (GO). A gente se entende muito bem, temos influências que se completam e uma excelente convivência.

Já fizemos outros álbuns com ele e após a auto produção no “Libre!” (2022) optamos por retomar a parceria. De diferente dessa vez está o fato que gravamos praticamente ao vivo e isso deixou o material com a pegada dos shows. Acredito que trabalharemos juntos novamente.

- E a banda já está trabalhando em novas composições com a nova formação? Se sim, como está se dando o processo e como ele está soando?

Manu Joker: Ainda não começamos a compor material novo mas de forma individual todos já estão separando suas ideias. Em breve vou reunir esse material e organizar tudo para começarmos uma nova pré produção, os planos são gravar em 2026 e lançar no início de 2027. 

Como a formação que gravou o álbum é uma e a que está levando essas músicas pro palco outra, acho que ainda precisamos tocar mais juntos antes de pensar no nosso nono trabalho. Mas em breve faremos isso.


- Novamente parabéns pelo trabalho e vida longa ao UGANGA!

Manu Joker: Nós que agradecemos o espaço e interesse, fiquem bem e nos vemos por aí, salve!


Entrevista: AS
Edição Final/revisão: Caco Garcia 
Fotos: Divulgação e arquivo da banda 


Uganga Instagram






quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Cobertura de Show: Wacken Open Air – 01/08/2025 – Schleswig-Holten/GE

Cheguei (Lukka) ofegante, ainda me equilibrando na lama, quando o Forbidden iniciou seu ataque no Louder. Foi poderoso demais. Com Russ Anderson à frente, um verdadeiro mestre de palco, a banda fez questão de provar por que é uma das lendas do thrash da Bay Area. Sua voz rasgava o ar pesado, ora gutural, ora melódica, enquanto interagia com a plateia com aquela presença de quem carrega décadas de experiência. “Chalice of Blood”, “Step by Step” e “Twisted into Form” levantaram a galera sem dó, e mesmo atolados, todos respondiam com energia. Foi como estar numa aula de thrash, só que dentro da lama.

Nayara Sabino

Nayara Sabino
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Peyton Parrish – Harder

No Harder, vivi um dos momentos mais marcantes da tarde. Como fã, estava ansioso por esse show, e Peyton Parrish entregou muito além da expectativa. O público inteiro parecia transportado para os mundos de suas canções, que ecoaram como hinos vikings em meio à lama. Quando “Valhalla Calling Me”, eternizada em Assassin’s Creed Valhalla, começou, senti um arrepio daqueles que não vêm da chuva fria, mas da emoção coletiva. Vieram também músicas como “Ragnarök”, “Master of War” e outras peças com clima épico, conhecidas de séries e jogos, que transformaram o Holy Ground num ritual. Ali, a lama deixou de ser incômodo e virou cenário de batalha.

*Wacken Press

*Wacken Press
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Angel Witch – W.E.T. 

Logo depois, segui para o W.E.T. Stage, e lá estava o Angel Witch. Como fã, assistir a esses pioneiros da NWOBHM foi como viajar no tempo. Cada riff carregava a aura mágica e sombria do heavy metal britânico. O público, mesmo menor por causa do lamaçal, estava em transe. Clássicos como “Angel of Death”, “Atlantis” e o hino “Angel Witch” foram cantados em coro, atravessando o frio e o peso da lama. Foi hipnótico, quase ritualístico.

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Krokus – Faster 

Corri para o Faster, e ainda bem que consegui chegar a tempo. O Krokus, lenda suíça do hard rock, mostrou como atravessar gerações com riffs certeiros. Vieram clássicos como “Long Stick Goes Boom”, “Winning Man”, “Heatstrokes” e o emocionante “Screaming in the Night”, que fez a plateia cantar junto apesar da lama. Foi uma aula de rock direto e sem firulas, daqueles que aquecem o coração mesmo debaixo de chuva.

Nayara Sabino

Nayara Sabino

Nayara Sabino
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Dirkschneider – Harder

No Harder, foi hora de reverenciar uma lenda viva: Udo Dirkschneider. Como fã, ver esse gigante revisitar a era Accept foi emocionante de verdade. Ele trouxe hinos como “Fast as a Shark”, “Princess of the Dawn”, “Metal Heart” e “Balls to the Wall” com uma energia absurda. A voz continua implacável, e sua presença de palco é quase marcial. O público, de todas as idades, cantava em coro, como se fosse uma missa metálica. Estar ali, atolado na lama, mas gritando juntos a  cada refrão… foi um daqueles momentos que se carregam para sempre.

Nayara Sabino

Nayara Sabino
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Fear Factory – Louder 

No Louder, o clima virou distópico com o Fear Factory. O peso industrial soava perfeito na noite fria e lamacenta. A cada batida de “Shock”, “Replica”, “Demanufacture” e “Zero Signal”, parecia que o chão do Holy Ground vibrava como uma máquina enferrujada tentando resistir à tempestade. Foi brutal e intenso, daqueles shows que grudam na memória.

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Papa Roach – Faster 

Já mais à noite, no Faster, o Papa Roach explodiu energia. O público, que vinha enfrentando lama e frio o dia todo, se soltou de vez. Vieram músicas como “Getting Away with Murder”, “Scars” e o hino absoluto “Last Resort”, que virou um grito coletivo. A chuva deu uma trégua nesse momento, e parecia que o Holy Ground inteiro pulava junto, transformando a lama em um detalhe irrelevante.

*Wacken Press

*Wacken Press
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The Boomtown Rats – Louder

Enquanto a banda Papa Roach se apresentava no Faster, no palco Louder, a banda irlandesa The Boomtown Rats performava com o irreverente e extremamente carismático, Bob Geldof. Comemorando os 50 anos da banda, o show foi uma grande surpresa! Que experiência maravilhosa! Abrindo o show com a clássica e energética “Rat Trap”, a banda rapidamente conquistou a plateia, que respondeu com entusiasmo cantando e dançando ao som da banda. 

A setlist passou entre clássicos como “Like Clockwork”, “Someone’s Looking at You” e “She’s So Modern”, intercalados com momentos de maior intensidade, como “Neon Heart” e “Against the World”. Logo após a animadíssima Someone's Looking At You, era possível ouvir ao Papa Roach tocando e Geldof logo disse: “can you tell them to shut the f*ck up?” arrancando risos e gritos animados da plateia continuando com “on a night like this, I deserve to get pissed once or twice” com o piano dando introdução à clássica “I Don’t Like Mondays”  onde a apresentação atingiu seu ápice. A plateia cantava a plenos pulmões a cada verso e no meio da música, enquanto era audível ao Papa Roach performando a um cover de “Changes” do Black Sabbath, Bob deu um discurso super necessário arrancando aplausos da platéia onde ele fez menção aos horrores das guerras atuais que estão ocorrendo na Palestina e Ucrânia. Geldof é conhecido por seu ativismo humanitário e foi um dos fundadores do grande festival Live Aid que ocorreu em 1985 com o intuito de arrecadar fundos para combater a fome na Etiópia e em outras regiões da África. Consolidando o poder da música como ferramenta de mobilização social.

Nayara Sabino

Nayara Sabino

Nayara Sabino

Nayara Sabino
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The Hellacopters – Louder 

Esse foi o ponto alto para mim. No Louder, o The Hellacopters, banda que eu mais aguardava, fez jus a toda expectativa. Desde os anos 90, esses suecos trazem aquele garage rock cheio de pegada, e no Wacken entregaram um setlist que foi pura dinamite: “Toys and Flavors”, “Carry Me Home”, “Hopeless Case of a Kid in Denial” e o épico “By the Grace of God” incendiaram a noite. Como fã, foi uma catarse completa — cantei, gritei e pulei sem pensar em lama, frio ou dor nas pernas. Foi o show da noite para mim, sem sombra de dúvida.

*Lukka Leite
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Dimmu Borgir – Louder 

No palco Harder, o Dimmu Borgir entregou uma performance monumental que reafirmou seu posto como um dos maiores nomes do black metal sinfônico. O setlist foi pensado para atravessar toda a trajetória da banda, misturando clássicos, raridades e a força das composições mais recentes.

A abertura com “Moonchild Domain” e “Puritania” foi devastadora, mergulhando o público imediatamente na intensidade sombria e teatral do grupo. A sequência trouxe a grandiosidade épica de “Interdimensional Summit” e “Gateways”, que mostraram o lado mais moderno e sinfônico da banda, enquanto “The Serpentine Offering” manteve a atmosfera ritualística e carregada de dramaticidade.

Para os fãs de longa data, a noite foi especial: “In Death’s Embrace” e “Grotesquery Conceiled (Within Measureless Magic)” resgataram o peso das primeiras fases da banda, com destaque também para “Stormblåst”, que arrancou gritos nostálgicos da plateia. O momento mais surpreendente veio com “Cataclysm Children”, executada pela primeira vez desde 2014, recebida com entusiasmo e emoção pelos presentes.

Na reta final, “The Insight and the Catharsis” abriu caminho para o grandioso clímax: “Progenies of the Great Apocalypse”, que transformou o Harder Stage em um espetáculo sinfônico de pura imponência, seguido por “Mourning Palace”, encerrando a apresentação em tom de catarse coletiva.

Entre cenários sombrios, vocais imponentes de Shagrath e a precisão cirúrgica da banda, o show do Dimmu Borgir foi um dos momentos mais memoráveis do terceiro dia do festival — uma celebração de peso, atmosfera e teatralidade que só eles sabem oferecer.

Nayara Sabino

Nayara Sabino

Nayara Sabino
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Bad Loverz – Faster 

Encerrando a madrugada no Faster, os Bad Loverz fizeram uma festa que ninguém queria que acabasse. Com chuva voltando a cair, eles retribuíram com uma sequência de covers cheia de energia: “Livin’ On a Prayer”, tema de Pokémon em alemão, “Paranoid”, “Song 2”, “Hypa Hypa”, o maior rickroll da história com “Never Gonna Give You Up”, e “Smells Like Teen Spirit”. Foi diversão pura, uma explosão que fez todo mundo esquecer o peso do dia e sair sorrindo.

Nayara Sabino

Nayara Sabino
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Conclusão

O Holy Ground testou a resistência, mas também entregou recompensas únicas. A lama virou parte do espetáculo, o público não recuou, e cada show teve sua identidade. Para mim, os momentos mais intensos foram os das bandas que acompanho como fã — Peyton Parrish, Angel Witch, Dirkschneider e The Hellacopters — que tocaram fundo na alma. O terceiro dia foi duro, épico e inesquecível.



Fotos: Nayara Sabino (*exceto onde indicado)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Forbidden – setlist:

Infinite

Out of Body (Out of Mind)

March into Fire

Twisted into Form

Forbidden Evil

Divided by Zero

Step by Step

Through Eyes of Glass

Chalice of Blood


Angel Witch – setlist:

Atlantis

Death From Andromeda

Dead Sea Scrolls

White Witch

Sorceress

Dr. Phibes

Angel of Death

Angel Witch


Krokus – setlist:

Headhunter

Long Stick Goes Boom

Stayed Awake All Night (Bachman–Turner Overdrive cover)

Rock 'n' Roll Tonight

Winning Man

Hoodoo Woman

Eat the Rich

Fire

Rockin' in the Free World (Neil Young cover)

Easy Rocker

Bedside Radio

Heatstrokes

Screaming in the Night

Live for the Action


Dirkschneider – setlist:

Fast as a Shark

Living for Tonite

Midnight Mover

***Balls to the Wall***

Balls to the Wall

London Leatherboys

Fight It Back

Head Over Heels

Losing More Than You've Ever Had

Love Child

Turn Me On

Losers and Winners

Guardian of the Night

Winterdreams (com Doro Pesch)

Bis

Princess of the Dawn

Up to the Limit

Burning


Fear Factory – setlist:

Demanufacture

Self Bias Resistor

Zero Signal

Replica

New Breed

Dog Day Sunrise (Head of David cover)

Body Hammer

Flashpoint

H-K (Hunter-Killer)

Pisschrist

A Therapy for Pain

Linchpin


Papa Roach – setlist:

Even If It Kills Me

Blood Brothers

Dead Cell

...To Be Loved

Kill the Noise

Getting Away With Murder

California Love (2Pac cover) 

Liar

Forever / In the End / Changes

Leave a Light On (Talk Away the Dark)

Scars

BRAINDEAD

Help

Born for Greatness

Bis

Between Angels and Insects

Infest

Blind / My Own Summer (Shove It) / Break Stuff / Chop Suey

Last Resort


The Boomtown Rats – setlist:

Rat Trap

(I Never Loved) Eva Braun

Like Clockwork

Neon Heart

(She's Gonna) Do You In

Someone's Looking at You

I Don't Like Mondays

Against the World

She's So Modern

Diamond Smiles

The Boomtown Rats


The Hellacopters – setlist:

Token Apologies

Sometimes I Don't Know

Carry Me Home

Born Broke

Stay With You

Toys and Flavors

Everything's on T.V.

Wrong Face On

So Sorry I Could Die

By the Grace of God

The Devil Stole the Beat From the Lord

Baby Borderline

Soulseller

Leave a Mark

Bis 

In the Sign of the Octopus (The Robots cover)

Eyes of Oblivion

I'm in the Band

(Gotta Get Some Action) Now!


Dimmu Borgir – setlist:

Moonchild Domain

Puritania

Interdimensional Summit

Gateways

The Serpentine Offering

In Death's Embrace

Grotesquery Conceiled (Within Measureless Magic)

Stormblåst

Council of Wolves and Snakes

Cataclysm Children

The Insight and the Catharsis

Progenies of the Great Apocalypse

Mourning Palace


Bad Loverz – setlist:

The Look (Roxette cover)

Song 2 (Blur cover)

Never Gonna Give You Up (Rick Astley cover)

Pokémon Theme (Jason Paige cover)

Major Tom (Völlig losgelöst) (Peter Schilling cover)

Paranoid (Black Sabbath cover)

Hangover (Taio Cruz cover)

Livin' on a Prayer (Bon Jovi cover)

Hypa Hypa (Electric Callboy cover)

Angels (Robbie Williams cover)