Braia é um projeto solo do multi-instrumentista Bruno Maia (Tuatha de Danann), cujo primeiro álbum, "Braia... e o Mundo de Lá", foi lançado em 2008, e também teve um DVD, gravado em 2009 no Teatro Marista em Varginha (MG).
Neste 2021 o músico retorna com o segundo trabalho do projeto, "Braia...e o Mundo de Cá", trazendo ainda mais diversidade musical, além de ser totalmente instrumental. Nas palavras do próprio Bruno Maia "Tem baião, tem samba, ijexá, uns arrancado de viola caipira, tem muita mineiridade bucólica em alguns acordes típicos do Clube da Esquina; enfim tem muito do Brasil, do mundo de cá, mas sem desprender do fantasma céltico irlandês que sempre me assombrou."
Este segundo disco foi nascendo quando Bruno criou seu próprio estúdio, batizado de "Braia", e foi compondo músicas com esses ritmos brasileiros misturados às inspirações celtas e progressivas, e depois percebeu que o que estava sendo criado era um novo disco do Braia, o qual foi finalizado através de financiamento coletivo e por incentivo da Lei Aldir Blanc.
Essa mistura de ritmos e temas que abordam fatos históricos de nosso Brasil, principalmente das Minas Gerais, soa perfeitamente coeso, cheio de criatividade e livre de rótulos, e de brinde, instiga a curiosidade do ouvinte a saber mais sobre os temas.
A abertura com "Sabarabuçu Set" (nome que os indígenas davam a uma suposta montanha repleta de esmeraldas) já é um excelente cartão de apresentação para essa diversidade musical, que funde de forma coesa ritmos brasileiros, celtas e certas nuances progressivas.
E que tal um "samba celta"? É o que ouvimos em "Trem do Rio", cujo tema foi utilizado na música "Turn", do Tuatha de Danann; o forte acento celta "mineirês" típico de Bruno, está sempre presente, como em "Puizé Celta, Uai!" (O músico conta que o título foi inspirado no tanto de vezes que teve de responder que tipo de música tocava).
E tem baião com banjo e violino, num ritmo contagiante e até dançante em "Diadorina"; e a beleza e certa melancolia nos acordes e melodias de "Quebranto Cataguá".
O progressivo é o tom principal em "Um Besouro na Esquina", que, segundo os autores, homenageia duas grandes influências: Beatles e O Clube da Esquina (grupo de músicos surgido em Minas nos anos 60, tendo como membros Milton Nascimento, Beto Guedes e Flávio Venturini entre outros). Interessante que é possível notar passagens que remetem aos dois grupos citados.
São só alguns pequenos recortes do que você vai ouvir nesse trem musical do Braia, onde cada vagão, cada estação, traz coisas novas.
Braia é musicalidade, entretenimento, arte, história...é cultura, música que voa livre e bate agradável no ouvido, proporcionando uma viagem musical repleta de surpresas.
O álbum pode ser adquirido no site oficial da banda e também está disponível nas principais plataformas. O primeiro CD também foi relançado, em digipack e contendo faixas bônus.
Texto: Carlos Garcia
Banda: Braia Álbum: "Braia...e o Mundo de Cá" 2021 Estilo: Folk Rock, Celta, Progressivo País: Brasil Produção: Bruno Maia
A anunciada “aposentadoria” e o
que poderia ser o derradeiro álbum, “InFinite”, em 2017, felizmente não se
concretizou, e a lenda Deep Purple parece que não estava pronta para parar e,
em tempos que precisamos mais do que nunca motivos para sorrir, apresentou seu
21º álbum de estúdio da carreira (terceiro seguido com a produção de Bob Ezrin), “Whoosh!”, e soando superior ao seu
antecessor.
Com 13 novas músicas, trazendo
uma diversidade que o faz um disco leve, interessante e que a cada audição vai
crescendo. Um álbum que soa atual e traz a identidade marcante da banda,
destacando o timbre inconfundível do vocalista Ian Gillan, que, se já não pode
mais alcançar as mesmas notas altas e agressividade de outrora, mantém a classe
e perspicácia que só os grandes ícones possuem, e claro, o impecável trabalho instrumental,
sempre com muito destaque dos teclados.
“Whoosh!” não tem canções muito
longas, tendo esse ar mais despretensioso, inclusive com músicas de melodias de fácil
assimilação, daquelas que já prendem no ouvido, como “Nothing at All”, com absoluto destaque para a melodia principal, dividida entre a guitarra e o teclado, e o refrão memorável, e já
considero o “hit” do álbum.
Há a simplicidade do boogie-woogie/Rockabilly de “What the What” e o
Hard Rock com trechos progressivos de “The Long Way Road", com a assinatura Purple tradicional, porém soando contemporânea, com direito a solos de teclado e guitarra. Típica banda que envelheceu muito bem
O Purple também mostra malícia e suingue, como na abertura com "Throw my Bones" e "Dancin' in my Slep".
A banda também passeia pelos ares progressivos como em “Power of the
Moon”, que tem uma certa dramaticidade em suas melodias; e em “Man Alive”, com destacado trabalho dos teclados, Gillan vai contando a história, em uma quase narrativa, envolta em melodias que funcionam com trilha para a letra, que traz apreensão sobre o futuro da natureza e humanidade.
Bem no finzinho, possivelmente o trecho que inspirou o título, onde Gillan termina com a frase "A man alone, washed up on the beach, just a man...whoosh."
Sobre o título do álbum, o
vocalista Ian Gilan, em uma das dezenas de entrevistas recentes, deu sua
explicação: “Whoosh é uma palavra onomatopaica que, quando vista por uma
extremidade de um radiotelescópio, descreve a natureza transitória da
humanidade na Terra; e, por outro lado, de uma perspectiva mais próxima,
ilustra a carreira do Deep Purple. ”
O Deep Purple entrega mais um trabalho
digno da história destes ícones do rock pesado, diversificado, de instrumental refinado e composições agradáveis, que por muitas vezes soam quase que como uma jam, com os músicos sempre tendo seus momentos solo. Parece tudo muito simples para estes grandes músicos, e que possuem entrosamento de longos anos, essa formação está junta desde 2003.
O disco está disponível no
Brasil via parceria ear Music e Shinigami Records, em formato simples e digipack duplo com DVD com o show da banda no Hellfest 2017 e mais alguns extras. Os anos passam e o Purple segue lançando material imprescindível para os fãs.
1. Throw My Bones 2. Drop the Weapon 3. We?re All the Same in the Dark 4. Nothing at All 5. No Need to Shout 6. Step by Step 7. What the What 8. The Long Way Round 9. The Power of the Moon 10. Remission Possible 11. Man Alive 12. And the Address 13. Dancing in My Sleep
"Ragnarøkkr" é o mais recente registro do Asgard, grupooriundo desde meados dos anos
80, que mistura sem medo folk medieval com o Heavy Metal. Diria até que as
guitarras e bateria servem mais de apelo extra. Emolduram composições que não
hesitam no uso de flautas, samples de teclado remetendo instrumentos medievais
e cânticos também daquele período.
"Trance-Preparation" tem um começo extremamente
metaleiro com o teclado mais progressivo. Logo em seguida há uma entrecortada
de cantoria barda sob batidas celtas. Franco Violo conduz as coisas como um Ian
Anderson para em seguida as sessões de heavy metal voltarem com força total.
Toma conta um palm mute de guitarra solando numa penta menor encerrando com
tappings. A guitarra se funde ao lado folk da canção e retorna ao princípio
para fechar com chave de ouro.
"Rituals" toca uma batida tribal em contraste de
flauta e alguma corneta medieval distorcida. O vocalista abre caminho para uma
passagem sombria reforçada pela guitarra e blast beat. A guitarra dá uma
revisada na melodia do começo paradepois gerar fraseados flutuantes ajudados pela harmonia leve do
sintetizador. Uma gaita de foles conversa com a guitarra. São interlúdios para
um recomeço meio cara de "canção pirata".
"The Night Of The Wild-Boar" tem levada melódica,
um pop cara de musical. Instrumentos se empilham no objetivo de criar um forro
pro canto. Apesar disso, tanto harmonia quanto melodia soam exóticas.
"Visions" é a mais metal, tem um climão de
batalha, seus vários riffs são costurados por melodias sintetizadas.
"Shaman" é iniciada por uma flauta, seu começo é
extremamente tranquilo. Aos poucos atinge um clima obscuro como se o ouvinte
entrasse num lugar servido de mistérios. As guitarras soam como um sino
martelado. A canção no final cai numa fúria progressiva.
"Battle" ecoa uma espécie de cravo cristalino,
chocalhos e acordes ressonantes na guitarra. A primeira parte se encaixaria
perfeitamente num videogame. Violo puxa uma direção Serj Tankian. Na segunda
metade, os teclados geram harmonias parecendo corais de igreja e a guitarra
distorcida gera clima macabro. Apesar de não ser frenética, ela passa um clima
de sofrimento enquanto escapam algumas ideias dançantes como se tudo não fosse
encenação de um épico.
"Anrufung" tem um início cerimonial. Na outra
metade vira uma dança folclórica repaginada para o peso do metal.
"Ragnarøkkr" uma das mais progressivas, fecha o
disco de modo sombrio e melancólico, o guitarrista Andrea Gottoli e o
tecladista Albert Ambrosi parecem mais livres para soltarem suas ideias.
Analisando tudo, o álbum despeja muitos conceitos e não faz
cerimônias em costurá-los abruptamente. O andamento de tudo é ondulado, não há
espaço para descanso. Algumas coisas poderiam ser melhor desenvolvidas mas são
logo jogadas para trás, com sorte relembradas nos momentos finais das
faixas.Alguns samples no sintetizador
me incomodaram um pouco, muito artificiais, acredito que espantem parte dos
ouvintes também.
É uma experiência diferente. Canto e melodias conservam o
espírito dos antigos trovadores e os integrantes manipulam isso com novos
recursos tecnológicos. O resultado soainusitado. O registro é mais indicado para aqueles que já curtem trilhas
sonoras épicas e metal progressivo. O excesso de informação e escolha de
timbres pode afugentar a maioria.
O tempo que a banda levou para produzir seu segundo full-lenght, a primeira parte de um trabalho duplo, "Espresso Della Vita: Solare", está plenamente justificado pela qualidade das músicas e da produção excelente deste álbum. Pensei até em simplificar esta resenha, simplesmente recomendá-los que adquiram e ouçam esta belíssima e inspirada obra do Rock/Metal Progressivo. (Check out the English Version)
Pensei em parodiar os históricos comentários da atriz Glória Pires durante a transmissão do Oscar, e dizer que "não sou capaz de opinar". Ha ha ha! Brincadeiras à parte, "Espresso Della Vita: Solare" é um álbum maravilhoso, transportando o ouvinte numa verdadeira viagem musical, carregada de emoções.
O álbum é conceitual, e resumindo (em breve teremos entrevista com o Fábio Caldeira, vocalista e compositor, e falaremos mais detalhadamente), é a primeira parte de um trabalho conceitual, que conta a história de uma vida, passando pelas suas diversas fases, sob a perspectiva de uma viagem de trem. A ideia nasceu de forma simples, Fábio conta que durante uma conversa com sua mãe, esta fez uma analogia de que a vida é como uma viagem de trem.
A produção deste álbum vinha sendo desenvolvida já há algum tempo, e contou com Adair Daufenbach (Hangar, Project46, John Wayne) na produção, o qual também gravou as guitarras. Um trabalho complexo, com cuidado e capricho nos detalhes, mas mesmo assim, é muito rápido de assimilar, graças ao feeling das composições e a maneira como os elementos diversos se completam e transmitem a emoção aos ouvintes. É como um musical, uma trilha sonora.
Balanço perfeito, pois esse feeling transparece e se destaca, mesmo em trechos mais complexos. É uma satisfação ouvir um trabalho assim dentre tanta música "de plástico" feita hoje em dia.
O Rock/Metal Progressivo é encorpado com elementos diversos, que envolvem o ouvinte nas melodias e emoções da história. Deixo claro que é um álbum em que as músicas podem ser ouvidas avulsas, mas é quase impossível não querer ouvir todo a cada vez que coloco para rodar.
Além dos elementos tradicionais do Rock/Metal Progressivo, vamos encontrar arranjos orquestrais, vocais gospel, Classic Rock, country, viola caipira, ritmos brasileiros e até Metal extremo.
Ouça, ouça já e viaje por estas intrincadas, límpidas, belas e inspiradas canções. Praticamente impossível descrever precisamente ou apontar destaques, vou falar só um pouquinho do que o álbum oferece, como o colorido e emoção de "I A.M. Living", que começa com o timbre destacado do baixo, suas memoráveis melodias de teclado e guitarra, adjetivo que também cabe aos arranjos vocais e refrão; e o que dizer desses arranjos acústicos e o feeling nos vocais em "Across the River". Canção que vai crescendo em emoção, destacando ainda os lindos corais gospel.
Temos a suavidade e beleza em "Water Birds" e também o peso e elementos folclóricos de "Penitência", que é cantada em português, e até lembra algo do Sepultura de "Roots", e a universal "Hijos de la Tierra", Prog Metal com suavidade e técnica, que contou com convidados de bandas de diversos países Sul Americanos, sendo cantada em inglês e espanhol.
Em "Rooster Race", viola caipira, sanfona e ritmos folclóricos se misturam ao instrumental límpido, pesado e intrincado do Prog Metal; como não sair assoviando com as melodias de "Keep Trying", que também possui belos backing vocals e orquestrações cativantes. Impressão minha, coincidência ou há pelo disco alguns "easter eggs" homenageando algumas das inspirações do grupo? Tipo, nestas duas últimas canções que citei, há títulos de músicas do Rush em algumas frases.
Música é arte, para a arte não há limites, não há regras, e o Maestrick concebeu e nos entregou uma obra para apreciar, vivenciar, sentir e nos encher de orgulho. "Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia". Com certeza com "Espresso Della Vita: Solare" o Maestrick irá além do que conquistou com seus surpreendentes trabalhos anteriores. Um dos álbuns do ano!
Texto: Carlos Garcia
Ficha Técnica:
Banda: Maestrick
Álbum: "Espresso Della Vita: Solare" 2018
País: Brasil
Estilo: Progressive Rock, Progressive Metal
Produção: Maestrick e Adair Daufembach
Assessoria: Som do Darma
Formed in 2006 at São José do Rio Preto, São Paulo, Maestrick is one of the most impressive new bands from Brazil. With two EPs, "H.U.C. (2010) and "The Trick Side of Some Songs" (2016), and one Full-Lenght, "Unpuzzle" (2011), the band now present their new and daring album, the first part of a double CD, "Espresso Della Vita: Solare". (Confira a versão em português)
The time the band took to produce
their second full-lenght, the first part of the double work, "Espresso Della
Vita: Solare", is fully justified by the quality of the songs and the
excellent production of this album. I even thought to simplify this review,
simply to recommend them to acquire and listen to this beautiful and inspired
work of Rock/Metal Progressive.
I thought about parodying the
historical comments of the brazilian actress Gloria Pires, in a TV channel from here, during the Oscar broadcast in 2016, and
saying that "I can not comment". hahaha! Jokes aside, "Espresso
Della Vita: Solare" is a wonderful album, transporting the listener on a
true musical journey, full of emotions.
The album is conceptual, and
summarizing (soon we will have an interview with Fabio Caldeira, vocalist and
composer, and we'll talk more in details), is the first part of the conceptual
work, which tells the story of a life, through its various phases, from the
perspective of a train trip. The idea was born simple, Fabio tolds that during a
conversation with his mother, she made an analogy that life is like a train
trip.
The production of this album had
been developed for some time, and counted with Adair Daufenbach (Hangar,
Project46, John Wayne) in the production, which also recorded the guitars. A
complex work, with care and whimsy in the details, but still, is very fast to
assimilate, thanks to the feeling of the compositions and the way the various
elements complete and transmit the emotion to the listeners. It's like a
musical, a soundtrack.
Perfect balance, because this
feeling transpires and stands out, even in more complex stretches. It is a
pleasure to hear such work among so much "plastic" music made it nowadays.
Rock/Progressive Metal is
full-bodied with various elements that envelop the listener in the melodies and
emotions of the story. I make it clear that it's an album where the songs can
be heard singly, but it's almost impossible not to want to hear everything
every time I put it to play.
In addition to the traditional
elements of Rock/Progressive Metal, we will find orchestral arrangements,
gospel vocals, classic rock, country, brazilian rhythms and even
extreme metal. Some of the band's inspiration are Queen, Rainbow, Yes, Rush, Jethro Tull and Dream Theater.
Listen, listen already and travel
through these intricate, clear, beautiful and inspired songs. It's almost
impossible to describe precisely or point out highlights, I'll speak only a
little bit of what the album offers, such as the color and emotion of "I
AM Living", which begins with the bass's timbre, his memorable keyboard
melodies and melodious guitars, an adjective that also fits the vocal arrangements and
refrain; and what about those acoustic arrangements and the feeling on vocals
on "Across the River." Song that is growing in emotion, highlighting
also the beautiful gospel choirs.
We have the softness and beauty
in "Water Birds" and also the weight and folk elements of
"Penitence", which is sung in Portuguese, and even recalls something
of the Sepultura of "Roots", and the universal "Hijos de La Tierra" (Sons of the
Earth)", Prog Metal with softness and technique, that counted on guests of
bands of diverse South American countries, being sung in English and Spanish.
In "Rooster Race", acoustick flok guitars, accordion and folk rhythms mix with the limpid, heavy and
intricate instruments of Prog Metal; how not to go whistling with the melodies
of "Keep Trying", which also has beautiful backing vocals and captivating
orchestrations. My impression, coincidence or are there by the disk some
"easter eggs" honoring some of the group's inspirations? Like, in
these last two songs that I mentioned, there are titles of Rush songs in some
sentences.
Music is art, for art there are
no limits, there are no rules, and Maestrick conceived and gave us a work to
enjoy, experience, feel and fill us with pride. "If you want to be
universal, start by painting your village". Certainly with "Espresso
Della Vita: Solare" the Maestrick will go beyond what it has conquered
with its surprising previous works.
Muitos ainda não aceitam muito
bem a bem-sucedida carreira do Ghost, pessoalmente acho que é mais por
picuinhas conhecidas e retrógradas do cenário Metal, que não lidam muito bem
quando uma banda alcança um certo patamar ou o mainstream. Para esses eu
pergunto: “Você quer que sua banda preferida não saia do underground? ”. Para
os que simplesmente não se agradam da sonoridade ou temática, ok, normal.
Fato é que, você gostando ou não
gostando da banda, seja qual sua razão, o que não pode ser negado é a
impressionante ascensão do grupo, alcançando admiradores inclusive de outras
bandas, que fazem questão de exibir camisetas da banda e até de participar como
convidados, e, reza a lenda, muitos membros de bandas famosas já subiram ao
palco ou tocaram em álbuns do Ghost.
Essa aura misteriosa que cerca o
grupo, a temática satanista, as máscaras e o “segredo” das identidades dos
integrantes, embora não seja mais tão segredo assim, são elementos que, somados
a sonoridade inspirada nos anos 70 e 80, e uma capacidade louvável de criar
músicas com melodias que prendem, mesmo que por vezes soem até clichês. E nesse
visual e temática é que reside outra vitória, pois é interessante ver uma banda
com essa conotação alcançar um patamar mais elevado.
Cardinal Copia, o "novo" frontman do Ghost
Em “Prequelle” (expressão usada para definirobra literária, dramática ou
cinematográfica que relata acontecimentos anteriores de uma determinado obra,
muitas vezes revelando os mesmos personagens quando eram mais novos. "dramático" e "cinematográfico", palavras que caem bem neste álbum), o novo e quarto
álbum, como era esperado, o Ghost novamente “troca” seu frontman, e o Papa
Emeritus III deu lugar ao Cardinal Copia, que em seu reinado também traz
mudanças na sonoridade, algo que o grupo sueco também vem apresentando a cada
álbum, não tendo medo buscar o novo.
“Prequelle” trata de temas em torno da morte e desgraça, com a temática em tempos medievais, porém com uma ligação à temas bem atuais. A sonoridadeapresenta um Ghost
mais sinfônico, num estilo por vezes meio Rock Opera, com uso maior de teclados
e sintetizadores, muitos corais e com refrãos e melodias mais “grudentas” e cativantes.
Podemos sentir uma linha mais anos 80 desta vez, com nuances do Melodic Rock e
Rock de Arena, mas com a aura sinistra e teatral peculiar ao Ghost. E se nos hinos do Rock de
Arena dos 80 as letras falavam de histórias de amor, musas e festas, Forge fala da peste bubônica, do encontro inevitável com a morte e as superstições humanas quanto ao bem e o mal.
Nos EPs “If you Have Ghost” e “Popestar”, onde a banda apresentou covers
de Eurythmics, Echo & the Bunnymen e Roky Erickson, por exemplo, já
corroboravam a paixão pela sonoridade 80’s e Pop.
Vamos às faixas desta macabra
Opera Rock que viajou no tempo. A intro “Ashes”, com as meninas cantarolando “Ring
a Ring 0’ Roses”, canção folk que, segundo a lenda, descreveria a grande praga
de Londres a “Black Death”, serve como uma sinistra preparação para “Rats”, com
seus riffs Heavy tradicional e coros no melhor estilo musical/opera Rock, é uma
canção cheia de ganchos! O vídeo para a música também é muito bom, tipo uma
paródia macabra de “Singing in the Rain”; “Faith”tem peso e pegada, lembrando
o material mais antigo e mais Metal da banda.
“See the Light” é uma balada com
melodias grandiosas, destacando o piano e o refrão cativante, porém com
mantendo essa certa aura sinistra;“Miasma” é a seguinte, e é uma instrumental
criativa. Sintetizadores remetem ao Progressivo dos anos 70 e 80,
como Asia, YES e ELP, por exemplo, possuindo melodias de guitarras dobradas e os riffs de
guitarras ao final são substituídos pelo saxofone, com um finalzinho com ares “noir”.
“Dance Macabre”é anos 80 total!
Eu cheguei a procurar mais a fundo para ver se não era alguma cover de alguma
banda dos 80 (caberia bem numa trilha de algum filme do Stallone nos anos 80). Seria heresia dizer que é uma faixa dançante? Melodic Rock
extremamente cativante, refrão pegajoso, tecladinho. Tem até uma daquelas paradinhas que
fica aquele gancho pra banda pedir pro público cantar junto, inclusive com
alguns jogos de palavras legais: “I just wanna be, wanna bewitch you in the
moonlight”.(numa canção "normal" de Melodic Rock certamente as palavras seriam "be with you", mas no estilo Ghost só poderia ser "bewitch you" ) “Pro Memoria” começa com ares bem trilha sonora com as
orquestrações, para em seguida o vocal entrar acompanhado por profundas, belas
e sinistras linhas de teclado. Bela e macabra balada. “Don’t you forget about
dying, don’t you forget about your friend death, don’t you forger you will die”. Tem muito de Queen também neste álbum, nessas canções construídas sobre piano e voz, com essa tendência operística e sinfônica.
“Witch Image” tem um belo
trabalho nas melodias cativantes das guitarras, em um andamento “soft” e que
gruda na mente; “Helvetesfonster” é mais uma instrumental, onde novamente flertam com o progressivo, a qual, assim como “Miasma”,
mantém o ouvinte preso, tendo várias mudanças de ritmo, muitos teclados (tem
uma melodia que me lembrou a trilha da série “Stranger Things”, passando por
trechos mais suaves, alguns até valseados e sinfônicos.“Life Eternal”, a peça que encerra “Prequelle”,
é também um dos pontos altos, traduzindo bem esse estilo puxado para Rock Opera
do álbum, com seus arranjos sinfônicos e grandes corais.
Em algumas versões podemos
encontrar faixas bônus, e uma é “It’s a Sin”, cover dos Pet Shop Boys, e não
poderia ser mais apropriada para essa inclinação anos 80 do Ghost atual. E eles
conseguiram deixa-la no estilo Ghost. “Avalanche”, de Leonard Cohen, original
de 71, é outra, que além de ter sido nominada pela revista Rolling Stone como
uma das 25 músicas mais aterrorizantes de todos os tempos, ganhou doses extras
de dramaticidade.
“Prequelle” veio para levar o
Ghost a um patamar ainda mais elevado, ganhar grandes arenas, mostrar que Forge
e seus asseclas não vão ter medo de ousar e buscar espalhar sua macabra, teatral, criativa e cativante música a todos os inocentes e desavisados lares deste
planeta. Só sei que não consigo parar de ouvir!
Lançando seu vigésimo álbum de estúdio os ingleses do Magnum, tendo como grande destaque a dupla Tony Clarkin e Bob Catley, passaram por ótimos momentos, mas também alguns revéses, como o hiato entre 1995 e 2001, logo após uma de suas melhores épocas, com álbuns como "On a Storyteller's Night". Sim, a banda também foi uma das "sufocadas" pela onda grunge dos anos 90.
Desde o retorno com o excelente álbum "Breathe of Life" (2002), a banda vem apresentando uma regularidade, com trabalhos de extremo bom gosto musical, mostrando toda a capacidade de Tony como compositor, e tendo em Catley e sua voz marcante, a figura perfeita para interpretar de forma magistral as canções, naquele seu jeito de contador de histórias e gestuais característicos no palco.
Sofrendo mais algumas mudanças de line-up, que também vinha se mantendo estável, o Magnum não esmoreceu e entrega mais um belíssimo álbum, recheado com seu Classic Rock/Progressive Rock melodioso e sinfônico. Os novos integrantes, Lee Morris (bateria, ex-Paradise Lost) e o tecladista Rick Benton, mantiveram o requinte instrumental da banda intacto.
"Lost on the Road to Eternity" já se apresenta com uma linda capa, mais uma criação de Rodney Matthews, tradicional colaborador do grupo. Na capa podemos ver vários personagens de histórias como o Mágico de Oz, Sherlock Holmes e Alice no País das Maravilhas.
Quanto a sonoridade, além da excelente e límpida produção, nos arranjos orquestrais adicionais contaram com a The Wolf Kerscheck Orchestra, a maior do mundo. Só por esses elementos e por se tratar de um álbum do Magnum, eu já compraria o disco sem ouvir nenhuma das músicas! E com certeza não me arrependeria, e não seria um daqueles discos que temos só para completar a coleção, pois as onze faixas de "Lost on the Road..." beiram a perfeição, com belíssimos arranjos e melodias marcantes e de extremo bom gosto. Algumas das canções possuem potencial para figurarem entre as melhores dentre a preferência dos fãs.
As músicas passeiam pelos caminhos que a banda sempre apresentou com qualidade e classe, seguindo aquela sonoridade e marcas próprias que a banda construiu através dos anos, com grande senso de melodia, mesclando o Hard/Classic Rock, flertes com o AOR, faixas trabalhadas e progressivas, sempre com o teclado trazendo aqueles ares sinfônicos.
Então temos o ritmo cativante do Hard 70's de "Peaches and Cream" abrindo o álbum e imbuindo no ouvinte o desejo de acompanhar a batida e cantar junto; as belíssimas linhas de teclado na melodiosa e com toques progressivos "Show me your Hands" é destaque, juntamente com a voz de Catley.
O lado mais progressivo vem com a intrincada e cheia de variações "Welcome to the Cosmic Cabaret", repleta de arranjos de bom gosto e também condução destacada da guitarra de Clarkin, e logo após dela, o destaque maior do álbum, a fantástica faixa título, "Lost on the Road to Eternity". Com ares sinfônicos, arranjos e melodias marcantes e cativantes, bom gosto que toca o fundo da alma! Tobias Sammet, fã confesso da banda e de Catley, divide os vocais com o veterano inglês ( Catley já participou de vários álbuns de Tobias, no caso com o Avantasia, inclusive excursionando com o grupo). O refrão também é memorável. Épica!
Podemos ainda destacar a levada cheia de groove e cativante de "Without Love", destacando as linhas vocais idem, e também a letra, clamando por algo que realmente o mundo precisa, pois sem amor não temos nada; "Ya Wanna be Someone", mais uma amostra de classe e bom gosto, esbanjando talento para construir belas melodias. São somente comentários de algumas das onze faixas que compõem este álbum, que se encaixa naquela categoria dos que sempre vão estar no seu player.
A versão nacional, lançada pela Shinigami Records, é dupla, com o disco bônus trazendo 4 registros ao vivo de faixas gravadas no festival Leyendas del Rock, em 2017, como a bela "Crazy Old Mothers", do "Sacred Blood, Divine Lies", de 2016.
É algo clichê, mas esses caras são como vinho, só melhoram com o tempo, e em "Lost on the Road to Eternity" parecem ainda mais inspirados e carregados de energia. Não damos notas aqui no Road, porque entendemos que não temos esse direito, mas quebrando o protocolo, eles merecem um 10!
Texto: Carlos Garcia
Ficha Técnica:
Banda: Magnum
Álbum: "Lost on the Road to Eternity" 2018
Estilo: Classic Rock, Hard Rock, Progressivo
País: Inglaterra
Produção: Tony Clarkin
Selo: SPV/Shinigami Records
Sempre que algum trabalho novo deste genial holandês, Arjen Anthony Lucassen, começa a ser moldado, é gerada uma expectativa grande, principalmente quando se trata do seu projeto mais famoso e mais querido pelos fãs, a Opera Rock AYREON.
O garoto que começou fazendo playback na escola, imitando ídolos como David Bowie e Alice Cooper, descobriu o que queria para si quando foi apresentado ao som do Deep Purple, e imediatamente tornou-se um fã de Ritchie Blackmore. Em 1994, iniciou sua carreira solo, e, indo totalmente contra a maré, compôs o primeiro álbum do Ayreon, "The Final Experiment" (ele brinca que achava que seria a "experiência final" mesmo.), uma Opera Rock em plena era em que o mercado musical atravessava profundas transformações, a era do "Grunge", de bandas como Nirvana, Alice In Chains, Pearl Jam e etc, e por conta disso, o trabalho foi recusado por várias gravadoras, até que a Transmission Records lançou o álbum, e a aceitação e vendas foram aos poucos aumentando, sendo um grande êxito, tanto que a gravadora logo pediu um novo álbum.
A partir daí, é mais história, e vamos falar do presente, que é o álbum duplo "The Source" (A Origem), que em seu título traz vários significados, ligados à parte lírica, onde Arjen retoma a ficção científica, a origem da "Forever Race", a própria origem da humanidade e do Ayreon, com vários elementos ligando aos álbuns anteriores, como a substância "Liquid Eternity", utilizada pelos Alphas para sobrevir embaixo d'água, além disso, Arjen também viu como um recomeço, pois inicia o trabalho com uma nova gravadora a partir deste álbum, a "Mascot Label Group".
Para explanar aqui em poucas palavras, a história, que é dividida em quatro crônicas, conta como o planeta Alpha foi destruído, por conta das convicções de um super computador criado por eles, "The Frame", para descobrir a causa do planeta estar morrendo, então "The Frame" chega a conclusão que o problema é o povo do planeta, e que este deve ser erradicado. Frente a um iminente apocalipse, alguns poucos escolhidos são destinados a procurarem um novo planeta para que a espécie sobrevivesse, e o destino é um planeta formado por água, onde vão tentar recomeçar, com ajuda da substância chamada "Liquid Eternity" (ou "The Source"), a qual lhes permitiria sobreviver embaixo da água e comunicar-se telepaticamente.
Em 2016, quando revelou que o novo trabalho seria um álbum do Ayreon, já foi gerando expectativas, que aumentaram com os "jogos" de adivinhação, onde Arjen postava em sua página do Facebook teasers das músicas, para que os fãs adivinhassem qual ou quais cantores estavam nas referidas.
Para este álbum, Arjen reuniu um maravilhoso time de vocalistas, contando a seu favor o fato que todos já eram amigos ou no mínimo familiarizados com o seu trabalho, e a primeira faixa apresentada, "The Day That The World Breaks Down", causou impacto extremamente positivo. Uma produção magnifica, que introduz a história, trazendo os 11 vocalistas principais, em uma música que traz todas aquelas nuances características do Ayreon. Fantásticos vocais, grandes teclados, peso, melodia, mesclando o Progressivo, Classic Rock e Heavy/Hard.
É um álbum mais típico e, digamos, "seguro", pois "The Theory of Everything" foi um trabalho que dificilmente pode ser ouvido parcialmente, e não há uso de refrãos, não seguindo da maneira mais tradicional, já em "The Source", mesmo que siga uma história com início, meio e fim, e as faixas vão se completando, é possível a audição pura e simples, não sendo necessário ouvir na ordem. Mas o álbum é tão bom que fica difícil querer pular músicas! hahah! Com certeza vai ser complicado tirar do playlist.
E todas essas nuances que conhecemos do projeto, estão em "The Source", uma produção magnífica, grandes músicos, e sonoridade que transita pelas influências do 70 e 80 que Arjen nunca nega, mas é um cara sempre aberto a coisas novas, mas o certo é que seu trabalho possui grande personalidade. Então, temos muita música excelente, viajando por partes progressivas, Hard Rock, Heavy e Folk. Você vai notar que é um álbum mais pesado, bastante orientado pela guitarra, mas temos também muitos teclados e aquelas lindas partes mais folk e viajantes.
Podemos sentir o peso já na citada faixa de abertura, e as nuances progressivas e folk em "Sea of Machines", e algo mais experimental na "Everybody Dies", com sua melodias criativas, algo de Queen, e um certo humor negro, pois as melodias "felizes" se contrastam com a letra (Arjen sempre cita o grupo de humoristas Monty Phython, e gosta de utilizar esse tipo de contraste, como em seu álbum solo, na música "Dr. Slumber's Eternity Home"). A história vai se desenvolvendo e as músicas vão trazendo os climas, em performances excelentes dos vocalistas, e em músicas que a cada audição do álbum fica difocil destacar, temos o peso, melodia e cadência de "Star of Sirrah", para em sguida a beleza do clima folk de "All That Was", que traz um certo ar de melancolia, mas também de esperança. Floor e Simone estão magistrais nas suas participações.
Passamos também por momentos que remetem as influências de Blackmore, como a rápida "Run! Apocalipse! Run!", que traz um ar bem Rainbow/Purple, porém com mais peso, aliás, como falei, é um trabalho bem orientado para a guitarra, mais pesado. E o que dizer da tensão dessa intro com os cellos e violinos em "Condemned to Live"? e os fantásticos coros de "Aquatic Race" e "Journey to Forever"?, esta última aliás, remete ao outro projeto de Arjen, o Star One, mais ainda porque há Russel Allen nela, porém há melodias folk. Bom, Arjen mesmo achou que poderia ser, no início, um álbum do Star One, mas depois com a diversidade das demais ideias que foram surgindo, percebeu que um novo Ayreon nascia.
Temos momentos em que a música beira ao Power Metal Melódico, como em "Planet Y is Alive", principalmente nos trechos em que Hansi Kürsch canta, e logo em seguida a atmosfera belíssima de "The Source Will Flow", com aquele teclado com efeito como se estivesse embaixo da água, vocais intensos e carregados de emoção, além de dois solos magníficos, o de teclado, por Mark Kelly(do Marillion) e o de guitarra por Mark Coenen (Sun Caged). É fantástico como Arjen encaixa as peças, e também tira o melhor de cada um, e o pessoal faz com muito gosto, muito feeling, e ele segue mostrando que é um produtor acima da média.
Com todas essas nuances, encaixadas de forma genial, nos proporciona uma audição em que dificilmente você vai achar o álbum cansativo, é um álbum que vai ser celebrado por muito tempo pelos fãs, que com certeza seguirão aumentando, pois uma mente brilhante como Arjen Lucassen merece ser ouvido, um gênio do Rock Pesado/Progressivo contemporâneo. Não tem muito mais a dizer, "The Source" é simplesmente maravilhoso, o que eu vier mais a falar vai se tornar clichê, ou até piegas.
Texto: Carlos Garcia
Artista/Banda: Ayreon
Álbum: The Source
Estilo: Rock Opera/Progressive Rock/Classic Rock
País: Holanda
Selo: Mascot Label Group (lançamento nacional via Hellion Records)
Arjen Anthony Lucassen – electric and acoustic guitars, bass guitar, mandolin, synthesizers, Hammond, Solina Strings, all other instruments
Chronicle 1: The 'Frame
1. "The Day That the World Breaks Down" (James LaBrie, Tommy Karevik, Tommy Rogers, Simone Simons, Nils K. Rue, Tobias Sammet, Hansi Kürsch, Mike Mills, Russell Allen, Michael Eriksen, Floor Jansen) 12:31
O Babe Ruth surgiu em 1971, em Hatfield (Inglaterra), fundada pelo guitarrista Alan Shacklock, o grupo criou um estilo cheio de personalidade, fazendo um Rock Progressivo e Hard Rock liderado pela guitarra, trazendo nuances de música clássica, latina, blues, percussões e arranjos com instrumentos como violoncelos e metais, além de influências das trilhas sonoras de Morricone. A cereja do bolo dessa receita foi a jovem vocalista Janita "Jenny" Haan (também natural da Inglaterra, mas que passou um período nos EUA), com seus vocais poderosos, às vezes trazendo uma certa crueza, e cheios de garra e feeling, além da voz e de uma performance elétrica de palco, com os pés descalços e movimentos acrobáticos, Jenny chamava atenção também pela beleza, estilo atlético e carisma. (English Version)
O Babe Ruth, com Jenny nos vocais, lançou 4 discos nos anos 70 (o quinto, a banda já havia sofrido profundas alterações de line-up), sendo a estreia, "First Base" (1972), tido como um disco clássico e cult, sendo adorado principalmente pelos fãs de Progressivo, e trazia faixas como "The Mexican", a música mais aclamada do grupo, "The Runaways", "Wells Fargo" e o cover para "King Kong", de Frank Zappa.
Em 2005 o grupo voltou a se reunir, trazendo cinco membros da formação original, e lançou em 2007 o álbum "Que Pasa". O grupo segue fazendo shows regularmente, como a mini tour no Canadá em 2010, país onde possui até hoje uma base sólida de fãs, e foi aclamada com disco de ouro com "First Base".
Para nos contar um pouco dessa bela história, conversamos com a amável e poderosa Jenny Haan, que falou sobre seus recentes trabalhos, o lançamento de material raro de sua banda Jenny Haan's Lion, planos, o retorno da banda, e essa grande época da música, nos anos 70, onde estavam ainda em início de carreira outras lendas como Led Zeppelin, Sabbath, Pink Floyd e tantos outros. Muitas grandes histórias de uma lenda do Rock!
Carlos Garcia
RtM: Olá Jenny, obrigado por tirar um tempo para falarmos sobre sua carreira, Babe Ruth e outras questões. Tenho certeza que muitos fãs vão gostar de ler, e também muitas pessoas que agora vão conhecer a sua música.
Para começar, diga-nos quando começou seu interesse pela música, e quando você decidiu começar a carreira de cantora?
Jenny: Olá Carlos. Obrigada por me convidar. Foi a minha avó que "descobriu" a minha voz quando eu estava na Califórnia, e insistiu para que eu cantasse para meus pais. No meu último ano de Ensino Médio na Califórnia, eu estava estudando arte, e no meu projeto final, com planos de continuar com Restauração de Belas Artes na Universidade. Eu me via cantando cada vez mais sozinha, e quando surgiu a oportunidade de voltar para a Inglaterra, minha terra natal ... Eu sabia que era o meu destino.
"Eu me via cantando cada vez mais sozinha, e quando surgiu a oportunidade de voltar para a Inglaterra, minha terra natal ... Eu sabia que era o meu destino."
RtM: Seu primeiro trabalho profissional foi já com o Babe Ruth?
Jenny: Sim, foi. Eu estava respondendo anúncios para participar de audições com algumas bandas. Eu respondi a um anúncio, sobre uma banda que a gravadora EMI estava trabalhando, chamada Shacklock, e estava à procura de um vocalista. Liguei e David Hewitt atendeu o telefone. Eles vieram me visitar na minha casa em Finchley, acho que foi o Alan que tocou em um violão e eu cantei. Eles estavam testando meu ouvido para ouvir música. Eles então me convidaram para ir para o Auditions no EMI Manchester Square onde eu fiz o teste junto com outros 40 cantores masculinos (eu era a única garota!) E foi entre mim e um cantor de Nova York, que já tinha um álbum lançado no exterior .... e eles decidiram ficar comigo! A piada é que eles estavam muito envergonhados por oferecer um salário muito pequeno (Risos). Começamos ensaiar intensivamente. A EMI, primeiramente, não estava muito confiante em ver uma cantora à frente da banda. Os rapazes me ajudaram muito, e Nick Mobbs, que contratou o Sex Pistols, veio nos ver e ele adorou o que ele ouviu ... Em poucas semanas, estávamos no Abbey Road Studios gravando o primeiro álbum "First Base!!!"
RtM: Nossa, que deve ter sido incrível pra você! Conte mais um pouco sobre o seu início com Babe Ruth, e o lançamento de "First Base" (72), considerado como o grande clássico da banda pelos fãs.
Jenny: Foi um tempo incrível. Todos os rapazes da banda eram muito protetores, eu tinha apenas 18 anos na época. Eu tinha uma base muito boa de disciplina musical. Alan Shacklock formou-se em música clássica na Royal Academy of Music, David Punshon também treinou de forma clássica e era um pianista de jazz afiado, David Hewitt tinha um pé no baixo Blues, e Dick Powell mergulhou na bateria progressiva. Funcionou. Eles me treinaram bem na arte da disciplina na preparação. Eu sou eternamente grata a meus irmãos por esta educação
RtM: Seu vocal poderoso, e também performance e aparência (muito bonita e atlética), atraiu muita atenção. E naquela época as mulheres também eram mais raras no cenário Rock, e você merece muito mais reconhecimento pela qualidade, personalidade e pioneirismo.
Jenny: Muito obrigado. Recordando, eu era bem provocante! (Risos). Recém chegada da área de São Francisco uma garota selvagem e um espírito livre ..
"...fiz o teste junto com outros 40 cantores masculinos (eu era a
única garota!)...A EMI estava em dúvidas sobre uma garota à frente da banda....Fui a escolhida, e em poucas semanas estávamos gravando no Abbey Road."
RtM: Eu amo o álbum "First Base", e minha música favorita é "The Runaways". Eu gostaria que você nos falasse um pouco sobre essa música. Eu gosto das músicas mais "rock", mas eu adoro ouvir sua voz em músicas mais emocionais, baladas ...
Jenny: Alan escrevia letras que eram sarcásticas ou histórias. Ele adorava os westerns spaghetti, e a música de Morricone (Ennio Morricone, famoso maestro e compositor italiano, responsável por mais de 500 trilhas para TV e cinema) e as músicas "The Mexican" e "Wells Fargo" vieram daí. Músicas como "The Runaways" mostravam o lado mais sensível, e também me deram a oportunidade de aplicar técnicas vocais diferentes, um lado mais suave que eu gosto muito.
RtM: A música que é considerada a mais importante da banda é "The Mexican". Conte-nos um pouco sobre essa música. Ele ainda tem essa história curiosa, para ter influenciado a cultura Hip-Hop e Break Dance, e os filmes de Clint Eastwood também, com a utilização de trechos.
Jenny: Sim está certo. Essa música já passa de 4 décadas sendo idolatrada pela cultura hip hop. Começou no New York, e as famosas "Loft Party" (festas somente para convidados) criadas por Mancuso (David Mancuso 1944-2016) que tornou-se famoso por iniciar a cultura da música urbana e hip-hop, tocando músicas como James Brown, Babe Ruth e mixando-as ... A razão porque "The Mexican" tocou seus corações por causa da questão da opressão, e o ritmo dela e bpm eram perfeitos para trabalhar a "Break Dance" sem ter que mudar trilhas. Tornou-se um hino para os BBoys
RtM: É uma pergunta difícil eu acho, mas você poderia nos citar suas cinco canções favoritas da banda?
Jenny: "The Mexican", for obvious reasons
"Black Dog"
"Sun Moon and Stars"
"2000 Sunsets"
"We People who are Darker than Blue"
RtM: Vocês conseguiram uma enorme base de fãs no Canadá, e depois com o retorno das atividades em 2005, vocês foram fazer uma turnê lá novamente. Fale-nos sobre este sucesso lá, e como foi retornar anos mais tarde.
Jenny: Extraordinário que a lealdade do povo canadense ainda está lá, e hoje ainda estamos tocando pra eles. Amaram "First Base", foi Número 1 por 40 semanas lá. Voltar para tocar para eles novamente foi muito, muito especial e nós trabalhamos muito duro para dar-lhes um grande show .... Adorei cada momento. Entramos durante um fantástico pôr-do-sol sobre as águas ... de tirar o fôlego.
RtM: Você acredita que a banda poderia ter conquistado muito mais? E eu acho que o grupo terminou suas atividades prematuramente na década de 1970.
Jenny: Oh com certeza ...definitivamente. A banda foi duramente atingida quando sofremos um acidente de carro muito ruim entre o primeiro e o segundo álbuns, atingiu a banda completamente. Seguido por um incidente que membros da banda foram agredidos por seguranças em um show em Sunderland. Foi então que David Punshon nos deixou. Nós recrutamos Ed Spevock, que ainda está conosco até hoje, e foi um momento muito vulnerável. "Amar Caballero" foi o resultado ... Há alguns bons trabalhos lá ... Eu colaborei com Alan em algumas das faixas liricamente, o que foi ótimo.
"Eu era bem provocante! (Risos). Recém chegada da área de São Francisco uma garota selvagem e um espírito livre .."
RtM: E sobre o retorno em 2005, com o álbum "Que Pasa" (2007). Conte-nos um pouco sobre o retorno, como você se sentiu sobre trabalhar com o Babe Ruth novamente.
Jenny: Foi um tempo de cura fantástico, e uma reconciliação para todos nós. Nós tínhamos os membros originais novamente, menos Dick Powell (bateria). Aconteceu depois que nós tocamos no Brixton para Hooch e o Campeonato Mundial de Breakdancing .. onde nós executamos "The Mexican" para 4000 Breakdancers, o que foi absolutamente fantástico. Decidimos então compor outro álbum ... e "Que Pasa" foi o resultado. Somos uma família e sempre seremos uma família. Nós temos nossos altos e baixos, mas nós amamos uns aos outros, cuidamos uns dos outros e Babe Ruth ainda está muito vivo.
RtM: E sobre "Que Pasa". Ele traz muitas características clássicas do grupo, incluindo influências da música latina, mas também coisas mais contemporâneas, e fugindo um pouco de tradicional, como um DJ e turntables. Conte-nos um pouco sobre este trabalho.
Jenny: Queríamos voltar às raízes do "First Base", como uma homenagem à cultura BBoy e aos fãs leais que nos apoiaram. Sentimos que precisávamos incluir os elementos intrínsecos no Babe Ruth, incluindo também as Bboy turntables. O filho de Alan, Jessie, conhecido como Kdsml, ajudou com isso ... foi bom para manter tudo família, por assim dizer. Eu voei para Nashville para gravar os vocais com Al. E David Punshon também, pra colocar seu piano jazz no disco. Foi um tempo mágico e maravilhoso. Eu trabalhei na capa do álbum com um artista muito talentoso do Havaí chamado EAST3 ou Suya3, nós passamos longas horas no computador, ele no Havaí e eu no País de Gales, reunindo as ideias.
"Os músicos estão tendo que encontrar outras maneiras de ganhar o dinheiro para continuar fazendo o que amam ... é de partir o coração."
RtM: Sobre novidades e seus outros trabalhos, além de sua participação no segundo álbum do Hollywood Monsters, eu vi que você postou sobre novas composições, e com a parceria de Stephen Honde. Pela que vejo, uma parceria renderá muito. Teremos em breve um projeto de ambos ou um álbum solo seu?
Jenny: Eu descobri uma gravação antiga com Jenny Haan's Lion e um album que foi gravado nos anos 80. David Morris ajudou a extrair a música para fora dos rolos, que envolveu aquecer as fitas ligeiramente para recuperá-las. Felizmente eles tinham sido mantidos em um lugar quente. Mas o processo só permitia uma tentativa.... Só tínhamos uma fita para levar gravações de Manchester, o que novamente provou ser interessante. Descobrimos depois de ouvir que som da minha voz que a fita estava correndo rápido. David foi alertado quando ele estava ouvindo as memórias das histórias de seus pais sobre a manutenção da espingarda WW11. David então teve que abrandar as fitas. Foi incomum.
RtM: Nossa, certamente um material que os fãs vão apreciar!
Jenny: O álbum será certamente para pessoas que gostam e acompanham meu trabalho ao longo dos anos. Uma sensação de tecnologia moderna muito 80's. Existe uma música ao vivo da Music Machine em Londres do Jenny Haans Lion. Novamente para colecionadores e fãs. Estou no processo agora de coligir formulando e começando o trabalho da arte, reunir tudo. Steph os masterizou na França. E de novas gravações há uma nova de "Black Dog", que é um link para Babe Ruth e também o compositor Jesse Winchester, e essa versão Steph e eu gravamos quando eu fui para a França para registrar os vocais para "It's a Lie" and "Capture the Sun", para o segundo álbum de Steph com o Hollywood Monsters. O Babe Ruth ama suas composições. É dark, tem elementos de ambos e uma interpretação completamente diferente. Há um par de novas faixas que Steph Honde e eu trabalhamos. Estou indecisa se as incluo ou guardo para o novo projeto depois disso.
RtM: E como você vê a indústria da música hoje, em comparação com o cenário quando você começou no início dos anos 70? Por um lado, temos a facilidade da Internet para promover e fazer contatos, e por outro lado houve uma redução nas vendas de álbuns físicos.
Jenny: É horrível. Os músicos foram totalmente desvalorizados. As pessoas já não querem pagar por música quando podem obtê-la gratuitamente em downloads. Os músicos estão tendo que encontrar outras maneiras de ganhar o dinheiro para continuar fazendo o que amam ... é de partir o coração
RtM: E quanto aos cantores e bandas de hoje, você não acha que existe uma falta de personalidade hoje em muitos? De bandas mais jovens e cantores, quais chamaram sua atenção e que você acha que realmente tem personalidade e potencial?
Jenny: Há uma enorme mistura de estilos hoje em dia. Existem algumas grandes bandas lá fora e bons cantores. Mas muitos só querem o estrelato, o que é muito triste. Eles não querem pagar suas dívidas ... e agora há necessidade de tocar ao vivo para fazer algum dinheiro, é muito difícil para as bandas começar. Tudo tem um sentimento diferente ....
RtM: Eu me lembro de ter lido uma entrevista que você disse que estavam gravando, e tiveram um problema técnico, pedindo ajuda ao estúdio do lado, e David Gilmour, que estava gravando "Dark Side of the Moon", foi quem ajudou. Você deve ter muitas histórias daquela época, onde muitas das lendas de hoje estavam apenas começando sua história. Conte-nos outra grande história que você se lembra, ou mais.
Jenny: Nós tocamos em Campbeltown e o Wings veio nos ver .... Paul e Linda (McCartney) não foram porque eles não conseguiram uma baby-sitter (Risos) ... após o show, fomos para o local onde o Wings ensaiava, que era no meio de um campo, e ficamos tocando a noite toda .... Denny Laine (Moody Blues, Wings) costumava sempre nos ver quando tocávamos em Londres ... havia uma grande parceria.
RtM: Nossa! muito legal.
Jenny: Eu conheci John Lennon logo depois que ele e Yoko Ono tinham conseguido voltar juntos...eu não sou de ficar admirada, mas desta vez sim, definitivamente um dos meus grandes momentos.
Quando estávamos tocando em Los Angeles com Iggy Pop, fui convidada para o quarto de Jimmy Page no Hotel, e ficamos todos lá, Jeff Beck, Led Zeppelin, Babe Ruth ... para beber champanhe. Eu me lembro de tocar pra ele uma música de Bill Nelson, para que ele pudesse ouvir sua guitarra. Whispering Bob Harris estava lá conosco (Old Gray Whistle Test)
RtM: Muitas boas história, muita música! Jenny, muito obrigado pela sua atenção, estamos ansiosos para ouvir novas músicas e por esse material que está sendo preparado! Espero podermos falar sobre isso em breve.
Jenny: Obrigada novamente Carlos ... Olá a todos. Com amor, jenny xxx