Para quem acha que supergrupos de rock e metal é coisa da gringa já pode tratar de mudar seus paradigmas: A Ready To Be Hated está pronta para ser adorada, ao contrário do que o nome da banda sugere.
Formado por Luis Mariutti (Angra, Shaman) no baixo, que dispensa apresentação; Thiago Bianchi (Shaman e Noturnall) nos vocais e na produção, Fernando Quesada, responsável pelas guitarras e violões e Rodrigo Oliveira (Korzus, ex-Oitão) na bateria, a banda mistura de maneira hábil e talentosa elementos musicais do Metal com sons modernos em seu álbum de estreia, uma evolução necessária para o estilo musical, criando por vezes algo realmente inovador.
Em "The One", a primeira música já começa com os dois pés na porta, bem pesada, uma bela amálgama entre Heavy Metal e Power Metal. A cozinha de Luis Mariutti e do baterista Rodrigo Oliveira é contagiante, e seguirá assim até o final do álbum. O refrão cola no ouvido; e um toque oriental (world music!) adicionado quase no fim da música dá um tempero especial.
"Something to Say" inicia com um toque moderno e quase progressivo, onde Luis Mariutti brilha novamente com sua técnica impressionante. Os solos de Fernando Quesada estão presentes na medida certa, são cheios riffs pesados e engrandecem a música.
Em "Forgettable", Rodrigo Oliveira mostra sua precisão e peso na bateria, encontrando um parceiro perfeito em Luis Mariutti. Thiago Bianchi começa a mostrar toda sua versatilidade como vocalista nesta faixa.
"The Old Becomes the New" é uma bela balada, com um solo de guitarra lindo que coroa essa bela composição.
"For the Truth!" é um dos dos destaques do álbum. Começa como uma balada, mas rapidamente estamos ouvindo um power metal moderno, acelerado e pesado. De repente, chegamos numa melodia orquestral e...Bachianas Brasileiras nº5! Lindo!
A faixa-titulo "The Game of Us" trás Thiago Bianchi fazendo gutural - uma performance incrível! Um vocalista que poderia estar facilmente mostrando seu talento em uma banda internacional, mas ainda bem que está mostrando aqui mesmo em nossas casa.
"Searching for Answers" é a minha música preferida. Ela chega a flertar com rock alternativo, com um som bem moderno, cheio de groove e uma pegada contagiante. É curta, direto ao ponto, e apostaria todas as minhas fichas para ser o cartão de visita para o sucesso internacional da banda.
"Us Against Them" de início me lembrou uma fusão de Slayer com blues - talvez loucura minha, mas é uma música com vida própria e com todos os integrantes da banda mostrando seu virtuosismo e talento. Outra das minhas faixas preferidas.
"The Great Gift of Now", a última música do álbum, tem uma introdução folk com um toque místico. Ela cresce até o final, fechando o álbum com chave de ouro.
O Ready to Be Hated é uma nova empreitada para seus integrantes - músicos já consolidados na cena do Metal nacional, que buscam iniciar um novo capítulo da musica pesada brasileira.
Luis Mariutti, lenda do baixo nacional e conhecido pelos seus trabalhos no
Angra, Shaman e entre outros projetos que participou ao longo de suas quatro
décadas de carreira, fortificou seu nome nos últimos anos depois que criou o seu canal no Youtube.
Anualmente, junto com sua esposa, Fernanda
Mariutti, (cérebro do Mariutti Team) promovem a “Festa da Firma”, que tem como
intuito de premiar os melhores do ano de cada categoria com rápidos shows dos
novos nomes do Metal nacional.
Diferente dos últimos anos, o evento dessa vez foi abrigado
em uma das casas de mais movimentadas de São Paulo, a Audio, que recepcionou um
grande público num domingo bastante quente e reuniu os membros do Shaman e do
Angra para o ShamAngra, ideia já antiga e que, finalmente, se tornou realidade
no último dia 14 de janeiro.
Mas antes desse grande momento acontecer, o dono da festa, pontualmente
às 18hrs, aproveitou o dia para tocar (na integra) o “Unholy”, álbum que é
voltado apenas para o som de baixo, bateria e com um pouquinho de guitarra. Ao
lado do excelente baterista Rodrigo Oliveira (Korzus, Oitão), Luis - com toda
sua empatia - agitou os poucos presentes com sua performance e as músicas altamente
caprichadas.
Seguindo a mesma roupagem do disco, o show contou com a
participação do vocalista - e um dos componentes do ShamAngra - Thiago Bianchi em
“The Eye Of Evil” e “Addicted”, essa última o ‘front-man’ fez questão de se despedir saudando o Luís de joelhos. Outra participação foi a do
vocalista Alessandro Bernard, da Kill For Nothing, em “God Of War”, que
encerrou o show de forma agressiva com os seus berros.
A noite contou com três bandas de abertura, duas delas
vindo da região norte e nordeste. Os baianos do Auro Control foram os primeiros
a entrar em cena. Com forte influência do Power Metal dos anos 90, o quinteto,
na ocasião, promoveu o primeiro show da carreira diante de um público volumoso,
que se empolgaram com as músicas que estarão no primeiro álbum, a ser lançado
em breve. O grande destaque ficou para o guitarrista Lucas Barnery, que destilou
muito bem suas habilidades no instrumento com perfeição.
Diretamente de Tocantins, a Vocifer também ganhou muitos
votos pela ótima presença de palco, um dos pontos que mais chamou atenção da maioria.
Com dois álbuns lançados - “Boiuna”, “Jurupary” - que abordam os contos
folclóricos do Brasil, a banda também se escora no Power Metal, só que puxando mais
a linha oitentista e não tão melódico quanto a atração anterior. E eles também saíram
com um saldo positivo, rendendo até gritos de “mais um”.
Encerrando a trinca de aberturas, o FireWing, fundado
durante a pandemia pelo guitarrista Caio Keyayan, não recebeu tantos holofotes
quanto as outras bandas.
Por mais que sejam ótimos músicos, o show acabou
pecando muito pela qualidade do som, deixando as guitarras, voz e orquestrações (pré-gravadas) com pouca nitidez. De especial teve a presença do
Bill Hudson, atual guitarrista da Rainha do Metal, Doro Pesch, em “Obscure
Minds”, faixa do único álbum,“Ressurection”.
De forma rápida para não atrasar o último ato da noite,
Terry Painkiller, (vocalista do Facing Fear), ao lado da Maná Mendonça, comandaram
a premiação dos “Melhores do Ano” de 2023. O Black Pantera, banda que vem
ganhando cada vez mais credibilidade na cena, foi a que saiu de mãos cheias com
três troféus, sendo o de melhor baixista, single e melhor álbum.
Enfim, às 21h50, o ShamAngra apareceu no palco já com a
Audio completamente cheia. Os irmãos Hugo e, claro, Luis Mariutti, dividiram, pela primeira vez, o palco com o grande Aquiles Priester.
Mais que
isso, também foi a primeira vez que o baterista, que é uma verdadeira máquina, tocou
as músicas do Shaman ao vivo. A sua pegada encaixou puramente nas
linhas criadas pelo Ricardo Confessori com uma dose a mais de técnica, velocidade e brutalidade, logo sentido de começo com “Here I Am” e “Time Will Come”,
do álbum “Ritual” (2002).
Do Angra só teve músicas do “Angels Cry” (1993), “Holy
Land” (1996) e do “Fireworks” (1998), álbuns que o Luis gravou na época que
integrava a banda. “The Shaman”,
“Carolina IV”, “Never Understand” e “Streets Of Tommorow” - músicas que não tem status
de hit, mas que tem um valor absurdo - foram as mais aclamadas da noite.
É muito interessante ver o Hugo, que vem de uma escola totalmente diferente, tocando
elas no mesmo nível que está no disco. Fora a ótima performance, ele interagia
com todos de forma animada, diferente da novata guitarrista Helena Nagagata, que esteve
concentrada até o último minuto.
Para as vozes contou com a experiência do Thiago Bianchi e
da talentosa Hanna Paulino, onde os dois optaram em cantar as músicas em dueto,
sendo uma e outra de forma solo. Com um visual estilo Rob Halford, Thiago, que
fez parte da segunda formação do Shaman e atualmente na Noturnall, provou que está
na sua melhor forma vocal e cantando muito bem.
Já a cantora amapaense segurou
muito bem a bronca em interpretar as obras do saudoso Andre Matos,
principalmente na dificílima “Wuthering Heights”, onde muitos (e muitas) não
têm a audácia de cantá-la.
O restante do show foi marcado por alguns convidados
especiais, que são a nova geração de vocalistas que surgiram antes e depois da
pandemia. A primeira a puxar o carrossel foi a Juliana Rossi, que emprestou sua
voz em “Make Believe”; Kaka Campolongo (de praxe) fez “Speed”; Vanessa Lockhart
(a dona do shopping, segundo a Hanna) em “Mystery Machine”; Victor Emeka
(Hibria) em “Pride” e Mayara Puertas (Torture Squad) em “Over Your Head”.
Antes da “Carry On”, Thiago e Hanna apresentaram os
integrantes. Aquiles, como de costume, roubou a cena com suas palavras. Além dos
elogios direcionados a Fernanda, definindo-a como um verdadeiro “tanque a
serviço do Metal”, ele relembrou da conversa que teve com o Luis e com o Hugo a
respeito da opinião que ele tinha do “Ritual”, que não deve ter sido das boas.
“Eu confessei para eles dois, dentro do ensaio: ‘Cara, o “Ritual” é um puta
disco! Me desculpa eu ter falado merda no passado”, falou.
O bis proporcionou emoção e adrenalina. A emoção não
poderia ser de outra forma a não ser com “Fairy Tale”, que o Aquiles nunca
imaginava em tocar. As lágrimas eram vistas nos rostos da maioria, até mesmo do
Thiago e da Hanna. E foi muito bonito ver todos gritando “Andre, Andre” no
final; a adrenalina veio com “Angels Cry”.
Alguns que dependem de transporte
público, infelizmente, tiveram que ir embora antes do encerramento para conseguirem
voltar para as suas casas. O show terminou faltando 10/5 minutos para meia
noite, o que não é normal para um show de domingo à noite, mas no final valeu a
pena!
Realmente a ideia deu liga, sendo a melhor saída para
manter vivo o legado do Shaman, que encerrou as atividades no começo do ano passado,
com a adição dos clássicos da primeira fase do Angra. Que as demais capitais
possam ter a experiência de vê-los futuramente, pois como o Thiago disse, “será
o primeiro de muitos”.
O festival Armageddon Metal Fest 2019 vai acontecer em Joinville/SC, no dia 01 de junho (sábado), no Expoville. O cast do evento reúne
grandes nomes da música pesada como o Shaman, a primeira banda
oficialmente confirmada; os gregos do Rotting Christ, que divulgam o novo e
aclamado disco The Heretics; além de Ratos de Porão, o Saravá Metal dos cariocas
do Gangrena Gasosa e o lendário grupo
mineiro The Mist, que voltou recentemente a
ativa.
Entre as demais atrações confirmadas está o Folk do Tuatha de Danann; o gótico anos 80 do The Secret Society, uma das grandes
revelações do rock no Brasil nos últimos tempos; os equatorianos do Total Death; do Equador; o instrumental
do Huey; além de Motorocker, Symmetrya, Violent Curse,
Blackmass, Semblant e Flesh Grinder.
A banda The Vintage Caravan, anunciada anteriormente, não integra mais o cast.
O Expoville
oferece grande e confortável espaço externo e interno, enquanto que o festival
terá opções de bebidas e alimentação para atender ao público. Acesse o site do parque AQUI. No total serão 15
divididas entre os palcos principais.
Os ingressos de meia-entrada e promocional já estão no 3º
lote e custam R$ 170 (esses valores estarão em prática até o dia 31 de maio).
Não há taxa de conveniência para a compra online, e os valores podem ser
parcelados em até 12x. Para usufruir da entrada promocional, é obrigatório
doação de 1 quilo de alimento não perecível ou de ração para gatos e cachorros.
Os ingressos estão à venda no site da Ticket Brasil, onde também é possível comprar pacotes de viagem +
ingresso, para excursão saindo de Curitiba, organizada pela Mosh Travel, e também saindo de
Blumenau. Nessa modalidade também há possibilidades de parcelamento.
O Armageddon Metal
Fest 2019 tem realização da Mosh
Productions e Metal Scream, com
apoio da Opa Bier, programa Midnight Metal e rádio Mundo Livre FM.
O Armageddon Metal
Fest 2019 participa do projeto #EventoAmigoPNE
que proporciona a entrada gratuita de um acompanhante, na compra de um ingresso
(meia/promo/inteira) junto com um PNE.
SERVIÇO
Data: 01 de junho
de 2019 (sábado)
Local: Expoville
(Joinville - SC)
Endereço: Rua XV
de Novembro, 4315 - Glória
Horário: a partir
de 14h00
Cast:
ROTTING CHRIST
SHAMAN
MOTOROCKER
TUATHA DE DANANN
RATOS DE PORÃO
GANGRENA GASOSA
THE MIST
THE SECRET SOCIETY
TOTAL DEATH
FLESH GRINDER
SEMBLANT
SYMMETRYA
BLACKMASS
HUEY
VIOLENT CURSE
Ingressos - SEM TAXA
DE CONVENIÊNCIA
Pista (meia entrada - 3º lote) - R$ 170
Pista (promocional - 3º lote) - R$170 (obrigatória doação de
1KG de alimento ou ração animal)
Pista (inteira - 3º lote) - R$ 340
AMF VIP Experience (2º lote)- R$ 190,00 (ingresso + entrada
antecipada no evento, às 13:00 e com direito a 2 chopp Pilsen + credencial VIP
+ uma edição do Fanzine Mosh + 10% de desconto na compra de itens na lojinha
oficial do evento)
R$ 80,00 (excursão - saindo do centro de Curitiba, passando
pelo Aeroporto Afonso Pena – com água a refrigerantes inclusos)
Luís Mariutti é uma das figuras mais queridas e expressivas do Metal brasileiro, reconhecido mundialmente pelo seu trabalho principalmente como o Angra e depois Shaman, André Matos Band, e claro, outras bandas relevantes como Henceforth, About 2 Crash e Motorguts. A nova empreitada, o Sinistra, e também a mais festejada novidade, a reunião do SHAMAN, são os principais acontecimentos da carreira do baixista neste 2018. (English Version)
São mais de 3 décadas de carreira, onde além dos grupos citados acima, Mariutti gravou com alguns dos principais nomes em termos de produção no cenário Metal, como Chris Tsangarides, Roy Z, Charlie Bauerfiend e Sascha Paeth. Reconhecidos por diversas publicações como um dos melhores baixistas do Heavy Metal mundial, como na japonesa Burrn, e no Brasil chegou a ser escolhido o melhor baixista por 12 anos consecutivos. Além do Metal, Luís também é um aficcionado por esportes, como futebol e artes marciais. Falando em futebol, quem não lembra do apelido "jesus", que recebeu no saudoso programa MTV Rock e Gol, onde Mariutti mostrava seus dotes como zagueirão!
Agora em 2018 os fãs receberam uma notícia esperada há tempos, o retorno do Shaman. E o que seria apenas um concerts, foi ganhando proporções maiores, com a reunião transformando-se praticamente numa tour e abrindo a possibilidade de um retorno definitivo, com álbum novo e tudo! Conversamos com Mariutti para falar sobre essa reunião, o futuro do Shaman, um pouco de história e outras novidades! Confira:
"Os shows estão sendo incríveis, o que torna a convivência cada vez melhor, e é daí que saem as decisões futuras."
RtM: Olá Luís, obrigado por arrumar um tempinho pra nos responder! Sobre esse retorno com a formação
original do Shaman, algo que muitos fãs esperavam e pediam. Conte um pouco para nós como
foi surgindo e amadurecendo essa ideia?
Luís Mariutti: Eu já
tinha conversado separadamente com todos os outros integrantes, sobre essa
possibilidade, mas só com a ajuda dos fãs as coisas se desenrolaram. Acho que
isso fez com que tivéssemos a dimensão do quanto eles queriam essa reunião,
dando um sentido pra tudo isso.
RtM: E como vocês estão se sentindo
atualmente? Para muitos, o rompimento da banda deixou um vazio, uma obra
inacabada, pois se esperava uma longevidade do grupo. Você sente que é possível
vocês voltarem a fazer músicas novas juntos, e quem sabe seguir de onde pararam
e lançar um trabalho novo com essa formação?
LM: As coisas
estão acontecendo naturalmente. A primeira ideia era um show, que viraram oito
e, na minha cabeça eu gostaria de fazer bem mais. Se esses outros shows se
concretizarem, teremos muito tempo juntos para pensar em um futuro para a banda.
"A ajuda dos fãs fez sentirmos a dimensão, dando um sentido para tudo isso"
RtM: Quando uma banda como o Shaman
anuncia um retorno, criam-se muitas expectativas. Como tem sido o feedback dos
fãs? E a demanda por shows? O que era para ser um show, se transformou numa tour praticamente. Isto pode
se tornar algo maior? Acredito, inclusive, que tenha chamado a atenção de selos
e gravadoras.
LM: Como
disse anteriormente as coisas estão acontecendo naturalmente e de uma forma
muito positiva. Temos a FreePass trabalhando conosco, e tenho a total confiança
que tudo está sendo planejado da melhor maneira para todos.Os shows estão sendo incríveis, o que torna a
convivência cada vez melhor, e é daí que saem as decisões futuras.
RtM: “Ritual” foi lançado pela
Universal, e inclusive emplacou um sucesso comercial que atingiu um público
fora do Metal, com a balada “Fairy Tale”, que virou até tema de novela. A banda
lançou um DVD e também teve uma extensa tour.Mas apesar desses resultados houve rompimento com a Universal, e também
era sinalizada uma mudança de direcionamento na sonoridade. Conte pra gente o
porquê dessas mudanças e a troca de gravadora?
LM: O
direcionamento musical foi uma mudança natural, foi o que saiu da banda naquele
momento, não teve nada a ver com troca de gravadora. Que por sua vez foi feita,
pensando em ter uma gravadora que estivesse mais próxima do Rock. RtM: Gostaria que você comentasse um
pouco sobre o “Ritual”, que foi a estreia de vocês. Luís, Ricardo e André, após
a saída do Angra, e contrariando algumas expectativas, pois para muitos seria
até mais confortável seguir por um caminho parecido ao da sua banda anterior,
mas vocês buscaram uma sonoridade e uma cara bem própria.
LM: É um
disco que me orgulha muito. Penso sempre nos discos que gravei como uma
continuidade natural da minha música. Naquela época apostamos nos climas, no
peso, sem esquecer das características que nos levaram ao sucesso com o Angra,
inovamos. O Shaman tem muito disso, sempre buscamos dar o melhor de nós, sem
fórmulas, apenas permitindo as ideias fluírem.
RtM: O “Reason” foi um disco que
dividiu, e ainda divide, muitas opiniões (eu achei e acho uma baita
disco! Soa mais pesado e mais “dark”, trazendo novos elementos ao som da
banda). Como você avalia e vê esse trabalho agora, 13 anos depois do seu
lançamento? Provavelmente muitas pessoas demoraram um pouco a entender esse
disco, e mudaram de opinião.
LM: O "Reason" é um disco muito bom de tocar, eu particularmente gosto muito e, acho que as
execuções nos shows tem sido surpreendentes, acho também, que isso ajuda a quem
tem uma certa dificuldade em compreende-lo.
RtM: Lembro de um músico, inclusive de
uma banda bem conhecida de vocês, que em uma entrevista criticou o “Reason”,
dizendo que era um álbum aquém do que vocês poderiam ter feito, e que o fato de
declararem ter partido para um direcionamento mais direto e pesado, era uma
desculpa porque vocês haviam se transformado em músicos desleixados. Na época
me pareceu também haver sido criada, por parte de imprensa e até fãs, uma certa
“disputa” entre Angra e Shaman.
LM: Acho que
ele deve ter ficado com inveja de termos gravando um ótimo disco com poucas
notas! (risos)
RtM: De “Reason”, quais as suas faixas
preferidas e as que você acha mais fortes?
LM: A "Reason" é a minha preferida, apesar de gostar de todas as composições desse disco.
RtM: Lembro que antes da separação, a
banda chegou a anunciar que estaria preparando um EP com músicas novas. Existem
composições que ficaram prontas? Vocês chegaram a definir o direcionamento do
que seria o trabalho seguinte?
LM: As
músicas que ficaram prontas saíram no disco do Andre Matos "Time to Be Free" (2007), uma delas é a "RIO".
"No Shaman sempre buscamos dar o melhor de nós, sem fórmulas, apenas permitindo as ideias fluírem."
RtM: Do alto de sua experiência, como
músico, se pudesse voltar no tempo, que conselhos você daria ao jovem e
iniciante Luís?
LM: Nenhum.
As coisas aconteceram naturalmente na minha carreira e, tive grandes pessoas
que me deram conselhos que me fizeram chegar até aqui. Consegui tudo na minha
carreira através de muito esforço pessoal, me orgulho disso e não mudaria nada.
RtM: Além desses shows com o Shaman,
sobre seus projetos pessoais em bandas, o que você tem de novidades para
adiantar aos fãs?
LM: Estou
gravando para a banda Sinistra (foto abaixo) que conta com Edu Ardanuy (guitarra), Nando
Fernandes (vocal), Rafael Rosa (bateria), e é uma banda com uma pegada Sabbath,
cantado em português. Está ficando muito bom e, será lançado ano que vem,
fiquem ligados! Mantenho também a banda Dirty Dogz com o atual vocalista do
Viper, o Leandro caçoilo, onde fazemos clássicos do Metal e hard rock. Fora o
meu canal no youtube que tem quase 20000 inscritos e tenho me dedicado
semanalmente a ele.
Luís Mariutti is one of the most beloved and expressive figures of Brazilian Metal, recognized worldwide for his work mainly as Angra and later Shaman, André Matos Band, and of course, other relevant bands like Henceforth, About 2 Crash and Motorguts. The new venture, the brazilian supergroup Sinistra, and also the most celebrated novelty, the return of the band SHAMAN, are the main events of the bassist's career in this 2018. (Versão em Português) Mariutti has recorded with some of the top names in terms of production in the Metal scene, such as Chris Tsangarides, Roy Z, Charlie Bauerfiend and Sascha Paeth. Recognized by several publications as one of the best bassists of the world Heavy Metal, as in the Japanese Burrn, and in Brazil was named the best bass player for 12 consecutive years. In addition to Metal, Luís is also a sports fan, such as football and martial arts. Speaking of football, who does not remember the nickname "jesus", who received in the late program on MTV Brazil, the "MTV Rock and Gol" (a football tournament with musicians), where Mariutti showed his skills as a defender! Now in 2018 fans finally had their prayers answered with the Shaman's reunion. And what would only be one concert, was gaining greater proportions, with the reunion turning almost into a tour and opening the possibility of a definitive return, with new album and everything! We talked to Mariutti to talk about this return, the future of the Shaman, a bit of history and other news! Check out:
"The shows are being incredible, which makes coexistence better and that's where future decisions come from."
RtM: Hello Luís, to start the interview, let's talk about this return of the Shaman's original lineup, something that many fans expected and asked for. Tell us a little bit about how this idea came out and maturing?
Luís Mariutti: I had talked separately with all the other members, about this possibility, but only with the help of the fans things unfolded. I think that made us measure the size of how much they wanted this return, giving a sense to all of this.
RtM: Great! And how are you feeling right now? For many, the breakup of the band left a void, an unfinished work, because they expected a longevity of the group. Do you feel that it is possible for you to start making new songs together, and maybe a new album?
LM: Things are happening naturally. The first idea was a show, which turned eight, and in my head I would like to do much more. If these other shows come to fruition, we'll have plenty of time together to think of a future for the band.
RtM; When a band like the Shaman announces a return, there are many expectations. How has feedback from fans been? And the demand for shows? What was meant to be one show, had turned in more dates. Can this become something bigger? I even believe he has caught the attention of labels and labels.
LM: As I said earlier things are happening naturally and in a very positive way. We have FreePass management working with us, and I have the complete confidence that everything is being planned in the best way for everyone. The shows are being incredible, which makes coexistence better and that's where future decisions come from.
"...The help of the fans made us measure the size of how much they wanted this reunion"
RtM: "Ritual" (2002), the first album, was released by Universal Music, and even had a commercial success that reached an audience outside of Metal, with the ballad "Fairy Tale", which turned to the theme of the novel. The band released a DVD and also had an extensive tour. But despite these results, there was a break with Universal, and a change of direction in sound was also signaled. Tell us why these changes and the change of record company?
LM: The musical direction was a natural change, it was what left the band at that time, had nothing to do with change of record. Which in turn was made, thinking of having a label that was closer to Rock.
RtM: I would like you to comment a little more about the album "Ritual", which was your debut. Luís, Ricardo and André, after the departure of the Angra, and contrary to some expectations, for many it would be even more comfortable to follow a path similar to that of his previous band, but you looked for a sound and a face of your own.
LM: It's a record that I'm very proud of. I always think that all the albums I recorded are a natural continuity of my music. At that time we bet on climates, weight, not forgetting the characteristics that led us to success with Angra, we innovate. The Shaman has a lot of it, we always try to give the best of ourselves, without formulas, just allowing ideas to flow.
RtM: The album "Reason" (2005) was an album that divided, and still divides, many opinions (for mi it's a great album! It sounds heavier and more "dark", bringing new elements to the sound of the band). How do you rate and see this work now, 13 years after its release? Probably many people took a while to understand this album, and they changed their minds.
LM: "Reason" is a very good album to play, I particularly like it a lot and I think the performances at the shows have been surprising, I think, too, that this helps those who have a hard time understanding it.
RtM: I remember a musician, including a well-known band of yours, who in an interview criticized "Reason", saying that it was an album short of what you could have done, and that declaring that the reason you had departed for a more straight and heavy sound, it was an excuse because you had turned into sloppy musicians. At the time it seemed to me that a certain "dispute" between Angra and Shaman had also been created by the press and even some fans.
LM: I think he must have been envious of having recorded a great record with few notes! ha ha ha
RtM: From "Reason", which are your favorite tracks and which do you think are the strongest?
LM: The title-track "Reason" is my favorite, although I like all the compositions of this album.
"Shaman always try to give the best of , without formulas... just allowing ideas to flow."
RtM: I remember that before the split, the band even announced that it would be preparing an EP with new songs. Are there compositions that are ready? Have you ever defined the direction of what would be the next album?
LM: The songs that were ready came out on the album of Andre Matos "Time to Be Free" (2007), one of them is the song "RIO".
RtM: From the height of your experience, as a musician, if you could go back in time, what advice would you give to young and novice musician Luis Mariutti?
LM: None. Things happened naturally in my career and I had great people who gave me advice that made me come here. I have achieved everything in my career through a lot of personal effort, I am proud of it and would not change anything.
Mariutti's new project in a Black Sabbath vein: with Rafael Rosa, Fernando Fernandes, Edu Ardanuy and, of course, Luís.
RtM: In addition to these shows with the Shaman, about their personal projects in bands, what you have of news to postpone
LM: I'm recording for the Sinistra band that counts with Edu Ardanuy (guitar), Nando Fernandes (vocal), Rafael Rosa (drums), and is a band with a Sabbath footprint, sung in Portuguese. It's getting really good and it will be released next year, stay tuned! I also keep the band Dirty Dogz with the current Viper vocalist, Leandro Caçoilo, where we do Metal Classics and Hard Rock. Out my channel on youtube that has almost 20,000 subscribers and I have devoted myself weekly to it. Interview by: Carlos Garcia
Complementando a longa e aberta conversa que tivemos com Thiago Bianchi, segue aqui a segunda parte (leia a primeira parta AQUI), onde o vocalista fala sobre a produção do DVD, as locações do clipe nos EUA, a participação e a amizade com Russel Allen, suas opiniões, quase sempre gerando algumas polêmicas e controvérsias sobre a cena musical e do Metal, a escolha da música "Woman in Chains", que também virou clipe, e inclusive a luta que o vocalista teve contra o câncer anos atrás, e muito...muito mais! (Access the English Version Here)
RtM: Quase impossível alguém discordar que vocês são
excelentes músicos, bastante técnicos, e apontei a diversificação e o peso como
os dois motivos de querer ouvir o disco várias vezes, acredito que deve ter
sido muito legal trabalhar e experimentar coisas novas com a banda toda reunida
em estúdio, momentos esses que servem para mostrar as influências de cada um, na
minha percepção, vejo que você e o Thiago seguem a linha do Power Metal, o Léo
Mancini pro lado mais Hard Rock e o Aquiles e o Juninho puxando para Prog
Metal. Conte um pouco como foram as
gravações e composição do álbum. A união dessas influências trouxe uma
identidade própria para o Noturnall?
TB: Eu sempre ouço os repórteres que nos entrevistam falarem sobre
exatamente o que você disse agora, arriscar quem mais gosta do que e etc.
Sinceramente, você não acertou nenhuma (risos). Não que seja um erro ou uma
coisa mal vista da sua parte, porque realmente a gente é uma bagunça e uma
salada musical, mesmo. A única pessoa que realmente, que é evidente e fica
fácil de entender, é o caso do Juninho. Ele realmente é o cara que está atrás
da pitada do Prog Metal moderno, que é meio difícil um tecladista trazer
modernidade para o som, ou que o cara é realmente naquela pegada Deep Purple ou
ele realmente não sabe o que está fazendo com o instrumento dele. No caso do
Juninho, ele traz sim muita atualização, tanto nas partes de timbres e etc.
Você quer saber
a verdade do Juninho? Ele é um cara que é voltado pro lance digital e
atualizado, do ponto de vista tecnológico. É um cara que gosta de tecnologia,
inova tecnologicamente e está sempre atualizado e de orelha em pé do que o
mundo tem feito. E quando você acha alguma coisa que está saindo naqueles Boys
Toys e History da vida, você vai comentar com ele, e que ele já vai ter visto
aquilo há cinco anos atrás, e é meio chato conversar com ele sobre música do
ponto de vista tecnológico.
Mas, na
verdade, o espirito da banda não tem como não falar que não é o Fernando e eu,
porque realmente começamos a Noturnall no momento em que, até os próprios
membros, já não acreditavam mais em música desse estilo. Tivemos que até
convencer um pouco o Léo e o Juninho de que ainda dava pra fazer Heavy Metal
neste país e que ainda dava pra fazer uma carreira em cima disso. Isso não é
ruim pra eles no meu ponto de vista, muito pelo contrário, pois é mais um
motivo de vocês verem como tem pessoas que, mesmo querendo desistir, não
desistem por amor, por confiar no estilo e nas pessoas que você está junto.
RtM: Isso é muito legal!
TB: É uma coisa
legal, de você poder olhar no olho do seu brother e falar: “Porra, que bom que
você veio comigo nessa”. Eu não falo
isso pro Léo e nem pro Juninho, porque eu nunca precisei pedir pra eles virem
juntos, só perguntamos se eles topariam e mostramos algumas ideias. E por mais
que o fumacinha (chamo ele de fumaça por causa da voz), que é o caso do
Fernando, ele tem sido um cara do Power
Metal, mas ele é um cara de tudo. Eu já vi o fumaça ser um cara do Power, do
Prog, do Thrash, do Heavy, do Pop, do MPB e de tudo. Tudo que a gente propõe a
fazer juntos, ele sempre vem com um ponto de vista diferente do que estava
rolando e sempre com uma atualização.
RtM: E o Léo?
TB: O Léo, eu
concordo com você, em partes, que é um cara do Hard Rock. Puro e simples: o
estilo dele de solar, o bom gosto, vibrato, as notas e o jeito dele fazer o
instrumental. Ele é um cara que vem totalmente com um pouco daquilo que as
pessoas, às vezes, querem que as pessoas erradas comecem o Hard Rock. Quando a
gente vê o Hard Rock já pensamos logo no Billy Sheehan, Slash, Twisted
Sister... O Hard Rock é uma rosa dos ventos bem extensa de norte, sul, leste e
oeste. Mas o caso do Léo é um cara do Hard Rock que sola e toca, que vem
totalmente do Van Halen e daquela explosão nuclear que foi pelas mãos da banda.
E teve tantas vertentes do quanto o próprio estilo poderia ser, e é isso que o
Léo é.
O Léo é um cara
que é o que você quiser que ele seja, pois ele é um barro molhado, mas sempre
com aquele epicentro do Hard Rock. No caso do fuma e eu, somos uma dupla, tanto
que até brincamos, e que foi um dos motivos pelo qual nasceu a história da
“Woman In Chains”, do Tears For Fears. Brincamos um pouco que somos um pouco de
Curt Smithe
Roland Orzabal, que é uma dupla que não consegue se separar pra fazer música.
Quando eu ouço às músicas dele sozinho, eu acho uma bosta. E ele quando ouve as
minhas ideias, ele também acha uma bosta, mas quando nos juntamos pra fazer
música, nascem as músicas do Shaman, da Noturnall e de até outros trabalhos que
vocês vão ver e ouvir no futuro.
RtM: A velha
química!
TB: Mas é
assim que o casamento acontece e você acaba achando a sua parceria. No meu
caso, eu sinto que eu sou o Jon Bon Jovi dele e ele o meu Ritchie Sambora, ou
até mesmo o Lars Ulrich e o James Hetfield (risos). Mas o casamento nasce dai, sempre começando
com as músicas do zero. E eu tenho no meu pulso tatuado o Metallica,o Megadeth,
Sepultura e Pantera, que são as bandas que me movem desde que eu me lembro de o
que é ser uma pessoa que respira.
Então, do lado
dele, sempre vem alguma coisa que me completa e vice versa. Se eu estou
querendo ir pro Heavy ele vem pro Thrash, se eu vou pro Thrash ele vem pro
Hard, pro Pop e assim por diante. E quando você ouvir as nossas músicas tem um
pouco de tudo, que você acha desde Tears For Fears, Bon Jovi, Pantera,
Sepultura e até Cannibal Corpse, pois no disco tem muita influência de Death Metal.
E não que a gente teve que ouvir isso, mas a gente simplesmente sentiu a coisa
acontecendo e deixamos isso acontecer. E ai você vem com o Léo, trazendo aquele
virtuosismo Hard emocionante, de solos de topo da montanha e carros voando a lá
Slash, e ai sim você tem um pouco daquilo, mas que com um solo técnico. É
difícil você tirar um solo do Léo do jeito que ele toca, com o vibrato no lugar
certo e respiração no lugar certo. E, finalmente, o Juninho cobrindo tudo
aquilo e trazendo você pra que século você esteja, que com certeza é aquele
século que você está naquele momento.
RtM: E à essas
parcerias que já existiam, foi adiconado o Aquiles.
TB: Não tem
como não falar da cereja do bolo, ou pode ser das bolas de sorvete do fundo do
Sunday (risos), que é o Aquiles. O Aquiles foi o casamento perfeito de uma
turma que já tinha uma boa singularidade mesclada, que se juntou a um cara que,
a meu ver, sempre foi um grande gênio da bateria do Heavy Metal mundial.
Não que isso
que vou comentar agora soe como uma critica, mas sim do ponto de vista puro e
simples, eu sempre vi o Aquiles como um cara sozinho em todas as bandas que ele
aparecia. Às vezes eu reparo que, o que você ouve ele tocando, poucas vezes
você vê que os músicos estão no mesmo mundo que ele, e isso é uma coisa que eu
sempre quis tentar mudar no Aquiles, porque é um cara que eu nunca tinha feito
música junto, além de ser um dos bateristas que eu mais admiro.
E eu pensava
que, se um dia eu tocasse com o Aquiles, eu ia tentar trazer ele um pouco mais
pro meu mundo e tentar adentrar um pouco mais no mundo dele, e não tanto
deixá-lo guiar o mundo que ele tinha em mente, do que era o correto acontecer
na batera e a galera querer segui-lo, como no Angra também, de você não sentir
que algumas coisas não faziam parte de um todo. E sinceramente, eu acho que o
Aquiles é um cara que nasceu pra tocar na Noturnall, por mais que seja uma
coisa banal de se falar ou até arrogante, mas é como eu me sinto. Eu espero que
as pessoas entendam isso de uma forma mais pura possível, porque estou sendo
extramente honesto sob o ponto de vista musical.
RtM: E os
resultados dessa parceria com o Aquiles chegaram aonde você queria?
TB: Fazer um
som com o Aquiles hoje em dia, e ouvir o que ele entrega na Noturnall, pra mim
é o ápice dele quanto baterista. Você ouvir o cara tocando e tudo aquilo que
ele está fazendo faz sentindo, mas que ao mesmo tempo ele não rouba a cena, não
destrói a música, não faz a música ficar uma coisa bateristica e você consegue
ouvir a música como um todo, porque o mais importante da música é você ouvir e ela entrar no seu coração, e não
entrar na sua caneta pra você fazer uma critica sobre ela, que é uma coisa
também até um pouco chata para o metaleiros.
E a Noturnall
também conseguiu mudar, pois o nosso público é um público que eu tenho a maior
admiração, que não é aquele público de Heavy Metal básico que faz aquelas
criticas malas pra caralho que você lê por ai. O público da Noturnall é um
público que tenho orgulho, porque é um pessoal que eu fico admirado com o que
eles falam, mesmo quando é uma critica. E eu tento enxergar e mudar, como
várias vezes aconteceu, inclusive, até no nosso DVD, mudamos algumas coisas nas
músicas por coisas que eu li e ouvi de pessoas e falei: “Quer saber, isso é uma
critica legal e que poderiamos sim, ter melhorado isso”. E melhoramos! E as
pessoas que falaram aquilo, tiveram a chance de chegar lá frente e falar:
“Caralho, eu não gostava disso e vocês melhoraram, pois agora eu gosto da banda
100% e não só 80%”. Então eu estou bem feliz quanto a isso.
RtM: A
respeito ainda da formação da banda, continua sendo quase todo o Shaman, exceto
o baterista Ricardo Confessori, que estava novamente no Angra. Acredito que
devido aos novos projetos do Confessori a saída foi buscar um novo baterista,
que foi nada menos que o grande Aquiles Priester. Que motivos os levaram a
fazer o convite ao Aquiles? Vocês chegaram a pensar e algum outro nome?
TB: O Aquiles
foi o primeiro nome sim. Voltando a lembrar de uma das primeiras frases na
entrevista, que além da minha mãe ser cantora, eu também sou filho de
baterista. Eu sempre fui um cara ligado em bateria! É meu instrumento número 1.
A primeira coisa que eu fico vendo na internet e no Youtube são os meus heróis,
dentre eles o Phil Anselmo, Dimebag Darrell, Lars Ulrich, James Hetfield, Dave
Mustaine, Andreas Kisser... Os meus grandes heróis também são bateristas que
são: Dave Weckl, Terry Bozzio, Vinnie Colaiuta, Mike Portnoy e até os mais
falados e celebrados, como Neil Peart, Steve Gads, Steve Smith... Bem, a lista
é longa. E nas minhas bandas, eu sempre fui ligado aos bateristas.
Você pode
reparar que baterista nunca é um cara perdido. Eu já toquei com o Marcell
Cardoso, do Karma, que em minha opinião, é um dos melhores bateristas de Heavy
Metal e Prog Metal do mundo e que não é à toa que ele foi o primeiro e o único
baterista a gravar disco do guitarrista
Edu Ardanuy; não é à toa que ele tocou tanto tempo com o Kiko Loureiro, não é a
toa que ele toca com o Rafael Bittencourt. no Karma ele fez trabalhos
primordiais. O Ricardo Confessori, em minha opinião, é o grande ícone do
Metal Melódico brasileiro. Por mais que ele tenha vindo na sequência, o Ricardo
é o grande nome, porque o Aquiles acabou indo mais pro Prog Metal.
RTM: Como um cara ligado a bateria, você acabou
buscando sempre grandes bateristas.
TB: Haviam dois
bateristas que eu queria muito de poder tocar junto, um ainda não tive a
oportunidade, que é o Iggor Cavalera, e o outro era o Aquiles Priester. Um é o maior
baterista de Thrash Metal brasileiro perante o mundo. E o outro é o melhor
baterista de Prog Metal perante o mundo. Então a primeira pessoa que veio nas
nossas cabeças, claro, que seguisse o Heavy e o Prog, foi o Aquiles. Tivemos
uma chance de compor uma amizade, porque eu já tinha trabalhado com ele
produzindo o disco ao vivo do Paul Di’ Anno, quando ele era o baterista, e
completavam a banda o Felipe Andreoli, Chico Dehira e o Silvio Golfetti. E
nessa panela, eu acabei conhecendo o Aquiles, e por fim acabou ficando aquele
gostinho de querer fazer uma banda juntos. Sempre cruzávamos pelas baladas
mundo afora e falávamos: “Vamos fazer um som? Tem umas músicas ai? Vamos
fazer?”, bem típico de conversa de bar, mas que não acabava se
concretizando.
Quando
aconteceu a questão do Noturnall, o primeiro nome que me veio à cabeça foi o
Aquiles. Tentamos uma vez antes, até com outro time que tínhamos em mente, mas
que não deu certo por conta de agenda e das pessoas que pensávamos. E o Aquiles
foi uma das pessoas a barrar nossa agenda, porque ele foi o principal nome que
tínhamos em mente. Depois, logo em seguida, eu liguei pra ele novamente e
falei: “Cara, lembra daquele papo? Voltou!
Quer tentar? Estão aqui as músicas, só falta gravar a bateria.” Mandamos
tudo, ele gostou do projeto e chamamos ele pra bater um papo. Naquele dia
chegamos ali amigos e saímos de lá casados, com contrato assinado e o cacete
(risos). Em uma tarde, resolvemos tudo, com uma coisa que estava emperrada há
dois anos, e que acabou se resolvendo em uma semana. E esse foi um dos motivos
que a Noturnall acabou se tornando uma banda tão predestinada, porque as coisas
parecem que vão acontecendo sozinhas.
E o Aquiles
saiu de lá com data pra gravar, ele queria um tempo pra estudar e pediu pra
fazer algumas mudanças nas músicas. Mudamos tudo o que ele pediu: mudei algumas
linhas de voz, mudamos algumas partes de instrumental e algumas partes de
canto. Adaptamo-nos também à loucura dele, porque era uma coisa que ele estava
interessadíssimo em fazer. Como eu disse antes, eu gosto pra caralho do jeito
que e o Aquiles toca, e gostaria de deixá-lo à vontade pra ele poder dizer que
a banda também é dele e que ele não chegou lá e gravou uma música que já
existia.
RtM: Vocês queriam que tudo funcionasse como uma
unidade, uma banda realmente, com todos participando.
TB: Então, eu
posso disser que o Aquiles fez parte sim da Noturnall, porque a banda não
soaria do jeito que ela soa hoje em dia se não fosse por ele, pois ele mudou
tudo junto com a gente. E mudamos todos juntos e não sozinhos, que é o que não
queria que acontecesse. Foi o que eu falei lá atrás, de não deixar que qualquer
membro da banda mudasse as coisas mais do que a música pedisse. Era sempre
ouvir o que a música queria e nos adequar ao que a gente gostaria de fazer, e
foi exatamente isso que aconteceu.
A Noturnall,
quando o Aquiles entrou, passou a soar de um jeito que era longe do que a gente
tinha antes, mas que ao mesmo tempo era tudo o que a gente gostaria que ela
fosse. Eu não sei explicar, porque simplesmente soa bem. É difícil você ficar
tentando verbalizar coisas musicais, a verdade é que a Noturnall é uma coisa
diferente e uma banda que você tem que ouvir pra entender.
RtM: E no conteúdo das letras? Também pudemos perceber
mudanças.
TB: Nas letras,
eu falei sobre coisas que não falava há muitos anos. Deixei bem explicito o meu
“saco-cheismo” com várias coisas e várias situações (risos). Pisei em calos,
porque eu falei sobre coisas que as pessoas não queriam que a gente falasse.
Criticamos religiões, falsos idealistas, fãs que se dizem fãs, que na verdade
busca na música aquilo que eles não podem ser na vida, mas que criticam pra se
sentirem melhores quanto a si mesmos. É um disco cheio de críticas, mas não
negativas e sim construtivas do tipo: “Saca essa letra! Analisa essa letra, que
você vai sair dessa letra um cara melhor do que quando você a conheceu” E é
exatamente isso que o ser humano tem de missão nessa terra, que é você deixar o
mundo melhor do que quando você o encontrou.
Bem antes de o disco ser lançado, o Noturnall
logo de cara ganhou a atenção de muitos quando foi posto no ar o clip da faixa
"Nocturnall Human Side", que tem a participação do vocalista Russell
Allen (Symphony X/Adrenaline Mob), tem também Aquiles, um investimento em qualidade do material, etc.... Gostaria que você comentasse como está
sendo o retorno até agora, se vocês estão tendo a repercussão esperada pelo
investimento feito, inclusive tendo já um DVD lançado?
TB: Não estamos tendo tudo o que a gente esperava, porque estamos recebendo
muito mais. A Noturnall no começo, e eu disse isso aqui algumas vezes, nasceu
de uma forma diferente do que a gente imaginava. A Noturnall nasceu como um
grito de liberdade de uma coisa que não aguentávamos mais, que era ser escravo
dum sistema que não pertencia à nossa agenda musical. E isso, e mais uma vez eu
digo, foi o grande fator pra que a banda obtivesse o êxito que obteve. A gente
vê que os nossos fãs são felizes e se identificaram com Noturnall de uma forma
que nunca haviam se identificado antes. Foi a música que nos encontrou, e eles nos
encontraram por conta da música.
RtM: O público se identificou, o que é algo que
acontece quando algo é feito com honestidade, e acredito, também, porque existe
aqueles que sempre buscam algo diferente, atual...
TB: Então,
basicamente, é uma música que moveu uma galera que estava querendo uma música
que o movesse. É aquela história do ovo e a galinha, de saber quem vem
primeiro. Não da pra saber que a gente quis mais isso do que os nossos fãs queriam
que isso existisse. Só sei que o rio encontrou o mar e o fluxo aconteceu. E o
Aquiles, mais uma vez eu digo, é um grande baterista e um dos melhores do mundo!
O Shaman é uma das melhores bandas de Heavy Metal e Power Metal do mundo! Os
músicos, sem sombra de dúvidas, são grandes profissionais. Mas nada disso
explica o êxito, o que explica o êxito da Noturnall é a música. A música que a
gente fez moveu uma galera. E é isso que importa!
Você ter fãs de
verdade vale muito mais do que ter milhares de “likes” no Facebook. Você ter um
fã que te encontra na rua e chora que, por exemplo, hoje (10 de outubro) de
manhã, eu fui ao banco, o meu gerente me reconheceu e chorou. E isso não é o
nome do Shaman e do Aquiles que faz, o cara ouviu a minha música e falou: “Caralho,
era isso que eu queria falar e alguém falou por mim”. Eu faria a mesma coisa se
eu encontrasse o Seth MacFarlane, que é o cara que escreve o Family Guy. Tem certas
coisas que você acaba encontrando alguém que fala o que você sempre quis falar,
e isso sempre te move e te toca.
RtM: O álbum foi um recorde na pré-venda, e
também de vendas nas primeiras semanas.
TB: Falando em números, sim, foi o maior recorde de pré-vendas na
Die Hard, que é a maior loja de Heavy Metal do Brasil. Foi recorde de vendas em
um dia! O disco da Noturnall foi o disco que mais vendeu na loja em um dia de
todos os títulos e houve uma fila pra pegar o disco, que é uma coisa parecida
com o “Black Album”, visto no documentário “A Year and a Half in the Life of Metallica”,
cenas que só aconteciam nos anos 90 e nos primórdios. E isso aconteceu em pleno
ano de 2014, de gente pegando o CD na mão, comemorando e ter uma fila na porta.
Eu não sei explicar por que isso aconteceu, porque não era assim com o Shaman,
com o Hangar e com o Angra na época que o Aquiles estava na banda.
É claro que
eles tiveram e tem os seus momentos de glória, mas aqui no Brasil eu posso
comemorar com você de que, na Die Hard, que é a maior loja do segmento, aquilo
aconteceu uma vez só e foi justamente com a Noturnall. Essa explicação eu não tenho pra te dar, eu
só sei que aconteceu e estou muito feliz que eu esteja presente e de ser uns
dos envolvidos nisso, porque foi uma coisa animal. E mais uma vez está
acontecendo com o DVD, que mais uma vez é o recorde de vendas deles. Parece que
o disco ficou 7 semanas entre os mais vendidos, e se não me engano, não vou
buscar esse recorde porque eu não tenho certeza se foi, mas eu falei com o
Fausto algumas vezes e parece que também foi o recorde de mais semanas entre os
mais vendidos
RtM: Conforme comentamos, também o primeiro show da banda foi
registrado em DVD, recém lançado.
TB: Continuando sobre o DVD, até
agora, está mais uma vez batendo o recorde, sendo o mais vendido da loja. E
isso sem ter tido, e que não falei nas perguntas anteriores, mas quero dizer
que não foi investimento financeiro, e sim de trabalho. Eu tenho e sou produtor
do estúdio Fusão – VM&T, onde fizemos vários discos pro Heavy Metal,
Rock e pro Pop. Eu produzi discos importantes pro Heavy Metal mundial e
nacional, por exemplo, o único disco solo do Edu Ardanuy; o “Universo Inverso”
do Kiko Loureiro, que é o único disco dele que não é de Heavy Metal, mas que é
um dos discos de guitarra mais celebrados do mundo e nesse mundo do fusion,
pois ele é totalmente diferente, tem Latin Metal com MPB; trabalhei no disco
“My Winter Storm”, da Tarja Turunen; no Angra eu trabalhei no “Aurora
Consurgens”; produzi Timmo Tolki, Paul Di’ Anno, Shaman... Eu tenho mais de 170
discos produzidos, junto com pessoas que até trabalham comigo.
O Quesada também tem milhares de
discos produzidos; o Léo Mancini também tem; o próprio Ricardo Confessori fez
algumas coisas no meu estúdio. Também tenho disco de ouro aqui no Brasil e em
países latinos e europeus, algumas indicações ao Grammy... Isso tudo sem ter
uma gravadora forte por trás, porque eu nunca fui afiliado a Sony, Universal e
que você acaba ganhando os grandes prêmios por estar trabalhando em gravadoras
ou em estúdios que são filiados à gravadoras que colocam investimentos
milionários no seu colo e que te dão aqueles mesmos prêmios, não menosprezando
certas pessoas que recebem, porque alguns são grandes amigos meus. Por isso que
os admiro, porque são grandes produtores e até bem melhores do que eu. Mas eu
me orgulho muito de ser um cara do underground, que acabou chegando aonde
chegou por conta do trabalho e não por dinheiro ou por influência.
RtM: Várias pessoas
talentosas, não ligadas a grandes gravadoras, em diversos segmentos da música,
e que realmente mereciam maior reconhecimento. TB:E isso acontece com as pessoas
que estão associadas a mim, que é o caso do Fernando, Fabrizio e o Juninho, que
tem uma produtora chamada Foggy, que trabalha em parceria com o “Fusão”, que é
a responsável pelos nossos vídeos; o Fusão é responsável pelos nosso aúdios.
Nós também temos a FxRender, que é do grande Alex Batista. Ele é um cara que é
responável pelos maiores clips de melhores qualidades que você tem no Brasil,
que infelizmente trabalha com artistas do calibre de Luan Santana, NxZero e
entre tantas bandas, mas são as bandas que tem mais dinheiro pra gastar em
vídeo e aúdio. E quando eles têm que escolher o melhor, eles escolhem o Alex,
que no fim das contas é um puta metaleiro, fã e amigo, que inclusive até sou
padrinho de casamento dele. Um cara que tenho o maior respeito, que também é
responsável pelo nosso trabalho.
RtM: E são contatos
que ajudam na hora de produzir um trabalho de qualidade, e aí as pessoas até
acham que houve muita grana envolvida.
TB:Tudo isso que eu falei até agora
não teve um investimento financeiro! A gente nunca teve que colocar dinheiro
nisso, o que a gente colocou foi trabalho. Todos os vídeos foram dirigidos por mim,
pelo Juninho e pelo Alex. Todos os discos e audios foram produzidos por mim com
a parceria do Quesada, tanto de audio e também na questão de bolar o estilo da
banda. E também temos o executive producer, o Franz Bedacht, que foi o cara que
sentou comigo e com o fuma e bolou a Noturnall. Ele é um cara que faz falta na
sua vida e que você sabe que precisa daquilo, mas que falta aquele brother que
fala: "Meu, cala a boca! Vamos fazer, meu! Faz assim que esse é o
caminho".O cara é um gringo,
alemão, que trabalha engravatado e pessoas da Globo, como "Bonners"
da vida, batem continência pra ele. E o cara, na verdade, é um puta metaleiro
maluco.
Estamos
muito felizes no momento que a gente está vivendo agora, porque é uma banda
que, sem dinheiro, conseguiu tudo o que conseguiu por intermédio da boa música
e das pessoas que perceberam essa música.
RtM: De certa forma então, grande parte do retorno já foi realizado.
TB: Finalizando essa resposta, o
nosso maior trunfo é o nosso público! É o que fez a gente chegar até aqui do
jeito que a gente chegou, de tantos views de vídeos, tantos discos vendidos...
Isso nada vale conforme quando você vê o nosso DVD, vê aquela receptividade e
de ver as pessoas cantando as nossas músicas. E vale dizer que, no DVD, você vê
as pessoas cantando a plenos pulmões que, até em momentos, não conseguia ouvir
minha voz e a voz da galera encobrir totalmente o meu microfone, e um disco que
tinha sido lançado há, pasme, cerca de um mês e meio. E as pessoas sabiam todas
as letras de todas as músicas, batiam palma nas partes que deviam bater palma.
Foi uma coisa meio que Iron Maiden, de um disco que tinha saído há menos de 2
meses. E pra mim aquilo foi um dos momentos mais importantes da minha carreira,
e que graças aos cosmos está devidamente documentado no DVD. Espero que vocês
assistam e curtam.
RtM: Para fechar esse ciclo de conversa sobre o álbum
de estreia do Noturnall, queria você falasse sobre a participação do vocalista
Russell Allen na faixa "Nocturnall Human Side", e da aproximação que
vocês tem com ele.
TB: Em algum momento, durante as nossas tours pelo mundo com o Shaman, nós
nos encontramos algumas vezes tocando junto com o Symphony X. E algumas vezes
nos pegamos horas assistindo o show deles e eles assistindo o nosso show. E no
último show, que se não me engano foi no Masters Of Rock, eu sai e estava o
Russell Allen assistindo o nosso show sentado na cadeirinha. E depois venho
aquela rasgação de seda e chupação de rola do tipo: "Porra, você é o cara!"; "É
mesmo, então vamos fazer um som juntos?"; "Claro! É só me chamar!" Ai depois
ele fez o show dele, ficamos assistindo como sempre, pois o cara é um dragão
que veio do centro da terra, com aquela voz que parece um vulcão. Depois do
show, tomamos um porre e marcamos um monte de coisa, com uma conversa bem de
bar. Só que eu, geminiano e mala que sou, não deixei isso morrer perdido em
meio a minha dor de cabeça, pois já tinha anotado no papel tudo o que eu tinha
dito com ele e que gostaria de fazer. E depois de alguns dias eu entrei em
contato com ele e falei: ‘E ai viado, vamos fazer aquela parada que a gente
falou?’ E ele realmente foi um cara do bem e estendeu a mão pra gente, pois ele
é um cara maior, não só de estatura, mas sim de um dos nomes mais importantes
do Heavy Metal do mundo. Ele estendeu a mão pra gente e falou: "Vocês merecem
toda a força do mundo e eu vou ajudar para o que precisar". Compomos a
“Noturnall Human Side” juntos, ele topou, achou animal e ele fez as partes
dele. E depois falamos:"Cara, vamos gravar um vídeo dessa música?"; "Vamos!
Vem pra cá que vamos gravar."
RtM: Que legal! E aí você partiram para a produção do vídeo, que foi parte filmado em Nova York?
TB: Fomos pra Nova York, gravamos num topo de um
prédio, que foi uma das coisas mais legais que fiz na minha vida, que se você
prestar atenção da pra ver que a vista é incrível, ainda mais em Nova York, que
é uma cidade icônica, e que resolvemos até dar uma de Woody Allen. Fizemos o
clip com que a cidade fosse o personagem tão forte quanto os personagens
envolvidos no vídeo. Contamos com a participação da Renata Diffley, que é uma
atriz brasileira, poucos sabem disso, mas ela já contracenou com varias atrizes
do mundo, como Angelina Jolie, Penélope Cruz e tudo mais. E depois entramos em
contato com o Antoine Verglas, que também é fotografo da Renata, da Angelina e
da Penélope, que inclusive participa no vídeo, também. Foi um momento de muita
descontração. Eu dirigi o vídeo nas partes de Estados Unidos e Nova York com o
Juninho.
RtM: E quem bolou o script da história que rola no vídeo?
TB: O script é meu também, junto com o Juninho. E a gente fez o clip de
uma forma que as pessoas entendessem que, tudo o que tem a ver com música,
sentisse o seu lado mais sombrio. E se, às vezes, você da uma chance pro seu
lado sombrio, você vai vê que na verdade é, de fato, um monstro. Só que às vezes
os monstros são feitos não só pra serem violentos, feios e agressivos, mas às
vezes você precisa ser um pouco monstro pra viver em meio a essa monstruosidade
que é o mundo. E isso faz de você uma pessoa mais forte e não, necessariamente,
você lutar contra a monstruosidade do mundo e que vai te proteger de tudo o que
tem de ruim ai fora. Pelo contrario, às vezes, se você deixar de ser monstro vai
fazer você perder no mundo.
Então isso tem muito a ver com que a gente fala na
música, a história que é contada, da menina que está em Nova York e passa por
tudo o que ela passou. E, talvez, a falta de agressividade te faz perder uma
coisa que você poderia ter ganhado se você tivesse um pouco mais de bola, por
assim dizer. E o Russell se identificou muito com isso, que acabamos
escrevendo a letra juntos. E a gente falou muito sobre essa questão que acabei de
dizer. E dentre isso nasceu, na verdade, a amizade que a gente tem até hoje e
que, às vezes, falamos isso pras pessoas e a pessoas não entendem que tipo: "Cala a boca! As coisas não são como você imagina! Se vocês entregarem a
monstruosidade do mundo você acaba virando um monstro".
RtM: Russel acabou entrando mesmo de cabeça no trabalho, além de se tornar um amigo!
TB: E a coisa só cresceu! Fizemos
o vídeo, ele tinha muitas criticas do ponto de vista do que a gente poderia
mudar nas músicas, que até eu falei: "Meu, produz essa porra! Para de encher
meu saco! Põem essa merda pra correr, então". Na parte dele, ele disse: ‘Quer
saber, cola ai que vou produzir, mesmo’. E produzimos o disco. Ele produziu junto com a gente as vozes, que
foi uma das coisas mais legais que já passei na minha vida, de poder trabalhar
com um gigante como ele e que fez muita diferença na minha voz. E de lá pra cá
começamos a trabalhar em tudo juntos! Depois fizemos, além do disco, algumas
turnês aqui no Brasil de 18 ou 19 datas de workshops, passando de Norte a Sul,
graças ao também Marcelo Moreira, baterista do Almah, que é um amigo meu de
longa data, e que também é um puta produtor, que fez milagre em trazer ele, e colocou a gente pra tocar em tudo quanto lugar. Ele me chamou pra abrir o show
até por conta da amizade, pro Russell se sentir mais a vontade, porque tratar com um
cara que você nunca viu na vida precisa de uma vaselina (risos). E foi assim que eu me senti no começo, mas
logo eu senti que realmente foi fundamental eu estar junto, porque fez as
pessoas entenderem que o talento e o trabalho brasileiro não estão, com certeza, tão longe do talento gringo, e isso também funcionou pra nos colocar mais
juntos enquanto pessoas.
RtM: E essa amizade seguiu rendendo frutos, inclusive com ele participando do DVD, não é?
TB: Passamos um mês juntos e todos os dias
tomando café, que de café passou pra porre da madrugada falando sobre tudo. E
ai degringolou e simplesmente nos tornamos irmãos! Falamo-nos praticamente
semanalmente, até que venho a ideia do DVD e falei: "Cara, vamos fazer um DVD.
Vamos aproveitar que você está aqui em São Paulo e fazer uma participação?" E
ele topou! E que em tom de brincadeira, ficaria muito puto se eu não o
chamasse. E no DVD ele simplesmente está em êxtase!
Ele simplesmente colocou o
coração dele na ponta do microfone e que não só fez participação em uma música,
ele fez mais duas participações espetaculares em duas músicas surpresas, que
tomara que as pessoas comprem o DVD pras pessoas poderem sacar o que estou falando.
E ele (Russel Allen) foi um show a parte! Foi um dos maiores momentos do show! E se ele não
tivesse feito o DVD naquela noite, eu nunca mais iria dormir em paz, porque
aquilo foi o ápice da minha carreira. E hoje em dia estamos falando de fazer outras
coisas juntos, que ainda não posso falar, porque não depende de mim, depende de
muitas pessoas. Mas já temos coisas muito importantes pra serem feitas em 2015.
No álbum também há uma releitura pra faixa
"Woman In Chains", do Tears For Fears. Vocês já haviam definido que
incluiriam uma versão ou cover no álbum? Como surgiu a ideia de fazer uma
versão dessa música especificamente?
TB: Há 13 anos atrás, eu tive um câncer no mediastino, que é a cavidade do
coração. Fui pego de surpresa, porque com 23 ou 24 anos de idade, a última coisa
que você descobre é que você é mortal. E foi exatamente o que aconteceu comigo. E
uma das coisas mais difíceis de passar por tudo aquilo foi a minha mãe. Eu, que
hoje em dia sou pai, não sei descrever o que minha mãe sentiu, porque se eu
tiver que passar alguma coisa dessas com o meu filho, obviamente eu vou passar
porque eu sou forte, mas a dificuldade daquilo eu não sei explicar como ela
conseguiu. E ela conseguiu! E isso é uma das coisas que me fez ter propósitos
porque, hoje em dia, eu percebi que pra você estar vivo e ser um cara feliz com
o que você faz, significa um propósito. Se você realmente quer estar vivo todos
os dias, de levantar da sua cama, seja com doença ou sem doença, você tem que
ter propósito, que é o que faz você seguir em frente, respirar e querer.
RtM: Verdade, sem objetivos não somos nada.
TB: E querer
respirar, precisa de propósito. Então, naquele momento, o meu proposito era que
eu sobrevivesse pra não matar minha mãe do coração, porque ela não sobreviveria
se eu morresse, que ela até deixou isso claro pra mim. Então eu prometi pra ela
que, depois de 13 anos, que é um número importante pra mim (não que eu seja o
parente do Zagallo, mas várias coisas da minha vida acontecem com o número 13),
ia fazer uma homenagem com alguma coisa que fizesse sentido pra mim. E também
prometi, naquela mesma época, que eu ia fazer algo por quem passou pelo que passei,
principalmente crianças que não tem nada a ver ou que não tiveram chance, ter o
que fazer nesse mundo que, às vezes, já chegam aqui enfrentando uma doença ou
um tipo de câncer. E uma terceira que seria sobreviver fazendo um disco que me
fizesse ter certeza de que, ai sim, eu pudesse morrer depois. A minha primeira
promessa eu tinha cumprido, que era gravar o “Leave Now”, com o Karma. É
um disco que eu fiz achando que fosse morrer, que se você ouvi-lo, vai perceber
que é totalmente sentimental, mas sem ser clichê. Mas é um disco que as pessoas
celebram hoje em dia, que até fico feliz das pessoas entenderem que acabou sendo
um disco meio ‘cult’, porque é um disco cultuado e porque as pessoas entenderam
o que elas queriam entender, mesmo. E
foi um disco que me ajudou a sobreviver, porque aquele disco me fez querer
viver. Então é um disco com uma sensação muito diferente quando você ouve.
RtM: Com a experiência que você teve, da doença, de se recuperar, você saiu mais forte, e, como você disse, aí você entende que é preciso ter propósitos, objetivos, realizar o máximo possível não é?
TB: Exato...e continuando...a segunda coisa, que infelizmente não havia achado um jeito de fazer, é fazer
alguma coisa pelas crianças que realmente ajudasse. E isso foi no DVD. Mas eu não quis cobrar a entrada do DVD, gostaria
que desse um jeito que o DVD se pagasse sozinho e que desse todos os ingressos,
das pessoas que apareceram no show, para as casas Holp, que é a casa das
crianças com câncer, retribuindo com alimentos, fraldas, brinquedos e que ia
fazer um bem tremendo. E para essas crianças a gente conseguiu sim fazer duas
toneladas de alimentos! Às vezes, você tem aquela mentalidade maldosa do ser
humano, que não vou dizer que nós mesmos não temos isso um pouco em mente do tipo: "Ah, mas é pra ajudar pra que o negócio lotasse.." Não vou dizer pra você que
isso não tinha a ver, mas tinha a ver também pra que as coisas ficasse mais
bonitas. Mas eu podia muito bem ter feito isso de graça, mas fazendo de forma
que fosse alimento, fralda e brinquedo. As pessoas acha que isso não existe,
mas quando você põe qualquer tipo de intervenção em uma coisa que é de graça e
uma coisa que você tem que fazer, o povo pensa duas vezes antes de fazer. E ai
já era um motivo que já não estava nem ai, eu queria realmente ajudar as
crianças e unir o útil e agradável, que é no caso da situação do show, que é
poder fazer alguma coisa pelas crianças com câncer. Fizemos até uma ação de
vídeo, que ainda não foi devidamente documentado, porque a gente ainda não
conseguiu achar uma data ideal. E também eles tem medo que a gente pegue isso e
use, porque tem muito artista que usa isso depois e fala: "Nossa, olha como a
gente é bonzinho". Então está rolando um papo ainda pra gente fazer isso sem
ter câmeras. RtM: E finalizando? Chegando ao porquê da escolha da "Woman in Chains"? TB: E o último é a questão da minha mãe, que era fazer alguma coisa em
homenagem a ela. Então essa homenagem acabou ficando para o dia das mães,com a música “Woman In Chains”, que é uma música muito importante pra mim e pra ela,
porque é uma banda que a gente gosta muito. E também da questão que é uma
música feita pra mulher, que até ouvi criticas na época do tipo: "Olha que
idiotas! Eles mal sabem que essa música é feita pro cara que batia na mulher".
Eu acho que, realmente, as pessoas são meio ingênuas achando que a gente não
faz nenhum tipo de pesquisa quando vamos fazer alguma coisa. E com certeza a
gente não só sabia e é um dos motivos pelo qual escolhemos essa música,
porque, como uma pessoa faz mal a uma criatura tão pura quanto uma mulher? E a
mulher, na sua situação mais pura, é na condição de mãe. Então a gente resolveu
fazer um clip em homenagem às mães, onde eu pudesse homenagear a minha mãe e que
desse esse presente pra ela e do pessoal da banda dar esse presente pra mães
deles. E quem assistir o clip (de "Woman in Chains"), raramente ficar indiferente, porque é um momento de puro amor e
emoção, que está totalmente evidente no vídeo. Fizemos tanta gente chorar, que até chamamos o clip de cebolão, porque todo mundo
quer sair chorando no clip (risos). E a gente se orgulha muito, porque a gente
conseguiu mostrar que as nossas mães são, realmente, as coisas mais puras que
existem nas nossas vidas na condição humana. Nada mais puro que as nossas mães!
O amor de mãe é incondicional, divino e puro. E esse foi mais um dos golaços da
banda, onde foi um dos momentos que a gente fez história não só com vendas,
porrada na orelha das pessoas, releituras e acho que esse é um dos momentos mais puros e
exclusivos que a banda apresentou pro público, que aumentou ainda mais o
carinho que eles tem com a gente, porque a gente não sabe só gritar e dar
porrada na orelha das pessoas, mas a gente tem humanidade por baixo
da pele..
RtM: Muitos músicos e pessoas do
meio são da opinião de que a música hoje é mais tratada como uma mercadoria do
que arte, e todo momento são lançados milhares de produtos descartáveis. Como
você vê o cenário da música hoje e o que dá para esperar do futuro? É difícil
trabalhar, estudar, investir e não conseguir viver da sua arte enquanto muitos
“sucessos” fabricados e estilos musicais duvidosos infestam o mercado. Temos
saudade dos anos 70 e 80 nesse aspecto (risos).
TB: Isso lembra um pouco do que a
gente falou no começo da entrevista, sobre a questão do cenário do Heavy Metal.
Eu realmente, e até mais uma vez eu falo, que quem me alertou pra isso foi o
Quesada. Foi a primeira pessoa que falou e que me abriu os olhos pra isso e que
concordo com ele até hoje. Eu nunca mais vou reclamar sobre isso, porque as pessoas
querem o que elas querem ter. Se você acha que está faltando alguma coisa, você
que levante a sua bunda da cadeira e faça alguma coisa pra que isso melhore. A
música atual, sim, é a pior fase desde que eu nasci. Eu não me lembro de uma
fase musical tão pífia, pobre e ridícula quanto esta que a gente está vivendo
agora. E isso, pra mim, é fato. Quando você liga o rádio não dá pra ouvir uma
música. Você começa a ficar meio preocupado, porque só os anos 80 é que
vão te salvar. Nem os anos 70 estão salvando mais, porque não é só de Led
Zeppelin que um roqueiro vive. As coisas estão complexas pra música, então eu
não sou um cara que fica ouvindo tudo por ai e fica falando: ‘Caralho, ainda
bem que apareceu essa banda’.
A última grande banda de Rock que
existiu foi o Audioslave, por volta de 2001, se não engano. E nós, que estamos
em 2014, o que apareceu depois dali que deu alegrias um pouco maiores? Ninguém
mais sabe os nomes dos guitarristas, baixistas, bateristas e vocalistas das
bandas, porque se eles não estão mascarados, eles realmente nem sabem em que
bandas eles estão, porque tem tantas bandas que não conseguem ficar unidos e de
chamar aquilo de sua própria casa. E não estou falando do Slipknot, eu estou
falando de muita gente mascarada mesmo, de bandas que usam máscara e não
conseguem identificar a sua própria música, que fazem aquilo por dinheiro e não
por marketing. Então eu poderia ficar muito bem nessa amarga de reclamar que
tudo é uma bosta, são tudo uns filhos da puta e não fazer nada a respeito. Mas,
hoje em dia, e foi a tônica dessa entrevista, eu me posiciono junto com aquelas
pessoas que realmente querem a mudança e que querem fazer alguma coisa pra que
elas mudem e pras que achem coisas novas porque, de repente, se até hoje não
apareceram coisas que prestem de uns tempos pra cá, quem sabe eu não fosse à
pessoa que levantasse o traseiro da cadeira pra que isso acontecesse.
RTM: Sim, e vocês buscaram essa mudança, sem medo, sem acomodação.
TB: Então, acho que você tem que
levantar e fazer a diferença! E eu sou desse tipo de turma. Se a resposta que
você estava procurando era essa, está uma merda mesmo, porque são poucas bandas
que me atraem e são poucas bandas que a gente ouve junto pra fazer música e
fala: "O que está rolando no mundo?" Pouquíssimas bandas respiram! O
Brasil está na pior fase de bandas que, realmente, não fazem coisas novas.
Existem sim aquelas bandas que conseguem respirar e que, até mesmo, os
dinossauros conseguem revigorar.Mas o
cenário é critico! Então o meu conselho pras pessoas que estão fazendo música,
e que querem fazer algo melhor pra si mesmo e para o mundo, é que continuem
buscando a diferença e não buscando serem mais parecidos com fulano ou ciclano.
Chega de banda cover, chega de gente querendo parecer com outra pessoa, porque
é uma coisa que não faz bem pro Brasil, falando enquanto brasileiro.
As pessoas tem que fazer música,
fazer uma química, juntar X com Y, ver o que acontece e que, de repente, você
aparece com uma novidade. Pode ser que,
de cara, você não faça todo mundo ir atrás de você, mas se você faz música pra
ter seguidor no Facebook, você também tem que parar de fazer música. Você tem que fazer música porque o seu
coração manda, porque você tem tesão em fazer, você fica de pau duro e gozar na
cara de todo mundo. Essa é a história de fazer música! Acho que tudo está muito
complexo, o computador se misturou muito ao ser humano, a Skynet está meio que
batendo a porta e daqui a pouco vai ter um monte de Exterminador do Futuro
saindo de dentro dos quartos. Neguinho quer que o Facebook, Instagram, Whatsapp
tomem conta da vida deles como se fossem tapar o buraco da vida delas. E não é
meu! O buraco está ai e você que tem que fazer esse buraco se transformar em
ouro, e não a porra da sua critica e do seu computador.
Então está foda sim, mas eu
gostaria que as pessoas se levantassem e fizessem coisas novas, e eu seria uma
das primeiras pessoas que estariam na frente, batendo palmas, agradecendo e
chamando pra fazer um som junto comigo. E é isso, eu sou essa pessoa bem
boazinha e cheia de ideias que vocês estão vendo (risos).
RtM: Você acredita que é possível
chegar a um patamar que poucas bandas brasileiras conseguiram, Angra e
Sepultura são os grandes expoentes, e ter um reconhecimento e oportunidade de
tours no exterior, participação em grandes festivais e contratos de
distribuição mundial?
TB: Isso é uma questão de
caminho, acho que isso não tem que ser o que você quer, porque isso tem que
acontecer. Eu acho que isso é uma coisa que está na sua agenda. Se você está
fazendo um negócio e está dando certo, e se a fonte é o seu coração e sua
vontade de fazer música é porque você gosta e se você está feliz fazendo
aquilo, o resto é um puro e simples rio correndo para o mar, que mais uma vez
eu te digo isso. Você vai fazendo as coisas e as coisas vão acontecendo pra
você, por exemplo: fãs, shows, contratos, você vai fortificando a sua banda e
você vai tendo ideias. O que você não pode é parar, porque, por exemplo, a
Noturnall, em um ano fez disco, DVD, LP, 5 clips, turnê extensa, turnê
europeia, bateu recordes, deu entrevista para grandes meios como a Globo, Uol e
pra tudo quanto é lugar.
Mas e o ano que vem? Está bom
isso? Não! Não está bom, porque o próprio jogo vai te corrompendo um pouco e
você vai ficando com mais vontade de ser beneficiado no jogo. E isso é bom que,
se não for uma coisa que roupe a sua vida e que te ajude a mover, é uma coisa
boa e você vai indo pra frente. Eu até uso as palavras no filme do ator Michael
Douglas, Wall Street, onde ele diz que ganância é uma coisa boa, desde que ela
não te corrompe. Ganância de crescer nessa carreira tem que existir, porque
você tem que botar comida no prato do seu filho, da sua esposa, você tem que
ter uma vida descente e conseguir ser feliz. E dinheiro, sim, traz felicidade.
Podem dizer que não e o que for, mas dinheiro te ajuda a ter uma vida doce e
com mais sorriso.
RtM: Entendo. Ganância no sentido
de ter gana de crescer e evoluir, sem ser uma coisa nociva aos outros!
TB: Mas nada disso importa se
você, por dentro, é preto e branco e vazio, que você ganha dinheiro em algo que
não faz bem pras pessoas e também pra si mesmo. Então o importante buscar na
sua carreira é ser feliz, o resto vem naturalmente. E, claro, planeje, faça!
Neste momento, estamos aqui em BH. Eu e o Quesada saímos do nosso conforto de
São Paulo pra vir aqui escolher o nosso Motor Home, que vai nos levar durante
essa tour brasileira. É claro que adoramos BH, mas não estamos aqui pra passar
um final de semana, mas sim porque foi o preço de acharmos um Motor Home pra
que a coisa acontecesse de uma forma que todo mundo conseguisse sair feliz, com
sorriso na cara e dinheiro no bolso, porque a gente faz isso por trabalho e não
só por diversão. Não temos mamãe e papai pra colocar comida no prato, mas a
gente tem público que põe comida no nosso prato. E é esse público que merece o
nosso melhor.
Sem o Carlos Fides, nosso
artista, não teríamos o êxito que a gente conseguiu, de colocar a mascote, que
é o Zumbi, na capa do disco e nas camisetas que a gente vendeu tanto esse ano.
E a gente colocou comida na boca de muitas famílias, porque a gente gerou renda
pra muitas fabricas de CD, DVD, camisetas e sei lá o que a gente gerou. Então
movimentamos uma economia fazendo o que a gente gosta. Ou seja, todo mundo sai
ganhando quando você realmente quer uma coisa que vai te deixar feliz, mas que
faça com que as pessoas trabalhem e estamos aqui, trazendo o nosso trabalho,
gerando trabalho.
RtM: Concluindo, que mensagem você daria a quem está iniciando e também lutando nesse meio?
TB: Minha mensagem pra esse
pessoal que quer fazer música, que quer ser alguém melhor e quer figurar no
nosso lado num festival, é que eles mereçam esse espaço. Esse é um espaço
concorrido, suado, fudido e sangrento se você quer figurar ali. E se você quer
estar ali, você tem que fazer por merecer que nem um gladiador. Você vai ter
que pegar a espada e matar um monte de cara pelo amor dos cosmos, no sentido da
palavra, porque às vezes você nem sabe com quem está falando, de tanto
psicopata que tem no mundo. E você está buscando o seu espaço, fazendo com que
o sangue escorra através do seu trabalho, do seu suor e sem passar por cima de
ninguém, mas fazendo com que pessoas consigam fazer dinheiro daquilo que gosta
e que consigam viver daquilo também.
Então o importante é que você
seja feliz, mas fazendo com que a roda gire. Se mais pessoas tivessem esse ponto
de vista e pensassem menos no seu inimigo e no que elas gostariam do que as
pessoas achassem delas, com certeza teria bandas bem importantes, com mais
expoentes e gente fazendo coisas mais importantes.
Se as pessoas
pensassem um pouco no coletivo, e um pouco menos em si próprias somente pra
poderem figurar nas grandes e falsas elites no Heavy Metal e no Rock,
estaríamos em uma condição bem melhor. Essa é a mensagem pra quem está a fim de
fazer música, mas pra quem também já faz música. E tira um pouquinho o pé no
acelerador financeiro e põe um pouquinho a mão na consciência pensando no
próximo porque, quem sabe, você vai fazer com que esse meio musical brasileiro
e mundial funcione melhor.
RtM: E pra terminar, quais são os
planos da Noturnall?
TB: A gente vai continuar o que
estamos fazendo, que é levar a boa música para o público. E que as pessoas
pensem mais no coletivo e menos em si própria pra fazer música nesse país.
RtM: Bom, muito obrigado pela
entrevista, desejamos que o Noturnall tenha muitas conquistas e represente
muito bem o Metal brasileiro! Fica o espaço para sua mensagem aos fãs, não só
do Brasil, pois esta entrevista estará disponível também em inglês!
TB: A minha mensagem eu já deixei
durante toda a entrevista! Então o mais importante é finalizar dizendo o
seguinte: por favor, prestem bem atenção antes de atravessar a rua, porque
mesmo que a rua seja mão única, pode estar vindo uma bicicleta do outro lado e
você ser atropelado do mesmo jeito (risos).
Entrevista: Gabriel Arruda/
colaborou: Carlos Garcia