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sexta-feira, 15 de agosto de 2025

TOSCO: Brutalidade e Consciência no Metal Nacional

Por Guilherme Freires

Banda da Baixada Santista, em São Paulo, lançou em 15 de fevereiro seu mais recente trabalho ao vivo, Facão Afiado – Ao Vivo em São Paulo, com 12 faixas registradas durante o festival Trash disConcert II, em setembro do ano passado, no Redstar Studios, na capital paulista. O evento contou também com a participação da banda Faces of Death. A produção e mixagem ficaram a cargo de Ivan Pellicciotti, do O Beco Estúdio (Curitiba/PR), enquanto a arte de capa foi assinada por Emerson Silva Maia.

Atualmente formada por Oswaldo Fernandes (vocal), Ricardo Lima (guitarra), Carlos Diaz (baixo) e o novo baterista Bruno Conrrado – também integrante seminal da banda Vulcano , o quarteto apresentou um setlist arregaçador, que capturou toda a fúria e visceralidade da banda no palco. O repertório passeia por três álbuns de estúdio lançados ao longo de quase uma década de carreira.

Com letras que atacam de frente as mazelas da sociedade, o grupo mantém sua sonoridade crua e combativa, entregando um trabalho técnico e intenso. A introdução avassaladora já prepara o terreno para um som brutal, com baixo encorpado, riffs pesados, solos cortantes e uma bateria marcada por pedais duplos e uso preciso do chimbal. O peso das letras e os discursos inflamados de Oswaldo, com seu vocal rasgado e furioso, refletem uma visão crítica e implacável sobre a podridão social e a corrupção política.

O álbum reúne faixas como “Mais Uma Vez”, “O Monstro”, “O Brasil é um Crime”, “Dois Psicopatas”, “Dia de Decisão” e “Lei do Silêncio”, além de destaques como as impactantes “Cala Boca Globo”, “Casa de Noia”, “Cenário de Chacina” e “João do Cão”. O registro encerra com um cover poderoso de “Guerreiros do Metal”, do Korzus, reafirmando a conexão com o legado do metal nacional e mantendo viva a tradição do Thrash Metal Hardcore brasileiro, forjada há mais de quatro décadas.

No momento, a banda busca parcerias para o lançamento físico do álbum e já trabalha em um novo projeto inédito.

Acompanhe a banda nas redes sociais:

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Sacrifix: Peso, Técnica e Paixão pelo Thrash Metal

Por Guilherme Freires

Fevereiro trouxe boas novidades para os fãs de bandas como Sodom, Megadeth, Destruction, Slayer e Exodus. A banda paulistana de Thrash Metal Sacrifix lançou, no dia 12 de fevereiro de 2025, seu mais novo EP, "Let's Trash", já disponível em todas as plataformas digitais como Spotify, YouTube e Deezer.

Formada por Frank Gasparotto (vocal e guitarra), Diego Domingos (guitarra), Filippe Tonini (baixo) e Fábio Moisés (bateria), a banda entrega neste novo trabalho toda a brutalidade visceral e a técnica do seu Thrash Metal "old school". Gravado ao vivo no Tori Studios, em Diadema/SP, o EP funciona como um prelúdio para o terceiro álbum da banda, previsto para o final de 2025. As faixas contam ainda com registros de ensaios no Armazém Studio e produção, mixagem e masterização assinadas por Marco Nunes. A arte de capa é de Emerson da Silva Maia, com contracapa e layout de Johnny Z.

O EP "Let's Trash" possui 6 faixas e foi lançado de forma independente.

A faixa-título, "Let's Trash", abre o EP com uma linha de baixo pesada e bem marcada por Filippe Tonini, acompanhada por levadas rápidas de bateria, com destaque para os pedais duplos e o uso do chimbal. Os riffs são agressivos e os solos de guitarra, impressionantes. A composição é coletiva e a letra presta uma verdadeira homenagem ao Thrash Metal clássico, contando ainda com a participação especial de Pedro Zupo (Livin Metal) nos vocais.

"Sacrifix" inicia com riffs pesados e bateria marcada no bumbo duplo, com um toque de cowbell por Fábio Moisés e um baixo consistente. O destaque vai para o vocal intenso e os solos de guitarra afiados.

"Raped Democracy" é uma faixa veloz e brutal, com riffs densos e uma base de bateria similar à da música anterior. O cowbell se destaca novamente, assim como o groove pesado do baixo e o solo de guitarra insano em escala. O vocal rasgado de Frank Gasparotto reforça a agressividade da música.

"Rotten" traz riffs intensos e solos furiosos das guitarras de Frank e Diego, com bateria bem marcada no pedal duplo e baixo poderoso. Os solos são um verdadeiro show à parte.

"Mundo Nojento", única faixa em português, vem com uma pegada brutal. Os solos de guitarra são bem elaborados, a bateria é veloz e técnica, e o vocal entrega a intensidade necessária. É uma faixa que mostra a banda confortável em sua língua nativa sem perder a essência do estilo.

Fechando o EP, temos novamente "Let's Trash", agora em versão ao vivo gravada durante o ensaio no Armazém Studio. A performance reafirma a potência e brutalidade da faixa com execução técnica e precisa.

"Let's Trash" apresenta uma sonoridade poderosa, capturando com fidelidade a energia da banda ao vivo, sem perdas na qualidade sonora. É um lançamento que mostra a força do Thrash Metal nacional e consolida o Sacrifix como uma das grandes apostas do estilo.

O EP já está disponível em todas as plataformas digitais.

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Cobertura de Show: Coroner – 30/03/2025 – Santo Rock Bar/SP

Domingo memorável para o ABC paulista, receber o Coroner em Santo André na turnê de 40 anos do trio suíço, numa noite muito agradável no Santo Rock Bar — lugar que vem se destacando por trazer alguns nomes que jamais imaginaria ver pelo ABC, como Accept e Tim "Ripper" Owens. Desta vez, de forma muito assertiva, escalaram Genocídio e Torture Squad para abrirem o show, algo que sempre frizamos aqui: a importância das bandas de abertura. Ambas fizeram uma excelente apresentação, com aparelhagem de primeira, mostraram sons novos, trouxeram merchandising, conversaram com o público, autografaram discos — tudo que aproxima o público da banda e do palco.

O Genocídio começou pontualmente às 18h00, com o público ainda chegando ao local. Completando 40 anos de Death Metal, sendo um patrimônio cultural da nossa cena, divulgaram o álbum mais recente, “Fort Conviction”, de 2024, já abrindo o set. Em seguida, tocaram “Aside” e, mais à frente, “The Sole Kingdom Of My Own”. Passando por fases do começo da carreira, fizeram uma apresentação com 10 sons muito honesto e com uma sólida formação, que conta com W. Perna (lenda do underground), Murillo Leite, Wellington Simões e o recém-chegado baterista Herbert Loureiro. Destaque para “Uproar” e “Countess Bathory”, do Venom, que estão no disco “Hoctaedrom”, de 1993, gravado e produzido pelo técnico de som do Sepultura no disco “Schizophrenia”.

O Torture Squad veio na sequência, após ser anunciado no Wacken Open Air 2025, na Alemanha. A banda não deixou a desejar e soltou um repertório totalmente focado na influência sobre o Coroner dos anos oitenta. Com uma formação muito bem estabilizada, com Castor (baixo) e Amílcar (bateria) - que dispensam comentários -, May Puertas nos vocais e Rene Simionato na guitarra, a banda iniciou os trabalhos com as pedradas “Murder of a God” e “Area 51”, seguida de “Buried Alive”, do último álbum “Devilish” (2023). Em seguida veio “Horror and Torture” e “The Unholy Spell”, fechando com “Chaos Corporation”. 

O baterista Amílcar aproveitou o momento e agradeceu, com muita felicidade, a oportunidade de estarem todos ali celebrando aquele encontro. May Puertas fez uma menção ao guitarrista Cristiano Fusco, falecido em janeiro deste ano, que foi um dos fundadores e gravou os três primeiros discos. Uma pena que os sidedrops de palco tiraram a visão da bateria, quem estava na pista assistindo pelas laterais não conseguiu ver absolutamente nada do que o Amílcar executava. No geral, a banda entregou tudo nesse show e está pronta para representar o Brasil na Europa.

Foi a vez do Coroner subir ao palco e aproveitar ao máximo a qualidade sonora. Nesta segunda visita ao Brasil, o trio suíço, composto por Ron Royce (vocal e baixo), Tommy Vetterli (também conhecido como Tommy T. Baron, ex-Kreator na guitarra) e Diego Rapacchietti (bateria), trouxe um repertório que se concentrou, em grande parte, nos álbuns mais recentes da banda. As músicas apresentadas eram mais cadenciadas, arrastadas e com afinações mais baixas, mas sem perder a técnica ou se distanciando do Thrash Metal mais visceral que os consagrou nos anos oitenta com álbuns como R.I.P. (1987), Punishment for Decadence (1988) e Mental Vortex (1991). Para encerrar a apresentação, tocaram “Masked Jackal”, “Reborn Through Hate” e “Die by My Hand”, além de “Purple Haze” (cover de Jimi Hendrix), tudo executado com maestria, destacando as linhas de baixo com vocais em contratempo e solos de guitarra muito bem posicionados.

Na minha opinião, se as músicas tivessem sido distribuídas de maneira mais equilibrada ao longo do repertório, isso poderia ter trazido mais harmonia para a discografia apresentada na noite, que contou com 14 faixas. Mas isso não diminui a classe e a energia da banda, que se manteve intensa do início ao fim. Foi um privilégio poder ver tudo aquilo ao vivo. É emocionante estar tão perto e perceber que eles ainda têm muita disposição para continuar levando seu legado após mais de quarenta anos.

Por último, gostaria de destacar a Dark Dimensions, que trouxe o único show do Coroner no Brasil este ano. Também quero parabenizar a casa pelo excelente atendimento ao público e às bandas, além da qualidade do som e da iluminação do palco, que foram perfeitas para as apresentações, sempre respeitando os horários.


Texto: Roberto "Bertz"

Fotos: Johnny Z (Metal na Lata, JZ Press)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Dark Dimensions

Press: JZ Press


Torture Squad - setlist: 

Murder of a God

Area 51

Buried Alive

Horror and Torture

The Unholy Spell

Pull the Trigger

Raise Your Horns

Chaos Corporation


Coroner - setlist:

Golden Cashmere Sleeper, Part 1

Internal Conflicts

Divine Step (Conspectu Mortis)

Serpent Moves

Sacrificial Lamb

Semtex Revolution

Tunnel of Pain

Status: Still Thinking

Metamorphosis

Masked Jackal

Grin (Nails Hurt)

Bis

Purple Haze (The Jimi Hendrix Experience cover)

Reborn Through Hate

Die by My Hand

sábado, 22 de março de 2025

Cobertura de Show: Gutalax – 13/03/2025 – Hangar 110/SP

Depois de quase um ano esperando, os checos do Gutalax finalmente pisaram em solo brasileiro, trazendo seu goregrind repleto de humor ácido e um toque de podridão. O Hangar 110 serviu como cenário para essa experiência de extremo bom gosto, contando com as bandas de abertura Red N’ Hell, representando o Death Metal old school de São Paulo, e os veteranos do underground brasileiro, Imminent Attack, que fizeram seu retorno com um rápido set de crossover após cinco anos de hiato.

Os shows começaram pontualmente às 19h30, com a Red N’ Hell esbanjando seu Death Metal cavernoso, que manteve os espectadores animados, ainda que com algumas rodas de mosh-pit. O som da banda revelava claramente as influências de grupos clássicos como Pungent Stench, Sinister e Asphyx.

A seguir, o Imminent Attack subiu ao palco com um set curto, porém muito enérgico, e o público, já aquecido, comprovou que o corcovar continua bem vivo tanto no underground quanto fora dele no Brasil.

Chegou o momento dos verdadeiros protagonistas da festa. Desde 2010, o Gutalax vem se destacando no cenário goregrind. Embora este gênero aborde temas relacionados ao gore, mutilações e violência, a banda preferiu explorar um viés mais escatológico. Suas canções costumam trazer humor com piadas sobre fezes e referências à cultura pop, como na música "Robocock", que faz uma clara alusão ao clássico filme de ação dos anos 80, RoboCop. Uma curiosidade interessante é que Gutalax também é o nome de um laxante. Para apreciar o show, os fãs se vestiram à caráter com roupas de laboratório, bexigas, vários rolos de papel higiênico e até frangos de borracha, lançados ao acaso quando a banda subiu ao palco do Hangar 110, deixando o público em frenesi.

Com a estreia do icônico filme Ghostbusters, o Gutalax subiu ao palco do Hangar 110 para apresentar sua primeira canção, “Assmeralda”. A partir daí, o caos se instaurou: uma verdadeira hecatombe de objetos voadores, rolos de papel higiênico e pessoas invadindo o palco, enquanto o público se tornava a verdadeira atração da noite, surpreendendo a banda com tanta energia descontrolada.

A confusão tomou conta de toda a apresentação do Gutalax, e diversos convidados especiais se juntaram a eles no palco, como Thiago Monstrinho (da banda Worst) em "Shitbusters", e Fernanda Mattielo (uma fã sortuda que teve a chance de cantar ao vivo com eles) na citada"Robocock", além de uma infinidade de bonecos excêntricos.

Ao final do show, o Gutalax expressou sua gratidão pelo carinho dos fãs e a dedicação de todos que estavam presentes. O evento esgotou os ingressos meses antes da data marcada. Agora, resta saber se o Brasil está preparado para o próximo ataque flatulento dos nossos amigos inusitados.



Fotos: Lara Zugaib (Lado Direito do Palco)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 




Red N' Hell – setlist: 

UFO

Colony Death

A Corpse Putrified

Slaughter

Killing Again

Reborn to Kill


Imminent Attack – setlist: 

Secret of Skin

Rush of Violence

Couch Potato

Saint Madness

Jesus S.A.

Palhaço da Mídia

Massacre

Nova Constituição

Vidas

Abductors

Splact

Defyning Gods

Devils

Elliot


Gutalax – setlist: 

Asswolf

Assmeralda

Nosím místo ponožky kousek svojí předkožky

Shit of It All

Buttman

Šoustání prdele za slunné neděle

Robocock

Kocourek Mourek podráždil si šourek

Diarrhero

Vaginapocalypse

Polykání semena z postaršího jelena

Fart and Furious

Total Rectal

Vykouření dařbujána vietnamského veterána

Shitbusters

Strejda Donald

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Siegrid Ingrid : Um Legado de Brutalidade no Live Álbum "Massacre em Lorena" (2024)

Por Guilherme Freires

Gravadora: Independente

A lendária banda de Death e Thrash Metal do nacional Siegred Ingrid, atualmente formada por Mauro Punk (vocal), André Gubber (guitarra), Luiz Berenguer (baixo) e Rômulo “Minduim” (bateria) nos brindou no dia 13 de dezembro de 2024 com o lançamento de seu mais recente álbum ao vivo, intitulado "Massacre in Lorena".

Seu último álbum de estúdio, “Back From Hell”, foi disponibilizado em 5 de novembro de 2023, após um intervalo de mais de 24 anos desde o notável “The Corpse Falls”, lançado em 1999.

“Massacre em Lorena”, que saiu sob um selo independente, foi gravado ao vivo no Ferrovia Estúdio na cidade de Lorena (SP), no dia 14 de novembro de 2024, durante uma turnê pelo interior de São Paulo e Minas Gerais junto com a renomada banda Nervochaos. 

O projeto teve produção, masterização e mixagem a cargo de Martin Pent, com a arte da capa criada por Artur Fontenelle. O álbum contém 11 faixas que fazem uma fusão dos dois discos da trajetória da banda.

A faixa "Murder", que inicia o álbum "The Corpse Falls" (1999), arranca com uma energia avassaladora, impulsionada pelos pedais duplos da bateria de Rômulo. Os vocais intensos de Mauro Punk e os riffs agressivos da guitarra de André Gubber se destacam. A canção é brutal e pesada, recheada de momentos acelerados.

Em "Nojo", as linhas de bateria mantêm a mesma cadência rápida dos pedais duplos. O chinbal se sobressai, enquanto o baixo forte e marcante se combina com riffs robustos e solos de guitarra, tudo isso acompanhado pelo impressionante vocal rasgado de Marcelo Punk.

A faixa "Force" apresenta uma introdução mais lenta, mas em certos trechos explode em uma intensidade ardente. Destacam-se o groove poderoso e incrível do baixo de Luiz Berenguer, além das pentatônicas e solos guitarreados.

Por outro lado, “Never Again” possui solos de guitarra que são meticulosamente elaborados, criando um contraste com a fúria e a brutalidade da bateria, junto ao peso do baixo.

A música "The Falsity is True” apresenta um excelente trabalho de bateria, especialmente nas viradas e no pedal duplo, complementado por riffs pesados e solos de guitarra marcantes.

“Templo dos Vermes”, do álbum mais recente, “Back From Hell”, traz uma cadência envolvente, com linhas de guitarra e bateria bem elaboradas

“Drásticas Consequências” inicia de forma explosiva, com um solo de guitarra impressionante, ressaltando a brutalidade da bateria, riffs poderosos e solos insanos em escala.

“Demência” se destaca por um interlúdio ágil e uma sonoridade intensa e visceral, com ênfase na bateria, riffs agressivos de guitarra e um gutural de grande impacto.

A faixa “Enéias” faz referência ao falecido político brasileiro Enéias Carneiro (1938 - 2007) do Partido Liberal (PL). A canção é bastante veloz, com uma bateria poderosa e um gutural intenso, trazendo à tona o famoso bordão do político: “Meu nome é Enéias”.

"Suicide" finaliza o álbum com excelência e intensidade, apresentando solos alucinantes de guitarra, vocais intensos, um baixo extremamente pesado e uma bateria avassaladora.

A icônica banda Siegred Ingrid traz à tona o ápice de seu legado no Thrash e Death Metal, executado com perfeição neste álbum ao vivo repleto de brutalidade. Recomendo fortemente para aqueles que apreciam uma boa dose de agressividade musical. O disco está acessível em todas as plataformas digitais, como Spotify, YouTube e Deezer.


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Press: JZ Press

sábado, 12 de outubro de 2024

Cobertura de Show: Destruction – 06/10/2024 – Carioca Club/SP

No dia 6 de outubro, a capital paulista recebeu a tão aguardada apresentação da lendária banda alemã de Thrash Metal Destruction, em uma noite que celebrou seus 40 anos de carreira. A expectativa era alta, especialmente com a presença do Sextrash, um ícone da cena nacional, que infelizmente não pôde se apresentar nem em São Paulo e nem em Belo Horizonte.

A coincidência das eleições no domingo trouxe um clima caótico à cidade, e a proximidade do show da banda Lucifer acabou dividindo a atenção dos fãs de Heavy Metal. No entanto, em uma reviravolta de última hora, os paulistanos do Válvera assumiram a abertura do evento, oferecendo um set curto, mas energético, que levantou o público e preparou o terreno para o espetáculo principal, com direito a moshes tímidos e uma atmosfera de grande expectativa.

Formada por Glauber Barreto (vocal e guitarra), Rodrigo Torres (guitarra), Gabriel Prado (baixo) e Leandro Peixoto (bateria), a banda - que mistura vários gêneros do metal - soube escolher perfeitamente as músicas do setlist, com canções dos álbuns “Cycle of Disaster” (2020) e “Back to Hell” (2017), e trazendo ainda uma música nova que fará parte de seu próximo álbum. Com toda a certeza o Válvera saiu dali com novos fãs.


Válvera - Setlist

The Skies Are Falling

Bringer of Evil

The Damn Colony

Reckoning Has Begun

Nothing Left to Burn

Demons of War


Previsto para subir ao palco às 20h15 (antes de sabermos da apresentação do Válvera), o Destruction iniciou sua performance às 20h35. Embora a casa não estivesse lotada, estava quase cheia, e a atmosfera prometia uma noite memorável. Ao som de “Curse the Gods”, a energia no ar era palpável, como se o local pudesse desabar a qualquer momento. Um mosh pit se formou bem no meio da pista - e permaneceu ali até o fim do show -, enquanto os fãs se uniam em gritos de ‘hey, hey’, sinalizando que aquela seria uma apresentação inesquecível.

“Invincible Force” deu sequência ao set, e em “Nailed to the Cross” o som do público parecia ser até mais alto do que a própria banda.

A seguir, o vocalista e baixista Schmier saudou o público, compartilhando seu amor pelo Brasil.  Revelando a conexão especial que a banda tem com São Paulo, ele anunciou que na noite estava sendo gravado o próximo clipe da banda, o que foi outra decisão em cima da hora. Schmier também comentou que a próxima música, "Mad Butcher", tinha um significado especial para ele, pois foi o primeiro riff que escreveu. Esse anúncio fez com que a roda de mosh se intensificasse ainda mais, refletindo a empolgação do público e a importância daquela noite na trajetória da banda.

“Life Without Sense” e “Release from Agony” mantiveram a energia. A banda puxou um coro de “We’re Destruction! We’re Destruction”, que o público prontamente atendeu e, Schmier, avisou que a próxima música será o videoclipe, a ótima “Armageddonizer”, do álbum Day of Reckoning de 2011.

“Total Desaster” e um solo de guitarra, que iniciou com Damir Eskic, mas que teve a participação de Martín Fúria também, foram bem recebidas, assim como “Eternal Ban” que veio na sequência.

O último single da banda, “No Kings No Masters”, foi anunciado por Schmier com os dois dedos do meio levantados e como uma dedicatória a todos os políticos.

Antes do encerramento da primeira parte do set, a banda “voltou no tempo” - como disse o vocalista -, com “Antichrist” e “Death Trap”, ambas do álbum Infernal Overkill de 1985.

Com uma breve pausa, a banda voltou com “Diabolical”, faixa do álbum de mesmo nome de 2022. A faixa instrumental “Thrash Attack” foi bem recebida pelos fãs, que apesar de não terem o que cantar, não deixaram de agitar, ou de tornar a roda ainda maior.

Schmier mencionou que faltava uma música muito conhecida e, foi subitamente interrompido por um fã que subiu no palco. Em uma interação de poucos segundos, ele contou ao gigante alemão que um grande fã da banda conhecido como “Big Hands” faleceu algum tempo antes. Schmier, apesar de parecer levemente nervoso, dedicou a fantástica “Bestial Invasion” a ele.

O hino “Thrash ‘Til Death” encerrou essa noite, que foi energia pura e realmente uma grande celebração dos 40 anos de carreira do Destruction. Com dezenas de passagens no Brasil ao longo dos anos, a recepção calorosa do público com certeza fará com que tenhamos muitos e muitos shows da banda por aqui.


Texto: Jessica Valentim 

Fotos: Gabriel Gonçalves (Sonoridade Underground)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Estética Torta 

Mídia Press: Lex Metalis Assessoria 


Destruction - Setlist

Curse the Gods

Invincible Force

Nailed to the Cross

Mad Butcher

Life Without Sense

Release From Agony

Armageddonizer

Total Desaster

Solo de guitarra

Eternal Ban

No Kings, No Masters

Antichrist

Death Trap

Bis

Diabolical

Thrash Attack

Bestial Invasion

Thrash ‘Til Death

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Choque: Lendas urbanas com um toque de Thrash/Groove

Por: Renato Sanson

Músico entrevistado: Mazera (guitarra)

São apenas dois anos de existência, mas com músicos experientes. Como foi formar o Choque?

Formar bandas nos anos 2000 era muito mais fácil, bastava abrir uma cerveja em um boteco, escolher uns covers e os ensaios começavam em uma semana, mas um trampo deste, autoral e com idéias concretas de riffs e musicalidade definida, é muito difícil, mas o começo foi em Dezembro de 2022 após o Knotfest em SP, eu (Mazera) e Alex Cole nos desafiamos em fazer um som. 

Então, em Janeiro de 2023 fiz 9 músicas, com riffs, bateria e baixo, entre elas “Terra do não”, “Funcionários da noite” e “Dr. Cuzão” que estarão no primeiro álbum, Alex gravou 8 demos (vocais) em 2023, devido a problemas pessoais ele deixou o vocal, mas aqui vai meu agradecimento ao Alex, pois foi ele que me apresentou “apenas” Black Sabbath, Stevie Ray Vaughan e Pantera, minhas maiores influencias. Seguindo em frente, ano é 2024 faço contato com o Rafael, acompanhava os trabalhos dele na 100Dogmas e Fractal, pensei, este vocal vai “fechar” com este som, e esta sendo “do caralho” , talentoso e brother daqueles! 


Houve uma coesão imediata. Isso sempre rende frutos.

Sim, parece que nos conhecemos há décadas, já mandou ver no vocal! E no baixo, tentei uns 5 “cabras”, por vários motivos ninguém queria, até que, surge o Adriano, baita guitarra aqui da cidade, e tatuador renomado no Brasil, topou assumir os graves do projeto, bateria temos alguns contatos, mas não temos baterista oficialmente, quem revisa a bateria nas músicas é Erik Corrêa.


A ideia lírica de trazer lendas urbanas, mesclada com temas ásperos em volta de protestos, casa muito bem a sonoridade. Como é buscar essas influencias?

Então, a resposta disso estava do meu lado, no meu passado e estará no futuro nosso, falar da cultura local, de coisas peculiares, às vezes engraçadas, outras obscuras fechou com a musicalidade do nosso som, e sinto muito orgulho em falar disso em português bem claro, letras com palavrões de desabafo, extravasar a raiva em letras é bom “pra caralho”, quem nunca mandou um “foda se”? 

E mandar isso cantando é 1000 vezes mais gostoso! Teremos muito disso nas próximas.

Musicalmente, temos a vertente do Thrash/Groove. Podendo dizer sem medo, uma mistura entre Pantera e Raimundos. Essa era a ideia mesmo?

Incluiria Black Sabbath junto, foi minha primeira banda tributo, Raimundos me despertou as letras em PT com riffs viscerais e o Pantera foi aquele terremoto de magnitude 10 na meu play, Dimebag foi um absurdo na história do metal!


Até o momento, a banda lançou alguns singles para o publico ir se familiarizando. Conte-nos um pouco de cada faixa.

“Terra do não” fala da nossa jornada terrena, recebendo muito mais “não” do que sim em nossas vidas, iguais andarilhos, sem lar e portas fechadas em uma sociedade hipócrita.

“Cobrador de contas”, essa daria um livro, mas basicamente é dedicada aos “maus pagadores”, onde acham que se deram bem dando calote no seu compromisso, mas o cobrador de contas irá atrás de você, onde aproveitando o ensejo, entra na história um cobrador de contas famoso aqui da região nos aos 70 e 80.

“Nego da beira”, dedicada à comunidade da “Beira” que margeava o Rio Itajai-açu, na cidade de Rio do Sul nos anos 1940 até a década de 1980, mistura de realidade e ficção, onde uma criança negra cresce em um ambiente de extrema opressão racial e social.

“Revolução” fala de um mundo atual (outubro 2024), esta letra foi escrita em 2023.

O Debut está em fase de gravação. Já é possível esmerar uma possível data de lançamento?

Se tudo conspirar a favor, lançaremos em dezembro o Álbum com 8 ou 9 músicas.

O mesmo saíra em formato físico ou somente digital? Pergunto, pois sabemos das dificuldades do lançamento físico atualmente, mas é inegável uma crescente pela procura dos materiais físicos. Parece que o digital vem perdendo a graça e falta algo mais sério para consumir música. O que vocês pensam a respeito?

Já tirei música do vinil no final dos anos 90, seria muito “da hora” fazer um vinil, mas, o compact disc esta nos meus planos, com encarte e fotos (nostalgia total)!

Finalizando, gostaria que nos listassem os cinco álbuns que mais influenciaram a criação do Choque. Nos vemos em algum show por aí!

Agradecemos o espaço e interesse! Segue a lista de influências do CHOQUE:

1.       Pantera - Cowboys From Hell

2.       Pantera – Vulgar Display...

3.       Black Sabbath – Paranoid

4.       Raimundos – Lapadas do Povo

5.       Dio – Holy Diver

 

 Choque Instagram 




quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Cobertura de Show: Sepultura – 08/09/2024 – Espaço Unimed/SP

Celebrating Life Through Death, que em tradução livre significa Celebrando a Vida Diante da Morte, marca o final da trajetória da maior banda de Heavy Metal do Brasil de todos os tempos, o Sepultura. Anunciada no final do ano passado e iniciada em março deste ano, a turnê vai além uma mera celebração à vida, como sugere o nome, mas também uma homenagem a um legado de quatro décadas. Para selar o sucesso dessa primeira fase, prevista para terminar em 2025, a banda atraiu milhares de fãs em uma sequência de shows realizados nos dias 6, 7 e 8 de setembro no Espaço Unimed, localizado no bairro da Barra Funda, em São Paulo, com os ingressos esgotados.

A Road To Metal marcou presença no domingo, 08 de setembro. O tempo ensolarado, mas nada quente, motivou algumas pessoas a deixarem suas casas mais cedo e aguardarem em uma fila reduzida até a abertura dos portões, abertas meia hora antes do programado. O ressinto começou a ficar cheio próximo do início do show do Sepultura, mas já havia um público expressivo para o show do Black Pantera, iniciado pontualmente às 18h30, antes de seus compatriotas subirem ao palco.

Formado pelos irmãos Charles (guitarra e vocal) e Chaene Gama (baixo e vocal), juntamente com o baterista Rodrigo “Pancho” Augusto e há dez anos na estrada, a banda vem ganhando forte notoriedade e ascensão dentro da cena. Conhecido pela mistura de Punk, Metal, Hardcore e letras que abordam temas como racismo e descriminação social, o trio tratou de esquentar bem os motores com um show visceral. O set trouxe os principais momentos do seu novo álbum Perpétuo, lançado em maio desse ano, com "Provérbios", "Mahoraga" e "Sem Anistia". 

A melódica “Tradução”, interpretada por Chaene, foi um dos principais destaques, onde a maioria ascendeu as luzes dos celulares a pedido do baixista, que diferente do seu irmão, apresenta uma voz mais sublime de cantar. Antes de apresentá-la, ele comentou que escreveu essa canção em homenagem à sua mãe, dona Guiomar, que enfrentou muitas dificuldades devido ao racismo e que, aos 60 anos, ainda não se aposentou.

Quem já teve a oportunidade de ver a banda ao vivo, sabe muito bem o quanto os três são recíprocos com os fãs. Charles, e os outros dois membros, sempre interagia agradecendo, incentivando abrir (sem dó) os tradicionais circles pits e relembrando os tempos que faziam covers do Sepultura, demonstrando felicidade de estarem fazendo abertura para uma das “maiores bandas do mundo”. Cada pedido era prontamente atendido, exemplo disso foi na hora de “Fogo nos Racistas”, onde ‘front-man’ Charles solicitou que todos se agachassem e que levantassem somente na hora refrão. A música se tornou um clássico da atual década, que até quem não sabia direito a letra, cantou junto com a banda. 

Do álbum Ascensão (2022), a qual rendeu participações em festivais como Rock In Rio, Lollapalooza, Knotfest e shows no exterior, extraíram a apelativa “Padrão é o Caralho”, “Mosha” e “Revolução é Caos”, antecedida pelo solo de baixo de “Anesthesia”, composto e imortalizado pelo saudoso Cliff Burton do Metallica. “Boto pra Fuder”, como o próprio nome diz, encerrou o incrível show dos mineiros de Uberaba botando pra fuder.  

Igual os dois dias anteriores, o show de domingo também teve um pequeno atraso, mas que logo foi perdoado quando “War Pigs”, do Black Sabbath, e “Policia”, dos Titãs, surgiram no sistema de PA do Espaço Unimed por volta das 20h10. Derrick Green (vocal), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Xisto Jr. (baixo) e Greyson Nekrutman (bateria) iniciaram o show de forma arrasadora com “Refuse/Resist”, “Territory” e “Slave New World”, sequência inicial do álbum Chaos A.D. (1994). Desde a primeira música, o Espaço Unimed se transformou em um magnifico caos, com a maioria dos fãs erguendo os punhos e cantando o refrão em uníssono, onde Derrick permitia que as oito mil pessoas cantassem Resist depois do seu Refuse. Em “Territory”, os olhares se voltaram para o jovem Greyson, que conquistou rapidamente os fãs da banda ao executar uma das viradas mais icônicas da história do Metal mundial em perfeita intensidade.

A groovada "Phantom Self" trouxe a lembrança do Machine Messiah (2017) antes de sermos transportados para o ano de 1996. Após as amáveis palavras de agradecimento de Derrick, com seu jeito peculiar de falar português, a banda relembrou os principais momentos do Roots, álbum revolucionário que traz toda influência de música de brasileira, começando pela pouco lembrada "Dusted", que não era executada ao vivo há bastante tempo. "Attitude" proporcionou uma envolvência impressionante com a iluminação toda vermelha durante as linhas capoeiristicas e a imagem de um indígena nos telões de LED. "Breed Apart", grande surpresa do setlist e substituída por "Cut-Throat", que havia sido tocada na noite anterior, extremeceu o bairro da Barra Funda com o peso das guitarras do Andreas, que comparado as outras que eu o vi ao vivo, estava absurdamente alta.

Após esse breve momento de nostalgia, que voltaria mais para o final, foi a hora de fazer um grande passeio pela fase Derrick. “Kairos”, do álbum homônimo e uma das mais icônicas dos seus 40 anos de carreira, é sempre presença garantida no setlist, bradada com muitos aplausos e coros, especialmente durante o refrão. Antes de “Means to an End”, que foi dedicada aos fãs, Andreas deu as suas primeiras palavras na noite, agradecendo todos os fãs, as bandas de abertura e a toda a equipe envolvida na turnê, ressaltando que a cena do Heavy Metal é a mais “verdadeira do planeta”.

Mantida também na apresentação de domingo, “Sepulnation” elevou o nível da galera, que vibrou intensamente até a vez da envolvente “Guardians Of Earth”, presente no último disco “Quadra” (2020). “Mind War”, “False” e “Choke” finalizaram essa maratona de forma ligeira. Foi muito legal ver o entusiasmo de todos nessas três últimas, o que prova que há muita coisa boa pós fase Max Cavalera. O que desagradou durante esse momento foi alguns sem noção ascendendo cigarros de maconha, mas a equipe de segurança se mostrou rápida e imediatamente solicitou que apagassem para não causar nenhum tipo de transtorno.

“Escape to the Void”, resgatada do álbum Schizophrenia (1987), presentou os fãs mais ‘old school’ e preparou terreno para muitas “veiarias”, como destacou Andreas. Foi também a introdução a um dos momentos mais marcantes da noite e de toda a turnê com “Kaiowas”, onde a banda permite que alguns fãs, escolhidos pelo Antonio “Novato” Marques, da página Lado Direito do Palco, participem tocando percussão. Na ocasião desse show, e dos outros dois anteriores, músicos conhecidos da cena comandaram os batuques. O pessoal do Black Pantera, Desalmado, crew e a vocalista Karina Menasce, do Allen Key, foram os que fizeram participação no show de domingo. 

“Dead Embryonic Cells” e “Biotech Is Godzila” trouxe mais agressividade para o restante da apresentação, reativando os circles e mosh pits após épica “Agony of Defeat”. “Orgasmatron” (cover do Motörhead), “Troops Of Doom”, “Inner Self “e “Arise” também contribuíram para tal intensidade antes de partir para o bis com as manjadas “Ratamahatta” e “Roots Bloody Roots”, que encerraram o quase final de domingo de forma matadora. Mesmo sendo muito popular, é impossível não se empolgar com “Root Of Bloody Roots” ao vivo, criando uma atmosfera única que nos faz pular após o famoso anúncio “Sepultura do Brasil! 1, 2, 3 VAI”.


Aqueles que tiveram a chance de assistir ao Sepultura ao vivo, mesmo que apenas uma vez, sabe que a banda sempre entrega performances incríveis, e os shows dessa turnê não são exceção. A cada música, a banda era ovacionada, evidenciando a conexão entre os fãs antigos e os mais novos. É difícil aceitar que talvez essa seja a última vez que estaremos vendo a maior de Metal do Brasil de todos os tempos ao vivo pela última vez, mas prefiro encarar isso como um indicativo de grandes novidades para o futuro (muitos vão entender o que eu quero dizer). Se realmente estamos diante do desfecho dessa jornada de 40 anos, só nos resta agradecer por tudo que essa banda proporcionou não apenas ao Brasil, mas ao mundo todo.


Texto: Gabriel Arruda

Fotos: Roberto Sant'Anna

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: 30ebr

Mídia Press: Trovoa Comunicação


Black Pantera

Provérbios

Padrão é o Caralho

Mahoraga

Sem Anistia

Perpétuo

Fogo nos Racistas

Tradução

Mosha

Revolução é o Caos

Boto pra Fuder


Sepultura

Refuse/Resist

Territory

Slave New World

Phantom Self

Dusted

Attitude

Breed Apart

Kairos

Means to an End

Sepulnation

Guardians of Earth

Mind War

False

Choke

Escape to the Void

Kaiowas

Dead Embryonic Cells

Biotech Is Godzilla

Agony of Defeat

Orgasmatron (Motörhead cover) 

Troops of Doom

Inner Self

Arise

***Encore***

Ratamahatta

Roots Bloody Roots

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Cobertura de Show: Discharge – 21/06/2024 – Carioca Club/SP

Noite Insana no Carioca Club: Show Inesquecível com Discharge, Midnight e Havok

No dia 21 de junho, o Carioca Club, em São Paulo, foi palco de um dos shows mais aguardados pelos amantes do som extremo underground. O evento reuniu os ingleses do Discharge, lenda do hardcore punk; os americanos do Midnight, com seu Black/Speed Metal; e o Havok, banda de thrash metal, além da banda de abertura de death crust Manger Cadavre?.

A noite começou com a banda Manger Cadavre?, do interior de São Paulo, divulgando seu álbum “Imperialismo”. Apesar do público ainda estar chegando, a vocalista Nata de Lima e sua banda conseguiram entregar uma performance energética, com letras provocativas que ecoaram pela casa, deixando uma forte impressão nos presentes. A presença de palco da banda foi marcante, com Nata de Lima cativando o público com sua energia feroz, garantindo que cada nota fosse sentida intensamente por todos que tiveram o privilégio de assistir ao início desta noite de caos sonoro.

Com o público já aquecido, foi a vez da banda Havok subir ao palco. Abrindo com "Point of no Return", a banda de thrash metal levou a plateia à loucura. Hits como “Fear Campaign” e “Intention to Deceive” fizeram o Carioca Club tremer, enquanto a energia da banda e a reação dos fãs culminaram em um show memorável. David Sanchez, vocalista da Havok, comandou a noite com maestria, apresentando também faixas como “Phantom Force” e “Give me Liberty”, deixando os headbangers e punks exaustos e extasiados. O poder dos riffs e a intensidade das letras fizeram de cada música um momento único, transformando o Carioca Club em um verdadeiro reduto do thrash metal.

O grande momento da noite chegou com a entrada dos americanos do Midnight, antecipando seu show em dez minutos. Com a casa cheia, a banda encapuzada iniciou com “Black Rock’n’Roll”, uma mistura feroz de Venom e Motörhead, executada brilhantemente pelo vocalista Athernar. A sequência de músicas como “Lust Filth and Sleaze” e “Endless Slut” manteve a energia lá em cima. O setlist contou com faixas de diversos álbuns, incluindo “Fucking Speed and Darkness” do álbum Rebirth by Blasphemy, e clássicos como “Evil Like a Knife” e “Satanic Royalty”, fazendo o público delirar. A agressividade e velocidade da banda, aliadas à resposta eletrizante do público, criaram uma atmosfera incendiária que transformou o show em uma verdadeira celebração do speed metal.

Fechando a noite, os ingleses do Discharge subiram ao palco um pouco mais tarde do que o previsto, mas não decepcionaram. Com uma entrada poderosa ao som de “The Blood Run Red”, a banda entregou um show intenso e cheio de clássicos. Faixas como “Fight Black” e “Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing” incendiaram a plateia, que respondia com rodas de mosh frenéticas. A turnê intitulada "A Hell on Earth" foi representada pela faixa homônima, além de outros sucessos como “Protest and Survive”, “Hatebomb” e “War Is Hell”. O encerramento com “The Possibility of Life's Destruction” e “Decontrol”, com a participação especial do Midnight, foi o ápice de uma noite inesquecível.

O público, composto por headbangers e punks, fez jus à expectativa do evento, respondendo com energia e entusiasmo a cada apresentação. O Carioca Club, com sua acústica impecável e estrutura acolhedora, mostrou-se o cenário perfeito para uma noite de pura adrenalina musical. Ao final, ficou claro que cada banda, com seu estilo único e performance avassaladora, contribuiu para fazer deste evento um marco na cena underground paulistana.

 

Texto: Matheus Morbus

Fotos: Leca Suzuki (Whiplash.net)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda

 

Realização: GIG Music

Mídia Press: Tedesco Comunicação & Mídia

 

Havok

Point of No Return

Fear Campaign

Hang 'Em High

Prepare for Attack

D.I.A.I.

D.O.A.

Intention to Deceive

Phantom Force

From the Cradle to the Grave

Covering Fire

Give Me Liberty...or Give Me Death

Time Is Up

 

Midnight

Funeral Bell

Black Rock'n'Roll

Lust Filth and Sleaze

Endless Slut

Expect Total Hell

Mercyless Slaughtor

F.O.A.L.

Fucking Speed and Darkness

Szex Witchery

Evil Like a Knife

Satanic Royalty

Violence on Violence

All Hail Hell

You Can't Stop Steel

Who Gives a Fuck?

Unholy and Rotten

 

Discharge

The Blood Runs Red

Fight Back

Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing

The Nightmare Continues

A Look at Tomorrow

Drunk With Power

A Hell on Earth

Cries of Pain

Ain't No Feeble Bastard

Protest and Survive

Hype Overload

New World Order

Corpse of Decadence

Hatebomb

Never Again

State Violence/State Control

Realities of War

Accessories by Molotov

War Is Hell

You Deserve Me

The Possibility of Life's Destruction

Decontrol

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Entrevista - Overdose: 40 Anos de Histórias! Vem Mais Pela Frente?

 



Por: Renato Sanson/Carlos Garcia

Nas primeiras centelhas do Heavy Metal brasileiro o Overdose estava lá, acendendo as chamas e espalhando-se além do seu país de origem.  Um dos pioneiros, que buscou evolução e criou nuances bem próprias, servindo inclusive de base e inspiração para outras bandas, e isso é o que coloca alguns nomes em um patamar diferente. 

A palavra sucesso é algo bem subjetivo, e acreditamos que o músico inspirar ou influenciar pessoas, fazer arte a qual signifique algo para quem a consome, alcançou sim o sucesso e seu objetivo enquanto artista.

O Overdose sem dúvidas trilhou um caminho bem sucedido, e como uma singela homenagem aos 40 anos de história deste importante nome do Metal brasileiro, conversamos com seu fundador, Cláudio David, para falar um pouco dessa história e algumas novidades preparadas em comemoração a essa marca de quatro décadas dedicadas ao Metal. 

Confira a seguir:


RtM: O Overdose está completando 40 anos! Algo muito emblemático se tratando de Heavy Metal nacional. O que a banda está preparando para este momento além do lançamento do single “Século XXI”?

Cláudio David: O mais importante mesmo é o single de 40 anos, que foi lançado ano passado. Era para ter saído até antes, mas aí o pessoal da banda tinha outras prioridades, outros afazeres e acabou não dando certo. 

Até por isso, eu estou remontando a banda agora com a expectativa de fazer shows e tocar essas músicas novas, mas o mais importante é esse single, “Século XXI”, e EP com cinco músicas inéditas, que deve sair até o final do ano. A partir do momento que sair o EP, vamos fazer alguns shows de comemoração.


RtM: E falando sobre o single, trace para gente um paralelo com relação a “Século XX” e nos fale um pouco sobre a ideia dessa nova composição.

CD: A ideia do “Século XXI” foi remeter mesmo o “Século XX”, que foi o primeiro disco nosso, o Split com o Sepultura. A ideia foi tentar descrever a nossa situação atualmente, mudando um pouco a questão da tecnologia e as artimanhas do poder, que hoje são diferentes, mas os problemas continuam sendo os mesmos.

A ideia foi uma releitura do “Século XX”, mas com uma diferença. O pessoal costuma falar que o Overdose é niilista demais. Inclusive, as minhas letras são geralmente críticas, mas é o que eu sei fazer. No “Século XXI” tem uma esperança e uma proposta, que é das pessoas se juntarem e conseguirem o que elas querem, que é um mundo melhor.

Então, diferente do “Século XX”, o “Século XXI” tem esse lado otimista, de que a mudança é possível. Só não sei daqui quanto tempo, se vai ser daqui cinquenta, cem ou duzentos anos, mas as coisas mudam. Mas a ideia do pré refrão é essa, que é deixar uma mensagem para que as pessoas, através da união, possam mudar a realidade delas de vida.

RtM: Há dez anos atrás a Cogumelo Records relançou todo o catalogo do Overdose em versões belíssimas e com material bônus em DVD, possibilitando que muitos fãs enfim tivessem os materiais e com alguns bônus. Como surgiu essa ideia de recolocar os clássicos no mercado novamente?

CD: Sobre o relançamento do catálogo ainda está faltando um, “You’re Really Big!” (1989), que deve sair esse ano. Já finalizamos a remasterização dele, e estamos dependendo do João, dono da Cogumelo, para mandar ele para a fábrica. 

Na verdade, a gente fez uma reunião, há pouco menos de dez anos, e conversamos sobre esse material do Overdose, que estava parado. E nessa reunião, com o dono da Cogumelo, fizemos o acordo de relançar. A ideia surgiu meio que simultaneamente quando eles estavam com vontade de relançar também.

Eu gosto de todos os álbuns, só que eles estavam meio que esquecidos. Então, através dessa reunião, que a gente tentou acordar o relançamento desses discos, que foi um sucesso e teve uma vendagem muito boa. Com esse lance do Spotify, plataformas digitais e da internet, duas mil cópias para cada disco acabaram sendo surpreendentes para gente e para Cogumelo. Agora está faltando “You’re Really Big!”, que em breve deve sair.


RtM: Cláudio, em 2012 você foi convidado pela banda gaúcha Carniça a fazer uma participação no disco “Nations of Few”, gravando a ótima “Prayers Before the Death”. Neste período você já estava há algum tempo sem tocar, certo? Essa participação foi o que acendeu a chama para a volta do Overdose?

CD: A participação do “Nations of Few” do Carniça foi uma coisa muito prazerosa para mim, porque é um pessoal muito gente boa e uma banda muito legal. Esse disco, especificamente é muito legal, assim como todos os trabalhos do Carniça. Depois disso, eu fiz participação no show de lançamento em Novo Hamburgo, que foi muito legal. E eu fui muito bem tratado pelo pessoal, fiquei muito amigo deles.

De certa forma acabou me incentivando, sim, de voltar com o Overdose, apesar de envolver outras pessoas. Após eu ter tocado com o Carniça, deu uma chama sim de querer voltar a tocar com certeza.

RtM: Agora revisitando um pouco da história, conte-nos sobre o período de composição e gravação do clássico Split com o Sepultura, em que vocês ainda tinham as letras em português, enquanto muitas já seguiam a tendência de compor em inglês.

CD: A gente começou em português, nunca deixamos o português totalmente de lado: no “...Conscience...” tem “Última Estrela”, no “Scars” tem “Nu Dus Otro é Refresco” e “Postcard from Hell”, no “Progress of Decadense” tem “Rio, Samba e Porrada no Morro”. Sempre teve alguma coisa em português. No segundo single vai ter uma música em português também, que se chama “João Sem Terra”.

A gente acabou indo para o inglês, traduzimos algumas letras infelizmente, porque em português era muito legal. Eu acho até mais difícil de compor em português para te falar a verdade, porque a sonoridade do português é mais difícil do que a do inglês. Mas compor em inglês foi mais pela questão da falta de reconhecimento e pela falta de oportunidade de seguir uma carreira aqui no Brasil. 

Em outros países, bandas de Heavy Metal se tornaram famosas. Aqui no Brasil temos o Sepultura, mas eles foram reconhecidos por uma gravadora internacional. O Sepultura é mais reconhecido lá fora do que aqui no Brasil, assim como o Overdose. Por isso passamos para o inglês por essa questão e de ser outro mercado. No começo, a nossa proposta era mais voltada para o público brasileiro, para entender a letra mesmo.


RtM: E como era o processo de composição e a produção das músicas na banda?

CD: As músicas do Overdose são praticamente minhas. Tem um solo de baixo do Fernando, uma macumba do Bozó no “Scars” e tal, mas são minhas músicas. Eu compunha as músicas, ensaiava muito elas e apresentava para o resto da banda nos ensaios. 

Eu treinava muito em casa até a chegada do Bica, treinava umas 10 a 12 horas por dia, mas antes da entrada dele já praticava umas 5 horas. Desde que eu ganhei a guitarra, queria tocar bem. E para essa gravação, que foi num estúdio de 8 canais, usamos equipamentos bem limitado: guitarra Finch, captador Distortion, pedal Heavy Metal e amplificador Baginho da Gianinni, que cheguei a emprestar para o pessoal do Sepultura na época.

Antes do Split, havíamos lançado a demo “Última Estrela”, que rodou o Brasil inteiro. A gente tinha uma certa notoriedade antes do Split por conta de ter saído matéria sobre ela na revista Metal, por ter feito um show para seiscentas pessoas no Circo Deliris e da música ter sido tocada na rádio Fluminense, que era uma rádio muito importante no Rio Janeiro na época. Eu acho o “Século XX” um divisor de águas em termos de técnica, sonoridade e musicalidade do Metal brasileiro.

RtM: Aquela cena mineira da época revelou nomes que tiveram uma repercussão inclusive fora do Brasil. Como era a relação das bandas naquele período? Haviam alguns grupos? 

CD: No começo não tinha ramificações dentro do Metal. Eu, pessoalmente, curto Heavy Metal desde o Black Sabbath e o começo do Judas Priest, época que nem existia o nome Heavy Metal, Headbanger e Metaleiro. Quando o Overdose fazia show, ia todo mundo que gostava de Heavy Metal. Um pouco antes nem tinha público, depois do show Kiss que começou a ter mais, pois antes era só uma meia dúzia de amigos, que se encontravam nas lojas de discos. 

Depois do primeiro Rock In Rio, em 1985, que a coisa explodiu. No começo ia todo mundo, não tinha essa coisa ‘ah, eu gosto de um estilo, eu gosto de outro’, só depois do lançamento do Split que começou essas ramificações. 


RtM: Você sentia que havia algum tipo de “competição” entre algumas bandas?

CD: Principalmente, com o Slipt, começou também uma competição por parte do pessoal do Sepultura, que eu prefiro não comentar.

A gente sempre teve uma relação muito boa com as bandas daqui de BH, a grande maioria: Sarcófago, Multilator, Witchhammer, Chakal. Eu, inclusive, levava equipamento meu para gravação dessas bandas e fazia coprodução. É lógico que tinha os radicais, mais do lado do Sepultura. 

E a questão não era só as ramificações, alguns chegavam a ser agressivos também. 

Às vezes rolava agressividade até em shows dessa meia dúzia de radicais, que chegava a incomodar a gente por ser uma coisa desleal e sem sentido, porque são pessoas que a gente nunca fez nada de mal e ficaram com raiva da gente por causa da música que a gente fazia, que não era um Death Metal extremo. 

Em geral, a relação do Overdose com as bandas daqui sempre foi muito boa.

RtM: Depois do "Século XX" vocês começaram a compor em inglês. Que planos e ambições vocês tinham nessa fase já com letras em inglês, com o “...Conscience…” e “You’re Really Big!”?

CD: Nossa maior ambição, desde o começo, foi sempre aprimorar tecnicamente e musicalmente. Eu, especificamente, puxava o barco, dedicando-me intensamente durante a preparação do "You’re Really Big!", praticando guitarra 12 horas por dia. Era uma coisa inédita, pois não havia trabalho com tanto virtuosismo que nem o “You’re Really Big!” aqui no Brasil. Depois veio o Angra, uns quatro anos depois, e outras coisas. A nossa maior ambição era essa, ser uma banda muito técnica e original.

O “...Conscience…” é bem peculiar, pois o lado A e o lado B dele não tem refrão. Até hoje acho ele diferente, com músicas grandes e sem refrão. E no “You’re Really Big!” experimentamos elementos da música erudita, coisa que o Dream Theater veio fazer depois do Overdose. 

Mas era mais especificamente o erudito com o Heavy Metal, bem na ordem do progressivo, que era a influência que a gente tinha. Também tínhamos influência do Mercyful Fate e do Metallica, mas a ambição era muito musical e técnica. Desde o início queríamos nos aprimorar musicalmente e tecnicamente, sempre batalhamos por isso.


RtM: Nessa época a mentalidade já era de que, cantando em português, seria mais difícil alcançar um mercado fora do Brasil?

CD: Começamos a cantar em inglês devido à falta de apoio aqui no Brasil, então tivemos que procurar o mercado externo, que ainda continua sendo preconceituoso. Naquela época ninguém aceitava língua de outro país. Hoje até aceitam um Rammstein, uma outra banda daqui e dali, mas o inglês continua se destacando. 

A gente foi forçado a passar para o inglês para tentar esse mercado externo, já que no Brasil nunca teve apoio. É até estranho falar isso, porque hoje em dia a situação não mudou muito. Existe até um pouco mais de apoio hoje comparado os anos 80 e 90, só que bem pior (risos). 


RtM: Do “Conscience” (87) à “Addicted to Reality” (90) temos um Overdose mais progressivo, com influências do Power e até mesmo do Hard. Mas em “Circus of Death” (92) tivemos uma das maiores viradas de chave do Heavy Metal. Aquele lado melodioso ficou um pouco de lado e o Thrash old school entrou em cena, para depois, consolidar um estilo mais groovado e com influências tribais em “Progress of Decadence” (94) e “Scars” (95). O que levou a essa mudança de sonoridade?

CD: As razões de mudança de estilo foram diversas. Eu acho que a principal é que a gente sempre fez o que estava curtindo na época, e não que a gente não curtisse Thrash na época do “...Conscience...”, “You’re Really Big!” e o próprio “Addicted to Reality”.

Apesar de mais agressivo, o “Circus Of Death” tem melodia, mas não clássica e erudita puxada para o barroco e para o romântico como no "You're Really Big". O “Progress of Decadence” é um tanto menos melodioso em comparação aos outros discos. É um pouco mais rebuscado, mas ainda assim é todo com melodia, sem nada gritado.

No “Progress of Decadence”, época que eu morava em Los Angeles, estava preocupado em fazer uma coisa diferente de tudo, colocando elementos de escola de samba, que o Bozó fazia no surdo da bateria e o André acompanhava na guitarra meio que na brincadeira. Então a gente começou a explorar e pesquisar mais isso, colocando elementos meio nordestinos, brasileiros e percussivos.

E no “Scars”, a gente ousou mais ainda. O álbum tem tudo o que você pode imaginar, incluindo Candomblé e batidas mais africanas. A gente acabou indo muito além com essas misturas, que sempre foram marcantes na história do Overdose.


RtM: Com essa virada para o lado do Groove com influências vindas da percussão, que após se tornou tão famosa e muitas bandas aderiram. Seria o Overdose o precursor desse estilo?

CD: Eu acredito, sim, que o Overdose é um dos precursores do Groove Metal. A gente já estava começando a fazer isso em 92 e 93 quando já tinha o “Circus Of Death”. A gente já fazia essa levada mais groovada, com estilo brasileiro, meio que na brincadeira desde os anos 90 nos ensaios. Considero também que o Overdose é um dos precursores do prog metal, no “...Conscience…”, quando o Dream Theater ainda não existia. 

Tem gente que acha que a gente foi influenciado pelo Sepultura, mas nós começamos antes. Eles têm uma pegada mais tribal, não é essa coisa da bateria de escola de samba. O Sepultura usava alguns efeitos, já nós, usamos bateria de escola de samba no disco inteiro.


RtM: Com “Progress of Decadence”, que foi lançado por um selo do exterior, o Overdose teve a oportunidade d tocar nos EUA,  Canadá e Europa. Conte-nos como foi essa experiência e como foi trabalhar com esse selo.

CD: Nós fizemos umas cinco turnês americanas, chegando até ser headliner. Fizemos turnês com o Crowbrar, Screw e Mercyful Fate, principalmente, que é uma das minhas bandas preferidas. Eu vi uns trinta shows todas as noites, praticamente. Acabava o nosso show, eu ia correndo para ver o Mercyful. 

Tocamos com muita banda legal na Europa, como o L7, Biohazard, Type O Negative, Grip Inc., Machine Head e Nevermore. Foi maravilho para falar a verdade, um sonho realizado. Chegamos a ter uma estrutura boa, com ônibus específicos para turnê mesmo. Tocamos no CMJ, chegamos em segundo lugar e ficamos seis meses no Top Ten das rádios college americanas, competindo com o Korn na época.

Tivemos muito apoio de empresário também, o problema foi quando mudou a diretoria da gravadora, que era o Steve Sinclair, ele saiu e entrou o Paul Bibel. O Steve é o AIR que descobriu e contratou o Overdose, o mesmo AIR do Dream Theater e de outras bandas. E o novo que entrou contratou o My Dying Bridge, que é uma banda até que razoavelmente conhecida. 

Ele tirou todo investimento do Overdose e colocou no My Dying Bridge. Era para gente ter feito uma turnê na Scandinavia com o Mercyful Fate, só que foi cancelada porque não mandaram o dinheiro da passagem. O Scars é um disco muito injustiçado por causa disso, porque não teve apoio da gravadora, não teve divulgação e não teve turnê praticamente. 

Então no final, com a mudança da diretória, foi muito ruim para gente. Agora o pessoal da gravadora é muito amigo nosso, como Paul Mitchel, por exemplo. Era muito bacana até a mudança da diretoria.


RtM: Conte-nos mais do período com o “Scars”, também tendo shows no exterior e ao lado de grandes bandas, sendo suporte do Grip Inc, tocando em festivais tradicionais como o Dynamo Open Air.  

CD: Na verdade, o Dynamo e a turnê do Grip Inc. foi em 95, nessa época que eu falei que era muito boa, que a gravadora estava investindo, empresariamento cresceu e tivemos um ônibus bacana para fazer a turnê com o Grinp Inc. e outros festivais. Tocamos também na França (festival Mega Force), Áustria e Bruxelas.

O Dynamo foi monstruoso, foi um festival bacana demais, só com banda grande e com duzentas mil pessoas acampadas. Foi o auge da carreira do Overdose. Esse show, que tem até no Spotify, começou com uma galera com a bandeira do Brasil que estava na frente curtindo, mas depois da metade do show, não dava nem para ver aonde esse pessoal estava agitando. Fizemos um show e outro na Holanda também, conquistamos um público legal lá, mas o Dynamo foi sensacional. 

No "Scars" tínhamos uma turnê com o Mercyful Fate, que na verdade foi uma goela, porque pessoal da gravadora deu uma van para gente, a van quebrou com dois dias e depois fizemos a turnê toda dentro de um carro e um quarto de hotel para a banda, crew e tour manager, ou seja, todo mundo num quarto só. 

E eu acho que isso foi até um dos motivos do fim do Overdose, porque é muito estressante ficar espremido dentro de um carro e dentro de um quarto de hotel, além da gravadora ter começado a tirar o nosso apoio.

RtM: Conte-nos um pouco mais de como foi excursionar com a banda de Dave Lombardo.

CD: A turnê com o Grip Inc. foi legal demais, nós ficamos super amigos do pessoal. Eles ficavam mais no nosso ônibus do que no ônibus deles, porque o Dave Lombardo tinha levado a família dele (mulher e filho). 

O próprio Dave Lombardo é muito gente boa, foi muito agradável a convivência com ele. No primeiro momento a gente ficou meio assustado falando ‘olha, é o baterista do Slayer ’, mas depois da primeira conversa ele foi super humilde, tranquilo e ficamos super amigo dele e da banda toda.

RtM: E o que aconteceu que a banda depois disso? Que acabou caindo em um hiato, quando, acredito, muitos esperavam que o Overdose alcançasse patamares mais altos?

CD: Como eu já havia falado antes, um dos principais motivos da banda ter acabado foi a retirada de suporte da gravadora, porque ninguém estava ganhando dinheiro, especificamente o Bozó, que estava muito preocupado. Nessa época até o Jairo, que era do Sepultura, e o Gustavo Monsanto tocava com a gente. Era uma formação muito bacana, mas com essa furada da gravadora, o Bozó resolveu sair da banda, porque ele estava preocupado em ganhar dinheiro, estava com quase trinta anos e não ganhava nada.

Após a saída do Bozó, eu tentei achar um novo vocalista. É muito difícil substituir o Bozó, porque acho ele um excelente cantor, mais o carisma, presença de palco e tudo. Eu fiz alguns testes, achei que ninguém tinha nada a ver, mas eu achei um vocalista que cantava muito, apesar de ser totalmente diferente do Bozó. Aí resolvi montar uma banda nova, a Eletrika, que chegou até ter música em uma novela da Rede Globo, tocou no festival de música brasileira e chegou a ter um certo reconhecimento também. 

O Eletrika chegou a fazer turnê fora com o Slipknot, Testament e com muita banda legal na França. Em 2004 o vocalista saiu, continuei mais um pouco até 2007, o Eletrika acabou e parei de tocar até o Overdose voltar, em 2008, quando a gente fez um show em São Paulo.


RtM: E de planos a médio e longo prazo? O que podemos esperar do Overdose?

CD: A longo prazo, não tem planos, vamos ver o que vai acontecer com as coisas que estão acontecendo.  A prioridade é o lançamento do EP com cinco músicas inéditas, que é o que a gente está fazendo. Estamos indo para a segunda música, “João Sem Terra”, que é um Metal baião com paródia da música nordestina. Está praticamente pronta, mês que vem ela deve estar saindo em todas as plataformas digitais.

Depois do lançamento do EP, vamos ver se a gente volta a tocar. A sorte dessa vez é que eu achei um vocalista muito bom, que não é o Bozó, mas que é muito fera, o Vitor, que leva a onda do Bozó muito bem. A pretensão é remontar a banda, estou tentando arranjar um guitarrista para fazer os shows de comemoração dos quarenta anos e do lançamento do EP.

Não sei se vamos continuar fazendo músicas inéditas e continuar tocando, porque o retorno financeiro é muito pequeno. Para te falar a verdade é mais prejuízo, porque a maioria das bandas gasta para fazer Metal. Não dá para falar que é investimento, porque não tem retorno. Então vai depender do que estiver acontecendo.



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