sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Cobertura de Show – Blues Pills – 29/10/2022 – Carioca Club/SP


O último sábado de outubro foi marcado pelas diversas festas de Halloween espalhadas pela capital de São Paulo (se via muitas pessoas fantasiadas andando pelas ruas a caça de uma festa), final brasileira entre Flamengo e Athletico Paranaense pela Libertadores e a véspera da eleição para eleger o futuro governador do estado e o presidente do Brasil pelos próximos 4 anos.

Não faltou opção para curtir ou sossegar na noite do dia 29/10, mas eis que eu, e a galera que gosta de curtir um bom show de Rock, foi presenciar a estreia dos suecos do Blues Pills em solo brasileiro. 

Famosa por tocar nos principais festivais da Europa, há uma década na ativa e com três álbuns de estúdios lançados (marcante ‘debut’ de estreia, pouco inspirado “Lady In Gold” e o mais recente e bajulado “Holy Moly!”, lançado no período de pandemia), o quarteto – contando hoje com a maravilhosa Elin Larsson (vocal), Zach Anderson (que desde de 2018 passou de baixista para guitarrista), Kristoffer Schander (baixo) e André Kvarnström (bateria, ocupando o lugar que foi deixado por Cory Berry) – demorou pra vir e sentir o calor do público latino. Mas a Top Link Music, de propriedade do empresário/produtor de Rock mais popular do Brasil (e porque não do mundo), Paulo Baron, pôs o ponto final dessa demora, que por um lado, valeu a pena. 


Carioca Club, localizado na região de Pinheiros, foi o local para solenizar a única apresentação dos suecos aqui no Brasil. Por se um local não muito grande, público não perdeu nenhum detalhe do show, e quem estava na área vip teve a oportunidade de ficar coladinho no palco pra não um vento de cada um. Detalhes sobre isso irá ser abordado mais pra frente...

Segundo os gráficos das plataformas de streaming (Spotify principalmente), São Paulo é uma das cidades que mais ouve Blues Pills. Apesar dos números consideráveis, sempre mana aquela incredulidade pelo baixo número de pagantes. A maioria que compareceu já tinha familiaridade com as músicas, tanto que não faltou cantoria nas canções mais relevantes.

Um ou outro, que acabaram indo ao show, não conhecia muito bem a banda, mas acabaram se tornando fãs assíduos depois do que viram e pela curiosidade, coisa que falta pra muita gente que tem cabeça fechada em conhecer coisas novas achando que bandas como Iron Maiden, Guns N’ Roses e Metallica vai durar a vida toda. 


Portões abertos pontualmente às 18hrs, a presença ainda era tímida, cevando um pouco da desconfiança comentada a pouco. Pra piorar, a chuva quis tentar estragar a noite faltando uma hora e meia pro começo do show. Alguns, infelizmente, perderam o começo do show por conta da forte chuva. Mas tudo conspirou para o bem, pois faltando meia hora e menos de 15 minutos para o início da festa, o público distendeu vultuosamente, atingido a quantidade de 800 pessoas presentes (N.T.: a casa tem capacidade para suporta até 1200 pessoas). 

Enfim, sem mais delongas, a vinheta (bem ao estilo faroeste) rugiu nos PAs do Carioca (às 20hrs como combinado). Zach, Kristoffer e André assumiram os seus postos para receber, com extrema graciosidade, a digníssima Elin Larsson (calçada de botas brancas e toda trajada de vermelho para alegria de quem estava apoiando o adversário do atual presidente da república).

Começam o show com a triunfante faixa que abre o disco “Holy Moly!”, a simbólica “Proud Woman” (um hino ao poder feminino), que teve seu começo estendido para que Elin pudesse transmitir beijos, dizer rápidas palavras e esbanjar a sua potente voz cantando o refrão que dá nome a música. A partir daí a história de amor com o Brasil (e com São Paulo, especificamente) era escrita depois de uma performance dominante.


Depois de um rápido “Obrigada”, Elin não poupou as suas vértebras na rápida “Low Road”, que fez questão de cumprimentar algumas pessoas que estavam ali perto do palco, emendando com a desconcertante “Dreaming My Life Away” – uma adjeção perfeita entre Hard e o Psicodélico (que ficou excelente ao vivo). Nela se sobressai o solo bem executado de Zach e as viradas intrincadas de André. 

A ‘swingada’ “Kiss My Past Goodbye” fechou primeira parte de divulgação do mais recente disco, que não deve ter poupado a carcaça de muitos (pelo menos não a minha) com o ritmo agradável disposto na música. E essa é outra que Elin coloca sua voz lá no alto na hora do refrão, e foi nesta música que se ouviu o público cantando mais alto até então. Elin, com sorriso de orelha a orelha, fazia gestos pedindo pra não parar de tão incrível que estava.  

Era hora de revisitar passado, e a ‘bluesy’ (e incompreensível, segundo Elin) “Astralplane” foi a primeira do ‘debut’ álbum a ser executada na noite. Logo nos primeiros acordes e versos cantados, a casa veio abaixo como se tivesse um mutirão cantando de tão absurdo que foi.

Mas calma que o remanso não parou por aí, pois a pesada “High Class Woman” (também presente do disco de estreia) arrancou toda intensidade do público com direito a “Hey” e fragosas palmas. Enquanto a banda fazia o serviço com maestria, Elin sacudia seu ‘meia lua’ e distribuía novamente cumprimentos de quem estava ali cara a cara com a “dama de vermelho”.

Esses dois momentos só provaram que o disco de estreia deles, lançado em 2014, é o preferido dos fãs sem sombra de dúvidas. Antes de executarem ambas, Elin fez um rápido agradecimento e declarou que São Paulo estará pra sempre em seu coração. 


Pra não perder o compasso antes de diminuir a fugacidade, Zach esbanjou toda sua técnica com instigantes solos pra abrir caminho para rítmica “Ain’t No Change”. Da para perceber que ele se senti mais à vontade tocando guitarra do que baixo. Não só para os fãs (como pra ele também), foi a melhor decisão a ser tomada, acredito... Por ter muita cadencia, a cozinha – formada por Kristoffer e André – mostrou o poder de fogo com excelência ao vivo nesta música. 

O melhor ainda estava por vir durante a noite: o enlaçamento do Blues Pills com São Paulo gloriosamente foi timbrado com quase metade do show concluído. Após depor que o público brasileiro (paulistano, melhor dizendo) é muito gentil, que o sonho de estar tocando em São Paulo (e América do Sul) estava sendo realizado, desculpas por ter demorado pra vir e o agradecimento por sempre estar recebendo apoio, não restou dúvidas que o Brasil será ponto obrigatório nas futuras turnês.


Prosseguindo, “Wish I’d Know” (substituída por “California” e executada no show anterior do Chile) mostrou todo lado Soul do quarteto com total ‘impecabilidade’. Só faltou o pessoal levantar pra cima o flash dos celulares (um até tentou incentivar a galera) pro clima ficar ainda melhor, mas devido a forma deslumbrante como a Elin estava cantando era impossível pensar nisso para só dar olhos a ela. 

“Bliss” e “Black Smoke” são as faixas mais antigas da carreira dos suecos e indispensável dos shows. E há motivos para não a excluírem do set, pois elas são as que melhor caracteriza, na minha opinião, o esqueleto sonoro da banda. Nela é ostentado toda a definição do Rock dos anos 60, Hard Rock setentista e psicodélico com a fineza da Soul Music. 


Infelizmente, “Song From a Mourning Dove” teve que ser sacrificada do set pra por outra em seu lugar, e não teve escolha melhor do que a melhor faixa de toda a carreia da banda: a climática “No Hope Left For Me”, que foi executada a pedido de alguém que mandou mensagem pra Elin. Segundo Zach, em entrevista ao site do parceiro Igor Miranda – Música e Jornalismo, “Little Sun” (executa nos momentos finais) é a melhor faixa pra definir o som do Blues Bills. Dessa vez, vou ter que discordar dele, pois “No Hope Left For Me” é mais justa pra se apresentar ao sujeito que nunca ouviu falar da banda.

As três próximas músicas – “Lady In Gold”, “Little Boy Preacher” e “You Gotta Try” – seriam dedicadas ao pouco elogiado álbum “Lady In Gold” (2016). Apesar de alguns não terem muita sintonia com esse disco (por conta de mudanças sonoras), muitos curtiram e apreciaram elas ao vivo, principalmente a faixa título. A única coisa que falta ao vivo em ambas é a presença do tecladista, nem que seja algo já pré-gravado. 


Querendo saber se todos estavam se divertindo, a sombria “Dust” (outra que este autor curte bastante) recarregou a baterias do que estava por vir depois dela...

Lembram o que eu falei anteriormente que o melhor estava por vir? Pois é... a eletrizante “Bye Bye Bird” apresentou o melhor e o mais apoteótico momento da noite. Quem já assistiu os shows da banda pelo Youtube, sabe que a Elin costuma fazer um ‘mosh’ nas partes derradeiras. Porém, como era lugar um tanto intimista, ela foi até meio da pista (com o microfone e tudo) curtir com a galera antes de partir para o tradicional bis. 

Sob os gritos de “Blues Pills, Blues Pills”, a banda retornou ao palco para mandar as derradeiras. Antes de porem o ponto final do show (que durou 90 minutos), Elin pronunciou um tocante “I Love You All” antes de tocar uma música do Sepultura. Dando a entender que não será possível devido a incapacidade e não tocar melhor que eles, seguiram com a balada “Little Sun” (agora sim!). Pra quem não sabe, o técnico de som do Blues Pills é o mesmo do Sepultura e o Derrick Green tem muita amizade com a Elin, por isso a vocalista fez a brincadeira com a banda. 

Após apresentar rapidamente a banda, era hora de mostrar a malvadeza em pessoa com “Devil Man” pra encerrar um dos melhores shows do ano. Elin, que teve uma das suas melhores noites, agradeceu mais uma vez o público e esperando que a banda esteja de volta muito em breve. “Eu não acredito que demoramos tanto tempo. Espero que não demoremos tanto novamente, eu prometo. Essa foi a melhor plateia que já experimentei em toda minha vida”. 

Blues Pills não só deu uma aula de como fazer show de Rock, mas sim de arte e divertimento. E se nos discos eles soam perfeitos, ao vivo a coisa fica ainda mais fantástica mesmo com equipamentos simples (amplificador era só um cubo da Fender, bateria com poucas peças e um cubo da Amped para o som do baixo). O som (que estava no ponto e sem falhas) e o lugar um tanto que particular favoreceu para que tivéssemos um dia memorável. 


Durante todo esse texto, cito muito o nome de Elin Larsson. Mas existe toda uma razão por causa disso. Essa mulher vai além da expectativa quando definimos uma ‘front-woman’ de verdade: classe, categoria e elegância (frase que aprendi com meu amigo Carlos Chiaroni, da loja Animal Records e programa RMH).

Além de ser dona de uma das melhores vozes da atualidade – comparada as lendárias Janis Joplin e Aretha Franklin (maior inspiração como cantora para Elin) – ela dá um show de energia no palco, sempre pulando, dançando e tentando estar o mais perto possível do público (seu principal alvo durante toda a apresentação) sem medo de ser feliz. Todos os aplauso e elogios ganhados na noite anteciparam o presente de aniversário dela (N.T.: Elin completou 34 anos no último dia 01/11, três dias depois do show).


A classe de público era das mais variadas. Apesar do som ser muito enraizado das décadas de 60 e 70, muitos jovens estiveram em peso para aprecia-los, o que prova que o Blues, Psicodélico e Soul Music não é som de velho. O pessoal de mais idade também não deixou de comparecer, evidenciando que a música do Blues Pills é para todas as classes de idade. 

Já aguardando ansiosamente o retorno no futuro bem breve. 


Texto: Gabriel Arruda | Instagram: @gabrielarruda07

Edição/Revisão: Carlos Garcia | Instagram: @cacogarciaroadtometal

Fotos: André Tedim | Instagram: @andretedimphotography


Produção: Top Link Music | Instagram: @toplinkmusic

Agradecimentos: Isabele Miranda (pelo credenciamento), Paulo Baron, Costabile Salzano Jr e Lu Beco Artes (pela tradução)


Set-List

Proud Woman 

Low Road

Dreaming My Life Away 

Kiss My Past Goodbye 

Astralplane

High Class Woman 

Ain’t No Change 

Wish I’d Woman 

Bliss

Black Smoke

No Hope Left For Me

Lady in Gold

Little Boy Preacher 

You Gotta Try

Dust

Bye Bye Birdy 

***Encore***

Little Sun 

Devil Man

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