Depois do excelente "Opressor" (2014), tido por muitos até então como o melhor trabalho do grupo, eles agora, além de terem se desafiado e apresentado um álbum tão bom ou melhor, justamente também desafiam o ouvinte. Difícil não cravar que eles novamente se superaram, evoluíram. Cada álbum da banda tem suas características e importância, e certamente cada ouvinte também tem suas preferências, e o que temos que nos ater é a gana do Uganga em seguir sempre em frente.
"Servus" (2019) traz outra conquista, além da evolução sonora e lírica, pois a banda conseguiu o financiamento do álbum pela Wacken Foundation, além da PMIC de Uberlândia, permitindo mais recursos para a conclusão do trabalho. Gravado novamente no Rock Lab em Goiânia, a exemplo de seu antecessor, "Servus" apresenta uma sonoridade excelente.
Iniciando pela arte da capa, feita por Wendell Araújo, é muito bonita, com vários simbolismos, tendo como destaque o uganga (feiticeiro), em um cenário pós-apocalíptico, usando pintura de guerra indígena e usando colares do budismo e umbanda.
Quanto ao conteúdo lírico, algo que também é bem cuidado pela banda, e em "Servus", além das questões político/sociais e temas ligados a cultura brasileira que sempre estão presentes, há também muitas mensagens positivas, trazendo uma energia muito forte. Inclusive abro parenteses para o que o vocalista Manu Jokers escreveu no encarte: "Falei muito de amor nesse trabalho né? Pois é, esse é o caminho que quero seguir. Tretar qualquer idiota sabe, eu também sei."
A parte musical em "Servus" apresenta várias características marcantes da identidade do Uganga, como o peso do Thrash e Hardcore, groove, elementos da música e cultura brasileira, além das salpicadas de Dub e Rap, e, a exemplo dos antecessores, novas nuances se somam, com mais melodia, mais momentos limpos, e além disso, a evolução de cada um como instrumentistas e a experiência e segurança em experimentar, fazendo tudo soar espontâneo e natural.
A forte identidade do Uganga já é sentida na faixa título "Servus", que vem logo após a intro "Anno Domini", e traz letras fortes, instigando as massas de manobra a se soltarem dos grilhões, para dar um basta aos "assassinos de terno e gravata". O som traz o Thrash e Hardcore com os vocais meio falados, marcas registradas, e embora soe mais polida e técnica, ainda soa muito pesada.
Criativo e diversificado, a qualidade alta quase não permite apontar destaques, mas ressalto algumas aqui, além da faixa-título, como "Abismo", com sua levada cadenciada, alternando peso e groove, ela tem incursões mais melodiosas e refrão muito marcante, mudanças de andamento e de repente surpresas, como um saxofone.
O batuque e groove em "Hienas" embala o discurso forte contra a falsidade, tendo também trechos em espanhol; "7 Dedos (Seu Fim)", que alterna trechos velozes com tempos mais pausados e com muito peso e elementos regionais; e "Fim de Festa", um mix deHeavy Metal e Thrash com riffs marcantes e andamento cativante.
E para ilustrar a diversificação do álbum, destaco também a profunda e reflexiva "E.L.A.", numa levada meio Rap, que traz em seu conteúdo uma bonita homenagem de Manu Jokers à sua mãe, e fechando o disco "Depois de Hoje", arrastada e pesada, com algo de Doom e riffs a lá Sabbath, alternando vocais sussurrados e berrados quase que discursados.
Evolução, segurança e originalidade no que fazem, a banda está em um patamar elevado musicalmente, e precisa ser festejada e citada como uma das grandes afirmações do Metal nacional.
Texto: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação
Ficha Técnica:
Banda: Uganga
Álbum: "Servus"
País: Brasil
Estilo: Thrash Metal, Hardcore, Heavy Metal
Arte de Capa: Wendell Araújo
Produção: Gustavo Vazquez e Manu Jokers
Assessoria: Som do Darma
Föxx Salema é natural de Bragança
Paulista (SP), autodidata, estando no circuíto independente há mais de 20 anos,
sendo também uma das pioneiras como pessoa transgênera headbanger/metalhead no
Brasil. Föxx lançou recentemente seu debut, "Rebel Hearts", de forma independente,
e vem alcançando resultados muito bons, com um Heavy Metal inspirado nos
grandes nomes dos anos 80, principalmente o lado mais tradicional e Nwobhm,
além de pitadas de Power Metal.
Conversamos com Föxx para saber
um pouco mais de sua caminhada nesta árdua estrada do Heavy Metal brasileiro,
sobre o debut e também questões delicadas como discriminação e violência
crescente em nosso mundo atual, além de outras dificuldades que, infelizmente,
pessoas vistas como "diferentes", por exemplo portadores de necessidades
especiais, como um cadeirante que muitas vezes nem um transporte ou acesso à
local público consegue ter,e pessoas da
comunidade LGBT, que sofrem com violência ou homofobia.
Mas, por outro lado, muitas dessas pessoas lutam para realizar seus sonhos, buscar igualdade, e consequentemente ajudar muitas outras. Na irmandade Heavy Metal, felizmente, sempre houve esse sentimento às vezes tido como "transgressor", mas que sempre buscou a liberdade e igualdade, ou você conhece algum fã de Metal que deixou de ouvir Judas Priest porque Halford assumiu sua sexualidade? Confira então um pouco mais sobre a Föxx Salema e descubra um Heavy Metal com pegada e melodia!
RtM: Para início de conversa, gostaria
que você nos contasse um pouco de como você iniciou na música e no Heavy Metal.
Föxx Salema: Bom, eu canto desde criança e
sempre gostei também do tema Terror, nessa época eu passava e via sem saber ao
certo o que era, posters do Iron Maiden na parede de uma pequena loja de discos
e achava muito massa aqueles desenhos. Quando entrei na adolescência um primo
meu, que já colecionava fanzines do gênero e tinha vários discos, me apresentou
devidamente ao Metal. Ele inclusive gravou em fita cassete o álbum "Seven
Churches" do Possessed, ao qual eu pedi cópia do encarte para poder
acompanhar nas letras o que era cantado. Dali para eu começar a cantar Metal e
fazer shows foi “um pulo”... rsrsrs
RtM: E quais seriam as suas maiores
influências e inspirações musicais?
FS: Eu posso citar 3 vocalistas que
influenciaram bastante a minha forma de cantar: Geoff Tate, André Matos e Andi
Deris. Já em termos de inspirações musicais, além claro, das bandas e projetos
destes que citei, eu ouço vários subgêneros de Metal, do mais clássico,
tradicional ao tido como mais extremo, pesado. E tudo isso, mesmo que em
diferentes graus, influencia em como componho.
RtM: Com o tempo que você possui de
estrada, como artista independente no underground, quais as principais
dificuldades ainda enfrentadas para poder montar uma banda, gravar, arranjar
espaço pra tocar?
FS: Nossa, montar banda sendo trans é
um caos, as pessoas no geral possuem um freio mental que muitas nem se ligam
que tem, por exemplo: vergonha de dividirem o palco comigo, não sendo da
comunidade LGBT+ e achando que serão julgadas, taxadas como tal. Então eu
fiquei bastante tempo “caçando” músicos. Felizmente achei pessoas competentes e
que toda esta questão pessoal minha, não as impediu de estarem musicalmente ao
meu lado. Quanto a shows, eu ainda estou formando uma banda com integrantes
fixos, pois me mudei ano passado para Grande BH para morar com meu marido,
Cleber. Já fiz algumas pequenas participações ao vivo com bandas locais e
também fui em alguns festivais em casas de show bem legais daqui, então estou
bastante otimista, vamos ver o que o futuro me reserva...ha ha ha
" A honestidade e os valores familiares que me foram passados ajudaram a moldar o meu caráter e este, o meu ativismo."
RtM: Gostaria que você falasse um
pouco sobre o processo de composição e gravação de seu debut, “Rebel Hearts”,
pois sei que você não tinha uma banda montada, praticamente criando todas as
partes. Imagino que seja mais complicado não ter, por exemplo, um guitarrista
que já acompanhe o trabalho há mais tempo, tenha conhecimento e participe da
composição.
FS: Pois é, a questão da distância,
da ausência de ensaios, entre outros fatores, foi complicado sim. Mas apesar
disso o Paulo Garciia, que foi o produtor musical, conseguiu comigo cantando as
melodias do instrumental (inclusive de pedal duplo) me ajudar primeiramente com
os arranjos e guias musicais e posteriormente quem contratei para gravar
lapidou tudo isso. Sempre, claro, com o meu aval final de aprovação, a Karine Campanille por exemplo, cuidou de 3 instrumentos: guitarra, baixo e teclado. Ela ia me
mostrando o que tinha pensado para cada um, em cada música; os solos de
guitarra mesmo, muitas vezes ela fez mais de um e eu, ou aprovava um por
inteiro ou pedia uma mescla deles. Com o baterista também não foi diferente.
RtM: Sobre a produção final, às vezes
parece que algumas de suas ideias ficaram prejudicadas, e as músicas, várias
excelentes ideias, poderiam ter rendido muito mais. Gostaria que você falasse a
respeito de como avalia a produção do álbum, e o que gostaria de fazer de
diferente?
FS: Olha, eu sou muito minuciosa,
perfeccionista, teriam algumas mudanças que eu faria em termos de mixagem e
timbres, porém isso denotaria mais dinheiro e tempo, no mínimo meses para realização,
então optei por não atrasar o lançamento do álbum.
Todavia se levarmos em conta o
lance de eu não ter uma formação de banda, não tocar nenhum instrumento, ter
recursos limitados, o produtor musical não ser do Metal e que tudo foi gravado,
mixado e masterizado num home estúdio de uma cidade do interior, eu acho que
conseguimos um bom resultado, ainda que não seja o “ideal”. De qualquer forma,
a receptividade do público tem sido bastante positiva, muitas das pessoas que
ouvem o álbum via streaming, posteriormente fazem questão de adquirem
fisicamente o CD.
RtM: O logo da banda ficou muito
legal, poderia nos contar um pouco sobre os significados dele e também porque
você adotou o nome artístico de Föxx?
FS: O meu logo foi criado em 2013 e o
designer que trabalhou nele seguiu a risca as minhas instruções, tanto de cores
quanto a implementação do kanji de kitsune, a letra japonesa para raposa. Este
detalhe remete ao meu nome artístico, eu possuo uma ligação digamos
“espiritual” com a cultura nipônica, inclusive com uma tatuagem de raposa em
forma de tribal no meu braço esquerdo. Quanto a grafia em si, o trema no “o”
foi um “charme” inspirado em algumas bandas que usam isso e o duplo “x” é uma
alusão a minha transexualidade e ao cromossomo feminino.
RtM: Falando um pouco das músicas,
vamos iniciar com o single “Mankind”, que traz uma letra bem atual, além de
capa criada para o single, excelente também, inclusive foi o que me chamou a
atenção para conhecer mais do seu trabalho. Gostaria que comentasse mais a
respeito dessa música e sua letra.
FS: Eu escrevi a letra inspirada em
eventos que embora não sejam assim tão novos, estão bastante em voga na
atualidade brasileira: banalização do sexo e da violência, manipulação da
verdade através de fake news, exploração da fé através do ódio e do medo,
corrupção política a nível judiciário; enfim, toda esta merda nociva que a meu
ver, corrompeu e inverteu valores éticos e sociais. A capa e todos os detalhes
que idealizei para o single refletem bastante isso e ela era para ser mais
explícita do que está, mas após ponderar um pouco eu optei por deixa-la mais
“neutra”. Inclusive fui eu quem posou para o ilustrador, sou eu ali empunhando
a bandeira LGBT+.
RtM: Seguindo essa linha, pois muito o
conteúdo das letras em “Rebel Hearts” toca em assuntos bem importantes, que é
uma certa involução na humanidade, com muitas manifestações de ódio e
intolerância pelo mundo. Como você vê o papel dos músicos nessas questões?
Ainda vejo algumas pessoas criticarem e dizem que não é papel de artistas se
posicionarem em questões políticas e sociais.
FS: Quando eu ouço esse tipo de
“””argumentação””” na mesma hora me vêm a mente a imagem icônica do single
Sanctuary do Iron Maiden, aquele com o Eddie e a Margaret Thatcher, fora várias
outras bandas com letras e posicionamento político e social. Eu entendo que
algumas pessoas optem por se acovardarem e se absterem sobre estas questões,
mas definitivamente este NÃO é o meu caso. Meu falecido avô materno foi
vereador em minha cidade natal, numa época em que não se ganhava salário para
isso, se fazia por amor à pátria e vocação, ele ainda foi chefe de gabinete,
assessor e secretário de um dos prefeitos.
RtM: Valores que são ensinados em casa,
e que refletem no indivíduo, precisamos mesmo de mais educação e cultura, não
mais armas e violência em formas diversas.
FS: Sim, a honestidade e os
valores familiares que me foram passados ajudaram a moldar o meu caráter e
este, o meu ativismo. Fora que o simples fato de eu ter a muito tempo assumido
publicamente a minha transexualidade, é um ato político, a minha própria
existência é considerada por muitas pessoas uma afronta à sociedade religiosa e
tradicional, principalmente para a direita conservadora e retrógrada. O que a
meu ver é insanidade, pois eu sou assim desde criança (nasci em 78), não foi
uma escolha, influência externa ou frescura pós-modernista como muita gente
erroneamente acredita.
RtM: Ainda sobre essas questões,
você, como trans, sentiu ou sente algum tipo de boicote ou discriminação de
pessoas dentro ou fora do cenário Metal?
FS: Boicote, desdém, exclusão,
humilhação, injustiça, perseguição, transfobia e violência simbólica são apenas
exemplos do que já passei e infelizmente passo, muitas vezes devido a falsa
segurança que o anonimato e a distância da internet permite, as pessoas “se
esquecem” que o mundo virtual também é regido por leis. Todavia é como eu canto
em uma das músicas do álbum: eu ainda estou aqui, com cicatrizes emocionais,
mas de pé e preparada para lutar.
" A 'Mankind' foi inspirada em eventos que, embora não sejam assim tão novos, estão bastante em voga na atualidade brasileira."
RtM: Mesmo o cenário Metal tendo
sido um tanto machista em determinadas épocas, acredito que a ideologia falou
mais alto, e o público na grande maioria abraçou essas causas, pois não lembro
de artistas como Rob Halford, que assumiu sua sexualidade, ou a Marcie Free
terem sofrido discriminação no meio Metal.
FS: Agora, sobre esta questão de
artistas que assumiram publicamente sua orientação sexual ou identidade de
gênero e a subsequente aceitação do público, acho importante ressaltar que o
fizeram já com certa fama e renome, eu fiz o caminho inverso e paguei um preço
alto por isso. Mesmo assim não me arrependo, pois eu fui em 1º lugar verdadeira
comigo mesma e também com as pessoas que conviviam comigo, algumas entenderam,
outras não. Aquelas que não entenderam ou mesmo entendendo se recusaram a me
respeitar, eu me afastei, afinal, não preciso do stress causado pela toxidade
delas.
RtM: Continuando a respeito das
músicas do álbum, nos fale um pouco mais da faixa título “Rebel Hearts”, que
possui um refrão bem marcante e uma pegada que me lembrou o Viper da época do
“Coma of Souls”.
FS: A letra e a melodia de voz foram
compostas em 2016, esta é uma das músicas que apesar de eu ter pensado na
comunidade LGBT+ ao cria-la, ela serve também para pessoas que não fazem
diretamente parte dela. Foi a minha escolha para título do álbum, não apenas
pela levada mais direta dela, mas também por já ter em mente a capa (o lance do
coração flutuando entre as minhas mãos e as 3 gotas de sangue pingando dele).
Somado a isso tem ainda a introdução do álbum que antecede ela e onde se ouve o
meu próprio batimento cardíaco, meu marido conseguiu emprestado um estetoscópio
e o adaptou para conseguir captar o som em estúdio.
"Felizmente achei pessoas competentes e que toda esta questão pessoal minha, não as impediu de estarem musicalmente ao meu lado."
RtM: Outra que me chamou bastante
atenção, e pelo que notei também é uma das que mais tem agradado o público, é
“Emotional Rain”, que também possui uma letra bem forte e com bastante emoção.
Nos conte um pouco mais sobre ela.
FS: Esta é a única balada do álbum e
a letra dela é motivacional. Quando a escrevi eu estava pensando no que eu
sendo uma trans, gostaria de ter ouvido nos momentos difíceis. Em meados de
2.000 eu tentei o suicídio e só fui salva por conta de paramédicos terem sido
chamados na madrugada e estes me entubarem. Então esta é uma composição muito
íntima, muito pessoal. Até o momento, é a música do álbum que mais tem feito
sucesso, o que pra mim é ótimo, pois eu gostaria que a mensagem dela chegasse
ao maior número de pessoas possível.
RtM: E os planos agora após o
lançamento? Como estão as novidades quanto a montar sua banda para shows e
divulgar o trabalho ao vivo?
FS: Sem querer eu acabei
anteriormente meio que respondendo sobre isso! ha ha ha
Mas complementando: eu mal vejo a
hora de voltar a ensaiar e estar de volta aos palcos, a energia do público é um
grande estímulo para mim.
RtM: Föxx, obrigado pela atenção,
parabéns pela sonhada estreia, há um ótimo conteúdo em “Rebel Hearts”, trazendo
expectativa para o que virá a seguir. Fica o espaço para sua mensagem aos
leitores.
FS: Obrigada, eu é que agradeço o
apoio. E aos leitores desta entrevista: ouçam o álbum no Spotify ou em algum
serviço de streaming, se gostarem indiquem o mesmo para outras pessoas e se
gostarem pra caralho, adquiram o CD físico! =^.^= \m/
Após mais de 50 anos de carreira,
e sofrendo uma baixa como a de um dos fundadores, o guitarrista e vocalista
Rick Parfitt, falecido no final de 2016, a lenda inglesa Status Quo decidiu
seguir em frente realizando vários shows e registrando apresentações especiais
em áudio e vídeo, dando a oportunidade de muitos fãs ainda poderem ver a banda.
Um dos mais recentes lançamentos são “Down Down & Dignified” e “Down Down
& Dirty”. Um gravado acústico, no Albert Hall em Londres, enquanto o set do
festival Wacken na Alemanha, os encontra com todo gás e no show tradicional
plugado, tendo à frente de cerca de 70.000 pessoas.
Vamos falar aqui de “Down Down
& Dignified”, que saiu em DVD/Blu-Ray e também em CD duplo ou simples, capturando
o show do Albert Hall em julho de 2017. Nos últimos anos, o Status Quo vinha já
aperfeiçoando seu set acústico, e esta é uma apresentação muito bem arranjada e
ensaiada. Iniciando com “And It's Better Now”, percebe-se de imediato a captura
perfeita do som, em um álbum muito bem mixado.
O show traz um algo de nostalgia às vezes, mas é cheio de energia e espontaneidade, e o grupo desfila seu rock & roll e rock clássico em canções de diversas fases de sua carreira.
O guitarrista Rhino Edwards, na
banda desde 85, consegue suprir com competência a ausência de Rick ao lado do
único membro remanescente, Francis Rossi, mantendo aquela característica
marcante do Quo, com os duetos vocais e de guitarra, aqui também contando com
as harmonias fornecidas pelas cantoras de apoio, dando um brilho extra nos
arranjos de voz.
O uso da orquestração, piano e
acordeão também preenchem de forma exuberante o trabalho das cordas, que contam
com quatro violões e um baixo. Os destaques incluem canções clássicas do Quo,
como “Paper Plane”, “Hold You Back”, “Rock N Roll”, “Reason For Living”, e
claro, a sempre esperada “Whatever You Want”, mas todo o set é de muita qualidade.
O álbum está disponível em edição
simples com 21 faixas, lançado pelo selo paulista Shinigami Records. Um ótimo álbum, registro de uma noite fantástica no Albert Hall e é uma adição valiosa à qualquer fã ou colecionador da discografia dos ingleses. E claro, excelente diversão, com muita energia positiva e Rock & Roll!
Os chamados “side projects” ou
projetos paralelos, onde músicos (geralmente uma dupla) se reúnem para gravar
um álbum, um projeto diferente do seu padrão usual ou de seu trabalho
principal, e acabam gerando resultados bem interessantes, alguns excelentes
mesmo. Algumas gravadoras até se especializam nesse tipo de
lançamento, como a italiana Frontiers Records, que seguidamente apresenta
álbuns bem legais, juntando músicos de talento.
Temos aqui um side project bem interessante, o Ultraphonix, que traz como dupla central o
vocalista Corey Glover e o guitarrista George Lynch. Corey ficou conhecido pelo
seu trabalho na banda de Hard Rock Living Colour, que lançou álbuns de bastante
sucesso ali nos anos 90, formado por músicos de descendência africana, chamou
atenção por sua qualidade, seu som diferente, em um estilo com muito suingue,
flertando com a Black Music.
Já Lynch, o cultuado e inventivo guitarrista, que fez parte de uma das principais bandas norte-americanas de Hard Rock, o Dokken, além de ter seus próprios projetos solo, como o Lynch
Mob, desfila com liberdade seu estilo bem próprio, e é um guitarrista que sempre
gostou de tentar coisas novas, mesmo muitas vezes não sendo bem aceitas pelos fãs
mais tradicionais.
Essa dupla, de grande
personalidade musical, uniu forças e o resultado é o álbum “Original Human
Music”, primeiro trabalho do Ultraphonix. No álbum podemos
encontrar uma sonoridade diversificada, que flerta com o Hard Rock, Funk, Blues, Alternative Rock e Pop Rock.
Lynch. com seu peculiar talento e criatividade traz uma escolha de timbres de muito bom gosto, com solos e melodias marcantes. E Corey, com sua voz bem característica, é também um excelente letrista, com canções que vão
desde o cunho político e social, à temas cotidianos. Acompanham a dupla, os
ótimos Pancho Tomaselli (baixo) e Chris Moore (bateria).
Hard Rock com peso e groove soam
homogêneos ao lado de canções mais suaves, quase pop rock, e guitarras
distorcidas do Rock mais alternativo.
Como destaques cito "Baptism", um Hard moderno e com pegada pesada, onde Lynch traz timbres ríspidos e certa dose de "sujeira"; o suingue pegajoso de "Another Day" traz dedilhados nada usuais, uma certa levada blues e refrão marcante. "Walk Run Crawl" tem uma pegada nervosa, e Lynch capricha no peso e distorção e "Heart Full of Rain" é uma balada com Corey colocando bastante emoção nos vocais, com o andamento e melodias quebradas, ou seja, um álbum diversificado, onde o grupo busca fugir do óbvio, deixando seu talento fluir e acertando na maior parte do tempo.
Um álbum de qualidade, recomendado aos
ouvidos mais ecléticos, e que também procuram música de bom gosto, fugindo um
pouco do usual. O álbum saiu aqui no Brasil via parceria da gravadora europeia
earMusic com o selo brasileiro Shinigami Records.
Texto: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação
Ficha Técnica:
Banda: Ultraphonix
Álbum: "Original Human Music"
País: USA
Estilo: Modern Hard Rock, Alternative Rock
Selo: earMusic/Shinigami Records
A obra de
maior sucesso do escritor George R. R. Martin, os livros da série “A Game of
Thrones (Song of Ice and Fire Series)”, que também foram adaptados para a TV,
resultando na série de maior sucesso da história, arrebatando ainda mais fãs e
admiradores dos contos de Martin, embora a produção da HBO tenha algumas
adaptações dos livros originais, os quais ainda não foram todos lançados, e a
série de TV chegou a sua temporada final no mês de maio, gerando muitas discussões entre os fãs quanto ao destino final dos personagens.
George R. R. Martin
Mas não vamos falar aqui sobre essas questões das controvérsias sobre a temporada final. Fato é que a série mexeu com milhares, inclusive até com quem não acompanhava e até tentava ser indiferente.
No lado musical possui uma trilha
sonora bem interessante, a canção tema da abertura inclusive já ganhou algumas
centenas de versões e homenagens, e a HBO recentemente anunciou o lançamento de
um álbum com músicas inspiradas em Game of Thrones. Dentre os fãs da série e do
escritor estão pessoas de todas as camadas, inclusive outros artistas, como
músicos que escreveram canções inspiradas tanto pelos livros, como pela versão
para as telas.
Alguns músicos, além de contribuírem para a trilha, fizeram uma
pontinha, como Ed Sheeran e também a banda Mastodon, onde os integrantes
aparecem em meio aos mortos vivos no episódio 8 da quinta temporada .
São algumas centenas de canções inspiradas nos livros e série, além de versões de músicas da trilha, e claro, várias citações e homenagens, como no evento da Fender em maio, onde alguns dos guitarristas fizeram uma versão da música de abertura da série (vídeo abaixo).
Vamos então à algumas canções de gelo, fogo e Metal para ouvir além da muralha? Confira a seguir:
SEVEN KINGDOMS - A banda norte americana, possui nome inspirado nos Sete Reinos de Westeros, e álbuns inspirados nos
livros, destacando o de estreia “Brothers of the Night”, que possui canções como
“Stormborn”, “The Winter Comes”, “The Long Night” e “Watcher on the Wall”,
títulos que os fãs de Game of Thrones certamente são familiarizados.
BLIND GUARDIAN – Este gigante do Power Metal épico, que também são fãs da obra de J. R. R. Tolkien, com certeza não iriam deixar de buscar inspiração nos contos de George R.R. Martin, e no álbum "A Voice in The Dark", além da faixa título, há também “War of the
Thrones” inspirada nas canções de gelo e fogo.
ALEX VOORHEES (IMAGO MORTIS) - O vocalista e compositor Alex Voorhees, como grande fã da série e livros, postou em seu canal no youtube duas composições suas inspiradas em Game of Thrones, "Mother of Dragons" e "The North Remembers" (com a cantora Ivana Raymonda).
MORNING STARLETT – “Mother of Dragons”
THE
SWORD– “To Take the Black”
ARKNGTHAND (a banda holandesa também fez um álbum
inteiro inspirado na obra de George Martin) – “Songs of Ice and Fire” (álbum)
WINTERFELL –
“Winter is Coming”
THE LAST ALLIANCE – “White Walkers”, “Beyond the Wall”
SAUROM – “Se Acerca El Invierno”
LICH KING – “A Storm of Swords”
MASTODON –
“White Walker”
DISTANT SUN – “Throne of Iron”
BLOODBOUND – “Iron Throne”,
“Stormborn”
E claro, fecho esta matéria uma das versões mais legais para a música tema, feita pelo músico Skar, da Skar Productions da Noruega, que também tem em seu canal versões de temas de games e filmes.