Muitos devem lembrar que, em abril desse ano, o Saxon estava programado para tocar no Monsters Of Rock, e boa parte que tinha comprado ingresso para ir ao festival era com o intuito de vê-los. Mas para decepção de muitos, a banda cancelou a participação faltando um mês para o festival devido a aposentadoria do guitarrista Paul Quinn, que, para mim, não era motivo para seguir com o cancelamento.
O bom é que não precisou esperar muito tempo pela nova vinda, e ela aconteceu nesse mês de novembro. Para o posto deixado por Paul foi recrutado uma das lendas do Heavy Rock inglês, o nada menos que Brian Tatler, do Diamond Head
Batizada de Seize The Day, a turnê rodou por quatro
capitais brasileiras (Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília). Em São
Paulo era de se esperar por casa cheia, já que 70% dos ingressos tinha sido
vendidos as vésperas do show. Boa parte dos fãs, horas antes da abertura dos portões, tomava conta dos arredores do
Tokio Marine Hall, mas poucos teve o interesse de ver o Madzilla, banda de
apoio durante essa turnê latina, que entrou em ação às 19h10.
Oriunda de Las Vegas, David Cabezas (vocal/guitarra), Ian
Garcia (guitarra), Daniel Gortaire (baixo/vocal) e Luiz Zevallos (bateria), mostraram
talento e habilidade perante ao som moderno que praticam. Mas eles chamaram atenção
não só por isso, e sim pela empatia, principalmente de David, que se comunicou
em ótimo português com todos. Já Daniel, que também arriscou a falar nossa
língua, não parava de agitar um segundo com o seu baixo todo estilizado
A banda apresentou alguns singles e músicas do seu primeiro
trabalho, “Asphyxiating Cries” (2021), para um público tímido e diferente do
que viria a seguir. Muitos, inclusive este repórter, nunca tinha ouvido falar
deles. Quem se dispôs a vê-los tiveram uma reação muito positiva do quarteto
com uma apresentação cheia de peso e agressividade, que com certeza vai render
bons frutos no futuro.
Já com a casa completamente cheia, o momento de Biff Byford
(vocal), Doug Scarratt e o citado Brian Tatler (guitarras), Nibs Carter (baixo)
e Nigel Gloker (bateria) aparecerem no palco estava cada vez mais próximo.
Muitos acabaram nem notando o breve atraso, pois todas as atenções estavam
voltadas ao palco com backdrop vermelho com o logo da banda em dourado e a
famosa águia em volta do praticado de bateria.
Enfim, às 20h45, a lenda da NWOBHM iniciou o show de forma matadora com “Carpe Diem (Seize the Day)”, que dá nome ao último trabalho, lançado ano passado. Além dela, o set contou com “Age Of Steam”, “Dambusters” e a climática “The Pilgrimage”.
Todas funcionaram muito bem ao vivo, mas o que realmente
todos estavam esperando era pelos clássicos, que quem já teve a experiência de
assisti-los, sabe muito bem que 90% do repertório é só com músicas dos álbuns lançados
nos anos 80, e elas logo apareceram de início com “Motorcycle Man” (com Biff dando
assovios em referência a águia), “Power and The Glory”, “Dallas 1 PM” e “Heavy
Metal Thunder”.
O público, a maioria na casa dos 40/50 anos, celebraram (e
muito) todas as pérolas executadas com o alto som que vinha dos PAs. O alto
volume, às vezes, acaba soando como uma crítica, mas não há problema nenhum
quanto a isso em se tratando de Saxon, pois toda obra da banda ao vivo fica
melhor com o volume lá em cima mesmo. No meio das citadas acima, ainda teve a
pesada (e não tão nova) “Sacrifice”, do álbum de mesmo nome, lançado em 2013.
Os músicos – hoje na casa dos 60/70 anos – ainda continuam com folego de sobra para encarar duas horas de show. Brian Tatler, ao lado do excelente Doug Scarratt, executou todas as músicas com perfeição; Nibs Carter – que tem o espirito mais jovial dentre os demais – agitou e correu no palco o tempo todo; Nigel Glockler, um dos bateristas mais subestimados da história, quebrou tudo diante do seu kit de bateria.
O grande Biff Byford, claro, continua
cantando muito! Ele não só interagiu como também distribuiu água para os que
estavam perto do palco e recebeu, de forma muito carinhosa de um fã, coletes com
‘patchs’ do Saxon e de bandas da época.
Sem nada combinado e anunciado, “Ride Like the Wind” contou com a participação do Fabio Lione, vocalista do Angra. O público curtiu bastante a participação do italiano, que mostrou um jeito mais agressivo de cantar.
Antes
dela teve “Crusader”, que culminou num dos momentos mais épicos quando o
público puxou um lindo ‘Oh, Oh, Oh’ enquanto Brian mandava as melodias
iniciais. A intenção do Biff era trocar ela por “Broken Heroes”, mas, após uma
rápida enquete feita por ele, “Crusader” – que abre o álbum de mesmo nome – é a
que teve maior reação.
Mas as surpresas não pararam por aí! “Dogs Of War” foi um presente bem dado para os paulistanos, já que ela não foi tocada na noite anterior, em Curitiba. E bastou apenas um segundo dela para o Tokio Marine vir abaixo, o que mostra que os ingleses também fizeram excelentes trabalhos na década 90 e fazem até hoje.
Ainda em território noventista, o show seguiu com “Solid
Ball of Rock”, que, para este autor, é a melhor música da história do Saxon. Os
riffs e os solos dela são perfeitos e deixam qualquer apreciador de Heavy Metal
inquieto.
Para os amantes do álbum “Denim and Leather” teve uma
dobradinha especial com “And the Bands Played On” e “Never Surrender”, que
também não foi tocada em Curitiba. “Wheels Of Steel”, considerado o marco zero (muitos
não dão muita importância ao homônimo disco, lançado em 1979), encerrou a
primeira parte do show antes de começar o primeiro bis e com o Biff reclamando
demais do calor, que realmente estava insuportável.
O jogo já estava ganho, mas a banda quis por mais bola
dentro nas ultimas músicas. Em “747 (Strangers In The Night)” contou com a
rápida aparição do vocalista Tim “Ripper” Owens, que finalizou sua turnê pelo
Brasil no último dia 12/11, em Goiânia. Para quem não sabe, a música fala sobre
o voo 911 da Scandinavia Air Line, onde Biff fez questão de imitar um avião
para exemplificar a história.
“Denim and Leather” (todos dando socos para o ar e gritando ‘Hey’ durante os riffs) e “Princess of the Night” deu os sinais de que o final estava por vir, já que, a última mencionada, é a que marca o encerramento de todos os shows. Mas sob os gritos de ‘one more song’, a banda voltou ao palco para tocar mais uma, e “Strong Arm of Law”, que fica numa posição elevada no set, encerrou o show que foi – se fosse resumir em simples palavras – marcante e histórico.
Para quem já viu Iron Maiden e Judas Priest três vezes
faltava um show do Saxon, que compõem o terceiro pilar do que eu chamo de ‘A Tríade
do Heavy Metal Inglês’. Ao lado desses baluartes da música pesada, a banda entrega
aquilo que todo headbanger espera, que é um verdadeiro show de Heavy Metal com
energia, harmonia e muito peso.
Acredito que todos que estiveram no Tokio Marine, em pleno
feriado nacional, saíram com a sensação de dever cumprido, já que, segundo
boatos, pode ter sido a última vinda dele em São Paulo e nos demais locais que
estiveram aqui no Brasil. Vamos torcer para que não e que eles possam continuar
fazendo mais discos e turnês pelo mundo a fora.
Texto:
Gabriel
Arruda (@gabrielarruda07)
Fotos:
André
Tedim (@andretedimphotography)
Realização:
Top
Link Music (@
Saxon
Carpe Diem (Seize the Day)
Motorcycle Man
Age Of Steam
Power and the Glory
Dambusters
Dallas 1 PM
Heavy Metal Thunder
Sacrifice
Crusader
Ride Like the Wind (participação especial do Fabio Lione)
Dogs Of War / Solid Ball of Rock
And the Bands Played On
Never Surrender
Wheels Of Steel
***Encorre***
The Pilgrimage
747 (Strangers In The Night) (com aparição do Tim “Ripper”
Owens)
***Encore 2***
Denim and Leather
Princess of the Night
***Encore 3***
Strong Arm of the Law