Como parte dos 20 anos de existência, a banda Torture
Squad vem promovendo a divulgação de seu novo álbum, “Esquadrão de Tortura”, o
que marca a estreia da nova formação, agora como power-trio, formado por Amilcar, Castor e André Evaristo. (READ THE ENGLISH VERSION HERE)
Já que o álbum é totalmente politizado e com letras
falando sobre fatos durante a Ditadura Militar, o baterista Amilcar
Christófaro atendeu a equipe do Road To Metal pra falar de como surgiu a ideia de fazer um
álbum conceitual, além de outros assuntos relacionados com o novo trabalho.
Pra quem não liga muito pra política, é importante ler
o que o Amilcar fala no finalzinho da entrevista, o que também foi um
aprendizado rápido pra mim.
Road to Metal: Tendo 20 anos de estrada completados, o Torture Squad
está vivendo um novo momento lançando o seu mais novo disco de estúdio,
"Esquadrão de Tortura". Um marco na carreira, afinal este é o disco que marca estreia da
banda como 'power-trio', além de ser o primeiro trabalho conceitual, despertando muita atenção bem antes de lançarem
o álbum. Pra começar, como foi trabalhar o disco com apenas três integrantes?
AC: Basicamente é o modo
tradicional da gente, que é de muitos ensaios. O André já veio entrando junto
com a tradição de ensaios da banda. A gente não mudou absolutamente nada! Foi o
André que se incorporou ao nosso método, que é o método tradicional de banda,
onde a gente ensaia bastante, compõe e ensaia músicas que a gente toca nos
shows. É dai que foi se construindo o nosso novo entrosamento. E com certeza o
disco nasceu dessa forma, do jeito tradicional.
|
Amilcar Christófaro |
RtM: Neste novo álbum, o Torture Squad estreia um trabalho conceitual, abordando tudo o que aconteceu durante o
período da Ditadura Militar aqui no Brasil. Escrever um álbum inteiro falando
somente sobre esse assunto já vem desde cedo ou teve a influência de alguém que
viveu aquela época e que, de alguma forma, achou interessante relatá-la no
disco?
AC: A ideia não veio de
influência de ninguém. Simplesmente pintou a ideia de falar sobre algo
importante que, aliás, tem a ver com o nome da banda. Mas nem o nome do disco,
que hoje é "Esquadrão de Tortura", pintou de prima. Foi uma coisa que
foi rolando, as ideias foram vindo e escolhemos as melhores. E a ideia de falar
sobre a ditadura já veio naturalmente, que já faz um tempo que pintou essa
ideia. Nunca tínhamos feito um álbum conceitual. E, principalmente, é muita a
primeira vez de muitas coisas nesse disco. A ideia pintou quando a gente ainda
estava com a outra formação e, quando o Vitor saiu da banda, a ideia ficou mais
enraizada.
RtM: E especificamente quanto a parte lírica?
AC: As letras, que na época era o Vítor que ia escrever, pintou
naturalmente pra gente fazer, principalmente pra mim. E eu curti demais fazer a
pesquisa e entender mais sobre o assunto, porque antes eu sabia
superficialmente sobre a época da ditadura. Com certeza eu não sei tudo porque
são vinte anos de história, tanto que nas onze músicas citamos as partes mais
significativas na época que se passou no regime militar. E no encarte fizemos
questão de colocar resumos de cada música, porque na música a gente cita uma
coisa e no resumo, a pessoa vai entender um pouco mais sobre aquilo que foi citado. E eu
fiquei feliz de entender mais sobre o assunto, e de poder ter usado a minha
música num assunto importante que aconteceu no nosso país. E fazer com que
outras pessoas (pegando o nosso disco, lendo as letras e lendo os resumos), possam
entender mais sobre o assunto. Fico feliz com essa possibilidade que a gente
está tendo.
RtM: Os discos anteriores da banda, contando com este mais
recente, foram escritos e cantados em inglês, óbvio. Mas pela primeira fez, se
não me engano, o Torture Squad é a primeira banda de Heavy Metal brasileira que
lança um disco com letras inglês com o título em português. Se tratando de um
fato histórico que aconteceu aqui no Brasil foi mais convencional em batizar o
título do álbum em português do que em inglês?
AC: Eu também não sei se
o Torture Squad é a primeira banda que canta em inglês, com o nome inglês e o
título do disco em português. Não sei te falar se somos a primeira, mas com
certeza é o primeiro da nossa discografia e da nossa carreira, onde todos os
discos são com títulos em inglês e esse é o primeiro com o nome em português.
RtM: O
"Esquadrão de Tortura" pode ser considerado mais um material pra quem
quer estudar sobre a Ditadura Militar?
AC: Essa pergunta é bem
legal! Eu considero que sim, o nosso novo disco é um material pra conhecer sobre a
época da ditadura, porque fizemos um estudo sério e aprofundado. Pode não ser
tão aprofundado quanto outras obras que falam desse assunto, mas com certeza
uma pessoa pode conhecer alguma coisa com o disco e se aprofundar sobre o
assunto através de algum livro ou em um link da internet. E o álbum serve sim
para um estudo sobre o tema.
RtM: Pesquisar sobre tudo o que aconteceu durante a Ditadura Militar não tem segredo, porque tem vários documentários, livros e reportagens que abordam sobre o tema. E também, é claro, tem vários artigos na internet e de professores de história que dão aula em escolas públicas. E já que eu citei essa parte didática, o professor Alexandre Rossi Carneiro lhe auxiliou sobre o assunto pra ajudar nas composições do disco. Ele foi a melhor escolha pra que tivessem um conhecimento mais a fundo?
AC: Sobre o Alexandre Rossi posso falar que, pra gente, foi a escolha certa! Pode até ter outras pessoas que entendem mais sobre o assunto, mas ele foi a melhor escolha. E dentre as pessoas que a gente conhecia, ele foi a escolha obvia por ele ser fã da banda há muito tempo e da gente conhecer ele também. Quando o André entrou na banda não sabíamos que ele conhecia o Alexandre, mas ele já era amigo dele há muito tempo também.
RtM: Foi realmente a escolha certa!
AC: Naturalmente foi a melhor escolha que a gente pode ter. Ele montou um texto
apontando acontecimentos da época do regime pra lado nenhum, porque esse era o
nosso critério. O critério é narrar a história! E não precisa ser de esquerda e
nem de direita pra você entender um assunto e formar a sua opinião. E essa é a
nossa intenção com o disco, que as pessoas entendam mais sobre o que aconteceu,
e que não precisa levantar bandeira de cor nenhuma para ter uma opinião.
RtM: A capa, que foi desenhada e ilustrada pelo João
Duarte, me chamou muita atenção pelos crânios, a cruz, o jornal, a coruja e o Cristo Redentor. Existe algum significado por trás desses cincos elementos
postos na arte gráfica do álbum?
AC: Existem todos os significados,
essa é a verdade (risos). O Cristo Redentor e o jornal é pra identificar que
foi no Brasil. O Cristo Redentor é uma coisa universal, que qualquer um que vê
já sabe que é no Brasil, e a gente fez questão de colocar o jornal usando uma
expressão francesa falando "Coup D' Etat", que é "Golpe de
Estado" em francês. Só que essa expressão é usada no mundo inteiro.
Então qualquer pessoa que pegar o disco em qualquer lugar do mundo e ler: "1964 Brazilian - Coup D' Etat", e ver o Cristo Redentor já vai saber
do que o disco se trata, que é um golpe de estado no Brasil. E essas duas
imagens foram justamente pra isso, que é pra facilitar a informação.
Os crânios são pra representar os mortos. E as cruzes
atrás, se você reparar, tem cruz de tudo quanto é crença, porque naquela época
ninguém estava a salvo da repressão e que qualquer um poderia receber.
A coruja, que você citou, que bem que poderia ser, é uma águia (risos). Uma coisa, que aliás muita gente não sabe, foi a influência americana
no golpe de estado do Brasil. E teve uma influência muito grande,
principalmente com o Lincol Gordon, que era da embaixada americana aqui em São
Paulo. Aliás eu tive uma grande referência sobre a influencia americana no
golpe em um documentário chamado "O Dia Que Durou 21 Anos", que fala só
sobre a influência americana no golpe. E isso era um fato muito importante que
não poderia deixar de passar no disco, e colocamos justamente a águia pra
representar isso.
RtM: Em se tratando de álbum conceitual e uma banda como o
Torture Squad, tudo se encaixou perfeitamente! Até mesmo na data de lançamento
vocês foram conceituais, que foi lançado no dia 15 de novembro de 2013, dia da
Proclamação da República Brasileira. Isso foi uma maneira de celebrar a data
fazendo uma reflexão escutando o disco?
AC: Todo mundo pode levar
como quiser! Teve momentos na hora da gravação, quando o disco estava sendo
feito, que conversamos com a gravadora em relação ao lançamento, onde a gente
se pegava conversando sobre politica por causa do disco. E isso é muito legal,
porque dá a oportunidade de quem conhece a banda e dos bangers que, talvez, não
liguem muito pra politica. E eu entendo esse lado, porque a minha vida inteira
foi pensando na banda e na minha música.
A gente vai vendo que, naturalmente,
temos que aprender um pouco de tudo. E a política, ela está muito inserida na
nossa vida! Não podemos ficar vivendo e fazer de conta que a política não
existe, porque tem que entender o que está acontecendo, até pra melhorar o que
tem por vir. E dando a possibilidade com o nosso disco, eu fico extremamente
feliz. Lançamos no dia da Proclamação da República foi por querer mesmo, que é
uma data simbólica no país e do disco ter essa temática política. E eu acho que
a data se encaixou com o lançamento.
RtM: Falando sobre a sonoridade do disco, a banda sempre
seguiu uma linha Thrash Metal e Death Metal. Mas depois que o Vitor saiu e o
André se tornou vocal, as novas músicas ficaram Thrash Metal e Heavy Metal,
dividido no meio. Essas variações foram para deixar o André mais a vontade pra
poder cantar?
AC: Não, porque a gente
não compôs para o vocal dele. Na verdade isso é até normal fazer, mas só que
as músicas já estavam sendo feitas e pintou dele cantar. Então ele foi meio que
adaptando ao que a música é. E pra te falar a real, ele foi muito guerreiro!
Daqui pra frente, talvez, até role dele se ligar que está fazendo um riff, que
não está casando com a voz, ou que ele vai encaixar a voz de uma outra forma,
porque o riff está sendo feito de uma outra forma. Mas, no disco, não teve esse
pensamento. O disco foi ele colocar o vocal em cima e aprender a fazer.
Então
foi um desafio que ele adquiriu e foi dessa forma. Tem música mais cadenciada e
tem música que é mais Thrash que não foi proposital por causa da voz dele ou
porque ele está cantando e tocando, foi porque rolou naturalmente, mesmo. Eu
estou muito feliz com a voz dele, que é um Thrash Metal rasgado, e a voz do
Castor é um Death Metal old school. Então a gente tem o Death e o Thrash na
voz, conseguimos trabalhar bem isso no primeiro disco com essas duas vozes. E,
com certeza, eu acredito que dá até pra trabalhar mais, o que vai fazer crescer
o entrosamento em relação a isso.
RtM: Neste novo disco existem várias participações, como a Sphaera Rock Orquestra, Rafael Augusto Lopes (ex-guitarrista da banda),
Fernanda Lira (Nervosa), Paulinho Sorriso e Dino Verdade. Mas a
participação que eu mais gostei foi a do João Gordo (Ratos de Porão), cantando a
faixa "Pátria Livre". Como foi reunir todo esse pessoal pra participar do álbum?
AC: Antes de o João Gordo
ser convidado, a música já estava feita. No começo ela tinha letra e tudo, mas
depois ela passou a ser instrumental, até que chegou a ideia da gente colocar
só uma estrofe numa hora, que é a parte mais Hardcore da música. E sempre que toquei essa música, eu levava como uma singela homenagem ao Ratos de Porão por ser Hardcore. E nessa parte entrou uma estrofe de uma carta que o
Carlos Marighella mandou ao ex-partido dele, porque ele tinha ideias mais
radicais em relação do combate do regime militar.
|
João Gordo, vocalista do lendário Ratos de Porão |
E aí foi passando o tempo e
pensamos: "E se a gente chamasse o João? Ia ser animal!", até que eu liguei pra
ele, ele aceitou e ficamos que nem uns moleques, loucos e felizes da vida, porque no Ratos de Porão estão alguns dos nossos heróis! Sepultura, Krisiun e Korzus, também são bandas que fizeram história pra gente, porque elas representam muito. E só
pra terminar sobre o João, acho que caiu como uma luva mesmo. É um momento de
protesto na letra, e ele cantando, como sempre fez com o Ratos, caiu como uma
luva, principalmente nessa época que é o Hardcore da música, onde que eu
sempre pensei no Ratos de Porão. E foi impressionante ele cantando nessa parte,
que foi muito especial.
RtM: E quanto as outras participações?
AC: As outras participações rolaram naturalmente. Tem uma
música no disco, chamada "Architecture Of Pain", que tem um momento
que fica baixo e batera, que me remeteu muito a música latina. E ai eu pensei
em colocar instrumentos de música lática, com o Ganza, Queixada e até o Meia
Lua, mas só que numa mix bem baixa só pra dar um molho, o que não
descaracteriza em nada. E ao em vez de eu gravar, eu pensei... 'Por quê eu
gravar se eu posso chamar alguns amigos que são batera e que poderiam participar
do disco'? E foi isso que eu pensei. E aí que chamei o Paulinho Sorriso, que é
um batera de samba-rock, e que temos um grande contato com a Orion Cymbals. O
Dino Verdade eu tenho um grande contato com ele, admiro como batera e como
empreendedor, porque ele é o dono do "Bateras Beat".
A ideia da Sphaera Rock Orquestra, de fazer o quarteto
de cordas, só foi de fazer um tchello e um violino na "Conspiracy Of
Silence", que é uma parte mais Death Metal, onde que eu imaginei essas
cordas junto com o riff. E no final eles compuseram pra um quarteto e ficou
animal! Foram dois violinos, uma viola e um violoncelo. Eles gravaram pra
"Conspiracy Of Silence" e "For The Countless Dead", que é
uma música instrumental e uma das partes mais importantes do disco, onde a
gente deixa uma pergunta nor ar, de falar que teve esse lado e teve outro. Mas
como o preço não é muito alto, o que quê você acha? Então pra quem escuta o
disco e pra quem lê as letras é pra ter a opinião própria.
|
Fernanda Lira (ao centro) da Nervosa, também teve participação destacada no álbum |
RtM: E a participação da Fernanda, da Nervosa, e do Rafael, ex-guitarrista do Torture?
AC:A Fernanda da Nervosa gravou uma narração na "For
The Countless Dead", que eu acho a mais importante do disco, como acabei
de falar. Tem uma narração em inglês e outra em português, quem gravou a em
português foi o Tommy Moriello, da Crash Bang, e que também trabalha pra gente.
A inglês foi a Fernanda Lira, da Nervosa, que também gravou os vocais para uma
música do Coroner, a "Divene Step". Aliás a gente tem 11 músicas no
disco, mas a gente gravou 17 e que sobrou seis pra ir trabalhando aos poucos.
E tem a participação do Rafael, que eu achei genial.
Foi o Castor que teve a ideia dele fazer o solo na "Wardance", que na
verdade é um solo que a gente compôs junto na época que ele estava na banda. O
solo é a composição dele, mas o riff e a base a gente compôs junto. E a gente
achou demais ele estar no disco tocando com uma melodia que ele mesmo compôs.
As participações foram muito especiais! Ficamos muito
contentes de ter todo mundo no disco, algo que a gente guardará com muito carinho.
RtM: A produção mais uma vez foi assinada pelo Brendan
Duffey e o Adriano Daga no Norcal Studio. Hoje o Norcal sendo um dos melhores
estúdios que se tem pra gravar, e com bastante banda boa saindo de lá com
ótimos discos, se tornou a melhor opção para gravar o novo disco?
AC: Eu acredito que sim,
porque com certeza eles são um dos melhores produtores de Heavy Metal que tem
aqui no Brasil. O Brasil está começando a ficar com muitos peritos e muitos
produtores que já sabem do que se trata o Heavy Metal, o que no passado, talvez
não muito distante não tivesse, mas hoje tem. Tem o Pompeu e o Heros no Mr.
Som, o Ciero na Tribos... São produtores que trabalham com esse tipo
de som há muito tempo, que sabem a linguagem e que sabem do que se está falando.
E o Brendan e o Adriano com certeza são bem fortes no quesito produção de
Heavy Metal. E a gente está bem feliz com o resultado final do disco, porque
ele é muito verdadeiro com o som que eu consegui na batera e do som que a gente
pegou na guitarra. E quando digo verdadeiro, todos os nossos discos são, mas eu
acho que esse consegue passar realmente o som que sai do ensaio, pra passar para
a gravação do disco.
RtM: Ano passado você recebeu o convite de fazer
participação do novo DVD do Angra, o "Angels Cry - 20th Anniversary
Tour", executando a música "Evil Warning". O registro também
teve participações da Tarja Turunen, Uli John Roth e do pessoal do Família
Lima. Agrega-te muito esses convites que são feitos pra você, como também foi
com o Sepultura em 2011?
AC: Com certeza, porque a
gente está falando de bandas monstruosas. O Sepultura, não tem o que falar! O
Angra também é gigantesco no que eles fazem. Eles têm uma gama de fãs
nervosíssima! Talvez muitos fãs de Metal melódico que não conheciam o Death e o
Thrash do Torture Squad, o DVD fez chegar o som da banda até eles.
E com
certeza agrega muito! E pra mim agrega em vários segmentos, como por exemplo,
eu tive o prazer de ser chamado pra gravar um cover do "Brutal
Truth", do CD novo do Oligarquia, que é uma banda contemporrânea e que
está no underground a mais de 20 anos. Eles vão fazer um disco só de covers pra
demonstrar as influências da banda. E em todos os lados agrega, porque o nome
da minha banda está chegando a lugares que talvez não chegasse. E eu fico muito
feliz com os convites.
RtM: Falando mais uma vez sobre o novo álbum,
como você compara o "Esquadrão de Tortura" com a realidade atual de
hoje?
AC: Na última música
fizemos a questão de finalizar a história da ditadura, que acabou em 1985, mas
foi em 1988 que promulgou a norma constitucional, que no papel e pelas leis
tinha acabado a Ditadura Militar. A democracia na verdade tinha voltado, o que
se torna uma interrogação. A eleição que veio após a ditadura foi a do Collor
e do Lula, onde tinha o lance da Rede Globo se infiltrando nos debates e que,
isso, foi comprovado. Tentaram manipular a cabeça do povo dizendo que o Collor
era o melhor. Mas esse nepotismo continua na política, com os filhos, com a
família Sarney, com o ACM... Ou seja, a ditadura acabou, mas talvez ela
continue de outra forma. Não digo em relação à repressão, mas eu digo com
aquele jeito antigo de se pensar.
Não digo que a ditadura teve isso, mas eu
acho o que pegou mesmo naquela época foi o lance da repressão e do golpe,
dizendo que o João Goulart era um comunista e tal. Era uma coisa que nasceu
errada e que só podiam acontecer coisas erradas, essa é a visão que eu tenho. E
hoje, mesmo com a democracia, eu acho que rola muita picaretagem com essa coisa
do querer ganhar mais e de passar por valores normais pro ser humano, que é a
coisa de você ser honesto e de ganhar o que é seu por direito. Mesmo estando o
pote de ouro no seu lado e não é seu você não tem que pegar, porque é de
alguém. Mas eu não sei... O Brasil sempre vive essa coisa do jeitinho
brasileiro, dessa coisa de dar-se um jeito e da coisa do que eu possa dar uma
melhorada aqui. E isso enche o saco! E é muito revoltante, porque é isso que não
deixa o país ir pra frente.
RtM: O famoso jeitinho e aquela ideia de sempre tirar uma vantagem em tudo!
AC: E é exatamente essa cabeça que tem na política
hoje. E isso um dia tem que mudar! E eu acredito muito nas pessoas do bem,
junto com as novas gerações, com a criançada que está sendo educada pelos
próprios pais, que já sabem o que precisa pra que mude isso, que já as eduquem
hoje para que, quando chegar lá e tiver o poder nas mãos, já saber o que fazer.
E eu acho que acabou aquela repreensão duríssima que tinha na ditatura. Pode
ter uma repressão ainda, mas talvez não seja com tanto afinco quanto antes. Só
esse lance da política já me perturba de uma forma muito grande. Eu acredito
que isso está me influenciando tanto que, as músicas do próximo disco, virão mais politizadas. E com certeza o próximo disco vai vir uma coisa de a gente
falar realmente o que a gente acha hoje, com as letras mais realistas.
|
O gaúcho João Goulart (conhecido popularmente como "Jango"), 24º presidente |
Nós que somos do bem e fazemos as coisas na honestidade,
toda notícia de político é 99% de pilantragem. Você não tem em quem confiar! E
vendo as entrevistas do João Goulart no Youtube, eu sinto uma verdade no olhar
dele que eu não sinto nos políticos de hoje. E independente de bandeira e de cor, não tem mais essa de partido! Tem
que ter honestidade e hombridade, porque você tem que ver o valor na pessoa,
mesmo. E quando eu via as entrevistas do João Goulart, eu senti uma verdade
muito grande no que ele falava. É claro que eu não vivi a época, às vezes as
pessoas que me vêem falando acham que estou errado, mas eu estou falando do feedback que
eu tive de tudo o que eu vi.
RtM: Depende do ponto de vista e até o grau de conhecimento de cada um sobre o assunto, penso eu.
AC: Eu não vi mentira, eu vi um cara simples querendo
o bem pro país. E via com honestidade no olhar, que é uma coisa que eu não vejo
nos políticos de hoje. Às vezes o pessoal fica esperando acontecer alguma
coisa pior, do tipo começar a matarem uns políticos e jogar nas valas e
neguinho começar a perceber que está ficando feio pra quem mata, rouba e para quem não está nem ai pro povo. E o povo precisa mesmo acordar, de um jeito, que
o país ainda não viu. E uma coisa dura tem que acontecer pra todos, que é pra
coisa recomeçar de um jeito que fique tudo bem.
RtM: Para encerrar, quais são os planos do Torture Squad
para esse ano de 2014? Pode pintar um DVD ou CD ao vivo?
AC: Pode sim,
principalmente no final da turnê do disco. Não sabemos onde e não sabemos quando
ainda, o que a gente sabe é que queremos gravar um DVD mais pro final, mesmo.
Não digo que no final do ano ou começo do ano que vem, mas como a gente já tem
tocado bastantes músicas, queremos pegar a banda ainda mais quente. E vamos
tocar o máximo que puder pra divulgar o disco, já temos planos pra fazermos uma
turnê aqui no Brasil, que a Agencia Sob Controle vai marcar tudo pra gente.
Estamos tentando pra fazer essa tour antes da Copa, porque com certeza vai
parar tudo. E depois da Copa, ou durante, temos planos da gente também ir pra
Europa. E tudo isso está sendo trabalhado. Enquanto isso, estamos fazendo
nossos shows esporádicos, mesmo.
RtM: Muito obrigado pela entrevista! Deixo o espaço
liberado pra você dizer qualquer coisa para os leitores.
AC: Um grande abraço para
todos os bangers que acompanham o Road To Metal! Foi um prazer essa conversa com
vocês. E força para as bandas brasileiras e pra cena Metal brasileira.
Fotos: Divulgação/Arquivo
Pessoal da Banda
Saiba mais: