Chega a ser um paradigma as pessoas definirem que o Rock
brasileiro é simbolizado pelo Barão Vermelho, Cazuza, Raul Seixas, Capital Inicial
e entre outros, uma injustiça e até um equívoco brutais, mostrando total desinteresse e falta
de informação da história do
Rock em terras tupiniquins. Primeiramente, há que dar destaque a Os
Mutantes, Made In Brazil, Patrulha do Espaço, O Terço, O Som Nosso de Cada Dia,
Casa das Máquinas e etc. Desses grandes nomes partiu também a influênciaàs bandas de Heavy Metal e Hard Rock que estavam surgindo, seguindo a mesma linhagem sonora e significando a evolução, além depriorizar as composições em português. O
exemplo e influências são seguidos até hoje, e o Kamboja, banda com integrantes que veio
dessa leva e bebeu nessa fonte, mostra em “Viúva Negra”, seu primeiro trabalho, o verdadeiro
significado e cara do realRock nacional.
Mirar gênero ou um estilo que especifica a predominação e
a atitude sonora feita pelo Fabio Makarrão (vocal, ex-proprietário do Black
Jack Rock Bar e criador do programa Sleevers), Edu Moita (guitarra), Frank
Gasparotto (baixo) e a lenda Paulo Thomaz (bateria, ex-Centúrias, Harppia,
Firebox e atualmente no Baranga), pois o quarteto faz um Rock acessível, para
aqueles que têm bom gosto e sem qualquer tipo de incógnita, ignorando qualquer frescura, fazendo jus ao contagiante e nobre Hard Rock clássico praticado em
meados nos anos 70 e 80, vindo da escola, principalmente, do Motörhead, AC/DC,
Lynyrd Skynyrd e de outros dinossauros das respectivas décadas citadas, feita de forma atual, suja e instigante.
Comparado ao EP, lançado em 2012, “Viúva Negra” mantém o
mesmo nível apresentado no curto trabalho anterior (letras que fala sobre
diversos assuntos do cotidiano), mas que ganhou dosagens mais pesadas e secas
com a chegada do guitarrista Edu Moita (ocupando o lugar que foi deixado pro
André Curci), que tem como foco priorizar harmonia através de riffs abrasivos,
fazendo-se união às pegadas ‘Bluesing’; Fábio Makkarão(responsável por ter
composto todas as letras) mostra sempre sua vontade e empolgação por trás dos
microfones, com vocais que transitam do mais suave, grave e agudo; já Frank
Gasparotto e Paulão Thomaz mantém uma base rítmica de baixo e bateria na sua devida
altura, sem perder controle nenhum.
A produção bem limpa, masterização e mixagem de ótima
qualidade, ficaram a cargo de Eric Cavalcante e Rogério Wecko, gravado no estúdio
CdAudio/Hell’s Cage em São Paulo; a parte gráfica, que mostra um clima bem
soturno (de acordo com a nomenclatura do disco) foi ilustrada e direcionada
pelo artista José Proença.
Nas primeiras cinco faixas de “Viúva Negra”, são
apresentadas músicas totalmente novas e quentes, começando pela faixa que dá o
nome ao álbum, iniciando com um tema bem sarcástico para, logo em seguida, a
banda entrar em ação de maneira simples e reta, apresentando ótimos riffs e
refrãos bem postados, preenchida de solos bem elaborados de puro feeling;
“Virtual” impõem um andamento mais rápido e acelerado, flertado com o Hard Rock e apresentando guitarras bem ganchudas, acordes de baixo martelados,
abrangendo um pouco de humor na letra, que retrata a inocência que existe no
mundo das redes sociais e da internet;
“Contagem Regressiva” prossegue de
maneira mais cadenciada, conduzida por arpejos que transitam a melodias mais
limpas, com timbre de voz bem variado e a bateria segurando perfeitamente a
base; a lenta “Sangrando” vem arrastada e azeda, com um inicio bem
exótico de slide-guitar, mas que não poupa energia e peso no instrumental,
sendo o ponto mais alto do disco; “Batendo de Frente” mostra toda pureza e a
vibração do Rock, com inicio a la Motörhead, onde baixo e bateria unem forças, e
riffs explosivos no estilo AC/DC, tendo arranjos muito bem sacados pra serem
executados ao vivo, perfeita para o público entrar no clima da música.
Pra quem tem curiosidade de saber como o Kamboja se
comporta ao vivo, a banda registrou mais três faixas inéditas, gravadas nos estúdios
da rádio Brasil 2000. “Mentira”, que tem um comportamento mais radical e "bravo"
em todos os aspectos, e a letra abordando um assunto bastante relevante à
humanidade, principalmente aqui no Brasil. Só ouvindo a pessoa vai saber do que
se trata; “Não Vá em Vão” prioriza riffs abafados e pulsantes de forma bem efêmera e coesa no aspecto "bateristico"; “Alien Nação”, no geral, segue a mesma
linha da anterior, só que de forma mais introspectiva e serena.
A parte final do disco segue com as faixas do EP “Kamboja”,
de 2012, como um extra-bônus, destacando “Se Deus Pudesse Me Ouvir” (retratando
os problemas políticos do Brasil), “Acelerando” (perfeita para correr na
estrada) e “Dona da Madruga”, minhas favoritas, mas que num contexto
geral, todas soam ótimas, até sendo injusto destacar alguma em especial.
Qualidade e experiência não falta para os
músicos que integram o Kamboja, que mostram como fazer Rock contagiante,
agradável e raçudo, sem precisar de muita frescura, e que não deixarão a peteca cair tão cedo.
O folk metal é um estilo que,
muitos dizem, pouco tem a ver com a cultura brasileira. Alguns dizem até que
não tem nada haver. Mas isso não impede que bandas de talento surjam e mostrem
que isso não serve de impedimento e comprovem que, quando se trata do “país do
heavy metal”, todo estilo tem força e pode se manter.
Dito isso, não causa surpresa o
trabalho de estréia da banda mineira HAGBARD.
Composto por Igor Rhein (vocal), Tiago Gonçalves (guitarra), Danilo Marreta (guitarra), Gabriel Soares (teclados e flautas), Rômulo “Sancho” (baixo) e Everton Moreira (bateria), o grupo
apresenta em RISE OF THE SEA KING
(2013) qualidades suficientes para figurar entre os grandes nomes do Folk Metal
nacional.
Gravado entre setembro de 2012 e maio
de 2013 em Juiz de Fora (MG) e Mixado e masterizado por Jerry Torstensson no
Dead Dog Farm Studio, na Suécia, o cd nos traz uma banda que sabe o que está
fazendo. Após a intro Eulogy of Ancient
Times, vem uma das faixas de destaque no trabalho. Warrior’s Legacy tem belos riffs e possui belos solos alternados
entre Tiago, Gabriel e Danilo. Essa variação entre as guitarras e o teclado
ficou perfeita na proposta do grupo. Outro ponto a se destacar no trabalho são
os vocais. Por vezes guturais, por hora limpos, além de backing muito bem
estruturados nas composições, Berserker’s
Requiem, com um belo trabalho de baixo e bateria, tem foco na melodia e
peso ao mesmo tempo (em se tratando de folk metal). Mystical Land, totalmente acústica, é uma bela canção. Não há como
escutar essa música e não imaginar bardos á beira de uma fogueira entoando sua
bela melodia. Let Us Bring Something For
Bards To Sing, se tivesse vocais limpos, poderia estar nos primeiros
trabalhos do Rhapsody of Fire.
Sail to War possui um andamento mais cadenciado e tem destaque novamente,
o trabalho de baixo e bateria. March to
Glory, a faixa mais rápida do trabalho mantém as características presentes.
Melodia e belo trabalho vocal. Hidden
Tears contou com os vocais de Vitória Vasconcelos. Bem introspectiva,
mostra o talento do grupo nas composições. Tendo de fundo um belo
acompanhamento de teclado e violino, a bela voz de Vitória ganha destaque. Dethroned Tyrant começa pesada e já
emenda um refrão pra logo em seguida mostrar a versatilidade da banda, pois a
velocidade da bateria em contraste a melodia da flauta ficou muito boa! Until the End of Day encerra o trabalho,
com destaque para o baixo. Cabe ressaltar aqui mais dois pontos. O grupo contou
com a participação do violinista Vinicius
Faza em várias faixas. E o baixo, em todas as faixas, foi gravado por Daniel “Guma” Saab.
Um bom trabalho de um grupo que
pode crescer mais, visto que esse é seu trabalho de estréia (full lenght, pois
já haviam lançado anteriormente o EP Lost in the Highlands). Capacidade e
talento tem de sobra.
O
NECROMESIS é mais uma banda que chega demonstrando um elevado potencial de
crescimento numa cena saturada de bandas de Death Metal. Mayara Puertas (Vocals),
Daniel Curtolo (Guitar), Gustavo Marabiza (Bass) e Gil Oliveira (Drums),
preocuparam-se em criar uma sonoridade que reunisse a pedreira do estilo, com riffs que ora beiram o Thrash Metal, com
pitadas de progressividade às músicas, muito em função das variações que
apresentam, como também pela duração dos sons. No entanto, isto em nada descaracteriza
ou deixa a audição chata. Todos são músicos de extrema técnica, e souberam
forjar temas que prendem a atenção do ouvinte nos detalhes, seja em passagens
caóticas, seja em partes mais densas.
As vociferações que Mayara impõe por
vezes são extremamente guturais, por vezes são rasgadas, ambas carregadas de
ódio. E esta alternância veio muito bem a calhar, denotando às músicas uma
ambiguidade peculiar. De outra banda, os riffs
de Daniel são dotados de peso, velocidade e técnica, pensados milimetricamente
para cada parte da música. Muitas vezes, estes riffs ficam martelando na cabeça, tamanha a sua efetividade, bem
como há, ainda, solos bem encaixados. Outrossim, Daniel ainda contribui com
excelentes backing vocals. Já o baixo
de Gustavo se faz devida e altamente presente, servindo de pilar mestre na
construção da base das músicas, não se restringindo somente às marcações, mas
sim ‘riffando’ quando necessário, imprimindo levadas insanas e cortantes. Um
belo trabalho nas quatro cordas, também; por fim, o trabalho da bateria de Gil
não é menos que exemplar, a despeito do cara sentar a mão no kit, o faz com
maestria, com viradas precisas e uma boa coleção de variações, nunca deixando o
pique cair.
O álbum conta, com participações especiais de Fernanda Lira
(Nervosa) na música Self Condemnation;
de Paolo Bruno (Desdominus/Thy Light) em The
Omission Of Living; Vitor Rodrigues (Voodoopriest) na música The Last Stage Of A Mind; e, Marcel
Briani (In Solitary) em The Last Stage Of A Mind, Awake e Final Truth. Enfim, é bastante animadora
a estreia do Necromesis. É fato que se trata de uma banda pronta, que ainda
crescerá muito e certamente continuará produzindo música de qualidade. A produção
de The Poet’s... foi feita pelo próprio
Daniel Curtolo no estúdio Stage Dive. Já a arte da capa foi feita pelo grande
Mark Riddick (Grave, Coffins, outros) e a concepção pela própria Mayara. Um grande trampo.
1-End of the cloistered
2-Desocial Inclusion
3-Self Condemnation
4-Evolving a Paradox
5-The Life is Dead
6-Awake
7-Condemned by Themselves
8-The Omission of Living
9-Indifferent Echoes of Sensitivity
10-Final Truth
11-The Last Stage of a Mind
A ideia desta matéria (devidamente batizada "Maidens of Metal", também aproveitando o trocadilho com "Made of Metal) surgiu em março, no clima do mês da Mulher e do Dia Internacional das Mulheres, pensamos em realizar um artigo especial, então nossa equipe colheu depoimentos de algumas mulheres atuantes na cena Metal e Rock Pesado, para saber a opinião delas quanto ao papel hoje da mulher nessa cena, antes dominada pelo sexo masculino. Antes, as raras pioneiras penavam com a discriminação e falta de apoio, mas buscaram seu lugar e conquistaram respeito, mesmo que seguindo mais a linha do que era feito pelos representantes masculinos, como as Runaways, Girlschool, Wendy O. Williams, Doro Pesch, Jo Bench, London Wilde e Leather Leone, e aqui no Brasil Volkana, Flammea, Valhalla e Placenta, para citar algumas.
Mais tarde, uma outra geração mostrou que as mulheres não precisavam deixar a serem femininas e até delicadas, ou usarem um figurino mais estilizado, e citamos aí Liv Kristine, Anneke, Kari e logo em seguida Tarja, Cristina Scabbia, Vibeke Stene... e partir daí, bandas com integrantes femininas, não só nos vocais, e até formadas somente por mulheres só cresceu, tendo até alguns rótulos específicos, e inclusive festivais exclusivos, surgindo novos ano a ano, como Metal Female Voices, que acontece desde 2003 na Bélgica, e o She Shakes the Earth, aqui no Brasil, em Brasília.
Charge de Márcio Baraldi, ilustrando isso, de que elas são capazes de tudo
Mas, e afinal? Ainda há muita dificuldade, discriminação? É justo explorar a imagem das musicistas femininas, utilizando rótulos como "Female Fronted Metal" ou "Female Fronted Band"?
E usar esse rótulo é justo ou é tirar proveito, às vezes até para suprir uma possível falta de outras qualidades? Vencer num território predominantemente masculino sem perder a feminilidade também é um desafio. O que elas pensam sobre isso tudo? E também perguntamos a opinião dos "caras".
Sabemos que são poucos depoimentos face a quantidade de bandas, a diversidade dentro dessa cena, além da individualidade de pensamento de cada pessoa, mas acompanhe conosco, porque com certeza, muita coisa conseguimos abranger, conversando com pessoas de diversos países e de diversos sub-estilos dentro do Metal, e, claro, também dê a sua opinião. Vamos lá conferir o que elas têm a dizer?
A experiente London Wilde, que vem de uma época que era bem mais complicada a cena, principalmente para as mulheres, tem restrições quanto à rótulos como "Female Fronted Metal" e também expressa sua opinião às mais jovens:
A experiente London Wilde, que iniciou a carreira em uma época que ainda eram raras as mulheres no Metal
"Eu acho que o termo "Female
Fronted "pode ser negativo se evoca noções preconcebidas sobre como a
música vai soar. Eu acho que é importante para as mulheres no Metal não se
preocuparem com os estereótipos, ou em encaixar em determinado papel ou
movimento, e se concentrar apenas em realizar sua visão pessoal como artista.
"
London Wilde (Vocalista/Produtora - WildeStarr - EUA)
A mexicana Marcela Bovio optou por mudar-se para a Holanda, em busca de mais oportunidades
"Acho que as
mulheres são muito mais aceitas no mundo do Metal hoje em dia. Você vê um monte
de mulheres que fazem música pesada, e já não é mais uma surpresa, e isto é
ótimo! Mas uma coisa que eu acho que realmente é preciso, é se livrar do rótulo de "Female Fronted
Metal", ele não diz nada sobre a música que uma banda realiza!"
Sobre a questão de mudar-se para a Holanda, em busca de melhores oportunidades, Marcela explica:
"Há uma série de fatores que mostram que manter uma banda na Europa
é mais fácil do que no México, mas um dos principais é que há , pelo
menos na Holanda, muito mais apoio do governo para as artes do que no
México, por exemplo."
Marcela Bovio (Natural do México, Marcela é Vocalista/Violinista e compositora do Stream Of Passion - Holanda)
Marcela mudou-se do México para a Holanda, mas no outro lado do Oceano também há países em que o apoio é precário, tanto para homens como para mulheres. Veja o que Daria Piankova (Concordea-Rússia) e Nelly Hanael (Majesty of Revival - Ucrânia) têm a dizer. Daria vê como uma questão ainda difícil de opinar quanto a participação feminina, e a busca de manter o equilíbrio entre mostrar força sem perder feminilidade, enquanto Nelly tem uma visão mais "poética".
Daria Piankova, do Concordea, oriunda da região Ural na Rússia
"É uma
pergunta difícil, principalmente porque essa música era originalmente
desempenhada por homens e não por mulheres. Comumente este tipo de música está
associada com o protesto, revolta, agressividade, poder, o que é - eu digo
outra vez esta palavra - principalmente prerrogativa dos homens, mesmo dentro
de nossa cultura moderna ... Então, quando você fala sobre o papel das mulheres
nesta música, você tem que enfrentar muitos estereótipos no ar, na mente dos
homens e das mulheres. Hoje as mulheres tentam contribuir com sua parcela a
sério neste negócio ... e seu objetivo é combinar sua ternura natural e o poder
que eu mencionei acima. Criar beleza e ser firme. E continuar sendo mulheres
apesar de tudo. Não é uma tarefa das mais simples, acredite em mim!"
(Daria
"Domovik" Piankova, Guitarra - banda Concordea- Rússia).
"Para mim, uma combinação da
suavidade feminina e o poder da música Heavy Metal sempre foi (e ainda é) a
coisa mais maravilhosa e mágica no estranho mundo de vários instrumentos
musicais e vozes. Quando uma mulher começa a cantar em uma música poderosa, e
ela traz uma pequena (ou nem tanto) linha melódica você precisa seguir e
apreciar de qualquer jeito, principalmente quando a cantora é uma profissional!
Todas essas mulheres me lembram
uma donzela guerreira - uma combinação de força, beleza e profunda ternura em
suas raízes. É uma espécie de conto de fadas da cena Rock/Metal, que deve
existir e continuar a progredir!...
Nelly Hanael (Ucrânia)
...E sobre o rótulo de "Female Fronted
Band”, acho ótimo esse rótulo existir porque essas pessoas, que gostam de ouvir
vozes femininas no Metal e no Rock facilmente podem encontrar muitas boas
bandas. E também mais fácil para as bandas encontrarem a gravadora certa, as
quais conhecerão o seu trabalho dessa forma! He he he.”
E aqui no Brasil? Um pouco do que nossas "Mulheres de Metal" aqui pensam:
"Cada vez
maior e em ascensão. As coisas mudaram bastante numa média de 10 anos pra cá,
hoje em dia, as mulheres estão cada vez mais presentes na cena rock/metal,
tanto comparecendo aos shows e comprando material quanto como integrantes das
bandas e produtoras e organizadoras dos eventos! Autênticas, vestindo , ouvindo
e agindo da forma que lhes agrada sem ter que provar nada a ninguém pra fazer
parte de um grupo.
Vejo muitas meninas mais jovens querendo ter uma banda, por
exemplo, não são apenas os garotos, eu
fico muito feliz por isso e me sinto muito realizada em ver que isso é reflexo
dessa mudança de comportamento, hoje mulheres e homens são tratados da mesma
forma e recebem o mesmo respeito, pelo menos da maioria, o que demonstra como
conseguimos efetivamente conquistar nosso espaço dentro dessa coletividade."
Jana lembra também que, se algumas seguiram firmes, outras foram desencorajadas pelo machismo de outrora e preconceitos:
"É claro que
sempre estivemos por ai, desde o inicio,
mas as cobranças e o clima machista de outrora desencorajou muita gente
. Mulheres não curtem som, mulheres só curtem caras, mulheres só causam
discórdia entre os caras das bandas, mulher no role tá caçando um cabeludo,
mulher é poser (pelo simples fato de ser
mulher), mulher no Metal que não pega os caras é “machinho”, mulher que pega os
caras é vagabunda... pois bem, o que
posso dizer é que se esse pensamento ainda existe, ele agora tem que ficar bem
guardadinho pois não será tolerado! O Metal e o Rock são movimentos de
transgressão.
Não existe espaço pro machismo, o indivíduo que pensa assim,
definitivamente não vive o Metal, é só um curtidor, não entendeu nada!
Participamos da cena como headbangers que somos, estamos de olho e unidas para proteger e
impedir qualquer tipo de preconceito e injustiça. A mulher da cena hoje é
consciente do seu direito e seu espaço, sente-se a vontade para falar, tocar,
curtir, ir onde ela quiser, dizer suas opiniões , encarar quem quer que a
afronte, de igual pra igual. E o cenário só tem a ganhar com isso!"
"Mulheres são
atuantes em todas as vertentes do rock-metal, temos ótimas representantes em
todos os gêneros e desempenham seus papéis admiravelmente, sem deixar a desejar
em nada ao sexo masculino.. como sou mais do extremo Death e Grind vou citar alguns nomes de respeito e
atitude: Marly (No Sense), Ana (Haemorrhage), Gabi (Nuclear Frost), Larissa
(High School Massacre e Retaliaçao Infernal), Fernando (Obitto), as gurias do
Valhalla de Brasília e muitas outras que não lembro agora.. Mas todas dignas de
respeito e admiração!!!!"
"As mulheres sempre representaram o rock, desde o seu início, mas tendo
destaque apenas como meras fãs. Depois de um tempo as mulheres ganharam mais
espaço para serem as protagonistas do rock, vindo atualmente ocuparem papel de
grande destaque junto aos homens." "No palco não
há distinção de sexo e sim a música."
(Adriane) Adrismith Panndora, baterista da banda Panndora
O Metal é um só, e somos todos iguais, então, seguimos nossa viagem, com opiniões que vêm da Itália, Holanda, e mais Brasil!
Duas emergentes e talentosas cantoras da sempre prolífica cena Italiana, Nicoleta Rosellini (Kalidia) e Chiara Tricarico (Temperance) também nos concederam sua opinião sobre a questão da mulher no meio Metal e os rótulos:
Nicoleta Rosellini
"Quando
comecei a cantar em bandas (em torno de 2008), as mulheres ainda eram
raras na cena underground do Rock e Metal,
e as poucas bandas lideradas por mulheres eram ainda algo estranho! Hoje
em dia, o movimento “Female Fronted” cresceu muito e parece que cada banda
precisa ter uma “frontwoman”!
Ser parte do
movimento permite que você use alguns recursos exclusivos, como fanpages ou
zines dedicadas a ele.
Mas eu ainda
prefiro a descrever a minha banda como “Melodic Power Metal” em vez de
“Female-Fronted Band”, porque há muitos ouvintes que realmente não estão
interessadas no “movimento”.
Eu acho que
todas essas bandas tem que dar um passo atrás e parar de descrever a si mesmos
apenas como "Female-Fronted band"; na verdade, eu prefiro ler seu
gênero musical, em vez dessa marca."
(Nicoletta Rosellini – Vocalista do
Kalídia – Itália)
Chiara Tricarico
"Estou
feliz que as meninas tomaram o seu lugar na cena do Metal nos últimos anos. Eu
acho que é um fato muito positivo que o público finalmente abriu sua mente para
os inúmeros bons músicos femininos da cena."
E independente de estilos, elas estão prontas para quaisquer desafios:
"Eu gosto de me
expressar de muitas maneiras diferentes, e é por isso que eu não me limito em
apenas um estilo vocal. Eu gosto tanto de ópera, Rock, pop e os estilos mais
agressivos, e, geralmente, eu também faço os “growls” e “screams” no palco ahaha."
Aline Happ (Rio de Janeiro-Brasil) e Deisi Wolff (Viamão-RS), jovens ainda, mas já com experiência na difícil tarefa de fazer Metal no Brasil, mostram opiniões firmes:
"Vejo as
mulheres com o mesmo papel que o homem. Várias bandas com mulheres têm
aparecido e tido destaque, principalmente os grupos com vocalistas femininos.
"
(Aline Happ,
Vocal e teclados –Lyria- Rio de Janeiro)
"Vejo o papel
das mulheres no Rock/Metal de extrema importância, ano após ano estamos
conquistando espaço em meio a essa “cena” onde a maioria dos músicos e público
ainda é masculina. O importante é que não estejamos nos destacando apenas por
ser mulher, mas sim por ter capacidade e atitude tanto quanto os homens. Hoje
em dia ainda representamos uma minoria, mas esse número vem crescendo a cada
dia e deve ser apoiado, pois se há uma coisa que falta entre a galera
Rock/Metal, independente do sexo, é união. E quando a mulherada que faz um som,
ou simplesmente apoia as bandas da forma que consegue, ao invés de ir a shows
pra fazer intrigas e desfilar roupas, é de mulheres assim que o Metal precisa!”
(Deisi Wolff,
vocalista da Soul Torment/ Correspondente/redatora site Road to Metal.)
Carla Van Huizen, da emergente banda Holandesa La-Ventura, vê as mulheres cada vez mais tomando a frente, e entende como positivo o rótulo "Female Fronted Metal", mas também entende que não importa o sexo do artista, e sim a qualidade:
"Eu,
pessoalmente, levo a sério o meu papel como “frontlady” de uma banda de Rock/Metal.
Para mim, é um gênero perfeito para expressar minhas emoções. É poderoso,
melódico, pesado e groovy, ao mesmo tempo. Talvez a cena Metal e Rock foi
originalmente dominada por homens, mas hoje em dia as mulheres têm provado ser
capazes de ser líder da matilha. Uma voz feminina pode facilmente equilibrar e
complementar o peso da música neste gênero. Para mim, essa cena é toda sobre as
mulheres no seu melhor: mostrando beleza e poder, ao mesmo tempo. Eu acho que
nós vamos sobreviver neste mundo "masculino".
E a tag
"Female Fronted Band" Eu acredito que é uma coisa boa, porque hoje em
dia é popular e está em evidência em muitas partes do mundo. Embora eu acredite
que devemos ser abertos para toda a boa música, não importando o sexo de quem
está à frente de uma banda. Você não concorda?"
Évora Morgana, experiente musicista da cena Underground do Rio Grande do Sul, viu as mulheres ocuparem cada vez mais espaço em todas as áreas dentro do Rock e Metal:
"Bem,
este é um espaço que foi conquistado com muita dificuldade visto que tanto o
Rock como o Metal em geral é um reduto bem machista. Se no exterior foi um
espaço conquistado com dificuldade, imagina no Brasil, onde infelizmente temos
essa cultura de futebol e carnaval....
Quando comecei
eram muito poucas mulheres na cena ,tinha que ser firme e muito determinada,
sem se expor muito! o respeito é o
essencial!!
Atualmente
vejo cada vez mais mulheres guerreiras na cena, desde o Rock até o Metal extremo
e bandas só de integrantes femininas também, e não se restringe ao som, temos
mulheres empresárias , que fazem camisetas pintadas a mão ou serigrafia, zines e
muito mais!!"
E a Rainha Doro Pesch, uma das pioneiras, começando muito jovem em uma cena quase que totalmente dominada pelos homens, o que ela tem a dizer?
"A participação
feminina hoje é fantástica, e há uma série de grandes músicos do sexo feminino na
cena. Em nenhum momento eu cheguei a sofrer discriminação. Todo mundo sempre
foi muito bom para mim e me tratou com respeito e me senti muito apoiada por
todas as outras bandas e músicos, e eu sempre, sempre senti uma conexão
profunda e sólida com os fãs. Acho que sempre senti que eu amava os fãs e a música,
mais que qualquer outra coisa neste mundo."
Mas e os "caras", o que eles
pensam a respeito da mulherada cada vez mais tomando frente? Confira a opinião de alguns representantes do sexo masculino:
"As
mulheres tiveram representatividade no rock/metal desde sempre, e, apesar de a
maioria das meninas preferirem seguir outros caminhos, as que partiram para esse
deixaram a sua marca...não vejo distinção entre as pessoas, o que acontece é
que muitos não levam a sério e não fazem acontecer...mas isso faz parte da
humanidade a milênios, e as que conseguem superar isso estão por aí destilando
o sangue rock/metal por suas veias.....é isso." (Adriano Ribeiro Khrophus,
guitarrista da banda Khrophus - SC)
Adriano Krophus
"Vejo que
hoje a mulher está ganhando mais espaço tanto no Rock como no Metal, um meio
praticamente dominado por homens, e isso é extremamente benéfico e importante.
Ainda há muito a ser conquistado, mas com tantos talentos surgindo, não duvido
que alcancem esse objetivo."
Dave Starr, uma lenda do Metal, acompanhou a evolução da participação feminina, juntamente com sua esposa London Wilde, mas também não concorda com rótulos que separam gênero, assim, como são da mesma opinião Baronvon Causatan, editor da Satanic Militia, e o redator e coordenador do Road, Carlos Garcia, os quais também enfatizam as pioneiras:
"Eu acho ótimo que há mais
mulheres no Rock/Metal nos dias de hoje. As coisas são muito diferentes hoje do
que eram 20 ou 30 anos atrás, e isso é uma coisa boa. Naquela época, haviam
realmente apenas algumas poucas bandas com mulheres, agora há um número maior. Pode
não ajudar, mas capacita as mulheres a verem quantas chegaram lá nos dias de
hoje. Dito isto, acho que a classificação "Female Fronted Band" está
desgastada e ultrapassada. Nós mesmos (WildeStarr) usamos em nosso site, mas a
removemos há alguns anos. O rótulo apenas parece datado e chato para mim. Acho
que todo músico ... e cada banda deve ser julgada pelos seus méritos, e não
pelo seu gênero. Se realmente queremos viver em uma sociedade sem
discriminação, não importando a cor da pele , também devemos viver em uma
sociedade que não se importa com o gênero. A boa música é boa música, não deve
realmente importar quem a faz. "
(Dave Starr - Guitarrista - WildeStarr, e ex-baixista e membro fundador do Vicious Rumors)
Dave Starr
"Uma pena
que as mulheres demoraram para tomar o seu lugar entre as bandas, deixando de
lado apenas aquela babação de ovo com os músicos, o que ao meu ver estragou e
atrasou demais a conquista de espaços nos palcos. Claro que ainda temos as
mulheres que infelizmente agem assim, mas pelo menos temos agora exemplos que
valem muito mais a pena em cima do palco (não atrás em algum sofá). Poucas
bandas tinham uma mulher a frente, talvez uma ou outra tocando algum
instrumento, mas tomando a frente foram poucas. Exemplos como Jynx Dawnson da
Coven, Wendy Williams da Plasmatics, passando por Doro Pesch na Warlock e não
podemos deixar de lembrar de Runaways, Suzy Quatro, mesmo não gostando do
trabalho vale destacar Janis Joplin também.
Atualmente
vemos em todos os estilos, bandas com algum membro feminino na formação ou
mesmo bandas completas de mulheres, e quando digo em todos os estilos, são
todos mesmos. Desde tradicional Heavy Metal chegando até as podreiras
Splatter/Gore.
Eu até acho
que chegamos ao exagero de ficar separando por gênero algo que não precisa, mas
seja por questões sociais ou por cabeças pequenas dos dois lados (homem/mulher)
essa competição e diferenciação surge.
Baronvon Causatan
Eu sempre
disse que tem mulher fazendo som melhor que muita gente por aí, tem vocalista
aí que tá dando pau em muito barbado quando abre a boca para fazer um gutural.
Acho que o
lado feminino não tem mais que lutar por um espaço e sim fazer o mesmo por manter,
dar continuidade e sair da posição de simplesmente refletir aquela coisa de
ficar correndo atrás de cabeludo porque toca em banda ou porque tem um cabelo
grande, porque são essas que estragam a imagem da mulher dentro do Metal,
felizmente é um pequeno grupo (ou groupies kkk) que só perdem espaço ao meu
ver. Enquanto tivermos bandas e mulheres representando o seu espaço, podem
estar certos de que as mulheres estão indo muito bem no cenário!!!!" (Baronvon Causatan, webmaster da Satanic Militia Magazine)
Carlos Garcia (Road to Metal)
"O que importa mesmo é a música, não o sexo, cor, credo....o que for. A qualidade do artista é que vai conquistar o reconhecimento e o respeito. Hoje as mulheres conquistaram seu espaço numa cena antes dominada pelos homens, mostrando isso, que é estupidez achar que algum indivíduo não possa realizar essa ou aquela tarefa porque é homem ou mulher. O papel delas na Cena Metal e Rock é fantástico, temos vocalistas, tecladistas, guitarristas, bateristas, produtoras...elas estão em toda parte, mostrando força, mas sem perder a graça, e é perfeitamente normal hoje, e, embora algumas bandas ainda se utilizam do fato para tentar chamar atenção, na grande maioria vejo que não se importam, como falei antes, o que importa é a qualidade do artista." (Carlos Garcia, Editor e Coordenador Site Road to Metal)
A matéria é relativamente pequena para o tamanho do assunto e a proporção que hoje as mulheres ocupam na cena Rock e Metal, mas esperamos com este artigo, além de uma homenagem, também mostrar que as opiniões, dificuldades e conquistas possuem pontos muito parecidos, não importando a idade, país ou continente, e esperamos retomar ainda o tema em mais algumas matérias especiais em breve. A colaboradora do Road to Metal Fernanda Vidotto, ficou com a tarefa de ajudar a concluir a matéria, e também enfatiza as dificuldades que as mulheres encontravam, e ainda encontram certo preconceito, principalmente no interior e lugares mais conservadores, parecendo precisar sempre ter algo a provar, mas que a mulher conquistou muito e ainda busca mais:
As
mulheres estão muito presentes em um espaço musical, que não tão antigamente era
associado à masculinidade e ao coletivo masculino.
E através de
suor, sangue e lágrimas a mulher vai à luta e quer rock. E quer pogar, moshar e
mostrar que também pode e deve ser vista como um ser humano normal e não como
um cristal que se quebra. SOMOS FORTES. SOMOS de METAL, me ouso à dizer.
A
representatividade é visivelmente maior que a de antigamente, porém ainda nos
deparamos com muitos casos de preconceito; violência e toda forma de abusos
contra as mulheres dentro do “cenário underground”. Como se isso fosse uma
falácia, um absurdo para alguns conservadores rudimentares aceitarem.
Se você toca,
ou trabalha, ou mesmo prestigia apenas como uma fã, existe SIM uma cobrança,
como se fosse necessário mostrar ao mundo três vezes mais o motivo do porquê se
está no meio.
Assim como
vejo encarcerado na comunidade banger feminina um teor de competição nada
saudável. As mulheres são encaradas com um ar de afronta por outras, e isso,
não adiciona em nada na vida de ninguém.
Creio que em
aspectos gerais sim, conquistamos muito espaço mas em aspectos interpessoais
ainda temos que nos “organizar” de forma mais coesa visto que a música é uma
excelente forma (assim como demais formas de expressão artística) de se passar
ideias e ideologias e criar vínculos, fomentar opiniões e etc. "
(Fernanda
Vidotto – Amazon Press e Colaboradora site Road to Metal)
CONCLUSÃO FINAL
Pudemos observar que todos os entrevistados concordam que hoje a mulher ocupou naturalmente seu espaço na cena, estando presente em vários setores da "indústria musical", mesmo que ainda possa ser encontrado algum preconceito e resistências mais conservadoras (sabemos que existem preconceitos contra religiões, preferências sexuais, e até absurdos como discriminar por diferenças da cor da pele, e ainda, mesmo sendo difícil conceber, lugares do mundo a mulher é tratada como ser inferior), mas em um mundo civilizado e globalizado, não se pode admitir certos absurdos, seja o ambiente que for, então, muito menos na música e menos ainda no Rock e Metal, onde sempre pregou-se a liberdade em todas as formas.
Especificamente sobre o assunto aqui tratado, a mulher tomou seu espaço, está ativa, presente, criativa, bela e independente de tudo, outro aspecto em que a maioria concorda, mesmo que alguns são da opinião que tags como "Female Fronted Band" também tenham papel positivo, o que importa é a qualidade da música, não os rótulos, gênero, credos ou o que for.
Matéria:Carlos Garcia, Fernanda Vidotto e Deisi Wolff Edição, textos adicionais e Revisão: Carlos Garcia Charge: Márcio Baraldi Agradecimentos: Agradecemos à todos que colaboraram respondendo à esta matéria, ao Márcio Baraldi e à todas a mulheres no Rock e Metal.