Lucifer faz apresentação impecável e prende a atenção do público na
Fabrique Club, em São Paulo
Apresentação, que fez parte da “Satanic Panic Tour”, contou com as
aberturas das bandas brasileiras Night Prowler, Weedevil, Tantum, Pesta e Space
Grease, em um verdadeiro desfile de Hard Rock, Stoner Rock, Heavy Metal e Doom
Metal
Os europeus da banda de Hard Rock, Doom Metal e Heavy Metal
Lucifer retornaram ao Brasil após um ano e dez meses da passagem de estreia, em
2022. Desta vez, a banda liderada por Johanna Sadonis e pelo multi
instrumentista Nicke Andersson retornou para São Paulo no último dia 6, para a
divulgação do disco “Lucifer V”, lançado em janeiro deste ano, sob a turnê “The
Satanic Panic Tour 2024”. O palco de sua emblemática apresentação, no Fabrique
Club, Zona Oeste da Capital Paulista, também contou com as aberturas de bandas
brasileiras que englobam os mesmos gêneros musicais do Lucifer, sendo elas
Night Prowler, Weedevil, Tantum, Pesta e Space Grease. O evento foi organizado
tanto pela Xaninho Discos, quanto pela Caveira Velha Produções.
A apresentação em São Paulo foi a
quarta de toda a passagem pela América Latina. Antes, o quinteto passou por
Buenos Aires, na Argentina (03/10); Santiago, no Chile (04/10); e Rio de
Janeiro (05/10). Além disso, houve passagens por Belo Horizonte (08/10),
Bogotá, na Colômbia (10/10); Monterrey, no México (12/10); e San José, na Costa
Rica (14/10).
Em um Fabrique Club que ficou
totalmente lotado na última apresentação - porém, com públicos consideráveis em
cada apresentação de abertura, ao longo da tarde e noite do dia 6 -, o quinteto
europeu, composto por quatro suecos e uma alemã, trouxe um setlist de 15 faixas
(uma delas, um cover em introdução), contando com o repertório da banda a
partir do álbum “Lucifer II’, de 2018 e uma maioria de faixas do último
lançamento de estúdio. A lotação quase que absoluta se converteu a um público
que pouco pôde pular ou balançar a cabeça na última apresentação, mas que deu
toda a atenção e retorno vocal à banda principal, chegando a emocionar Johanna
em certo momento.
Da mesma forma, cada banda de
apresentação se destacou por conta de alguma característica sonora - com
destaque para da boa mescla musical do Space Grease -, visual - a exemplo das
bandas Night Prowler e Tantum - ou performática - repetindo o Tantum como
exemplo, graças às misturas espetaculares de canto e atuação da vocalista,
Chermona. Muito se questiona sobre um evento ter muitas bandas de abertura, mas
cada uma das cinco apresentações pré-Lucifer mostraram que a organização
acertou em cheio, uma vez que as impressões foram totalmente positivas por parte
do gradual público presente em cada show.
Night Prowler
Os osasquenses e paulistanos do
Night Prowler, banda formada em 2017, iniciaram a série de aberturas com um
setlist de oito faixas que mostrou o melhor do Heavy Metal inspirado na musicalidade e nas vestimentas
relacionadas ao gênero nos anos 1970 e 80. O repertório foi baseado no álbum de
estreia da banda, “No Escape…” (2021), e em singles lançados a partir de 2023.
Fernando Donasi (vocal), Luke D.
Couto (guitarra), Igor Senna (guitarra), Lucas Chuluc (baixo) e Marcelo
Oliveira (bateria) entraram pontualmente no palco do evento, com uma Fabrique
Club consideravelmente ocupada no primeiro terço da pista - fora outras pessoas
dispersas no restante do espaço. A faixa “Free the Animal”, single mais recente
do grupo e lançado em setembro deste ano, abriu o setlist após uma pequena
introdução, seguida das músicas “Devil in Desguise” e “Never Surrender”, esta
última já do álbum “No Escape…”. Para todas elas, houve destaque para as
variações de velocidades nas músicas, riffs e solos dos guitarristas e variação vocal de Donasi, todas elas sem
deixar de fugir da essência Heavy Metal
proposta pela banda.
“The Darksider”, single de abril
de 2023, deu sequência ao show, aumentando novamente o ritmo e velocidade com
as poderosas linhas de bateria de Marcelo e os poderosos solos de Luke e Igor.
A situação se manteve com “Tightrope”, single que também foi lançado no ano
passado e que foi muito bem conduzida pelos pedais duplos de Marcelo Oliveira.
Donasi, além da voz marcante, também interagiu com os guitarristas da banda em
seus momentos de solo, chegando a ajudar Luke com a execução de um trecho de tapping, em meio ao solo.
A apresentação do Night Prowler
chegou à reta final com uma trinca do álbum de estreia da banda. Na primeira
das faixas, “The Witches Curse”, um belo instrumental com uma fase em ritmo
normal, e outra mais acelerada, ambas lideradas principalmente pelas ótimas
linhas de guitarra de Luke e Igor. Já na segunda, “No Escape”, mais uma faixa
em ritmo frenético, somada a boas viradas dos instrumentos de corda e bateria.
Por fim, a faixa “Make It Real”, carregada de ótimos timbres do vocalista
Fernando Donasi.
O fim da última faixa citada
contou com um ótimo falsete de Donasi, logo acompanhado pelas linhas de
finalização da banda e vários “tapas” de Lucas Chuluc nas cordas de seu
contrabaixo, num encerramento que botou a cereja no bolo de musicalidade e
performance ótimos do Night Prowler.
WeeDevil
Os paulistanos do Weedevil
trouxeram sua proposta muito interessante da mistura do Doom Metal com o Stoner Metal.
O quinteto, composto por Carol Poison (vocal), Claudio HC Funari (baixo),
Henrique Bittencourt (guitarra), Paulo Ueno (guitarra) e Flavio Cavichioli
(bateria), montou um setlist de seis faixas, sendo cinco delas do mais recente
álbum de estúdio da banda, “Profane Smoke Ritual” (2024), e uma única faixa do
primeiro disco, “The Return” (2022).
Antes do início do show, era
possível ver uma banda muito focada nos ajustes finais, com todos no palco e
realizando pequenos testes dentro do intervalo. O maior destaque visual no
palco foi, sem dúvidas, a cruz invertida, com detalhes em led verde e uma cabeça
de bode ao meio.
O início do show se deu às 16h22,
três minutos antes do previsto, com todos os membros da banda no palco, sem ter
saído dele após os ajustes finais e iniciando a primeira faixa do show,
“Serpent’s Gaze”, sem uma introdução ou aviso prévio - fator que pegou o
público presente de surpresa, em um Fabrique um pouco mais ocupado em sua
pista.
O riff obscuro de “Serpent’s
Gaze” deu a ideia de como seria o estilo das faixas do show: pesado, dando uma
sensação obscura. A voz de Carol, assim como em algumas das faixas seguintes,
ficou um pouco baixa em comparação aos instrumentos dos demais membros, muito
possivelmente por conta de algum problema de som que envolveu microfone e
retorno e que, mais pra frente, chegou a ser sinalizado pela vocalista. Ainda
assim, as partes mais altas ficaram bem audíveis e mostraram o potencial vocal
da cantora, principalmente no refrão. A faixa em questão também contou com o
destaque de Henrique Bittencourt e sua ótima execução de solo de guitarra, e
com uma “escapulida” da baqueta de Cavichioli, que acertou Carol no final da
faixa - momento engraçado, que de nada atrapalhou a execução da música de
abertura.
O grupo deu sequência com
“Chronic Abyss of Bane”, que não teve a narração presente na versão de estúdio
da música em questão, o que deu mais destaque para o riff pesado dos
guitarristas. A primeira parte da música foi mais lenta, mas se acelerou e
tornou-se mais pesada da metade até perto do fim da faixa, com ótimas linhas de
baixo de Claudio e da bateria de Cavichioli..
Após os pedidos de Carol para o
reparo no retorno, o Weedevil continuou a apresentação com a faixa
“Underwater”, única do disco “The Return” e, consequentemente, a única a não
fazer parte de “Profane Smoke Ritual”. As características de Stoner Metal são
mais evidentes nesse momento, assim como Henrique Bittencourt teve um ótimo
destaque em um solo de guitarra distorcido, em meio a sua pose mais curvada no
palco.
Em seguida, o repertório do álbum
mais recente voltou com “Profane Smoke Ritual”, faixa-título do último
lançamento da banda que teve um início só de bateria e que logo em seguida, foi
acompanhado de poderosas linhas groovadas
do baixista Claudio. As notas vocais de Carol foram mais altas, o que deu maior
destaque para sua performance no palco, em um momento já mais solto no show.
Henrique voltou a solar muito bem ao final dessa música, que foi encerrada com
mais das notas do baixista do quinteto.
A reta final da apresentação se
deu com as faixas “Necrotic Elegy”, muito bem conduzida por todos os membros da
banda, e “Serenade of Baphomet”, anunciada por Carol Poison em meio ao discurso
final, antecedida da pergunta positivamente respondida pelos presentes: “Quem gosta de um ritual aqui?”. Nela, a
mistura de Stoner Metal e Doom Metal se tornou mais evidente, em
meio a uma execução ao vivo impecável de todos os membros, com direito a Flavio
Cavichioli finalizando a faixa com a simbolização de uma cruz, feita com suas
baquetas. Definitivamente um show poderoso em todos os sentidos, tanto que
gerou no público o desejo de mais uma faixa. Uma pena que não deu tempo.
Tantum
A terceira apresentação da noite,
dentre as aberturas, foi a mais interessante principalmente em termos de
performance e estética. Os belorizontinos do Tantum também trouxeram elementos
musicais e visuais pautados nos anos 1970 e 80, com a adesão de atuações em
palco que surpreenderam positivamente os presentes, que lotaram pouco mais da
metade do local. Essa foi a sua segunda passagem por São Paulo, pouco mais de
um ano após a vinda para o Legends Music and Bar.
Chervona (vocal), Laer Aliv
(baixo), João Brumano (guitarra) e Rafael Mineiro, já (ou quase totalmente)
caracterizados e assim como as bandas anteriores, ajudaram diretamente na
montagem e passagem dos instrumentos antes do show, em horário pontual. Seus
visuais, inclusive, tinham características únicas, desde a maquiagem ou pintura
facial - a exemplo da linha horizontal preta de Marcelo na região do olho,
somada às duas linhas verticais vermelhas na cabeça - até a vestimenta. No
segundo caso, Chermona se destacou por conta de seu conjunto muito semelhante
ao usado por dançarinas de dança do ventre, somado a panos brancos nos braços,
com manchas vermelhas que lembram as de sangue.
No setlist, o grupo planejou oito
faixas e, com a sobra de tempo entre sua apresentação e a seguinte, conseguiram
tocar mais uma ao final. As músicas foram principalmente do até então único
álbum de estúdio da banda, intitulado “Turning Tables” (2022), com a adição de
um single recém-lançado, “ROJO”, no qual o público presente foi o primeiro a
ouvir a execução da banda ao vivo.
A faixa “Speed (Addicted)” abriu
a apresentação do Tantum, às 17h11, já em ritmo animado por parte dos membros,
linhas groovadas do baixista Laer
Aviv e até mesmo a remoção e uso da alavanca da guitarra, por parte de João
Brumano, para tocar as cordas em determinado trecho da faixa.Chervona entrou no
palco com um lenço de véu na boca, no mesmo estilo que o restante da
vestimenta. A peça, no entanto, não atrapalhou a captação de sua voz ao longo
da faixa. Na reta final, houve variações interessantes de velocidade da faixa.
Em seguida, o quarteto tocou “New
World”, faixa que abre o álbum de estreia da banda e que contou com Chervona já
sem o véu citado anteriormente. As danças que a frontwoman fez durante o riff
reforçaram a inspiração oriental da dança do ventre e foram complementos em
alguns dos momentos em que ela não cantou na música, já que houve algumas
partes em que ela, de forma inovadora dentro da proposta da banda, tocou uma
flauta de sopro. Tanto o baixista quanto o guitarrista da Tantum performaram
muito bem a música em questão, apesar de o volume do instrumento de João
Brumano ter ficado baixo naquele momento, em comparação com os demais. “Wicked
Spirit” deu sequência à boa vibe da banda no palco.
Um dos grandes destaques
performáticos da Tantum foi em “Blind Snake”, quando Laer, João e Rafael
colocaram um capuz preto, aparentemente sem algum espaço de visão, para tocar a
faixa em questão. Chervona começou sem vendas, segurando uma balança romão com objetos em cada lado.
Após o solo de guitarra, a frontwoman colocou uma venda branca nos olhos e
caminhou pelo palco, enquanto cantava muito bem. Ao final da faixa, essa venda
branca foi invertida, aparecendo assim um desenho em vermelho que aparentava
ser uma caveira. A música “Ivory Towers” prosseguiu o show, tendo margem para a
apresentação dos membros da banda e linhas calmas de baixo e guitarra, em certo
momento.
Mas foi em “ROJO”, single mais
recente da banda, que o auge performático de toda a noite aconteceu. A faixa,
que foi lançada no último dia 03 de outubro e cuja primeira apresentação ao
vivo foi nesse evento da Fabrique Club - segundo o baixista Laer Aliv -, teve
uma bela encenação por parte de Chermona, que durante a parte instrumental da
faixa anterior, aproveitou para colocar um vestido de noiva branco e cantar a
música em questão na sequência, que fala sobre um relacionamento abusivo e a
tentativa do homem relatado na história de aprisionar a personagem-narradora. A
frontwoman do Tantum abriu a faixa com um cálice de sangue, narrando os versos
“This Is my body, this Is your blood /
This Is the sacred chalice / If you are a man, come to me / And I will show you
the truth”. Entre danças e cantos, Chermona também usou de sua flauta de
sopro novamente e, ao final da faixa, colocou uma pequena manta de plástico
para tomar o sangue do cálice e cuspir, simulando a morte, priorizando o
vermelho e, claro, sem sujar o vestido.
Após o discurso do baixista da
banda, o grupo transitou para o primeiro single lançado pela banda,
“Roulettenbourg Roulette”, que compõe também o até então único álbum de estúdio
da banda. Sob uma sonoridade heavy metal
do início dos anos 80, a execução da faixa pela banda em geral ficou ótima, com
uma combinação do solo de guitarra de João com as danças de Chermona, além de
uma dança em conjunta de baixista, vocalista e guitarrista que muito lembrou o can can francês.
“On the Road” seria a última
faixa do setlist, mas se tornou a antepenúltima. Esta é uma música que, segundo
a banda, será lançada futuramente e fará parte do EP que a banda planeja
lançar. Segundo Chermona, a faixa fala sobre “o amor em estar na estrada, fazendo shows, e em conhecer pessoas no
caminho”. A recepção positiva do público presente no local se converteu em
um acompanhamento mútuo ao refrão da faixa em questão, no qual a frontwoman da
Tantum fez questão de ensinar ao público.
Por fim, a música “Glory” foi a
resposta ao público, que pediu por mais uma faixa, aproveitando o tempo
disponível que a banda ainda tinha. Laer a conduziu com maestria, com ótimas
linhas de baixo, acompanhado de uma banda animada com os últimos gases e com o
balançar de cabelos dos membros do Tantum e, principalmente, do público mais
próximo do palco, animado principalmente com o ótimo riff da música e com os
solos presentes. Um show de nível espetacular e que gerou gritos altos em nome
da banda, no verdadeiro final da apresentação.
Pesta
Assim como a Tantum, a banda
Pesta também é de Belo Horizonte, porém com formação em 2014. O grupo trouxe a
sonoridade do Doom Metal - com uma
evidente influência do Black Sabbath principalmente nos vocais - e do Stoner Metal para o palco da Fabrique
Club novamente, em um setlist de seis faixas que passaram pelo repertório do
quarteto, incluindo o EP “Here She Comes” (2015) e os álbuns de estúdio “Bring
Out Your Dead” (2016) e “Faith Bathed in Blood” (2019).
Thiago Cruz (vocal), Marcos Cunha
(guitarra), Anderson Vaca (baixo) e Flávio Freitas (bateria) também passaram
pelo processo de ajustes e passagem de som no palco, começando o show
diretamente de lá, de forma pontual, com a faixa “Anthropophagic”, do último
disco lançado pela banda. Já de cara, era possível perceber um Flávio inspirado
em batidas fortes em todo o kit de bateria, principalmente nos pratos - e sem
comprometer a sonoridade dos demais integrantes -, algo que ocorreria nas
seguintes execuções. Da mesma forma, a voz de Thiago Cruz surpreendeu o público
logo de cara.
“Marked by Hate”, segunda faixa
do setlist do Pesta na noite, foi anunciada como uma música inédita, que estava
para lançar na versão de estúdio e que se tornou inédita ao vivo, naquele
momento. A condução da banda, a partir do riff inicial, foi exímia e atenuou a
parte mais obscura da sonoridade.
Depois, com “Witches’ Sabbath”,
esta situação se manteve, dando maior ar da influência que a banda tem com a
lendária banda britânica de Birmingham, Inglaterra. As luzes vermelhas ajudaram
no clima Doom no palco, assim como
Thiago Cruz fez algumas danças durante o solo de Marcos Cunha. O frontman do
Pesta, inclusive, chegou a se declarar para a capital paulista ao fim da faixa
em questão: “Eu amo essa cidade… por
algum motivo”.
A segunda metade da apresentação
chegou com a faixa “Black Death”, do álbum de estreia da banda, “Bring Out Your
Dead”. O riff da mesma, não obstante de criar mais do clima obscuro na
Fabrique, também teve suas finalizações com três batidas no surdo da bateria,
até a última, que contou com oito dessas batidas e uma virada para uma parte
mais agitada da faixa. É nela, também, que Thiago voltou a dançar no palco na
reta final, só que de forma mais solta e psicodélica. O grupo emendou com a
faixa seguinte, “Words of a Madman”, formando uma dobradinha que também
acontece no disco - a primeira e segunda faixas dele, no caso. É nesta música,
inclusive, que há um refrão muito contagiante: “Words to the wind, lost in time / felt with the weight bodies lying”
(Palavras ao vento, perdidas no tempo / Feltro com os corpos de peso deitado).
Por fim, pela versão ao vivo, os membros do Pesta aceleraram a finalização a um
ritmo frenético, arrancando ovações do público.
Antes da música final, “Moloch’s
Children”, o vocalista Thiago Cruz voltou a discursar, agradecendo a presença
de todos e reforçando o amor por São Paulo: “Sempre é um prazer tocar para vocês”. Esta faixa tem uma primeira
metade mais lenta, transitada a uma segunda metade mais rápida e com mais
elementos de Stoner Metal e uma
predominância dos timbres vocais mais graves do vocalista. Ao todo, um show
surpreendente e de ótima sonoridade por todos os membros.
Space Grease
A última banda de abertura, antes
da principal, trouxe elementos do Hard
Rock com nuances do Stoner Rock, Acid Rock, Hard Rock e até de ritmos latinos em suas faixas. Os paulistanos do
Space Grease, banda fundada em 2020, pautaram seu setlist de sete faixas no EP
de estreia da banda, “Can’t Hide” (2023). E no primeiro single avulso, “Separation
Time” (2022).
O quinteto, liderado pela
vocalista Ju Ramirez, contou com a mudança de Antônio “Tonhão” Fermentão para a
bateria - antes, baixista da banda - devido a saída de um membro no começo do
ano. Além deles, estiveram no palco Fernando Ceravolo (guitarra), Diego
Nakasone (guitarra).
Assim como no EP “Can’t Hide”, o
grupo abriu a apresentação com “Burning Inside My Chest”, faixa em que Ju
Ramirez apresentou grande performance vocal, além do uso de chocalhos,
acompanhados de danças, durante os trechos instrumentais - algo que seria visto
em outras das faixas seguintes -. Em seguida, “Can’t Hide”, faixa-título,
contou com um riff distorcido interessante de Fernando Ceravolo no início, além
da presença de Caique Fermentão, baixista do Sugar Kane, na percussão que se
situava no canto direito do palco - o esquerdo, na visão do público -. As
características de rock psicodélico,
com a distorção das guitarras, deram uma sonoridade interessante à faixa.
O ritmo agitado da banda por um
todo prosseguiu em “Breakdown”, com destaque coletivo pela entrega instrumental
e performática na faixa. Ao fim dela, Ramirez anunciou ao público que a banda
está na produção de um novo álbum, no qual três das faixas seguintes estariam
nele (mesmo sendo parte do EP lançado em 2023).
Assim veio “Little Man”, música com
início mais lento, porém com aumento do agito ao longo dela. Tonhão, inclusive, se destacou por conta
da entrega na bateria, principalmente com as fortes batidas nos pratos. Já em
“Again”, o ritmo pautado em Hard Rock
tornou o ambiente do Fabrique mais frenético, principalmente pelo piscar dos
refletores brancos, em ritmo frenético.
Na reta final, os membros do
Space Grease tocaram as duas últimas faixas. A primeira delas, “Get Away”, teve
outro grande solo de Fernando Ceravolo em meio ao ritmo agitado. Já na segunda,
o single inaugural “Separation Time”, o quinteto trouxe elementos do Punk Rock no começo da faixa, além do
incremento da sonoridade do Stoner Rock
no restante. Na finalização, uma ótima repetição das linhas finais, seguidas
dos gritos de “OOÔ” por parte de Ju Ramirez em meio a um aumento proposital do
ritmo da faixa, que reduziu aos poucos até o fim. Por um todo, uma apresentação
surpreendente e diferente das propostas das bandas anteriores, trazendo a
energia necessária antes da atração principal.
Lucifer
Do final da apresentação anterior
até minutos antes do início da apresentação da atração principal, não somente a
organização do palco foi rápida, como a pista da Fabrique ficou completamente
lotada a ponto de não ter como se movimentar sem ser pelas laterais da pista.
Digo isso, pois bastou uma ida até os fundos do local e, num piscar de olhos,
pessoas que estavam nos bares, na área de merchan ou que entraram no final do
evento vieram de uma única vez.
Eram 20h31, quando o público apresentava
um misto de ansiedade e alegria com a chegada da atração principal. O show se
deu com o surgimento do nome da banda em formato de letreiro iluminado, no
telão, e com a introdução em violão. Aos poucos, os membros da banda entraram,
todos muito ovacionados: Nicke Andersson (bateria), Harald Göthblad (baixo),
Linus Björklund (guitarra), Martin Nordin (guitarra) e, por último, a icônica
vocalista Johanna Platow Andersson, com seu microfone retrô. O setlist da banda
se deu com as músicas de seu repertório a partir do segundo álbum de estúdio,
“Lucifer II” (2018), com a maioria das faixas sendo de seu último disco,
“Lucifer V” (2024) e com a inclusão de um pequeno trecho de cover.
A primeira faixa tocada foi
“Crucifix (I Burn for You)”, do álbum “Lucifer IV” (2021), iniciada por um
ótimo riff de guitarra e as primeiras
amostras do belo vocal de Johanna em meio a uma forte iluminação em vermelho e,
claro, seguida de um ótimo primeiro solo de Martin Nordin na noite.
“Ghosts” e “Midnight Phantom”
fizeram a dobradinha das únicas faixas do álbum “Lucifer III” (2020). A
vocalista do Lucifer teve pequenos problemas com o microfone, que foram
rapidamente corrigidos por um dos roadies
da banda em meio à execução da primeira música, compensados por uma sonoridade
muito bem ritmada pela bateria de Nicke, que não deixou sua boina cair em
momento algum do show, e por outro ótimo solo de guitarra de Martin. Na segunda
faixa citada, em ritmo mais dançante - mas ainda dentro de uma estética Occult Rock e Hard Rock, teve um vocal impecável de Johanna, principalmente nos
refrões cantados “This Is the last
goodbye / Before you Follow”. Situação digna de aplausos calorosos e
ovações, ao final, de um público que, muito atento com a performance da banda,
cantou de forma tímida, mas sem mesmo encostar nos celulares.
“Dreamer” trouxe um pouco do
repertório de “Lucifer II” (2018), em mais um refrão contagiante e que, dessa
vez, foi muito cantado por grande parte do público presente a ponto de fazer
Johanna se emocionar: “Dreamer, have you
seen her? / On a white horse tall with pride / Eyes turned to the sky”.
Martin voltou a se destacar com outro grande solo na reta final. Em meio às
ovações fortes do público, o Lucifer deu continuidade ao show com a comemorada
“A Coffin Has No Silver Lining”, a primeira faixa da noite a representar o
disco “Lucifer V” (2024) e com uma sonoridade que mescla Heavy Metal e Hard Rock
em suas essências.
A música “Wild Hearses” trouxe a
primeira linhagem Doom Metal da
apresentação, com linhas poderosas do baixo de Harald Göthblad, somadas à uma
sonoridade que lembrou uma guitarra barítona durante os riffs. Johanna apresentou tons mais baixos na voz, o que caiu super
bem para a sonoridade da música em questão.
Já em “Fallen Angel”, outra faixa
de “Lucifer V” e que abre o disco em questão, a semelhança inicial com
“Children of the Grave”, do Black Sabbath, deu jus a uma situação mais animada
no palco e na pista, somada ao piscar frenético dos refletores brancos em meio
a uma iluminação ainda vermelha do palco. Tudo isso, claro, complementado por
mais um ótimo refrão de Johanna e ótimas variações do baterista do Lucifer. A
dobradinha se formou na sequência, com mais um Doom Metal de ótima qualidade pela faixa “At the Mortuary”, que
também teve fortes linhas da bateria e das guitarras. A frontwoman da banda
também fez questão de esbanjar carisma ao interagir com os fãs mais à frente da
pista, apontando para as câmeras de seus celulares e sorrindo.
O grupo ainda tocou a ótima “The
Dead Don’t Speak”, de ritmo um pouco mais lento na primeira parte, mas com
batidas viscerais de Nicke Andersson após o segundo refrão. A sequência de
faixas do álbum “Lucifer V” - apesar de ainda ter mais uma mais à frente -
terminou com a lenta “Slow Dance in a Crypt”, conduzida muito bem por conta de
linhas de guitarra poderosas, assim como pela voz marcante de Johanna, cuja
performance teve o incremento do vento dos ventiladores em seus cabelos.
A primeira grande parte do show
terminou com “Bring Me His Head”, do álbum “Lucifer IV”, emendada da faixa
anterior e com ótimo riff inicial. Ambos os guitarristas, Linus Björklund e
Martin Nordin, tiveram solos impactantes em meio ao Hard Rock imposto na faixa, além de viradas poderosas de bateria e
outra versatilidade vocal que deram o resultado final: aplausos, ovações e
gritos em nome da banda na saída para pausa de todos os membros.
Este
encore, como é padrão em diversos shows, contou com tais gritos em
nome da banda e palmas ritmadas. O diferencial veio do meio da pista, com um
homem que, aparentemente alterado, tentou ficar no alto para ser carregado até
a frente do palco, o que não deu certo nas diversas tentativas.
O retorno rápido da banda foi
comemorado e, de cara, a banda tocou um cover - que se tornou uma introdução
breve - do começo da música “I Want You (She’s So Heavy)”, icônica música dos
Beatles e que compõe o disco “Abbey Road” (1969). Logo, houve a transição para
o começo e sequência da faixa “Maculate Heart”, última do disco mais recente da
banda a ser tocado na noite. Quando Johanna cantou o primeiro “Bring it on” da faixa, o público
explodiu no sentido vocal, acompanhando muito bem a frontwoman durante a faixa.
Só faltou um pulo coletivo, mas havia pouco espaço para alguém arriscar - no
entanto, mesmo homem que não conseguiu ser levado para a frente, no encore, ao
menos conseguiu ficar mais alto que todos por um tempo, sendo notado e
cumprimentado por Johanna em certo momento da faixa. Todos os instrumentistas
se mostraram muito bem na faixa, no entanto vale o destaque para as viradas
poderosas de Nicke Andersson durante a execução da música.
“California Son”, música que abre
o disco “Lucifer II” (2018), veio como a penúltima do setlist, em um ritmo mais
rápido, relembrando a sonoridade dos primórdios do Heavy Metal e com ótima qualidade dos riffs e solos de guitarra. As
ovações, mais que merecidas, encerraram esta faixa, mas introduziram o gran finale da noite.
A última faixa da noite foi
“Reaper on Your Heels”, na que também formou a última dobradinha de um álbum na
noite. O início marcante foi a base da ótima condução instrumental da faixa e
das últimas execuções vocais de Johanna, que também usou um pandeiro meia-lua
da metade para o fim da faixa. Esta reta final, inclusive, contou com uma
poderosa finalização, na qual a velocidade do ritmo foi propositalmente
acelerada pelos instrumentistas da banda para um ritmo frenético e visceral, em
meio a piscares de luzes que seguiam a mesma frequência da banda,
principalmente de um Nicke Andersson que, repito, não deixou a boina cair nem mesmo num momento como esse.
Os agradecimentos da banda não
foram suficientes para um público que pediu por mais uma faixa e que, junto a
isso, ainda aguardou que a banda voltasse para algo. Mas foi, de fato, o final
de um show impecável musicalmente, no qual fãs de longa data, mais recentes ou
os que descobriram a banda nesse evento com certeza saíram satisfeitos e com o
desejo de um retorno rápido do quinteto, em meio a uma atenção máxima e
coletiva ao longo do show. E claro,
um evento em que todas as bandas, em alguma característica - estética, musical
ou a soma dos dois -, deu uma impressão mais que positiva, fazendo com que a
oportunidade fosse claramente bem abraçada.
Texto: Tiago Pereira
Fotos: Leandro Almeida (Rock Brigade)
Realização: Xaninho Produções / Caveira Velha Produções
Mídia Press: LP Metal Press
Night Prowler – setlist:
Free
the Animal
Devil
in Desguise
Never
Surrender
The
Darksider
Tightrope
The
Witches Curse
No
Escape
Make It
Real
Weedevil – setlist:
Serpent’s
Gaze
Chronic
Abyss of Bane
Underwater
Profane
Smoke Ritual
Necrotic
Elegy
Serenade
of Baphomet
Tantum – setlist:
Speed
(Addicted)
New
World
Wicked
Spirit
Blind
Snake
Ivory
Towers
ROJO
Roulettenbourg
Roulette
On the
Road
Glory
Pesta – setlist:
Anthropophagic
Marked
By Hate
Witches’
Sabbath
Black
Death
Words
of a Madman
Moloch’s
Children
Space Grease – setlist:
Burning
Inside My Chest
Can’t
Hide
Breakdown
Little
Man
Again
Get
Away
Separation
Time
Lucifer – setlist:
Crucifix
(I Burn for You)
Ghosts
Midnight
Phantom
Dreamer
A
Coffin Has No Silver Lining
Wild
Hearses
Fallen
Angel
At the
Mortuary
The
Dead Don't Speak
Slow
Dance in a Crypt
Bring
Me His Head
Bis
I Want
You (She's So Heavy) - Cover dos Beatles. Apenas o trecho inicial tocado,
como uma introdução
Maculate
Heart
California
Son
Reaper
on Your Heels