A equipe do Road, no dia 26 de novembro de 2017, esteve no
Angra Fest, primeiro festival organizado pela veterana banda com o intuito de
fortalecer e elevar a cena Metal nacional. Na semana seguinte, mais
precisamente no dia 03/12, apreciamos a mesma formula, só que numa atmosfera
infernal e devastadora. Seguindo a experiência e a ideologia do número “3”, o
Project46, depois de 3 anos, retomou o 46fest na sua 3º edição para comemorar o
lançamento do seu terceiro disco, “TR3S”, no Tropical Butantã, chamando bandas
do underground pra celebrar mais um momento importante na carreira da banda.
Previsto pras 16hrs, a abertura da casa teve um atraso de
apenas uma hora, mas que não interferiu no cronograma das bandas, ocorrendo
mínimas alterações para o inicio de cada atração. Poucos minutos das portas se
abrirem, a fila (ampla) não parava de aumentar com a chegada das pessoas, dando
a entender que o dia seria de casa cheia. O grau de volume foi atingindo horas
antes de a atração principal entrar em cena, mas tal preferencia não tirou a
moral das bandas participantes, tendo um público bem respeitado para prestigiar
o festival do começo ao fim.
Infelizmente, não conseguimos pegar toda a apresentação dos
mato-grossenses do Tonelada devido ao apetite deste que vos escreve. Espero que
a banda me perdoe por esta falta de responsabilidade, mas para quem estava
gripado e com dor de garganta, a boa alimentação e o entornar de medicações foi
importante pra aguentar a maratona de shows, que não ia ser nada mole, ainda
mais para a principiada banda e com as demais. Sob todos os cuidados possíveis,
os sintomas de melhora não apareciam, restando somente à força do Metal como
principal remédio pra encarar a bruta missão.
Deixando essa parte de lado e estabelecido no local, o
quarteto, formado por Jaum Queiroz (Vocal), Luan Mendes (Guitarra), Renan Gobi
(Baixo), Paulinho Torrontegui (Bateria), vulga exatamente o seu som pelo nome,
que é uma verdadeira Tonelada de peso e violência. No pouco tempo que pude
apreciar o show, a banda conquistou o pequeno público com sua atitude rustica e
agressiva, fazendo por merecer os votos de ser uma das bandas vencedoras do
concurso Bandas Independes. Os destaques ficam para as músicas novas “Quero ver
Quem Vai Pagar”, “Inimputáveis” e a sangrenta “Medalha de Sangue”, além das
acessíveis “Realidade Nua e Crua”, “Cria Sua” e “Maria da Penha”, presentes no
EP “Grosso”.
Rapidamente, às 18h08min, os cariocas do No Trauma
(escolhida pelo Project46 através da plataforma Bandas Independentes) incumbiu de
mostrar suas qualidades em um ágil set de meia hora. Com um estimo público,
Hosmany Bandeira (Vocal), Tuninho Silva (Guitarra), João de Paula (Baixo) e
Marvin Freitas (Bateria), demonstrou uma alta proporção entre o Heavy Metal e
Hardcore carregados de bons grooves. Evidenciando as músicas “Fuga”, “Quimera”,
“MMA” e “Igualdade”, que estão no mais recente trabalho, “Viva Forte Até o Seu
Leito de Morte”.
Lembrando-se da curta turnê pela América do Sul que o
quarteto prosseguiu com a árdua “Viva Forte”, encerrando com a congruência
fúria de “Massa de Manobra”, possuindo backings-vocals marchantes semelhantes
ao grito de guerra do comando do BOPE.
Era chegada à vez das bandas escolhidas pelos donos da
festa tomarem conta do palco, sendo dois nomes da cena paulistana a mostrarem
todo o potencial. E a primeira a abrir terceira etapa do festival foi o Trayce,
às 18h51min, executando músicas do seu novo álbum, “Miragem” — o primeiro inteiramente
cantado em português.
Formado por Raphael Castejon (Vocal), Alex Gizzi e Fabricio
Modesto (Guitarras), Rafa Palmisciano (Baixo) e Cadu Gomes (Bateria), o
quinteto sintetizou a boa fase num show incandescido de energia, demolindo tudo
com “Corpo Fechado”, “Queda Livre” e “Réus”, mantendo o bom som nas climáticas
“O Culto” e “Miragem” (essa última ganhou vídeo clip poucos dias antes do
show).
Pedindo pra que todos cantem a faixa seguinte, Raphael
compartilhava seu ânimo e disposição com toda galera através da sua atitude na
carregada “Superfície do Ego”, que logo chamou o vocalista Dijjy, do Ponto Nulo
do Céu, para fazer participação em “Sem Roteiro”, sugando às últimas cargas de
energia com “Domadores”.
O segundo nome, que antecedeu a vez da atração principal
pavimentou diversos elementos da música, abrangidos de peso e emoção, o Ponto
Nulo do Céu, às 19h58min, surpreendeu todo mundo com sua ideologia poética e
social, provando que hoje é um dos nomes mais importantes do underground
nacional. E nessa onda que Dijjy (Vocal), Felipe (Guitarra), Fau (Baixo) e
Lucas (Bateria) iniciou a segunda etapa do festival com a atmosférica
“Horizontal”, convocando poder e reproduções de efeitos em “Por Entre os
Dedos”.
A climática “Overviem Effect” não deixou o barulho de lado,
destacando a boa performance rítmica em “Sob o Mesmo Sol” e a magnética
“Norte”. “Telas” uniram múltiplos elementos, passeando por ritmos funkeados,
eletrônicos e de Hip Hop, onde mais uma vez o Fau roubou a cena com sua técnica
nas 5 cordas do seu baixo.
Fora do fluxo “Pintando Quadros do Invisível”, último
trabalho da banda, o quarteto reviveu uma música do sucessor álbum, “Brilho
Cego”. E a escolhida foi a pulsante “Clarão”, chamando o baterista Biel
Astolfi, do Carro Bomba, para cantar junto com o grupo. O delírio tomou conta
em “De São Paulo a Xangai”, recebendo a inesperada participação do vocalista
Caio Macbessera, do Project46, que aproveitou a deixa para aquecer a
potencialidade que iria vir em seguida, ultimando o show com a explosiva “Fluxo
Natural”, onde a maioria cantava sem errar uma parte da letra.
Passava 30, 20 e 10 minutos e nada da Project46 aparecer no
palco. De tanta impaciência e nervosismo, os fãs começavam a cantar o refrão da
música “Violência Gratuita” (Abre a roda ou sai fora!). Depois da saudação do
pequeno Max, filho do baixista Baffo Neto, a voz de Caio Macbessera surgiu nos
falantes, lembrando que três anos se passaram para o lançamento do álbum, mas
que, enfim, foi lançado graças a todos que apoiaram a banda. Continuando o
discurso, o vocalista pedia pra tirar todo o mal olhado e toda “bosta” que
aconteceu durante aquela semana, pois era hora de tirar tudo de ruim pra fora.
E às 21h33 uma introdução mitológica ecoava nos PA’s,
penetrados do tradicional “Olê, Olê, Olê” com o nome da banda no final. Sem
mais esperas, Caio Macbessera (vocal), Vini Castellari e Jean Patton
(guitarras), Baffo Neto (baixo) e Betto Cardoso (bateria) tacaram o “foda-se”
em tudo com 5 faixas do mais novo álbum: “Terra de Ninguém”, “Corre”, “Pânico”,
“Rédeas” e “Realidade Urbana”. O legal nesses primeiros momentos do show é que
o novo álbum recebeu uma forte recepção, percebendo várias pessoas cantando
essas primeiras músicas sem nenhum escorregão.
Pedindo pra jogar a luz na galera, Caio deu certeza que a
próxima seria “Capa de Jornal”, presente no álbum “Doa a Quem Doer”. E foi
incrível ver o público cantando em plena exaustão, que chegou até fazer eco de
tantos que cantavam a música. Se isso já era demais, precisava ver o absurdo em
“Violência Gratuita”, alargando eletricamente a raivosa roda, culminado no
clamoroso refrão citado a cima.
Os celulares foram tirados nos bolsos pra iluminar a tempestade
que estava por vir em “Na Vala”, do que “Que Seja Feita Vossa Vontade”, onde o
Caio contou toda a história (dramática) no ponto mais alto do PA, descendo
rapidamente pra expor todo erro que acontece no nosso país na repulsiva “Erro +
55”, calcetando todo o ânimo para a frenética “Empedrado”, retomando o foco ao
“TR3S” com “Marginal”.
Perguntado se todos queriam mais, Caio agradeceu a todos
que coloram na grade. Sob um instigante discurso, o mesmo recordou das
mensagens de força da galera durante a campanha Experiência Três, que foi um
período onde a banda estava passando por uma fase mais desequilibrada, alegando
que todos fizeram isso pra levantar a banda.
“Foi pensando em vocês, que tem o 46 tatuado, identifica
com as músicas e entendendo o legado, que a banda quis passar isso pra frente,
porque quando uma pessoa está no chão, basta levantar a cabeça e deixar todas
as coisas no chão, porque se não fizer isso ninguém vai fazer por você”,
testemunhou Caio. “Eu acredito que cada um de nós tem uma força interna que
tira qualquer um no chão, então pode pá que não da outra! Pode pá que você tem
a força! Pode pá que você é muito maior do que você imagina!” E nessa divisão
que o quinteto emocionou todo mundo com “Pode Pá”, tendo um fã na grade que
chorava feito criança, onde o Caio desceu do palco pra sentir o sentimento dele
e de cada um que estavam ali na frente.
“O Project46 representa a nossa expressão! Os caras
conseguem falar para o mundo o que a gente não consegue falar, e eles põem pra
fora o que a gente não consegue por pra fora! É isso que o Project46 representa
pra nós”, declarou Ricardo Colombera.
Sobre o motivo do choro, o mesmo explica: “Eu tenho muita
identificação com as letras e das guerras que os caras passam. Eu acompanho os
caras desde o começo, então eu sei qual é que é. Eu sou amigo do Vini, do Jean
e do Caio. Então acompanho os caras desde começo e sei o que os caras passam. E
é muito parecido a minha história com a história deles, então toda vez que eles
põem pra fora, eu procuro por pra fora também, porque é a melhor maneira de
você sentir a arte é quando se põem pra fora o que tem preso dentro de você. E
da mesma maneira que os caras põem pra fora no palco, eu ponho pra fora
assistindo os caras. É uma forma excelente de a gente conseguir expressar o
nosso sentimento”, conclui.
Continuando, Caio afirmou que nunca perdeu sua voz em show,
mas a energia era tão forte que ele teve que ir além da conta, não sentindo, em
nenhum momento, o que estava acontecendo naquela noite. E olha que não era Rock
In Rio, Monsters Of Rock e Makinaria Fest, porque o que fãs estavam fazendo não
tem preço! E pra berrar até o final da noite, o vocalista de um recado pra quem
impune o sistema em “Anônimo”, havendo o corriqueiro ‘Oh, Oh, Oh’ nas melodias
finais.
“Quando a pessoa se levanta, ela nunca mais vai andar pra
trás”. E nesse raciocínio que foi chegada à vez de “Um Passo a Frente”,
contendo aplausos e mais aplausos durante a execução da música, encerrando com
chave de outro com a faixa-título do recente disco, “TR3S”, soltando todos os
demônios e raivas pra fora, que foi o principal lema durante o show.
Espera... não acabou ainda! Pra encerrar com chave de ouro
mesmo, Caio chamou os que têm o 46 na pele pra subir no palco pra cantar a
próxima faixa, terminando a apresentação (abarrotados de fãs no palco) com a
destrutiva “Foda-se”.
Cada um de volta aos seus lugares, à banda resolveu tocar
mais uma. E dessa vez foi a saideira mesmo, que ficou para “Acorda Pra Vida”.
Não é pra qualquer banda o que esses caras fazem. E depois
de show o meu respeito só aumentou cada vez mais.
Fotos:
Dener
Ariani, Tuninho Silva,
Edição/Revisão:
Renato
Sanson
7. Clarão
(feat. Biel Astolfi)
8. De São
Paulo a Xangai (feat. Caio Macbeserra)