A Hard N’ Heavy Party, festa criada por Carlos Chiaroni, proprietário da Animal Records, renasceu das cinzas no primeiro semestre deste ano. A edição de retorno, ocorrida em maio passado, contou com as participações dos vocalistas Robin McCauley, John Corabi, Chez Kane e Erik Martensson, que proporcionaram shows inesquecíveis, recebendo uma resposta muito positiva tanto dos que frequentavam a festa no início dos anos 2000 e da nova geração que não teve a oportunidade de vivenciar essa experiência.
No último dia 2 de novembro, sábado, aconteceu mais uma edição memorável para os amantes deste estilo musical e, em particular, para os fãs do Whitesnake. A organização trouxe o ninguém menos que o renomado guitarrista holandês Adrian Vandenberg, que fez parte da banda de David Coverdale entre o final dos anos 80 e o decorrer dos 90. Esta foi a segunda visita dele ao Brasil, a primeira ocorreu em 1997 com o Whitesnake durante o festival comemorativo dos 12 anos da 89fm, realizado no antigo Palestra Itália e que também contou com os shows do Megadeth e Queensrÿche. O veterano Mats Leven, atual vocalista da banda Vandenberg e que já emprestou sua voz para várias bandas importantes como Candlemass, Therion, Yngwie Malmsteen e entre outras, também veio para acompanha-lo.
Tal como na última vez, o local selecionado para esta breve edição foi o Manifesto Bar, que abrigou um grande volume de gente para receber as lendas. Mas antes deles começarem os trabalhos, os brasileiros do Spektra aqueceram os motores de forma notável. Para quem não está a par, a banda é uma continuidade do Tempestt, que participou das primeiras edições da Hard N’ Heavy e que, desde então, se tornou a banda principal do vocalista Jeff Scott Soto, conforme explicou Carlos antes de chamar a banda para o palco.
Formada durante a pandemia, a formação conta com os experientes BJ (vocal), Leo Mancini (guitarra), Henrique Canale (baixo) e Edu Cominato (bateria), ou seja, quase a mesma formação do Tempestt. A banda vem divulgando o seu último lançamento, o excelente Hypnotized, e o repertório foi majoritariamente calçado nele, mas sem deixar de lado os principais momentos do primeiro álbum, Overload.
O Hard Rock praticado pelo grupo, com influências de Melodic Rock e AOR – bem na pegada do Journey e de outras bandas derivadas – entusiasmou o público que já dominava o recinto através de temas extremamente cativantes como “Freefall”, “Our Love”, “Taste Of Heaven”, “Search for More” e “Back Into Light”.
Além da qualidade do show e do som excepcional, os músicos demonstraram empatia e descontração, especialmente por parte do BJ, que frequentemente partilhava histórias divertidas durante o intervalo de algumas músicas e protagonizava momentos cômicos ao lado do Leo, que igualmente não disfarçou o seu bom humor. Este clima foi particularmente destacado na execução de “My Voice for You”, dedicada ao Carlos, que estava ao lado do palco emocionado cantando junto com a banda.
No decorrer do show, foram ainda apresentadas as baladas “Just Because” e “Our Time Is Now”, que deram uma acalmada nos ânimos e que foram intercaladas com as vibrantes “Overload” e a conclusiva "Running Out Time", encerrando assim o show que foi repleto de energia e que certamente satisfez a expectativa daqueles que nunca tinham assistido ao vivo, uma vez que a banda não realiza shows na cidade de São Paulo com regularidade.
Sem muita formalidade e com um pequeno atraso, Vandenberg e Mats Leven apareceram ao palco por volta da meia-noite. Junto a eles, estavam Bento Mello (baixo), Gabriel Haddad (bateria) e Flavio Salin (teclados). A dupla já iniciou o show com as potentes "Bad Boys" e "Fool For You Loving", proporcionando um excelente início e sugerindo que o repertório traria uma seleção de grandes sucessos do Whitesnake e mais algumas pérolas que nunca foram tocadas ao vivo.
A terceira música da noite foi “Your Love Is In Vain”, que manteve a energia nas alturas. Ela faz parte do álbum de estreia do guitarrista, lançado em 1981. O início dela mostrou Adrian e Mats estabelecendo um diálogo entre voz e guitarra. O público, naturalmente, ficou encantado e seguiu o ritmo dos dois.
“Now You’re Gone”, tirada do incrível Slip of the Tongue, foi uma das primeiras surpresas da noite. Assim que Adrian começou o solo que dá início a ela, o público se empolgou e cantou junto com intensidade, deixando Mats – que mencionou que essa faixa foi um pedido dos organizadores – incrédulo com a vibração de todos. Adrian ficou feliz com a escolha, afirmando ser uma das suas músicas favoritas da época em que fez parte do Whitesnake.
“Hit The Ground Running” foi a única faixa do novo álbum do Vandenberg, “SIN” (2023). Embora seja uma composição de alta qualidade, que se assemelha bastante à primeira música do set, eu escolheria “Light It Up”, que se encaixaria melhor no clima do show e na atmosfera da noite. De toda forma, ela foi bem recebida e elevou o ânimo dos fãs mais fervorosos.
Os fãs de Whitesnake tiveram mais uma razão para se emocionar com “Sailing Ships”. Devido ao seu clima íntimo, os outros músicos permitiram que Adrian e Mats ficassem à vontade no palco, sentados ao lado da bateria, criando uma atmosfera quase acústica com apenas voz e violão. Sem dúvida, foi o momento mais sublime e, como já mencionado, o mais singelo da noite.
A apresentação seguia de forma rápida, e clássicos como “Judgment Day” (com um curto solo de bateria), “Is This Love” e “Crying In The Rain” encerraram este primeiro bloco de forma brilhante. Em particular nestas três, Mats impressionou com a sua versatilidade vocal, conseguindo dominar de forma perfeita tons mais agressivos e melodiosos, lembrando, em certos momentos, David Coverdale. “Wait”, outra do primeiro disco do Vandenberg, completou esta sequência de maneira mais tranquila.
A noite foi encerrada com um sonoro golaço, ou melhor, com três golaços bem dados. O primeiro foi “Burning Heart”, que embora não tenha o mesmo impacto dos outros hinos tocados antes, merece ser considerado um hit, sendo a escolha ideal para que a vibrante "Still Of The Night" pudesse tomar espaço e animar ainda mais o público enquanto Adrian soltava os riffs pesados que caracterizam esse clássico. “Hero I Go Again”, a única música que tem as guitarras do Adrian no álbum homônimo de 1987, concluiu este extraordinário show de forma magistral.
Poder ver Adrian Vandenberg de perto foi uma vivência inigualável, considerando que se trata de um guitarrista que deixou uma marca significativa na história do Rock e que impactou uma geração de guitarristas. Após vários anos longe dos holofotes, o músico continua surpreendendo com a sua habilidade singular e com suas novas composições, unidos a um carisma e empatia sem igual, que com certeza cativaram todos os presentes nesta noite que não será esquecida nem tão cedo.
Texto: Gabriel Arruda
Fotos: Amanda Vasconcelos
Edição/Revisão: Gabriel Arruda
Realização: DNA Rock Events
Mídia Press: ASE Press
Spektra – setlist:
Freefall
Our Love
Taste of Heaven
Search for More
Back Into Light
Our Time Is Now
My Voice For You
Just Because
Overload
Bis
Running Out Of Time
Adrian Vandenberg and Mats Leven – setlist:
Bad Boys
Fool For Your Loving
Your Love Is In Vain
Now You're Gone
Hit The Ground Running
Sailling Ships
Judgment Day
Is This Love
Wait
Crying In The Rain
Bis
Burning Heart
Still Of The Night
Here I Go Again