sábado, 30 de novembro de 2024

Cobertura de Show: Katatonia – 15/11/2024 – Carioca Club/SP

 As trevas astrais anunciaram a aparição do Katatonia em solo nacional

Concebido ao mundo no começo dos anos noventa, o Katatonia ainda se mantém na ativa desde 1991 com modificações sonoras substanciais ocorridas durante a sua trajetória. Tendo as suas origens com um Doom Metal mesclado com fragmentos da cena do Death Metal da famosa cena de Estocolmo, ele possui dois membros que a fundaram: o vocalista Jonas Renkse e o guitarrista Anders “Blakkheim” Nyström, que embora fosse apenas uma “banda de estúdio em seu gênese, os próprios não tinham ideia do escopo que ela eventualmente acabou criando.

Avançando para o ano de 2024, os suecos construíram um histórico relativamente constante com o público brasileiro, tendo comparecido ao nosso país ainda no ano passado. Motivo de surpresa foi o fato de que não teve banda de abertura, fato este que deu um senso mais genuíno de “apresentação única”, não apenas por ter sido o único show no Brasil, mas por não terem sido acompanhados por outro conjunto. Reprisando o tradicional local do conhecido Carioca Club, os escandinavos carregaram a característica da pontualidade, já que exatamente às 21 em ponto, a sonoplastia da casa recebeu uma mudança drástica de tonalidade: era hora de se dar início para a razão da vinda da multidão reunida.

MESMO O CÉU FOI BANIDO

Ainda que tivesse sido em um dia com várias outras atrações disponíveis na capital paulista (feriado, diga-se de passagem), é impressionante que mesmo num horário com uma folga notável do começo, a casa já se encontrara bem tumultuada, sendo a sua culminação natural o enchimento da própria. Quando estamos lidando com veteranos de mais de 3 décadas de experiência, uma audiência fiel é algo que vem com o território.

A pressão sob os ombros dos veteranos era alta para superar a aparição do ano passado. De cara, uma reprise de 2023: uma vez mais, um elemento central do Katatonia, Anders “Blakkheim” Nyström não compareceu, sendo a composição de um quarteto novamente.


A PRESENÇA DO SENHOR DE BAIXO FOI SENTIDA POR TODOS

A música é o filho primogênito das Sete Formas da Arte, e não é por acaso que esse esforço veio a ser. Sendo a primeira manifestação artística registrada pelo homem, toda e qualquer carência de um elemento-chave que criou o fundamento básico de uma banda, ou de músicas queridas por uma fatia do seu público pode ser compensada se uma alteração atmosférica vier a ser invocada. Este aspecto é uma técnica que a entidade conhecida como Katatonia domina de maneira a ensinar como se faz. Características como o teor melancólico que envolvia os perímetros do Carioca Club, a voz de agonia perfurante do vocalista Jonas Renkse e as frases sentimentais da guitarra de Nico Elgstrand viraram uma assinatura registrada durante a apresentação. Quando o musicista realiza uma entrega tão dedicada, para além de uma performance ordinária, você percebe que está diante de um autêntico artista.

Deve se mencionar também que o atual guitarrista Sebastian Svalland não pôde comparecer a atual turnê porque está resolvendo questões referentes ao seu casamento. No entanto, Jonas garantiu que na próxima vez, ele aparecerá de maneira mais “selvagem” para compensar esta falta.

LUA ACIMA, SOL ABAIXO

Alguns dos pontos mais conhecidos ou de maior crítica da banda foram reforçados nesta passagem pelo Brasil durante a turnê do mais novo álbum, “Sky Void of Stars”.

“For My Demons” do aclamado “Tonight’s Decision” é culpada por colocar a capacidade de decibéis de quem estava presente ao teste, ao fazer a plateia cantar em união. “Evidence”, de “Viva Emptiness”, arrancou uma demonstração de euforia por parte do público que se agitou com mais frequência do que o normal.

O tamanho do peso sentimental carregado por “My Twin” foi tão imenso que obrigou ao público a vivenciar mais de perto o que estavam testemunhando, em desfavor do uso ocasional de celulares no meio da apresentação.

“Onward Into Battle” foi facilmente um dos destaques, sendo uma resposta de que a expectativa desta aparição foi cumprida com sucesso, apagando o gosto amargo da vinda do grupo sueco do ano passado, ainda que continue a incerteza no ar sobre o futuro de Blakkheim.


Destaque para Jonas que apresentou uma interação com a audiência (bem) maior do que normalmente faz, mostrando que estava sentindo falta do clima caloroso que o colosso da América Latina é capaz de ofertar, ao ponto de agradecer sistematicamente a presença de quem veio vê-los em plena sexta-feira, com todas as atrações que São Paulo tem a sua disposição. Além de desejar tocar novamente no mesmo final de semana, e se movimentar mais com o restante dos membros enquanto performavam, desafiando um tabu de que não é porque o som deles demanda um clima introspectivo que as pessoas não podem se movimentar mais enquanto o curtem.


Niklas Sandin instigava todos a banguearem quando a oportunidade demandava, e se colocava no limite entre o palco e a pista central em praticamente todos os momentos, traduzindo em atos de que o mesmo se encontrava entusiasmado em ver a casa de show lotada e de que gosta daquilo que faz.


Daniel Moilanen estava observando a tudo e a todos por trás do seu kit de bateria, enquanto também arrancava ações da plateia durante a sua sólida performance das linhas de bateria.


“July”, do memorável “The Great Cold Distance”, foi outro ponto alto da noite, fazendo com que Nico Elgstrand mostrasse a que veio (tendo já se apresentado no Entombed A.D.), ajudando a conjurar a atmosfera estabelecida no local e solidificando a evidência de que guitarras também são capazes de ter sentimentos.

PARA ALGUNS, SOLITUDE E ISOLAMENTO SÃO TAMBÉM BOAS COMPANHIAS

O repertório como um todo realizou um passeio por quase toda a sua discografia. Quase. Foi explícita a ausência de qualquer faixa do ponto inicial da carreira, cravada em sua história pelo conjunto de “Dance of December Souls”, “Brave Murder Day”, e os dois EP “For Funerals To Come” e “Sounds of Decay”, tendo até mesmo a participação do ilustre Mikael Åkerfeldt (conhecido pelo Opeth) durante este período.

Este é um ponto que merece ser revisado, não só em consideração por aqueles ouvintes que os conheceram durante a fase supramencionada, mas também porque o legado que estes lançamentos causaram ao universo do Doom/Death é impossível de ser subestimado.

Ainda que (injustamente) passemos uma borracha por esta fase e consideremos apenas o trabalho oferecido de “Discouraged Ones” em diante, não se pode negar que o Katatonia se mantém como um pilar referencial do som melancólico com cunho gótico, onde até mesmo o seguidor do som mais brutal pode se sentir enfeitiçado pelo clima depressivo e mais lento oferecido pelos “katatônicos”.

Enquanto eles estiverem na ativa, outra vinda sem tanta espera do grupo já é algo garantido em nosso país.

Os parabéns são obrigatórios para toda a equipe da Overload, por terem organizado e gerenciado este registro para marcar o final do ano corrente com uma presença de peso em terras tupiniquins.


Texto: Bruno França 

Fotos: Belmilson Santos (Roadie Crew)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: Overload


Katatonia – setlist:

Austherity

Colossal Shade

Lethean

Deliberation

Forsaker

Opaline

For My Demons

Leaders

Onward Into Battle

Soil’s Song

Birds

Old Heart Falls

Criminals

My Twin

Atrium

Bis

July

Evidence

Cobertura de Show: Bring Me The Horizon – 28/11/2024 – Audio/SP

A banda de metalcore britânica, Bring Me the Horizon, voltou ao Brasil para duas apresentações, promovendo seu mais recente trabalho “POST HUMAN: NeX GEn”, lançado em maio desse ano. A primeira das apresentações aconteceu na quinta-feira, dia 28 de novembro, na Audio em São Paulo. Com uma proposta mais intimista, o show foi anunciado há cerca de um mês e teve todos seus ingressos vendidos em menos de dois dias. Isso mostra o quanto a banda é querida pelo público brasileiro.

Sem banda de abertura e com fãs que acamparam desde a noite anterior, a fila da Audio percorria quarteirões. O tempo oscilatório de São Paulo, que pela tarde estava ensolarado e extremamente seco e abafado, teve pancadas de chuva ao final do dia, mas isso não desanimou o público, que aguardava ansiosamente para entrar na casa.

Com um atraso insignificante, por volta das 21 horas as luzes se apagaram e a animação temática no “nex gen” foi exibida no telão. Essa talvez foi uma das maiores intros que já presenciei, cerca de 7 minutos… Na imagem, víamos um menu de jogo de videogame, aqueles onde você ao iniciar o jogo precisa clicar em “press start”. O público, que estava mega ansioso, tentou de tudo: bater palma, gritar START, gritar o nome da banda… Em seguida, uma animação que mostra a personagem E.V.E (que participa dos shows e faz parte da Genxsis, uma igreja ou culto formada pelos seguidores de NexGen) nos pergunta: “vocês estão preparados para a melhor noite de suas vidas?”.

Às 21:10 a banda, formada por Oliver Sykes (vocal - e praticamente brasileiro), Lee Malia (guitarra), Matt Kean (baixo) e Matt Nicholls (bateria) sobe ao palco, ovacionados pelo público. A primeira música, “DArkSide’, do último álbum, foi cantada em uníssono. Oliver, que é casado com a modelo e artista brasileira Alissa Salls, interage o tempo todo em português, sempre ressaltando o quanto ama o Brasil e suas pessoas.

Sem tempo para respirar, o hit “Mantra” foi executado. Esse é um daqueles shows que só reuniu fãs, então não houve nenhum momento de calmaria ou que grande parte das pessoas não conhece alguma música. A energia foi a mesma do início ao fim. “Happy Song” e “Teardrops” vieram na sequência e Oliver pediu o primeiro mosh pit da noite. Apesar da casa estar cheia, é óbvio que ele teve seu pedido atendido.

“AmEN!” e “Kool-Aid”, ambas do “NeX GeN”, mostraram que os presentes realmente fizeram a lição de casa e ouviram o último trabalho da banda (que inclusive está indicado a álbum do ano em diversas premiações).

Seguindo com “Shadow Moses”, o set estava bem equilibrado, com músicas dos álbuns mais apreciados pela maioria. Então a banda tocou “n/A” pela primeira vez ao vivo. Oliver, sempre em português, demonstrava o quanto estava impressionado com o público.

“Sleepwalking”, “Kingslayer” (que conta com a participação do Baby Metal na gravação - aqui representada pelo próprio público que, cantava mais alto que a banda nas partes em que elas cantam) e “Parasite Eve” mantiveram a energia lá em cima.

Em “Antivist”, como de costume, Oliver escolheu alguém do público para dividir os vocais. O escolhido impressionou com seu gutural. Mais tarde descobrimos que ele é conhecido como Mister Chuck (Kauê Ferraz) e realmente faz parte de uma banda, a Overbrain. Em entrevista à rádio 89FM, o vocalista e tatuador contou que esperou por esse momento por 11 anos.

O set continuou com “Follow You”, “LosT” e o super hit “Can You Feel My Heart”, que encerrou a primeira parte.

Durante a semana os fãs manifestaram nas redes sociais as músicas que queriam ver no setlist, apresentando opiniões dividias. Muitos gostariam de ver um show apenas de músicas lado B, já outros esperavam hits. Sem dúvidas, o show agradou por mesclar diversas fases. Para os fãs dos álbuns mais antigos, o encore foi um presente.

“Doomed”, “Drown” e “Throne”, todas presentes no álbum “That’s the Spirit” (lançado em 2015), encerraram com chave de ouro a apresentação.

Embora ainda existam fãs mais tradicionais do metal que torcem o nariz, o Bring Me The Horizon segue firme na estrada há mais de 20 anos, com uma legião de admiradores ao redor do mundo, sendo o Brasil provavelmente o país com a maior base de fãs. A qualidade e o talento de sua discografia são inegáveis, e a apresentação na Audio confirmou que a banda entrega tudo ao vivo, seja para um público de 3 mil ou 50 mil pessoas.

Além disso, a banda movimentou a cidade com o lançamento de uma pop-up store, em parceria com a marca Lobo Bobo, instalada no Hangar 110, que funcionou exclusivamente nas quinta e sexta-feira, dias 28 e 29 de novembro.

Considerada uma das maiores bandas de metal da atualidade – se não, a maior –, o Bring Me The Horizon se prepara para o maior show de sua carreira, marcado para sábado, 30 de novembro, no Allianz Parque, ao lado de outras grandes atrações do metalcore, como Motionless In White, Spiritbox e The Plot in You.

“Brasil, eu amo vocês demais.”, disse Oli durante o show. E pode ter certeza, Oli, que os fãs brasileiros retribuem esse carinho com a mesma intensidade.


Texto: Jessica Tahnne Valentim 

Fotos: Flashbang Co.

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: 30ebr

Mídia Press: Trovoa Comunicação


Bring Me The Horizon – setlist:

DarkSide

MANTRA

Happy Song

Teardrops

AmEN!

Kool-Aid

Shadow Moses

n/A (primeira vez ao vivo)

Sleepwalking

Kingslayer

Parasite Eve

Antivist (com um fã)

Follow You

LosT

Can You Feel My Heart

Bis

Doomed

Drown

Throne

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

A Metalmorfose: Tributo Literário à Pioneira Banda Alta Tensão

 

Está aí uma ideia e uma homenagem genial: um tributo literário à uma das bandas pioneiras do Heavy Metal brasileiro. 





Diferente dos livros convencionais de biografias, "A Metalmorfose - Um Tributo Literário à Banda Alta Tensão" apresenta um apanhado de contos inspirados pelas músicas do primeiro e clássico álbum dos sul-mato-grossenses do Alta Tensão,  "Metalmorfose", lançado em 1985 pelo selo Baratos Afins e produzido pela lenda Oswaldo Vecchione (Made in Brazil).

Falando um pouquinho da banda, o Alta Tensão iniciou lá no início dos anos 80, uma época em que era bem mais difícil - as agruras do pioneirismo metálico no Brasil -  com toda a dificuldade em conseguir equipamentos, estúdios capacitados a produzir o estilo, e ainda longe do centro do país. 

Mas a vontade e amor pelo estilo superavam os obstáculos. A banda lançou três álbuns, "Metalmorfose" (85), "Portal do Inferno" (86) e "Nigéria" (1990), e encerrou as atividades em 1993. O grupo retornou em 2016 com nova formação,  fazendo alguns shows e podem aparecer com mais novidades.

Sobre o livro tributo, ele foi lançado pelas editoras independentes Não Sou Uma Editora e Editora Natesha, que o apresentam como:  

Uma obra que presta uma homenagem apaixonada à banda sul-mato-grossense Alta Tensão, ícone do heavy metal nacional dos anos 1980.

Este lançamento é uma celebração do legado deixado pela banda, que, com seu álbum de estreia ‘Metalmorfose’, lançado em 1985 de forma independente, marcou uma geração de fãs e músicos.”

A ideia do livro partiu do fã da banda  Leonardo Triandopolis Vieira, uma forma de homenagem ao que a banda representa para ele, e para muitos fãs da época. 

O objetivo da coletânea de contos, segundo os editores, é refletir aquele espírito rebelde e independente do Metal daquela época, convidando os leitores a mergulharem nas narrativas que ecoam a intensidade e o peso da música da Alta Tensão.

Para dar vida a este tributo foram convidados nomes como o ilustrador Daniel Shaman, os escritores Ramiro Giroldo e Fabio Shiva, e o músico e jornalista Pedro Espíndola, que realizou uma entrevista exclusiva com membros da formação original do disco, a qual também completa o livro, contendo muitas histórias e curiosidades sobre a banda, e sobre a própria história do Metal nacional.


O "set-list" é composto por uma HQ e 8 contos inspirados pelas músicas do álbum "Metalmorfose", e cada autor traçou suas linhas livremente, trazendo histórias em que se misturam emoções diversas permeadas de bom humor, ficção, crônicas do cotidiano, suspense e fantasia.

Uma leitura dinâmica, leve e um modo criativo e diferente de prestar tributo a nomes importantes do nosso cenário. E para quem viveu a época, tem os LPs, certamente será uma agradável viagem no tempo. Falo por mim, que voltei a ouvir com mais frequência os álbuns do Alta Tensão, e alguns outros da época, que com todas as dificuldades e limitações econômicas, de equipamentos e outras mais, mostravam uma qualidade e criatividade surpreendentes.

Leitura obrigatória aos fãs do Metal nacional, e que incentiva a reviver e também a buscar conhecer não só o legado do Alta Tensão, como de outros pioneiros. Que venham mais obras nesse formato.

Texto: Carlos Garcia 


O livro físico está disponível no Clube de Autores

E também na Estante Virtual

Saiba mais:

Não Sou Editora

Natesha Editora





quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Cobertura de Show: Adrian Vandenberg and Mats Leven – 02/11/2024 – Manifesto Bar/SP

A Hard N’ Heavy Party, festa criada por Carlos Chiaroni, proprietário da Animal Records, renasceu das cinzas no primeiro semestre deste ano. A edição de retorno, ocorrida em maio passado, contou com as participações dos vocalistas Robin McCauley, John Corabi, Chez Kane e Erik Martensson, que proporcionaram shows inesquecíveis, recebendo uma resposta muito positiva tanto dos que frequentavam a festa no início dos anos 2000 e da nova geração que não teve a oportunidade de vivenciar essa experiência.

No último dia 2 de novembro, sábado, aconteceu mais uma edição memorável para os amantes deste estilo musical e, em particular, para os fãs do Whitesnake. A organização trouxe o ninguém menos que o renomado guitarrista holandês Adrian Vandenberg, que fez parte da banda de David Coverdale entre o final dos anos 80 e o decorrer dos 90. Esta foi a segunda visita dele ao Brasil, a primeira ocorreu em 1997 com o Whitesnake durante o festival comemorativo dos 12 anos da 89fm, realizado no antigo Palestra Itália e que também contou com os shows do Megadeth e Queensrÿche. O veterano Mats Leven, atual vocalista da banda Vandenberg e que já emprestou sua voz para várias bandas importantes como Candlemass, Therion, Yngwie Malmsteen e entre outras, também veio para acompanha-lo.

Tal como na última vez, o local selecionado para esta breve edição foi o Manifesto Bar, que abrigou um grande volume de gente para receber as lendas. Mas antes deles começarem os trabalhos, os brasileiros do Spektra aqueceram os motores de forma notável. Para quem não está a par, a banda é uma continuidade do Tempestt, que participou das primeiras edições da Hard N’ Heavy e que, desde então, se tornou a banda principal do vocalista Jeff Scott Soto, conforme explicou Carlos antes de chamar a banda para o palco.

Formada durante a pandemia, a formação conta com os experientes BJ (vocal), Leo Mancini (guitarra), Henrique Canale (baixo) e Edu Cominato (bateria), ou seja, quase a mesma formação do Tempestt. A banda vem divulgando o seu último lançamento, o excelente Hypnotized, e o repertório foi majoritariamente calçado nele, mas sem deixar de lado os principais momentos do primeiro álbum, Overload. 

O Hard Rock praticado pelo grupo, com influências de Melodic Rock e AOR – bem na pegada do Journey e de outras bandas derivadas – entusiasmou o público que já dominava o recinto através de temas extremamente cativantes como “Freefall”, “Our Love”, “Taste Of Heaven”, “Search for More” e “Back Into Light”.

Além da qualidade do show e do som excepcional, os músicos demonstraram empatia e descontração, especialmente por parte do BJ, que frequentemente partilhava histórias divertidas durante o intervalo de algumas músicas e protagonizava momentos cômicos ao lado do Leo, que igualmente não disfarçou o seu bom humor. Este clima foi particularmente destacado na execução de “My Voice for You”, dedicada ao Carlos, que estava ao lado do palco emocionado cantando junto com a banda.

No decorrer do show, foram ainda apresentadas as baladas “Just Because” e “Our Time Is Now”, que deram uma acalmada nos ânimos e que foram intercaladas com as vibrantes “Overload” e a conclusiva "Running Out Time", encerrando assim o show que foi repleto de energia e que certamente satisfez a expectativa daqueles que nunca tinham assistido ao vivo, uma vez que a banda não realiza shows na cidade de São Paulo com regularidade.

Sem muita formalidade e com um pequeno atraso, Vandenberg e Mats Leven apareceram ao palco por volta da meia-noite. Junto a eles, estavam Bento Mello (baixo), Gabriel Haddad (bateria) e Flavio Salin (teclados). A dupla já iniciou o show com as potentes "Bad Boys" e "Fool For You Loving", proporcionando um excelente início e sugerindo que o repertório traria uma seleção de grandes sucessos do Whitesnake e mais algumas pérolas que nunca foram tocadas ao vivo. 

A terceira música da noite foi “Your Love Is In Vain”, que manteve a energia nas alturas. Ela faz parte do álbum de estreia do guitarrista, lançado em 1981. O início dela mostrou Adrian e Mats estabelecendo um diálogo entre voz e guitarra. O público, naturalmente, ficou encantado e seguiu o ritmo dos dois.

“Now You’re Gone”, tirada do incrível Slip of the Tongue, foi uma das primeiras surpresas da noite. Assim que Adrian começou o solo que dá início a ela, o público se empolgou e cantou junto com intensidade, deixando Mats – que mencionou que essa faixa foi um pedido dos organizadores – incrédulo com a vibração de todos. Adrian ficou feliz com a escolha, afirmando ser uma das suas músicas favoritas da época em que fez parte do Whitesnake.

“Hit The Ground Running” foi a única faixa do novo álbum do Vandenberg, “SIN” (2023). Embora seja uma composição de alta qualidade, que se assemelha bastante à primeira música do set, eu escolheria “Light It Up”, que se encaixaria melhor no clima do show e na atmosfera da noite. De toda forma, ela foi bem recebida e elevou o ânimo dos fãs mais fervorosos.

Os fãs de Whitesnake tiveram mais uma razão para se emocionar com “Sailing Ships”. Devido ao seu clima íntimo, os outros músicos permitiram que Adrian e Mats ficassem à vontade no palco, sentados ao lado da bateria, criando uma atmosfera quase acústica com apenas voz e violão. Sem dúvida, foi o momento mais sublime e, como já mencionado, o mais singelo da noite.

A apresentação seguia de forma rápida, e clássicos como “Judgment Day” (com um curto solo de bateria), “Is This Love” e “Crying In The Rain” encerraram este primeiro bloco de forma brilhante. Em particular nestas três, Mats impressionou com a sua versatilidade vocal, conseguindo dominar de forma perfeita tons mais agressivos e melodiosos, lembrando, em certos momentos, David Coverdale. “Wait”, outra do primeiro disco do Vandenberg, completou esta sequência de maneira mais tranquila.

A noite foi encerrada com um sonoro golaço, ou melhor, com três golaços bem dados. O primeiro foi “Burning Heart”, que embora não tenha o mesmo impacto dos outros hinos tocados antes, merece ser considerado um hit, sendo a escolha ideal para que a vibrante "Still Of The Night" pudesse tomar espaço e animar ainda mais o público enquanto Adrian soltava os riffs pesados que caracterizam esse clássico. “Hero I Go Again”, a única música que tem as guitarras do Adrian no álbum homônimo de 1987, concluiu este extraordinário show de forma magistral. 

Poder ver Adrian Vandenberg de perto foi uma vivência inigualável, considerando que se trata de um guitarrista que deixou uma marca significativa na história do Rock e que impactou uma geração de guitarristas. Após vários anos longe dos holofotes, o músico continua surpreendendo com a sua habilidade singular e com suas novas composições, unidos a um carisma e empatia sem igual, que com certeza cativaram todos os presentes nesta noite que não será esquecida nem tão cedo.


Texto: Gabriel Arruda

Fotos: Amanda Vasconcelos

Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: DNA Rock Events

Mídia Press: ASE Press


Spektra – setlist: 

Freefall

Our Love

Taste of Heaven

Search for More

Back Into Light

Our Time Is Now

My Voice For You

Just Because

Overload

Bis

Running Out Of Time


Adrian Vandenberg and Mats Leven – setlist: 

Bad Boys

Fool For Your Loving

Your Love Is In Vain

Now You're Gone

Hit The Ground Running

Sailling Ships

Judgment Day

Is This Love

Wait 

Crying In The Rain

Bis

Burning Heart

Still Of The Night

Here I Go Again

terça-feira, 26 de novembro de 2024

Cobertura de Show: Enslaved – 14/11/2024 – Fabrique Club/SP

Provando que Black Metal não precisa ser cru e nem de corpse paints

Os noruegueses do Enslaved são um dos nomes mais proeminentes do enorme - e muitas vezes polêmico - cenário do Black Metal no país. Mas, diferente de muitas bandas que ganharam fama por suas atitudes questionáveis, e até condenáveis, o que os torna um ponto fora da curva é sua qualidade técnica nos instrumentos, o som mais limpo, e seu flerte com a parte mais progressiva da música. Por isso, o que se esperava, e o que se teve no show na fria quinta-feira de novembro foi exatamente o que se teve: um show musicalmente incrível, com uma atitude muito positiva por parte de público e banda.


BAIXO VOLUME NA FILA ENGANOU! SHOW FOI SUCESSO DE PÚBLICO:

As portas do Fabrique Club estavam previstas para abrir às 19h30, e pouco antes das 19h, com o céu ainda escurecendo, havia algum movimento de fãs no entorno. Pessoas com suas camisetas de consagradas bandas do Black e Death Metal, coletes e jaquetas cheias de “patches” de bandas bebendo e conversando. Nos bares, ao redor, poucos clientes, mas se divertindo ouvindo sons do próprio Enslaved e outras bandas do gênero. Pontualmente, as portas se abriram e aos poucos esses fãs foram entrando na casa. O ambiente era tranquilo, sem filas, sem confusões.

Do lado de dentro, o pouco volume aglomerado de fora mostrava-se diferente. Gradualmente, o local foi enchendo. Contra todas as probabilidades por conta da “semana caótica” de shows em São Paulo, e por ser uma quinta-feira, já próximo das 20h30, meia hora antes de começar o show - que não teria banda de abertura -, a casa estava já com mais de metade de sua capacidade, e a última camiseta da banca de merchandising havia sido vendida. Para um show de Black Metal, isso é algo notório.


SHOW PESADO, TÉCNICO E AGRESSIVO NA MEDIDA CERTA:

Se a imagem de músicos de Black Metal com seus “corpse paints”, som cru e letras “malvadas” é um estereótipo do gênero, o Enslaved prova que isso não é necessário! A música da banda é técnica, com toques progressivos, uma atitude positiva por parte dos membros e letras completamente focadas na mitologia nordico-germânica. De cara limpa, e com um teclado e sintetizador analógico no palco, os noruegueses abriram o show às 21h10, mais ou menos, ao som de “Kingdom”, single do álbum Heimdal de 2024, o qual estão divulgando no momento. 

O vocalista e baixista Grutle Kjellson, sentindo o público um pouco quieto, falou algumas palavras para tentar agitar. “Isso aqui é um show de rock, de metal, não uma porcaria gospel ou algo assim”, disse o vocalista levando todos a gritar, finalmente. “Homebound” seguiu, e depois “Forest Dweller”, músicas muito longas, mas que nunca perdem a intensidade. Funcionam perfeitamente ao vivo, e demonstram a capacidade técnica do quinteto.

As partes de vocais limpos, para quem olhava de longe, parecia até playback. Mas, na verdade, eram feitas magistralmente ao vivo pelo baterista Iver Sandøy, que impressionantemente tocava de forma rápida, muitas vezes quebrada, e cantava ao mesmo tempo. Outro ponto a se destacar, o vocalista e baixista Grutle muitas vezes parava de tocar e cantar e tocava um sintetizador analógico, fazendo sons curiosos e atmosféricos graves, que não apenas cobriam o que seria o baixo, mas também davam o clima pagão da apresentação. Além disso, a dupla de guitarristas Ivar Bjørnson e Arve Isdal é provavelmente uma das mais entrosadas e harmônicas que se pode ter no gênero mais extremo do metal.

Após a apresentação bem-humorada da banda, até tirando algumas risadas pela diferença de idade do tecladista Håkon Vinje, de 32 anos, em relação aos outros membros, tocaram a climática Congelia. Seguiram com “The Dead Stare”, “Havenless”, e a surpresa da noite, a excelente “Fenris”.

A banda saiu do palco com o público pedindo mais, e o baterista Iver voltou sozinho, tomando a frente, e pedindo para todos agitarem. Fez um curto e bem encaixado solo de bateria, que precedeu a volta dos outros membros ao palco, para tocarem “Isa”, e finalmente, encerraram com chave de ouro a apresentação com Allfǫðr Oðinn. O show relativamente curto, com pouco mais de uma hora e dez minutos de apresentação, foi suficiente para valer a noite e a semana.


SOM BAIXO E PÚBLICO TÍMIDO, MAS BANDA CARISMÁTICA E CLIMA NÓRDICO COMPENSAM, E SALDO DA NOITE É MUITO POSITIVO:

Uma parte estranha, digna de menção, foi a frieza do público. Mesmo numeroso, não dá para se dizer que houve um grande barulho por parte do público. Mesmo quando Grutle pedia para todos animarem, o faziam por apenas alguns instantes, mas longe de ser uma plateia calorosa. Para um show de metal extremo, isso é algo curioso.

O som também teve seus problemas. Instrumentos um pouco baixos, especialmente levando em conta o local, conhecido por ter uma acústica que deixa mais alto, e muitas vezes a bateria encobria o resto. Os vocais, por sua vez, todos na medida!

Apesar dessas adversidades, quem foi ao Fabrique Club curtir boa música, saiu completamente satisfeito - em alguns casos, até surpreendentemente satisfeito. Uma banda afiada, um set-list matador, e musicalidade acima do peso, com músicas muitas vezes atmosféricas de oito, nove e dez minutos de duração, mostraram, de uma vez por todas, que Black Metal não precisa ser cru, não precisa ser algo com temática violenta, e o sucesso do show, e da banda, provam que há espaço para a finesse no som extremo.


Texto: Fernando Queiroz 

Fotos: Belmilson Santos (Roadie Crew)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Agência Powerline

Mídia Press: Tedesco Comunicação & Mídia


Enslaved – setlist: 

Kingdom

Homebound

Forest Dweller

Congelia

The Dead Stare

Havenless

Fenris

Isa

Allfǫðr Oðinn

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Cobertura de Show: Jerry Cantrell – 12/11/2024 – Audio/SP

A cidade de São Paulo recebeu na terça-feira, dia 12 de novembro, a última parada da turnê sul-americana do guitarrista, vocalista e compositor, Jerry Cantrell. O norte-americano, que também é co-fundador e integrante do ícone de Seattle, Alice in Chains, trouxe ao Brasil o show de lançamento do seu quarto álbum de estúdio, “I Want Blood”, lançado em 18 de outubro. A última passagem de Cantrell por aqui foi justamente com o Alice, na turnê do último álbum da banda, “Rainier Fog”, em 2018, em abertura para o Judas Priest.

A abertura ficou por conta da banda E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, que conta com um repertório de músicas instrumentais. Na ativa desde 2018, a banda - natural de São Paulo - traz um tipo de som mais alternativo, passando por um post rock e que convida os ouvintes a imaginar e interpretar como lhe convém. Uma proposta bem interessante e que, certamente, requer mais paciência visto que a voz tão aguardada nunca entra. Um show curto e coeso.

Sem atrasos, às 21 horas, Jerry e a banda, formada por Zach Throne (guitarras e vocais - ele faz a “parte” do Layne nas músicas do Alice in Chains), Lola Colette (teclado, violão e backing vocals), Eliot Lorango (baixo) e Roy Mayorga (bateria) subiram ao palco da Audio. Com uma trilha de abertura meio sci-fi e jogos de luzes, logo se ouviram os primeiros acordes de “Psychotic Break”, do seu segundo álbum, “Degradation Trip” de 2002. De cara a banda já recebeu a ovação do público, que lotou a casa.

A segunda música foi “Them Bones” e parecia que a casa iria abaixo. A voz do público parecia ser ainda mais alta que da banda, uma grande forma de começar um show. Em seguida, “Villified”, primeiro single do último álbum. Apesar de recente, muitos já sabiam cantar e acompanhar a música. Sem ter tempo de respirar, já emendaram a ótima “Off the Rails” também de “I Want Blood”, que foi super bem recebida.

“Atone” do disco anterior “Brighten” foi tocada de uma forma um pouco diferente da gravação, mas ainda sim, manteve o público engajado. Entre cada música ouvia-se o coro “Jerry! Jerry!” e o próprio sempre interagia agradecendo e mantendo-se conectado.

A apresentação parecia ir passando rápido. Mais uma antiga, “Angel Eyes”, agradou os fãs fiéis do cantor/guitarrista. Passando novamente pelo “Brighten”, tivemos a lindíssima “Siren Song” e “Had to Know”.

“Afterglow”, segundo single de “I Want Blood” também foi muito bem recebida. Já a faixa título deu uma leve “amornada”, talvez por destoar um pouco das demais faixas do disco.

Mas como Jerry não é iniciante, esse sentimento logo mudou, pois a banda executou a clássica “Man in the Box” do Alice in Chains, proporcionando um dos pontos altos do show. Parecia que todos os presentes estavam cantando, foi um momento de energia pura e inesquecível. Durante seu icônico solo, ele ergueu sua guitarra no ar e chamou o público para cantar o último refrão. Surreal!

Vale dizer que os momentos em que Zack Throne assume os vocais não deixam nada a desejar! Uma parceria incrível e super eficaz.

Ainda com o público extasiado, os primeiros acordes de “Cut You In” trouxeram uma certa nostalgia e, mantiveram a energia.

Passando por alguns problemas de afinação na guitarra, alguns minutos atrasaram a execução de “My Song” e quando Jerry estava próximo a desistir, os pedidos do público o fizeram continuar e tocar a música. Mais um belo momento!

“Held Your Tongue” do último álbum talvez tenha dado uma abaixada no público, o que mais uma vez não durou nada, pois a seguir os primeiros acordes da linha de baixo de “Would?” foram suficientes para tirar todos do chão e cantarem a plenos pulmões.

“It Comes”, a faixa que encerra “I Want Blood”, também encerrou a primeira parte do show, com muita classe e com a sonoridade que só Jerry e o Alice podem proporcionar.

Sem demora, chegou o momento do encore. A belíssima "Brighten", faixa-título do álbum de 2022, foi a música que preparou o público para o final da noite. Em seus shows solo, Jerry costuma incluir uma surpresa no encore, geralmente uma faixa do Alice in Chains. Se os fãs da Argentina tiveram "Got Me Wrong", nós fomos agraciados com a enérgica "Sea of Sorrow", o que pegou a todos de surpresa. Não restou ninguém parado e, mais uma vez, a voz do público se fez mais alta que a dos músicos.

Jerry agradeceu a presença de todos, apresentou sua banda e, com um sorriso, disse: “Eu não quero ir para casa”. A clássica e sombria "Rooster" do Alice in Chains fechou o set de forma magistral. Foi emocionante ver os isqueiros acesos e os celulares iluminando o ambiente. Uma despedida perfeita para o show.

Antes de sair, Jerry prometeu voltar em breve. E, como todos esperamos, que essa promessa se cumpra.


Texto: Jessica Tahnne Valentim

Fotos: Roberto Sant'Anna (Roadie Crew)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: 30ebr

Mídia Press: Trovoa Comunicação


Jerry Cantrell – setlist:

Psychotic Break

Them Bones (Alice in Chains song)

Villified

Off the Rails

Atone

Angel Eyes

Siren Song

Had to Know

Afterglow

I Want Blood

Man in the Box (Alice in Chains song)

Cut You In

My Song

Held Your Tongue

Would? (Alice in Chains song)

It Comes

Brighten

Sea of Sorrow (Alice in Chains song)

Rooster (Alice in Chains song)