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Entrevistamos a banda Zilla, de Brasília/DF |
Um dos grandes méritos do Wacken Metal Battle é revelar para o Brasil grandes bandas vindas de diferentes regiões do país, sendo que a etapa desse ano (que teve como vencedora a grande Nekrost) mostrou o que todo os bangers já sabem e a grande mídia deveria saber: o Metal Brasileiro é um dos melhores do mundo.
Nas seletivas de Brasília/DF, a grande vencedora foi a banda Zilla (que já figurou aqui nas matérias especiais sobre bandas vencedoras do WMB), porém o trabalho dos caras é tão acima da média que o Road to Metal decidiu trocar umas ideias com mais uma grande revelação nacional. Confira a conversa com Mark Nagash, guitarrista da banda.
Road to Metal: Hail Zilla! Em nome do blog Road to Metal, obrigado pelo contato. No Myspace está escrito que a banda começou suas atividades em 2002 tocando Hardcore, depois vocês partiram para o Thrash para finalmente chegar na proposta atual: um Death Metal com elementos progressivos. O que motivou tantas mudanças na sonoridade da banda?
Mark: Nós também ficamos muito gratos e felizes por esta entrevista com a Road to Metal.
Sim! Realmente começamos com estilos diferentes e acabamos por lançar um CD totalmente adverso a proposta inicial, apesar disto, a grande motivação sempre foi buscar novas sonoridades, a banda está marchando para 10 anos de estrada e é muito satisfatório ter experimentado outros gêneros do metal. Inclusive, este também é um dos motivos do qual lançamos o primeiro CD intitulado, Pragmatic Evolution, pois, muito se explica neste contexto.
RtM: Antes de chegar no seu primeiro CD oficial, vocês lançaram duas demos (“Dry Thoat” em 2005 e “DEMOnstration Version” em 2008). Quais eram os objetivos do Zilla com esses lançamentos? E como foi para vocês a repercussão das demos na época dos seus respectivos lançamentos ?
Mark: Dry Thorat foi uma experiência indescritível. As pessoas sempre nos falavam que nossa música era muito pesada e por este motivo queríamos conferir isso de alguma forma. Comecei a compor nossas músicas, pois, só tocávamos covers, entramos em estúdio e gravamos algumas músicas. A receptividade foi boa de modo geral. Com a entrada de nosso atual vocalista, Lucas, resolvemos mais uma vez testar como estava funcionando nossa música com ele, foi quando gravamos DEMOnstration Version e percebemos que perderiamos explorar novas vertentes musicais e nos firmamos no estilo atual, Melodic Death Metal com influências de Technical e Progressive Metal.
RtM: Em 2010 é lançado “Pragmatic Evolution”, entretanto, as gravações começaram em 2009. Como foi esse intervalo de tempo de produção até o lançamento em si? E vocês ficaram satisfeitos com o trabalho do produtor Caio Duarte (Dynahead)?
Mark: As gravações de Pragmatic Evolution começaram no final de 2009. Quando recebemos a versão masterizada, enviamos para a empresa responsável pela prensagem no início de 2010. Esse processo é realmente demorado no inicio de todo ano, então tivemos que aguardar a nossa vez e segurar a ansiedade para o lançamento independente, pois, até o presente momento estamos sem selo. Estamos muito satisfeitos com o trabalho do Caio Duarte, ele é um excelente produtor. Ele captou rapidamente o que queríamos fazer no CD e soube produzi-lo com extrema qualidade.
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Debut album contou com a produção de Caio Duarte (Dynahead) e capa do próprio guitarrista Mark Nagash |
RtM: A arte gráfica do CD ficou por sua conta Mark Nagash e é um trabalho que realmente impressiona. Qual a relação dela com a temática do álbum? E quais outros trabalhos que você já assinou no meio Metal?
Mark: Enquanto estávamos no processo de gravação, frequentemente nos reuníamos para discutir como estavam os andamentos do CD e também a temática da capa. Então eu tive a ideia de procurar saber de cada integrante como deveríamos expressar o ZILLA em forma de imagem simbolizada. A capa tem itens de cada música e do que nós aprendemos com a banda, o significado do nome ZILLA e etc. Por exemplo: A explosão na cidade ao fundo é citado em “Neverending Violence”, “Massacre” e “ Nothing but Chaos”. A mulher que sai do espelho no deserto é relativo a “Comfortable Pain”, “Pragmatic Evolution”, “Day to Crawl in Darkness” e “Inner Vision”, ou seja, vários elementos contidos na capa e na contra capa estão nas entrelinhas das letras.
Tenho vários trabalhos espalhados na cena Metal. Fiz a capa do Single “Give Help to Yourself”, foi como contribui para a reconstrução do Chile após o terremoto que devastou o país recentemente. Trabalhei para o X-Hatred no álbum “All Pages Burned” lançado em 2010, inclusive tocamos com eles no show de lançamento do CD. E recentemente estou trabalhando para uma banda de Death Metal, também de Brasília, o Isolate.
RtM: Poderíamos citar o Zilla como uma banda de Death com elementos melódicos e progressivos. Sendo assim, quais são as principais influências da banda? E na hora de compor vocês tem alguma preocupação em especial com a sonoridade que as músicas estão seguindo?
Mark: A banda possui várias influências, em termos comparativos, algumas pessoas dizem que percebem influências de Carcass, Death e Dark Tranquillity. Como eu componho todas as músicas tenho realmente cautela para que algumas influências não apareçam e não deixe nossa música clichê. Apesar disto, não há uma preocupação com relação ao rumo de onde a música vai chegar, e sem dúvidas a maior prova disto estará explicito em nosso próximo álbum, que já está todo composto.
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Durante a seletiva de Brasília do Wacken Metal Battle |
RtM: Um CD oficial, vídeos no Youtube e a vitória do Metal Battle etapa Brasília. Com tudo isso na bagagem o que falta para o Zilla se confirmar na cena brasileira?
Mark: Reconhecimento. É o que toda banda espera ter na cena. Sabemos que nada disso é fácil e que temos que trabalhar muito e corrermos muito na estrada. Sem dúvidas uma turnê nos ajudaria bastante, mas até isso ocorrer, vamos trilhando adiante.
RtM: Uma coisa que não poderia deixar de perguntar é o que está acontecendo na cena de Brasília, pois o número de bandas que estão vindo daí é impressionante (Blazing Dogs, Dynahead, Coral de Espíritos , Mork ) e todas de muita qualidade. A cena de vocês é unida e existe bons lugares para uma banda tocar e bons estúdios para gravação?
Mark: Não é fácil falar da cena daqui. Às vezes tem show com ótimas bandas e vão poucas pessoas e às vezes ocorre justamente o contrário. É meio relativo. Os músicos daqui sem dúvidas são muito unidos e muito amigos, são sem dúvidas muito profissionais. O profissionalismo musical daqui é muito bom e sempre há alguém que serve como referência, seja do estilo ou individualmente como musicista. Há pouquíssimos lugares bons para shows aqui, dá para se contar nos dedos. Ocorrem muitos eventos em praças e lugares públicos por conta disso da escassez de casas de shows. Recentemente alguns bons estúdios de gravação abriram as portas. Estes geralmente dirigidos por músicos que estão atuando diretamente na cena e que conhecem as exigências do mercado e que primam pela qualidade final de cada trabalho.
RtM: Atualmente o Death Metal com uma veia mais melódica vem conquistando cada vez mais público, porém muitos veem no estilo uma contradição, pois o Death nasceu agressivo na sua essência. Como vocês avaliam essa questão?
Mark: Acredito que na verdade isso é uma questão de consenso em qualquer banda. Gostamos muito de Death Metal tradicional, mas, no geral optamos pelo o que fazemos hoje. Alguns músicos como Mikael Åkerfeldt do Opeth e Bloodbath tocam gêneros diferentes em bandas diferentes, creio que até mesmo para manter o gênero de cada uma constante e fiel, ao menos é o que dá para entender. Não avaliamos a nossa música dessa forma se ela será contraditória ou não. Basta apenas a música ser boa.
RtM: Como vocês conseguiram contato com a gravadora Digmetal? E qual foi o critério da faixa que entrou na coletânea “Another Kind of Evil volume 2”?
Mark: Foi através de uma grande amiga, DJ Valkyrie, que tem um programa de Rádio na Hard Rock Radio Live nos Estados Unidos. Ela tem nos apoiado muito na cena underground no exterior como amiga e parceira da banda. A faixa dessa coletânea e a Nothing but Chaos. Recentemente eles lançaram outra coletânea com a Pragmatic Evolution com o Bonus Track.
RtM: Agora em 2012 vocês lançaram EP “Misrule” que mostra uma evolução muito grande na sonoridade da banda que já era impressionante. Como vocês avaliam esse amadurecimento da banda? E existem relações entre esse novo trabalho com um futuro segundo trabalho?
Mark: O amadurecimento é algo natural que a banda aprecia muito desde o início. Quando começamos nossas atividades o público já percebia que a sonoridade da banda já trazia algo que só uma banda com estrada poderia proporcionar. Relativo ao EP Misrule realmente empregamos em estúdio o que havíamos aprendido durante as gravações de Pragmatic Evolution o que nos resultou em ótimas críticas. Foi muito bacana ter trabalhado com o Caio Duarte novamente, isso sem dúvidas nos ajudou bastante. Bom, a relatividade entre o EP e o próximo álbum é que Misrule e Deep in Slumber seriam as bônus tracks. Elas estavam destinadas para esse propósito, mas, precisávamos lançar o EP já com o formato que o ZILLA apresenta hoje e não queríamos usar músicas do álbum propriamente dito então as usamos e complementamos o EP com uma música acústica e uma versão instrumental do álbum anterior. As letras não condizem também para o que escrevemos para o próximo álbum, ele terá temática própria.
RtM: O EP foi disponibilizado para download, mas mesmo assim a banda manteve o padrão tendo uma arte gráfica impressionante. Existem planos para lançá-lo no formato físico? E a propósito, qual a história narrada nesse novo lançamento?
Mark: A princípio não o lançaríamos em formato físico, seria somente para download mesmo. Porém, a aceitação tem sido ótima e muitos fãs tem cobrado o formato físico o que realmente nos fez mudar de ideia e provavelmente faremos isso muito brevemente. Como você mesmo citou primamos em manter a qualidade em todos os aspectos e claro, a começar da capa. Queríamos uma sonoridade mais pesada e um pouco diferenciada do primeiro álbum e conseguimos isso com ajuda de nosso produtor. As letras em si são distintas, Misrule fala de um mundo sem governo após uma situação turbulenta e de caos total. Deep in Slumber é sobre não estar com os pés no chão, viver dormindo para a realidade, inclusive nessa música consegui a proeza de arrancar uma corda numa alavancada durante as gravações (risos) foi insano.
RtM: Recentemente a banda mudou de formação até por motivos de saúde. Comente um pouco mais sobre ocorrido e como está o clima da nova formação?
Mark: Sim, é verdade! O meu irmão mais novo, Victor, teve problemas sérios de saúde. Ele tem um desvio na coluna que o atrapalhou bastante a ponto de não poder mais ensaiar e nem fazer shows. Então por ordem natural o Glauco que já era roadie dele recebeu a responsabilidade das baquetas. O clima está ótimo! O Glauco já entrou muito empolgado e vencendo uma seletiva que foi a do Wacken Metal Battle Brasília 2011. Este ano gravamos o EP e ele se saiu super bem. Só temos agora que trabalhar mais, ensaiarmos as músicas para o próximo CD. Não demora muito e teremos mais novidades pra galera.
RtM: Obrigado pela entrevista. Gostaria de deixar algum recado para os leitões do Road to Metal?
Mark: Força extrema sempre! Um grande abraço a todos os leitores, espero que gostem da entrevista e acompanhem a trajetória da banda ZILLA. Em nome da banda ZILLA fico muito feliz por compartilhar um pouco de nossa história com os Headbangers que acompanham o trabalho da Road to Metal.
Entrevista: Luiz Harley
Edição/revisão: Eduardo Cadore
Fotos: Divulgação