Por: Renato Sanson/Carlos Garcia
Nas primeiras centelhas do Heavy Metal brasileiro o Overdose estava lá, acendendo as chamas e espalhando-se além do seu país de origem. Um dos pioneiros, que buscou evolução e criou nuances bem próprias, servindo inclusive de base e inspiração para outras bandas, e isso é o que coloca alguns nomes em um patamar diferente.
A palavra sucesso é algo bem subjetivo, e acreditamos que o músico inspirar ou influenciar pessoas, fazer arte a qual signifique algo para quem a consome, alcançou sim o sucesso e seu objetivo enquanto artista.
O Overdose sem dúvidas trilhou um caminho bem sucedido, e como uma singela homenagem aos 40 anos de história deste importante nome do Metal brasileiro, conversamos com seu fundador, Cláudio David, para falar um pouco dessa história e algumas novidades preparadas em comemoração a essa marca de quatro décadas dedicadas ao Metal.
Confira a seguir:
RtM: O Overdose está completando 40 anos! Algo muito emblemático se tratando
de Heavy Metal nacional. O que a banda está preparando para este momento além
do lançamento do single “Século XXI”?
Cláudio David: O mais importante mesmo é o single de 40 anos, que foi lançado ano passado. Era para ter saído até antes, mas aí o pessoal da banda tinha outras prioridades, outros afazeres e acabou não dando certo.
Até por isso, eu estou remontando a banda agora com a
expectativa de fazer shows e tocar essas músicas novas, mas o mais importante é
esse single, “Século XXI”, e EP com cinco músicas inéditas, que deve sair até o
final do ano. A partir do momento que sair o EP, vamos fazer alguns shows
de comemoração.
RtM: E falando sobre o single, trace para gente um paralelo com relação a
“Século XX” e nos fale um pouco sobre a ideia dessa nova composição.
CD: A ideia do “Século XXI” foi
remeter mesmo o “Século XX”, que foi o primeiro disco nosso, o Split com o
Sepultura. A ideia foi tentar descrever a nossa situação atualmente, mudando um
pouco a questão da tecnologia e as artimanhas do poder, que hoje são
diferentes, mas os problemas continuam sendo os mesmos.
A ideia foi uma releitura do
“Século XX”, mas com uma diferença. O pessoal costuma falar que o Overdose é
niilista demais. Inclusive, as minhas letras são geralmente críticas, mas é o
que eu sei fazer. No “Século XXI” tem uma esperança e uma proposta, que é das
pessoas se juntarem e conseguirem o que elas querem, que é um mundo melhor.
Então, diferente do “Século XX”,
o “Século XXI” tem esse lado otimista, de que a mudança é possível. Só não sei
daqui quanto tempo, se vai ser daqui cinquenta, cem ou duzentos anos, mas as
coisas mudam. Mas a ideia do pré refrão é essa, que é deixar uma mensagem para
que as pessoas, através da união, possam mudar a realidade delas de vida.
RtM: Há dez anos atrás a Cogumelo Records relançou todo o catalogo do
Overdose em versões belíssimas e com material bônus em DVD, possibilitando que
muitos fãs enfim tivessem os materiais e com alguns bônus. Como surgiu essa
ideia de recolocar os clássicos no mercado novamente?
CD: Sobre o relançamento do catálogo
ainda está faltando um, “You’re Really Big!” (1989), que deve sair esse ano. Já
finalizamos a remasterização dele, e estamos dependendo do João, dono da
Cogumelo, para mandar ele para a fábrica.
Na verdade, a gente fez uma
reunião, há pouco menos de dez anos, e conversamos sobre esse material do
Overdose, que estava parado. E nessa reunião, com o dono da Cogumelo, fizemos o
acordo de relançar. A ideia surgiu meio que simultaneamente quando eles estavam
com vontade de relançar também.
Eu gosto de todos os álbuns, só
que eles estavam meio que esquecidos. Então, através dessa reunião, que a gente
tentou acordar o relançamento desses discos, que foi um sucesso e teve uma
vendagem muito boa. Com esse lance do Spotify, plataformas digitais e da
internet, duas mil cópias para cada disco acabaram sendo surpreendentes para
gente e para Cogumelo. Agora está faltando “You’re Really Big!”, que em breve
deve sair.
RtM: Cláudio, em 2012 você foi convidado pela banda gaúcha Carniça a fazer
uma participação no disco “Nations of Few”, gravando a ótima “Prayers Before
the Death”. Neste período você já estava há algum tempo sem tocar, certo? Essa
participação foi o que acendeu a chama para a volta do Overdose?
CD: A participação do “Nations of
Few” do Carniça foi uma coisa muito prazerosa para mim, porque é um pessoal
muito gente boa e uma banda muito legal. Esse disco, especificamente é muito
legal, assim como todos os trabalhos do Carniça. Depois disso, eu fiz
participação no show de lançamento em Novo Hamburgo, que foi muito legal. E eu
fui muito bem tratado pelo pessoal, fiquei muito amigo deles.
De certa forma acabou me
incentivando, sim, de voltar com o Overdose, apesar de envolver outras pessoas.
Após eu ter tocado com o Carniça, deu uma chama sim de querer voltar a tocar
com certeza.
RtM: Agora revisitando um pouco da história, conte-nos sobre o
período de composição e gravação do clássico Split com o Sepultura, em que
vocês ainda tinham as letras em português, enquanto muitas já seguiam a
tendência de compor em inglês.
CD: A gente começou em português,
nunca deixamos o português totalmente de lado: no “...Conscience...” tem
“Última Estrela”, no “Scars” tem “Nu Dus Otro é Refresco” e “Postcard from
Hell”, no “Progress of Decadense” tem “Rio, Samba e Porrada no Morro”. Sempre
teve alguma coisa em português. No segundo single vai ter uma música em
português também, que se chama “João Sem Terra”.
A gente acabou indo para o inglês, traduzimos algumas letras infelizmente, porque em português era muito legal. Eu acho até mais difícil de compor em português para te falar a verdade, porque a sonoridade do português é mais difícil do que a do inglês. Mas compor em inglês foi mais pela questão da falta de reconhecimento e pela falta de oportunidade de seguir uma carreira aqui no Brasil.
Em outros países, bandas de Heavy Metal se tornaram famosas.
Aqui no Brasil temos o Sepultura, mas eles foram reconhecidos por uma gravadora
internacional. O Sepultura é mais reconhecido lá fora do que aqui no Brasil,
assim como o Overdose. Por isso passamos para o inglês por essa questão e de
ser outro mercado. No começo, a nossa proposta era mais voltada para o público
brasileiro, para entender a letra mesmo.
RtM: E como era o processo de composição e a produção das músicas na banda?
CD: As músicas do Overdose são praticamente minhas. Tem um solo de baixo do Fernando, uma macumba do Bozó no “Scars” e tal, mas são minhas músicas. Eu compunha as músicas, ensaiava muito elas e apresentava para o resto da banda nos ensaios.
Eu treinava muito em casa até a chegada do Bica, treinava umas 10 a 12 horas por dia, mas antes da entrada dele já praticava umas 5 horas. Desde que eu ganhei a guitarra, queria tocar bem. E para essa gravação, que foi num estúdio de 8 canais, usamos equipamentos bem limitado: guitarra Finch, captador Distortion, pedal Heavy Metal e amplificador Baginho da Gianinni, que cheguei a emprestar para o pessoal do Sepultura na época.
Antes do Split, havíamos lançado
a demo “Última Estrela”, que rodou o Brasil inteiro. A gente tinha uma certa
notoriedade antes do Split por conta de ter saído matéria sobre ela na revista Metal,
por ter feito um show para seiscentas pessoas no Circo Deliris e da música ter
sido tocada na rádio Fluminense, que era uma rádio muito importante no Rio
Janeiro na época. Eu acho o “Século XX” um divisor de águas em termos de
técnica, sonoridade e musicalidade do Metal brasileiro.
RtM: Aquela cena mineira da época revelou nomes que tiveram uma repercussão inclusive fora do Brasil. Como era a relação das bandas naquele período? Haviam alguns grupos?
CD: No começo não tinha ramificações dentro do Metal. Eu, pessoalmente, curto Heavy Metal desde o Black Sabbath e o começo do Judas Priest, época que nem existia o nome Heavy Metal, Headbanger e Metaleiro. Quando o Overdose fazia show, ia todo mundo que gostava de Heavy Metal. Um pouco antes nem tinha público, depois do show Kiss que começou a ter mais, pois antes era só uma meia dúzia de amigos, que se encontravam nas lojas de discos.
Depois do primeiro Rock In Rio, em 1985, que a coisa explodiu. No começo ia todo mundo, não tinha essa coisa ‘ah, eu gosto de um estilo, eu gosto de outro’, só depois do lançamento do Split que começou essas ramificações.
RtM: Você sentia que havia algum tipo de “competição” entre algumas bandas?
CD: Principalmente, com o Slipt, começou também uma competição por parte do pessoal
do Sepultura, que eu prefiro não comentar.
A gente sempre teve uma relação muito boa com as bandas daqui de BH, a grande maioria: Sarcófago, Multilator, Witchhammer, Chakal. Eu, inclusive, levava equipamento meu para gravação dessas bandas e fazia coprodução. É lógico que tinha os radicais, mais do lado do Sepultura.
E a questão não era só as ramificações, alguns chegavam a ser agressivos também.
Às vezes rolava agressividade até em shows dessa meia dúzia de radicais, que chegava a incomodar a gente por ser uma coisa desleal e sem sentido, porque são pessoas que a gente nunca fez nada de mal e ficaram com raiva da gente por causa da música que a gente fazia, que não era um Death Metal extremo.
Em geral, a relação do Overdose com as bandas daqui sempre foi muito
boa.
RtM: Depois do "Século XX" vocês começaram a compor em inglês. Que planos e ambições vocês tinham nessa fase já com
letras em inglês, com o “...Conscience…” e “You’re Really Big!”?
CD: Nossa maior ambição, desde o
começo, foi sempre aprimorar tecnicamente e musicalmente. Eu, especificamente,
puxava o barco, dedicando-me intensamente durante a preparação do "You’re
Really Big!", praticando guitarra 12 horas por dia. Era uma coisa inédita,
pois não havia trabalho com tanto virtuosismo que nem o “You’re Really Big!”
aqui no Brasil. Depois veio o Angra, uns quatro anos depois, e outras coisas. A
nossa maior ambição era essa, ser uma banda muito técnica e original.
O “...Conscience…” é bem peculiar, pois o lado A e o lado B dele não tem refrão. Até hoje acho ele diferente, com músicas grandes e sem refrão. E no “You’re Really Big!” experimentamos elementos da música erudita, coisa que o Dream Theater veio fazer depois do Overdose.
Mas era mais
especificamente o erudito com o Heavy Metal, bem na ordem do progressivo, que
era a influência que a gente tinha. Também tínhamos influência do Mercyful Fate
e do Metallica, mas a ambição era muito musical e técnica. Desde o início
queríamos nos aprimorar musicalmente e tecnicamente, sempre batalhamos por isso.
RtM: Nessa época a mentalidade já era de que, cantando em português, seria mais difícil alcançar um mercado fora do Brasil?
CD: Começamos a cantar em inglês devido à falta de apoio aqui no Brasil, então tivemos que procurar o mercado externo, que ainda continua sendo preconceituoso. Naquela época ninguém aceitava língua de outro país. Hoje até aceitam um Rammstein, uma outra banda daqui e dali, mas o inglês continua se destacando.
A gente foi forçado a passar para o inglês para tentar esse mercado externo, já que no Brasil nunca teve apoio. É até estranho falar isso, porque hoje em dia a situação não mudou muito. Existe até um pouco mais de apoio hoje comparado os anos 80 e 90, só que bem pior (risos).
RtM: Do “Conscience” (87) à “Addicted to Reality” (90) temos um Overdose
mais progressivo, com influências do Power e até mesmo do Hard. Mas em “Circus
of Death” (92) tivemos uma das maiores viradas de chave do Heavy Metal. Aquele
lado melodioso ficou um pouco de lado e o Thrash old school entrou em cena, para depois, consolidar um estilo mais groovado e com influências tribais em
“Progress of Decadence” (94) e “Scars” (95). O que levou a essa mudança de
sonoridade?
CD: As razões de mudança de estilo
foram diversas. Eu acho que a principal é que a gente sempre fez o que estava
curtindo na época, e não que a gente não curtisse Thrash na época do “...Conscience...”,
“You’re Really Big!” e o próprio “Addicted to Reality”.
Apesar de mais agressivo, o “Circus
Of Death” tem melodia, mas não clássica e erudita puxada para o barroco e para
o romântico como no "You're Really Big". O “Progress of Decadence” é um tanto menos melodioso em
comparação aos outros discos. É um pouco mais rebuscado, mas ainda assim é todo
com melodia, sem nada gritado.
No “Progress of Decadence”, época
que eu morava em Los Angeles, estava preocupado em fazer uma coisa diferente de
tudo, colocando elementos de escola de samba, que o Bozó fazia no surdo da
bateria e o André acompanhava na guitarra meio que na brincadeira. Então a
gente começou a explorar e pesquisar mais isso, colocando elementos meio
nordestinos, brasileiros e percussivos.
E no “Scars”, a gente ousou mais
ainda. O álbum tem tudo o que você pode imaginar, incluindo Candomblé e batidas
mais africanas. A gente acabou indo muito além com essas misturas, que sempre foram
marcantes na história do Overdose.
RtM: Com essa virada para o lado do Groove com influências vindas da
percussão, que após se tornou tão famosa e muitas bandas aderiram. Seria o
Overdose o precursor desse estilo?
CD: Eu acredito, sim, que o Overdose é um dos precursores do Groove Metal. A gente já estava começando a fazer isso em 92 e 93 quando já tinha o “Circus Of Death”. A gente já fazia essa levada mais groovada, com estilo brasileiro, meio que na brincadeira desde os anos 90 nos ensaios. Considero também que o Overdose é um dos precursores do prog metal, no “...Conscience…”, quando o Dream Theater ainda não existia.
Tem gente que acha que a gente foi influenciado
pelo Sepultura, mas nós começamos antes. Eles têm uma pegada mais tribal, não é
essa coisa da bateria de escola de samba. O Sepultura usava alguns efeitos, já
nós, usamos bateria de escola de samba no disco inteiro.
RtM: Com “Progress of Decadence”, que foi lançado por um selo do exterior, o
Overdose teve a oportunidade d tocar nos EUA,
Canadá e Europa. Conte-nos como foi essa experiência e como foi
trabalhar com esse selo.
CD: Nós fizemos umas cinco turnês americanas, chegando até ser headliner. Fizemos turnês com o Crowbrar, Screw e Mercyful Fate, principalmente, que é uma das minhas bandas preferidas. Eu vi uns trinta shows todas as noites, praticamente. Acabava o nosso show, eu ia correndo para ver o Mercyful.
Tocamos com muita banda legal na Europa, como o L7, Biohazard,
Type O Negative, Grip Inc., Machine Head e Nevermore. Foi maravilho para falar
a verdade, um sonho realizado. Chegamos a ter uma estrutura boa, com ônibus
específicos para turnê mesmo. Tocamos no CMJ, chegamos em segundo lugar e
ficamos seis meses no Top Ten das rádios college americanas, competindo com o
Korn na época.
Tivemos muito apoio de empresário também, o problema foi quando mudou a diretoria da gravadora, que era o Steve Sinclair, ele saiu e entrou o Paul Bibel. O Steve é o AIR que descobriu e contratou o Overdose, o mesmo AIR do Dream Theater e de outras bandas. E o novo que entrou contratou o My Dying Bridge, que é uma banda até que razoavelmente conhecida.
Ele tirou todo investimento do Overdose e colocou no My Dying Bridge. Era para gente ter feito uma turnê na Scandinavia com o Mercyful Fate, só que foi cancelada porque não mandaram o dinheiro da passagem. O Scars é um disco muito injustiçado por causa disso, porque não teve apoio da gravadora, não teve divulgação e não teve turnê praticamente.
Então no final, com a
mudança da diretória, foi muito ruim para gente. Agora o pessoal da gravadora é
muito amigo nosso, como Paul Mitchel, por exemplo. Era muito bacana até a
mudança da diretoria.
RtM: Conte-nos mais do período com o “Scars”, também tendo shows no exterior e ao lado de grandes bandas, sendo suporte do Grip Inc, tocando em festivais tradicionais como o Dynamo Open Air.
CD: Na verdade, o Dynamo e a turnê do Grip Inc. foi em 95, nessa época que eu falei que era muito boa, que a gravadora estava investindo, empresariamento cresceu e tivemos um ônibus bacana para fazer a turnê com o Grinp Inc. e outros festivais. Tocamos também na França (festival Mega Force), Áustria e Bruxelas.
O Dynamo foi monstruoso, foi um festival bacana demais, só com banda grande e com duzentas mil pessoas acampadas. Foi o auge da carreira do Overdose. Esse show, que tem até no Spotify, começou com uma galera com a bandeira do Brasil que estava na frente curtindo, mas depois da metade do show, não dava nem para ver aonde esse pessoal estava agitando. Fizemos um show e outro na Holanda também, conquistamos um público legal lá, mas o Dynamo foi sensacional.
No "Scars" tínhamos uma turnê com o Mercyful Fate, que na verdade foi uma goela, porque pessoal da gravadora deu uma van para gente, a van quebrou com dois dias e depois fizemos a turnê toda dentro de um carro e um quarto de hotel para a banda, crew e tour manager, ou seja, todo mundo num quarto só.
E eu acho que isso foi até um dos motivos do
fim do Overdose, porque é muito estressante ficar espremido dentro de um carro
e dentro de um quarto de hotel, além da gravadora ter começado a tirar o nosso apoio.
RtM: Conte-nos um pouco mais de como foi excursionar com a banda de Dave Lombardo.
CD: A turnê com o Grip Inc. foi legal demais, nós ficamos super amigos do pessoal. Eles ficavam mais no nosso ônibus do que no ônibus deles, porque o Dave Lombardo tinha levado a família dele (mulher e filho).
O próprio Dave Lombardo é muito gente boa, foi muito
agradável a convivência com ele. No primeiro momento a gente ficou meio
assustado falando ‘olha, é o baterista do Slayer ’, mas depois da primeira
conversa ele foi super humilde, tranquilo e ficamos super amigo dele e da banda
toda.
RtM: E o que aconteceu que a banda depois disso? Que acabou caindo em um hiato,
quando, acredito, muitos esperavam que o Overdose alcançasse patamares mais
altos?
CD: Como eu já havia falado antes, um dos principais motivos da banda ter acabado foi a retirada
de suporte da gravadora, porque ninguém estava ganhando dinheiro,
especificamente o Bozó, que estava muito preocupado. Nessa época até o Jairo,
que era do Sepultura, e o Gustavo Monsanto tocava com a gente. Era uma formação
muito bacana, mas com essa furada da gravadora, o Bozó resolveu sair da banda,
porque ele estava preocupado em ganhar dinheiro, estava com quase trinta anos e
não ganhava nada.
Após a saída do Bozó, eu tentei achar um novo vocalista. É muito difícil substituir o Bozó, porque acho ele um excelente cantor, mais o carisma, presença de palco e tudo. Eu fiz alguns testes, achei que ninguém tinha nada a ver, mas eu achei um vocalista que cantava muito, apesar de ser totalmente diferente do Bozó. Aí resolvi montar uma banda nova, a Eletrika, que chegou até ter música em uma novela da Rede Globo, tocou no festival de música brasileira e chegou a ter um certo reconhecimento também.
O Eletrika chegou a fazer turnê fora com o Slipknot, Testament e com muita banda legal na França. Em 2004 o vocalista saiu, continuei mais um pouco até 2007, o Eletrika acabou e parei de tocar até o Overdose voltar, em 2008, quando a gente fez um show em São Paulo.
RtM: E de planos a médio e longo prazo? O que podemos esperar do Overdose?
CD: A longo prazo, não tem planos,
vamos ver o que vai acontecer com as coisas que estão acontecendo. A prioridade é o lançamento do EP com cinco
músicas inéditas, que é o que a gente está fazendo. Estamos indo para a segunda
música, “João Sem Terra”, que é um Metal baião com paródia da música
nordestina. Está praticamente pronta, mês que vem ela deve estar saindo em
todas as plataformas digitais.
Depois do lançamento do EP, vamos
ver se a gente volta a tocar. A sorte dessa vez é que eu achei um vocalista
muito bom, que não é o Bozó, mas que é muito fera, o Vitor, que leva a onda do
Bozó muito bem. A pretensão é remontar a banda, estou tentando arranjar um
guitarrista para fazer os shows de comemoração dos quarenta anos e do
lançamento do EP.
Não sei se vamos continuar fazendo
músicas inéditas e continuar tocando, porque o retorno financeiro é muito
pequeno. Para te falar a verdade é mais prejuízo, porque a maioria das bandas
gasta para fazer Metal. Não dá para falar que é investimento, porque não tem
retorno. Então vai depender do que estiver acontecendo.
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