O verão fora de época levou o público paulistano para o anfiteatro (ao ar livre) do Ibirapuera, situado na zona sul de São Paulo, para mais uma edição do tradicional Best of Blues And Rock. O festival, que este ano voltou ao formato de um dia, tem como regra juntar os maiores nomes da guitarra elétrica e bandas de diferentes estilos dentro do cenário roqueiro. Outras capitais do Brasil, como Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte, também tiveram a chance receber o evento, só que com o line-up distinto do de São Paulo.
Vale sempre ressaltar o cuidado no que
tange a organização, respeitando o horário da abertura dos portões e do
cronograma dos shows, que começaram pontualmente no horário. Aqueles que
chegaram cedo aproveitaram o clima ensolarado para se bronzear, visitar os stands
dos patrocinadores, tomar aquela gelada, rever os amigos e adquirir os produtos
das atrações e do próprio festival, ou seja, um pacote completo para um dia
incrível, e o Best Of Blues..., mais uma vez, superou as expectativas.
A 11º edição teve as participações dos
guitarristas Zakk Wylde, Joe Bonamassa e Eric Gales ao lado dos brasileiros Di
Ferrero (vocalista do NX Zero) e CPM 22. As atrações nacionais renderam performances
até que interessantes, que agradou principalmente os fãs mais jovens e o público
da faixa dos 25 e 30 anos com hits que fizeram sucesso nos anos 2000 nas
principais rádios. Os mais velhos relevaram ambos os shows, alguns deles aproveitaram
para fazer as famigeradas piadas e gestos emotivos durante a primeira atração,
mas de maneira descontraída e sem maldade.
Assim que encerrou sua participação na
coletiva de imprensa, Eric Gales correu diretamente para o palco para mostrar
as suas habilidades para o público, que já era grande nesse momento. Com uma
carreira extensa e diversos álbuns lançados, o guitarrista – também conhecido
como Raw Dawg – encantou os fãs de longa data quanto aqueles que nem se quer
tinha ouvido falar, especialmente, com o seu energético Blues Rock.
Demonstrando grande alegria por estar mais
uma vez no Brasil, Eric incentivava incessantemente o público para aproveitar cada
momento do show, principalmente na hora que executou Put That Black, que foi precedida
por uma empolgante jam com influências de capoeira e a galera balançando as
mãos no estilo hip-hop. A música está presente no disco mais atual, “Crown”, que
dominou boa parte do setlist; Steep Climb, famosa por ter a colaboração de Zakk
Wylde, também foi um dos destaques. Porém, infelizmente, a esperada
participação não aconteceu.
Além das composições autorais, teve também
a presença das marcantes Voodoo Child (Jimi Hendrix) – seguida de uma emenda com
Für Elise (Beethoven) –, Kashmir (Led Zeppelin) e Back in Black (AC/DC), que encerrou
o show de forma arrebatadora. Após essa nova visita ao Brasil, Eric conquistou
novos admiradores não apenas pelo seu invejável talento na guitarra, mas também
por sua simpatia e humildade, vinda também dos músicos Nick Hayes (bateria) e
LaDonna Gales (percussionista e esposa do Eric). Após o término do espetáculo, Eric
fez questão de circular pelos arredores e posar para fotos com aqueles que o
abordavam.
Em seguida, foi a vez de Joe Bonamassa embelezar
o início da noite com toda a graciosidade de um verdadeiro Blues Man. O ilustre
guitarrista, que também é famoso por fazer parte do Black Country Communion ao
lado do Glenn Hughes, Derek Sherinian e Jason Boham, vem revolucionando o Blues
contemporâneo. Da primeira a última música, o nova iorquino – que não vinha ao
Brasil há onze anos – cativou todos com sua técnica impecável e estilo único de
tocar, demonstrando ser o nome mais respeitado do gênero nos últimos tempos.
Acompanhado por sua talentosa banda, Joe proporcionou um espetáculo e tanto.
O repertório foi focado nas músicas de
seu mais recente trabalho, “Blues Deluxe Vol. 2” (2023), que conta com apenas
duas composições próprias, uma delas é Hope You Realize It (Goodbye Again), que
começou o show em grande estilo, destacando os excelentes vocais de apoio de
Jade McCrae e Danielle De Andrea. Ainda deste álbum, também foram apresentadas
Twenty Four Hour Blues e Well, I Done Got Over It, trazendo um mix perfeito de
elegância e diversão à noite.
Self Inflicted Wounds e Double Trouble
foram as mais aclamadas durante a metade do show. A primeira, retirada do
excelente álbum “Redemption” (2018), destacou-se pela beleza em seus solos e
vocais magníficos de Joe, sendo o ponto alto da noite para mim. Enquanto a
segunda demonstrou todo o poder do tecladista Reese Wynans, famoso por ter
trabalhado com Stevie Ray Vaughan, com um solo de arrepiar de teclado. Seu
ritmo envolvente certamente fez com que a plateia masculina, acima dos 50 anos,
relembrasse os tempos frequentados nos tradicionais inferninhos.
O show encerrou com Just Got Paid, do ZZ
Top, onde Joe abusou de sua habilidade, que a cada ano se enriquece ainda mais.
No meio da música, houve espaço para uma breve interpretação de Dazed and
Confused, do Led Zeppelin, e um solo de bateria do Lemar Carter antes de todos
deixarem o palco. Joe, claro, foi calorosamente aplaudido e ovacionado ao gritos
de “Joe, Joe”.
Na última atração da noite, quem subiu ao
palco foi ninguém menos que Zakk Wylde, que já havia se apresentado na nona
edição do Best Of Blues..., em 2019, ao lado de Kenny Wayne Sheperd. Desta vez,
Zakk veio com o projeto Zakk Sabbath, que homenageia a maior instituição da
música pesada do mundo, o Black Sabbath.
A grande maioria, todos vestidos com
camiseta do Black Label Society, Pantera e Black Sabbath, tomou conta do local para
ver a incomparável performance do Zakk na guitarra desde cedo. Alguns não estavam
muito convencidos sobre a proposta de um show tributo, muitos, assim como eu, preferiu
um show com músicas originais que o Zakk compôs ao longo da sua carreira, e
olha que reportório – incluindo a carreira solo e o pouco lembrado Pride &
Glory – ele tem de sobra. Mas graças aos deuses (aludindo ao Viking do Zakk),
acabaram se rendendo com a ideia logo nos primeiros minutos de “Supernaut”.
A seleção das músicas é um dos pontos a
se evidenciar, que fugiu do tradicional Be a Ba. Poderia ter Iron Man,
Paranoid, Sweet Leaf e Black Sabbath? Claro que sim! No entanto, Zakk optou por
algo mais audacioso e percebeu que existem faixas tão excelentes quanto as
citadas, e algumas delas conseguiram fazer o público aplaudir, se animar e
vibrar, como foram os casos de Snowblind, Tomorrow’s Dream, Wicked Sword, Lord
Of This World e Hand of Doom.
Outro ponto interessante a ser destacado
é a forma como Zakk interpreta essas músicas guitarristicamente (sem tentar
forjar uma imitação ao mestre dos riffs Tony Iommi) e vocalisticamente, apesar
de haver uma pequena semelhança com a voz do seu antigo patrão. Zakk foi
simplesmente Zakk, do início ao fim, trazendo uma nova perspectiva para a obra
imortal do Black Sabbath com seu timbre e solos característicos.
E falando em solos, Zakk não poupou as
suas energias quanto a isso, chegando a estender certas músicas com extremo malabarismo,
deixando alguns irritados com tal façanha. Exemplos disso foi na hora de Under
The Sun/ Every Day
Comes and Goes e N.I.B. A cozinha, formada pelo baixista John DeServio (Black Label Society) e o baterista Joey Castillo (Queens of Stone Age, Danzig, Eagles of Death Metal, California Breed e etc.), também teve seus destaques. Os dois despojaram
todas as suas forças para entregar um som pesado e potente.
O Best Of Blues and Rock desse ano foi um
verdadeiro sucesso em todos os aspectos, oferecendo espaço excelente,
organização impecável e, sobretudo, atrações musicais de alta qualidade de variados
estilos, evidenciando que é possível unir pessoas de diferentes tribos e gostos
incomum de forma harmoniosa.
Texto: Gabriel Arruda
Fotos: Roberto Sant’Anna
Edição/Revisão: Gabriel Arruda
Realização: Dançar Marketing
Mídia Press: FleishmanHillard Brasil
Di Ferrero
Um Brinde
Além de Mim
Daqui pra Frente
Intensamente
Só Rezo
Aonde é o Céu
Cedo ou Tarde
Corpo Fechado
Ligação
Hoje o Céu Abriu
Californication (Red Hot Chili Peppers
cover)
Polarizado
Outra dose
Pela Última Vez
Razões e Emoções
Sentença
Eric Gales
Smokestack Lightning (Howlin’ Wolf cover)
You Don't Know the Blues
Put That Back
Capoeira Jam (Berimbau)
Steep Climb
Too Close to the Fire
Voodoo Child (Slight Return) / Für Elise
/ Kashmir / Back in Black / Voodoo Child (Slight Return)
Joe Bonamassa
Hope You Realize It (Goodbye Again)
Twenty‐Four Hour Blues (Bobby “Blue”
Bland cover)
Well, I Done Got Over It (Guitar Slim
cover)
I Know Where I Belong
Self-Inflicted Wounds
I Want to Shout About It (Ronnie Earl and
the Broadcasters cover)
Double Trouble (Big Bill Broonzy cover)
I Feel Like Breaking Up Somebody's Home
Tonight (Ann Peebles cover)
The Heart That Never Waits
Just Got Paid (ZZ Top Cover) / Dazed and
Confused (Led Zeppelin Cover) / Drum Solo
Zakk Sabbath
Supernaut
Snowblind
Under the Sun/Every Day Comes and Goes
Tomorrow's Dream
Wicked World
Fairies Wear Boots
Into the Void
Children of the Grave
Lord of This World
Hand of Doom
Behind the Wall of Sleep
N.I.B.
War Pigs
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