segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Cobertura de Show: Eric Clapton – 29/09/2024 – Allianz Parque/SP



As contribuições de Eric Clapton para o mundo do rock são imensuráveis, e isso não deve ser surpresa para ninguém. Tendo tocado com o Cream, Derek and the Dominoes, The Yardbirds e muitos, muitos outros, dizer que o inglês sabe o que faz é chover no molhado. O Brasil é um país bastante visitado pelo “seo Érico”, que já fez 19 shows por terras tupiniquins, vindo praticamente de 10 em 10 anos, 1990, 2001, 2011 e agora em 2024.

A noite começou relativamente cedo, às 18:20, com uma performance brilhante de Gary Clark Jr., guitarrista nativo de Austin, Texas. Em atividade desde 1996, Clark tem desenvolvido um estilo próprio, misturando um pouco do bom e do melhor do blues e do rock, se tornado um dos grandes nomes do estilo nos últimos tempos. Mesmo já tendo recebido comparações com grandes guitarristas como Jimi Hendrix e Stevie Ray Vaughan, o texano apresenta uma sonoridade diferenciada, como pode ser vista claramente com “Maktub”, faixa que abriu seu show. 

No palco, o guitarrista esbanjava tranquilidade, tocando de maneira extremamente focada, mas ao mesmo tempo incrivelmente solto, leve, injetando uma boa dose de “feeling” em cada dedilhada, cada palhetada, executando seus solos perfeitamente, como em “When My Train Pulls In”, que impressionou a Allianz Parque, esgotado desde maio.

Sua banda de apoio também não ficou para trás, sendo composta por diversos músicos experientes. Os “grooves” impressionantemente complexos de J.J. Johnson, as linhas de baixo de Elijah Ford criando a base, a espinha dorsal das músicas, o suporte de King Zapata na guitarra, as vozes das irmãs de Clark adicionando camadas e camadas de profundidade; era a receita perfeita para um som suave, coeso, perfeito. 

O lado mais tradicionalmente blues foi mostrado com a enérgica “Don’t Owe You a Thang”, “When My Train Pulls In” e a emocionante “This is Who We Are”. O clima voltou novamente lá pro alto com “What About the Children”, gravada com Stevie Wonder para seu LP mais recente, que contou até com o público batendo palmas no ritmo da música, junto de Gary.

Depois de cada faixa, Clark agradecia o público com um singelo, porém simpático “thank you, São Paulo! Feeling good?”. Sua performance foi finalizada com “Bright Lights”, destaque de seu álbum “Blak and Blu” e “Habits”, já de “JPEG RAW”, disco lançado esse ano, sendo o trabalho que recebeu mais destaque no repertório, com 3 das 7 músicas vindo dele. A supracitada “Bright Lights” termina dizendo “you’re gonna know my name” (você conhecerá meu nome) e após a aula que ele deu em cima daquele palco, quem não o conhecia, conhece agora. 

Em uma hora, conseguiu mostrar a profundidade de seu repertório, indo de músicas mais animadas como “Don't Owe You a Thing” e “When My Train Pulls In” a faixas mais carregadas de emoção, como a linda “This is Who You Are” e “Habits”, que fechou o show. Não só foi um ótimo aquecimento para a performance de Clapton, como também deixou um grande “gostinho de quero mais”.

Um pouco atrasado, o nativo de Ripley e sua icônica Stratocaster preta subiram no palco do Allianz (que agora já estava bem mais cheio) por volta das 20:05, começando com dois pés na porta, logo com a clássica “Sunshine of Your Love”, do Cream. Apesar do frio de menos de 20 graus que fazia, a recepção de Clapton não poderia ter sido mais calorosa, com o guitarrista (que também estava com frio, usando dois casacos) tendo a letra de suas músicas cantadas a plenos pulmões. Fora os refrões sendo ecoados quase no mesmo volume da banda, um mar de celulares foi ao ar no segundo em que o icônico riff começou.

“Key to the Highway” de Charles Segar e a incrivelmente clássica “I’m Your Hoochie Coochie Man” de Willie Dixon seguiram, tão bem recebidas quanto. Fechando o primeiro “bloco” do show, “Badge” do Cream foi a última a ser tocada por Clapton antes dele sentar e pegar seu violão. Já mais confortável, começou uma sequência de músicas mais leves, devagar rs, aquelas para acender a lanterna do celular e “limpar a janela”: “Kind Hearted Woman Blues”, “Running on Faith”, “Change the World” e “Nobody Knows When You’re Down and Out”, uma das mais pedidas do Cifra Club. Na teoria, era um descanso para todos, inclusive os fãs, mas esse não foi o caso, pois todos seguiam cantando, ovacionando Clapton após cada nota que saía de seu violão.

Para as últimas três de seu bloco acústico, chamou ao palco Daniel Santiago, guitarrista e compositor brasiliense que também havia participado do show de ontem, no Vibra. Com Santiago, Clapton executou 3 faixas de sua carreira solo, “Lonely Stranger”, “Believe in Life” e “Tears in Heaven”, que certamente fizeram algumas lágrimas do público caírem. “Tears” também foi um dos pontos altos do show, com a energia de quem estava lá sendo realmente indescritível. O estádio estava iluminado por milhares e milhares de lanternas de celular.

Novamente portando sua arma letal, a icônica Stratocaster preta, voltou com “Got to Get Better in a Little While”, de seus dias no Derek and the Dominos. “Old Love” manteve a energia lá em cima, enquanto o icônico Robert Johnson foi destacado com “Cross Road Blues” e “Little Queen of Spades”, ambas com dois pés fincados no blues. Apesar das semelhanças entre ambas as músicas, o público mostrou poucos sinais de cansaço, ainda se engajando bastante com o inglês, mesmo com o carisma inexistente dele. O finalzinho da performance foi um dos pontos mais altos, a também icônica “Cocaine”, mais uma que foi cantada a plenos pulmões pelo povo.

Após afirmar veementemente que ela não conta mentira alguma, o inglês e sua banda saíram do palco, criando uma sensação de “nossa, será que voltam?” em absolutamente ninguém. Ter bis em todos os shows é algo que já está tão saturado que tira completamente toda e qualquer surpresa de um bis, mas isso já foge um pouco do escopo deste texto. Voltando ao palco menos de 2 minutos depois, fechou o show de uma vez por todas com “Before You Accuse Me” de Bo Diddley, tocada com uma guitarra com a bandeira da Palestina.

Como já era de se esperar, meio mundo gritou “Layla, Layla, Layla”, porém, foi em vão, o britânico virou suas costas e foi embora, sem dar satisfação alguma. Certos fãs persistiram, até que as luzes do estádio se acenderam - Layla deixou os fãs implorando de joelhos, mas suas mentes preocupadas não foram acalmadas.

Bom, convenhamos, o Eric Clapton já tem 79 anos, então não veremos ele correndo pelo palco feito o Axl Rose no auge ou subindo nas torres de som e se jogando a lá Sid Wilson; quem me dera chegar quase aos 80 com as habilidades e a coordenação do Clapton. Mesmo assim, trocar menos de 10 palavras com o público é complicado, não? Apesar disso, tecnicamente, o show foi absurdamente bom. Grande parte das músicas que foram excetuadas foram de forma quase perfeita, a banda de apoio do inglês estava ótima e a escolha do Gary Clark Jr. como ato de abertura não poderia ter sido mais acertada (Best of Blues, já pode trazer ele de novo no ano que vem, hein). 

Certos aspectos foram muito bons e outros nem tanto, como a falta imperdoável de “Layla”, mas, não podemos ter tudo. Contando com o fato de que o Clapton vem mais ou menos de 10 em 10 anos, esse muito provavelmente foi seu último show por aqui, visto que ele já está com 79 anos. Quem viu, viu, quem não viu, talvez não veja mais.


Texto: Daniel Agapito

Fotos: Move Concerts


Realização: Move Concerts

Mídia Press: Midiorama


Gary Clark Jr. - setlist:

Maktub

Don’t Owe You a Thang

When My Train Pulls In

This is Who We Are

What About the Children (cover Stevie Wonder)

Bright Lights

Habits


Eric Clapton - setlist:

Sunshine of Your Love

Key to the Highway

I’m Your Hoochie Coochie Man 

Badge

Kind Hearted Woman Blues*

Running on Faith*

Change the World*

Nobody Knows When You’re Down and Out*

Lonely Stranger (com Daniel Santiago)*

Believe in Life (com Daniel Santiago)*

Tears in Heaven (com Daniel Santiago)*

Got to Get Better in a Little While

Old Love

Cross Road Blues

Little Queen of Spades

Cocaine

Bis

Before You Accuse Me (com Daniel Santiago)

*acústico

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