Não é novidade de que Ozzy Osbourne, juntamente com Chris Ayres, escreveu sua autobiografia “Eu Sou Ozzy”, que até filme vai virar.
Mas apenas passados dois anos desde seu lançamento que fui ler a obra. Devo dizer que passei da fase de pensar que Ozzy é um dos grandes vocalistas, de colocá-lo acima de tudo. Há muito aprecio Black Sabbath de todas as fases e teço críticas negativas a coisas da primeira fase da banda e a discos solo fracos do vocalista.
Porém, uma coisa é verdade: ler o que essa real entidade do Rock & Roll tem para dizer, mudou um pouco meu parecer sobre essa figura que completou 63 anos hoje, dia 03 de dezembro (o bebê John Michael Osbourne nasceu em 1948, na Inglaterra).
Se Ozzy usava todos os tipos de drogas e que os discos mais clássicos (e para muitos, clássicos da música mundial) do Black Sabbath foram compostos e gravados a base de drogas pesadas, se ele realmente mostrava-se como era em casa na série Os Osbournes, se ele realmente pensou em desistir da música e se o Black Sabbath realmente era envolvido em ocultismo, tudo isso e mais centenas de curiosidades, são esclarecidas (ou não, dependendo do ponto de vista) no livro que, na edição nacional da Benvirá, possui quase 400 páginas de muitas história engraçadas e fotos.
Mas não é só de loucuras que viveu Ozzy. Aqui fica claro o quão marcante seu guitarrista Randy Rhoads foi para sua vida pessoal e profissional, já que dedica o livro também a ele: “E sem esquecer um cara muito especial que significou muito para mim, o Sr. Randy Rhoads, que descanse em paz. Nunca vou esquecê-lo e espero que nos encontremos novamente, em algum lugar, de alguma forma”.
Da sua vida em família, a conturbada adolescência como ladrão de insignificâncias, John (como ainda era chamado) vai contando o quão duro sua família dava para sobreviver, as palavras de seu pai (“Ou você vai fazer algo muito especial, ou vai acabar na cadeia”), e o quão odiava ter que aceitar que seu destino era o de ser um funcionário de fábrica em Aston, destino de todo e qualquer jovem e morador da cidade que não possuía talentos especiais.
E o talento para o Rock veio cedo, embora Ozzy jure nunca ter imaginado chegar aonde chegou, ainda mesmo com o Black Sabbath nos anos 70. A verdade é que uma coisa foi levando a outra, e seu reencontro com Tony Iommi aconteceu para nascer a banda cujo trabalho lançaria ao mundo um novo estilo de ser fazer e gostar de música: o Heavy Metal.
Falo em reencontro com Iommi, pois, como conta Ozzy, já se conheciam da escola. Talvez uma das partes mais interessantes seja justamente essa: o encontro dos dois, Iommi sabendo das “burradas” de Ozzy como ladrão e o idiota da escola, e Ozzy sabendo da já fama entre as garotas do jovem Iommi.
Impossível não sentir um arrepio na espinha e ficar com um sorriso no rosto quando, a banda na maior dificuldade, Iommi havia deixado o Sabbath para tocar com o Jethro Tull, mas retorna dizendo “quero ter minha própria banda. Não quero ser empregado de ninguém. [...] Não, ele é legal [Ian Anderson, líder do Tull). Ele simplesmente... A gente não ria, sabe? Não era o mesmo que isso aqui”.
O primeiro contrato, o primeiro disco, os shows diários e um sonho se realizando. Mas junto a tudo isso, o começo dos “exageros” do público em relação ao som da banda: "Não acreditei quando descobri que as pessoas realmente 'praticavam ocultismo'. Esses loucos com maquiagem branca e túnicas negras apareciam depois de nossos shows e nos convidavam para missas negras no cemitério de Highgate. Eu dizia para eles: 'Olha, cara, os únicos espíritos do mal em que estou interessado se chamam uísque, vodca e gim'".
Relatando como surgiu alguns dos maiores clássicos da banda, como “Paranoid” (realmente uma música feita em poucos minutos), até o abuso de drogas e o fim dessa história, com a saída de Ozzy pelos seus excessos, e seu desinteresse pelo caminho que a banda estava tomando, com capa horríveis e com muito jazz no que antes era um som pesado. Revelador saber que, de acordo com Ozzy, a mudança de sonoridade e temática da banda partiu do próprio Geezer Butler (baixo), aquele mesmo que começou a fazer as letras “macabras” da banda.
“Meus camaradas do Black Sabbath, eu e, bem..., uma galinha de borracha. Em Londres, todos de roupa nova, porque havíamos acabado de assinar nosso primeiro contrato de gravação”
Sua carreira solo e seu casamento fracassado com a primeira esposa (e a famosa história do massacre das galinhas). Como conheceu e se apaixonou por Sharon (sua manager até hoje), como chegou ao baixinho e magrinho Randy Rhoads, e como foi ao acidente de avião e ver partes das roupas de Rhoads espalhadas com sangue...
Numa escrita bem organizada por Ayres, o livro segue num relato ora muito interessante, como os contatos com lendas ainda em inicio de carreira, como Robert Plant (Led zeppelin), ora com excessos como seu amor por Sharon, que ocupa muitas páginas e trechos, na tentativa clara de Ozzy mostrar aos fãs (que na sua maioria odeiam a mesma) o quão importante ela foi. Aqui a coisa fica maçante e dispensável, em contraponto com quase todo o restante do livro, que te deixa querendo saber mais e mais a cada página (quantas noites fui dormir muito tarde por querer saber mais).
Ozzy e seu primeiro guitarrista Randy Rhoads: trechos emocionantes
Ozzy cutuca várias celebridades, desde da política e do altoe scalãonorte-americano, a bandas consagradas, como neste trecho: "É assim que discos deviam ser feitos, na minha opinião. Não me importo se você está fazendo o próximo Bridge Over Troubled Water - demorar cinco, dez ou quinze anos, como o Guns N' Roses, é algo simplesmente ridículo, fim de história. Durante esse tempo, sua carreira morreu, ressuscitou e morreu de novo".
Ozzy esclarece muitas outras histórias, conta muitas (muitas mesmo!) de suas bebedeiras. É de se perder as contas quantas merdas (literalmente!) ele fez devido ao excesso de álcool ao longo dos seus mais de 40 anos de carreira.
Embora na maioria das vezes sejam relatos bastante vazios, deslocados, noutras Ozzy os utiliza (aliado ao uso de drogas como a cocaína) como forma de advertir seus fãs do uso nocivo disso e de como tem sorte de ainda estar vivo (e funcional).
Falando em fã, tenso é a parte em que conta sobre a famosa história do jovem que se suicidou ouvindo “Speak of the Devil” (disco solo ao vivo com músicas do Black Sabbath), vale conferir.
Ah, não falta, claro, as famosas histórias de “comedor de animais”, como quando arrancou a cabeça de uma pomba numa reunião e quando mordeu o morcego mais famoso da história (não é o Batman) do Rock ao vivo, pensando se tratar de alguma borracha (e das consequências para sua saúde).
Já me estendi muito aqui. Tenham certeza que a obra não é maçante quanto este texto, mas impossível depois de tantas horas de diversão, deixar passar um relato sobre “Eu Sou Ozzy”, especialmente no dia de seu aniversário. E que esta volta da formação original do Black Sabbath renda novas histórias, mais amenas no que tange às drogas, mas não menos engraçadas.
Então, fica aí a dica de um presente de natal: dê a autobiografia de um dos responsáveis pela criação do Heavy Metal (mesmo que ele não aceite esse termo) que, com certeza, deve ser melhor que seu outro livro de conselhos “médicos” (?!), que foi lançado depois.
Texto: Eduardo Cadore
Fotos: Divulgação e blog Teste
Ficha Técnica
Livro: Eu Sou Ozzy
Autor: Ozzy Osbourne e Chris Ayres
Ano: 2009
Editora: Benvirá
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Um comentário:
coecidencia man comprei o meu livro hoje ... e chegando em casa vi a nova postagem do road ?????
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