sábado, 3 de novembro de 2012

Entrevista: Distraught - Thrash Metal Crítico

Banda gaúcha é um dos maiores nomes da cena Thrash Metal brasileira

Vivendo no underground da cena gaúcha, a Distraught criou seu nome ao longo dos 22 anos de história dedicados ao Thrash Metal crítico e pesado.

Desde 1990, a banda passou por mudanças na formação, idas e vindas, sempre seguindo com André Meyer (vocal) como único membro original e uma figura característica da história cena porto alegrense, fechando na atual formação com Ricardo Silveira (guitarra), Marcos Machado (guitarra), Nelson Casagrande (baixo) e Dionatan Santos (bateria).

Mas foram com seus dois últimos álbuns que o grupo alcançou um patamar digno à sua história. “Unnatural Display of Art”, em 2009, e “The Human Negligence is Repugnant”, lançado neste ano de 2012, mostram a banda no seu ápice.

Para falar sobre este momento, os shows, planos e muito mais, conversamos com Meyer, Dionatan e Ricardo. Confira!



Road to Metal: Olá. É muito legal podermos falar com a banda neste momento em que estão divulgando seu mais recente disco “The Human Negligence is Repugnant”. Falando desta fase, como tem sido o trabalho de divulgação do álbum? A banda tem feito shows?

Ricardo Silveira: Valeu! Estamos muito contentes com a repercussão positiva tanto dos fãs como da mídia especializada. A divulgação tem sido feita por todos os meios que a gente tem disponível, Redes Sociais, Sites etc.. Enviamos material para o Japão, Europa e EUA. Esse mês saiu a resenha na Young Guitar (Japão) e estamos aguardando sair mais umas. Mês passado gravamos o Vídeo Clipe da música “Justice Done by Betrayers” em um cenário bem legal sob a direção de Lucas Cunha que no momento está editando e logo estaremos divulgando também. Shows, fizemos nossa terceira Tour na Argentina em maio (uma semana depois do lançamento aqui no Brasil) tocamos em Buenos Aires – Mar del Plata – San Juan – Mendoza. Aqui em POA no Beco (junto com a Hibria) e Opinião com Krisiun e Leviaethan.

Mais recente trabalho tem obtido ótimas críticas na mídia e com os headbangers

Road to Metal: A primeira coisa que este novo disco impressiona é pela sua capa. O artista foi o Marcelo Vasco. Como foi a elaboração da arte toda? Vocês indicaram o caminho ou o artista apresentou algo original dele?

Ricardo: Antes de entrar em estúdio para gravar já vinha conversando com o Marcelo sobre a temática das letras. A gente deu a ideia e ele começou a criar. Como ele já tinha feito a capa do “Unnatural Dilplay of Art” tínhamos plena confiança que iria vir uma capa animal e que em uma camiseta a arte iria ficar muito mais animal ainda.  

Road to Metal: Ao longo das 11 faixas parece que temos um fio condutor básico, mesmo que não seja um álbum conceitual, podemos dizer que em cada faixa a banda trata de algum aspecto “repugnante” do ser humano? Contem-nos mais sobre a temática.

André Meyer: Procuramos sempre direcionar o novo álbum a um assunto, mas não necessariamente que se torne conceitual, o “The Human Negligence is Repugnant” fala sobre a corrupção, a presença da injustiça que nos acompanha todos os dias, a desigualdade social que mata povos famintos, a luta de alguns por um dia melhor... isso tudo explica o aspecto “Repugnante”.


Road to Metal: "The Human Negligence Is Repugnant" mostra uma banda mais coesa, porém mais “melódica”, definindo cada vez mais uma característica própria no grupo.  Como funciona o processo de composição da banda? E sobre as melodias que estão cada vez mais presentes no som, é algo natural do processo ou é proposital que a banda arrisque cada vez mais?

Ricardo: Logo após o Unnatural já pensávamos que as próximas composições teriam que ter peso obviamente, melodia, refrões diretos e grudentos com letras com temas atuais e protestantes. O processo nesse álbum foi bem diferente dos anteriores, esse foi bem mais tranquilo e rápido. Eu ia gravando os riffs conforme surgiam as ideias quando estava tocando/estudando na minha casa e o Marcos na dele, já com os Grooves de batera e quando as letras iam ficando prontas comecei a Pré-Produção na minha casa, o André ia lá e gravava as ideias de voz. Fomos para o estúdio com a estrutura das músicas mais concretas, lá íamos lapidando junto com o Dio e o Nelson. A Pré-Produção foi um fator importantíssimo porque nós tínhamos como escutar as músicas depois de um tempo e sentir o som como fã, não só como integrante da banda e se fosse o caso ia ajustando o arranjo dos sons. Sobre as melodias é natural, surgem mais de forma espontânea assim como os riffs. A melodia é um ingrediente importante assim como o ritmo, é ela que faz a diferença entre as músicas, se não tem parece que você tá escutando a mesma música o disco todo. O que nós cuidamos é a dosagem certa de melodias e refrões sem que perca a agressividade e o peso da banda,  e usá-la  a nosso favor.

Formação da banda em 2009, ainda com Evérson Krentz (Sacrario) como baterista

Road to Metal: Em 2010, durante a divulgação de "Unnatural Display Of Art" (2009), vocês anunciaram a entrada do baterista Dionatan Britto. Sobre a saída de Everson Krentz, teria algum motivo em especifico? Perguntamos, pois realmente os fãs não esperavam tal mudança.

André: O que aconteceu é que tínhamos uma tour na Europa pra ser feita e o Everson disse que não poderia nos acompanhar, então ele sugeriu que procurássemos um outro baterista para fazer a tour, nós dissemos a ele que o fato de colocar um outro em seu lugar poderia ser definitivo e ele estava ciente disso. E foi o que aconteceu com a entrada do Dio. O Everson já vinha a um bom tempo se mostrando descontente com a Distraught, segundo ele mesmo “divergência musical”, o que ficava muito difícil de trabalharmos juntos, então foi mais que natural que o Dio ficasse definitivo na banda.


Atual formação estabilizada com Dionatan nas baquetas e um álbum em divulgação
Road to Metal: A banda está com uma formação estabilizada, embora o novo álbum conte com a estreia de Dionatan. Para você, Dionatan, como tem sido esse período desde a abertura para o Megadeth em 2010, até o atual momento em que lança material com suas baterias gravadas?

Dionatan Santos: Tem sido do caralho! Eu já era fã da banda, e agora sou mais ainda! (risos) Com certeza está agregando demais tocar com eles, não só ao meu currículo na música, como às minhas experiências e profissionalismo na área. Me sinto totalmente parte da banda, onde sempre sou ouvido e bem tratado.

Road to Metal: Conte-nos um pouco sobre a parceria com o guitarrista Diego Kasper (ex-Hibria), que sempre está presente nos álbuns da banda, sendo em participações ou ajudando nos arranjos das composições.

André: Esse é nosso irmão, sempre aprendemos muito juntos, o Diego é um cara de muito talento e bom gosto e a opinião dele em nossas músicas sempre teve um peso importante.

Ricardo: É verdade! O Diego, assim como o Abel, são aqueles amigos que a gente escolheu para ser irmão. Conheço-os há uns 22 anos, sempre trocando ideias sobre o universo da guitarra, da música, riffs etc... No “Unnatural...” compusemos a “Hellucinations” nos 45 do segundo tempo (risos) junto com o Diego e o resultado foi excelente. No inicio a ideia era que o Diego produzisse esse último álbum. A gente queria alguém de fora da banda, mas ele não podia assumir esse compromisso porque estava muito envolvido na parte de mixagem do DVD  “Blinded by Tokio” (Hibria). Mas, por um lado, acabei me puxando mais e aprendendo mais sobre gravação e produção e acabei produzindo junto com o André. Quando estávamos com todas as músicas prontas e faltando uns 3 meses para entrar no estúdio para gravar, fizemos algumas reuniões com o Diego e ele sugeriu suas ideias nos sons que ele achava que poderia melhorar, que foram a faixa titulo, “Psycho Terror Class”, “Infect” e  “My God is My War”. Dos 4 sons, a “Infect” foi a que desmanchamos totalmente o arranjo e refizemos.

Banda durante a apresentação ao lado dos amigos da Leviaethan e Krisiun

Road to Metal: Um dos últimos grandes shows da banda foi no Bar Opinião, em agosto, quando tocou ao lado dos colegas da Leviaethan e da mundialmente reconhecida Krisiun. Como foi a experiência de estar mano a mano com duas importantes bandas que, assim como a Distraught, contribuíram ou contribuem muito para a cena pesada, não apenas gaúcha, mas nacional e internacional?

André: Já tínhamos feitos shows juntos, mas não com as 3 bandas no mesmo evento, isso foi muito legal, é parte de uma história comemorada em uma noite. Todos ensaiavam no inicio em um estúdio nos fundos da casa do Flávio, Leviaethan, Krisiun, Distraught e muitas outras, então começamos juntos essa batalha, foi gratificante pra nós estarmos ao lado dos amigos tocando e se divertindo...

Road to Metal: São cerca de 22 anos de história. Isso é muito tempo para uma banda sobreviver no underground brasileiro e conseguir, álbum após álbum, mostrar que é uma das grandes forças do Thrash Metal brasileiro. André, você é o único membro original da banda. Seja honesto e nos diga: você se imaginava lançando álbum em 2012 ou ansiava por mais do que conquistara com a banda até aqui?

André: Sim, são 22 anos de trabalho duro sem férias (risos). 15 anos junto com o Ricardo e o Marcos, 7 anos com o Nelson e 2 anos com o Dio. No inicio tocávamos apenas por diversão, sem pretensão de muitas coisas, queríamos fazer shows, mas lançar um disco nem passava pela nossa cabeça, eu sempre procurei não alimentar grandes expectativas, sabia que tinha que ir subindo degraus, evoluindo aos poucos com meus companheiros, acho que por isso que continuamos vivos ainda.


Road to Metal: A banda já tocou algumas vezes na Argentina e tem sido comum para várias bandas do nosso país tocar por lá. O que falta para que aqui no Brasil bandas como a Distraught toquem regularmente e por todo o Brasil? Vamos mais longe: há planos mais concretos para uma turnê na Europa, por exemplo?

Ricardo: Queremos muito tocar no resto do Brasil, assim como fizemos em outros álbuns, mas a dificuldade em montar uma Tour no Brasil esta cada vez maior tanto para as bandas como para os produtores. Na maioria dos lugares só rola show nos finais de semana o que faz com que tenhamos muitos Day Offs, gerando mais custos para a banda.  Planos para tocar na Europa ou em outro continente sempre têm, mas não queremos fazer uma Tour desestruturada. Como não temos suporte de gravadora, o que é mais do que natural no Brasil, a banda tem que se financiar para isso, então tem que ser bem planejada. Na época do “Unnatural...” estávamos negociando com uma agencia booking daqui do Brasil por mais de um ano para marcar datas na Europa, mas por falta de profissionalismo deles acabou não rolando. 

Road to Metal: Para finalizar, deixe um recado aos leitores do Road to Metal e conte-nos os planos da banda para 2012.

André: Queríamos agradecer pelo espaço cedido na Road to Metal, e dizer para os leitores que valorizem aquilo que é nosso, temos ótimas bandas no Brasil,  isso é de grande importância para que a cena permaneça viva.

Ricardo: Agradeço também a Road to Metal ao Renato [Sanson} que está  sempre  presente nos shows apoiando a cena  e aos fãs e amigos que sempre nos apoiaram de forma direta  ou indireta.

Edição/revisão: Eduardo Cadore
Fotos: Divulgação

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Leia resenha do novo álbum clicando aqui.

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