Eis que o “full length” da banda
Bloody Violence está calibrado e pronto para abrir fogo sem dó nem
piedade. O trabalho recém-lançado foi batizado
de “Devine Vermifuge”, trata-se de um álbum contendo oito faixas inéditas e nem
bem esperou o EP “Obliterate” esfriar no caixão para dar as caras (curiosidade:
pela definição da UK Albums Chart *: uma gravação conta como um álbum full
length se ela tiver mais de quatro faixas ou pelo menos 25 minutos de duração).
Uma verdadeira profusão de musicalidade, velocidade, técnica e groove (sim,
groove).
“Now I’m
become death, the destroyer of worlds…”
- Bhagavad Gita
A mesma frase citada nos
ensinamentos hindus abre o “Divine Vermifuge”, porém dessa vez pronunciado por
“J. Robert Oppenheimer”, um dos físicos que coordenou o “Projeto Manhatan”, em
1941. Oppenheimer ficou conhecido como: O pai da Bomba Atômica! E a citação que
abre o disco sonoriza dor, pesar e arrependimento de quem viu sua criação
servir à destruição.
Seleção (não) Natural
Neste clima denso e escuro as
primeiras faixas do disco ilustram em notas e viradas, o quão pesado ele tem a
intenção de ser (e cumpre perfeitamente com a proposta). Ainda não estamos
falando das melodias!
“Natural
Selection developing new kinds of mutated species...” – (1- Lethal Nuclear Evil)
Cantídio Fontes (vocal) replica
esse padrão amargo e pesado nas letras que compõem as oito músicas do disco. O
que é mais letal de que uma bomba atômica, de alguns “mil megatons” explodindo
sobre uma área povoada? Resposta: A ganância pelo poder, ganância pelo controle
(do poder)! Embora as letras do disco disponham sobre mutações, explosões nucleares,
destruição em massa, omissões e traições. Fica fácil transportar questões
comportamentais, sociais e políticas para esse ambiente orquestrado pelo
Technical Death Metal de “Divine Vermifuge”. Para deter tamanha injustiça
desenfreada, vale apelar até para uma Dakini e que sua furiosa beleza possa
lançar o desafio da justa punição aos impuros (se ela escutar o apelo, poucos
irão sobrar)!
Se Simão falou, está falado.
Completando a beleza do que foi
riscado no papel, existe o encaixe perfeito das melodias paridas por Igor
Dornelles. Delegar palavras como pesado, rápido e brutal ao disco, seria como
atear fogo às cinzas de um “disco voador” que caiu ao solo e incendiou no
impacto (ainda que exista o que queimar nessa carcaça). Fica nítida a impressão
de que houve preocupação uniforme durante as composições e mixagem de som. A
bateria de Eduardo Polidori está muito bem marcada e traz um “gingado”
diferenciado do Technical Death Metal tradicional. Claro, o que precisava ser
feito, foi feito com sucesso. Mas ao ouvir, sentirás que há algo mais durante
as execuções. Em alguns momentos exibe rapidez de um UFO em disparada no
horizonte e em outros momentos a técnica e calma de um metódico serial killer
em ação. Essa técnica pessoal, provavelmente nos deixe algumas pistas sobre um
baterista de Death Metal que já visitou “outras escolas”, mas que está se
saindo muito bem no estilo atual. Igor Dornelles, além de compor as melodias do
disco, pilota uma “eight strings” com maestria. Isso fica claro no disco todo,
mas é em “Putrid and Damned” que desde a intro até o último suspiro essa
maestria não deixa nenhum questionamento em aberto: harmonia e agressividade,
somadas à violência que o disco demanda.
E com esse cuidado que foi
acometido ao disco, na hora de mixar, permite-nos ter acesso ao “Sava” e o seu
baixo a qualquer instante no disco. Mas se quiser tirar a prova do que digo,
basta prestar atenção no início da “The Faithmaker”, música que encerra MUITO
BEM o álbum.
Compassada, pesada e polêmica ela vem impregnada
de um groove que a transforma totalmente após os 2 minutos. Junto com música (a
esta altura já deves estar com o punho em riste e bangueando) surge um
“sampler” fantasmagórico com voz feminina, que faz alegorias à chamados de
abuso sexual. Na realidade, trata-se de um recorte de fala, de um documentário
sobre “abuso sexual envolvendo ambientes religiosos” e de como a crença é usada
de forma erronia (dentre muitas outras formas) por alguns líderes de cultos,
para lograrem alguma vantagem sexual sobre os (as) fiéis.
“Penetrate
me with this finger, the finger of god...”
-The Faithmaker
Mesmo com toda essa nova
influência musical, não se pode deixar passar despercebida a influência dos
mestres do passado (nem tão passado assim) nas composições: Cannibal Corpse,
Dying Fetus e Nile!
Encerrando essa obra obscura, aparece a mão do Rafael Tavares na confecção da capa do disco. Como já é conhecido pelo estilo, Rafael se vale mais uma vez dessa brincadeira entre luzes e escuridão para compor a arte da capa. Boa parte da “cover” e é envolvida em escuridão, ao centro uma “entidade” (que se atribui santidade pelo fato de apresentar uma espécie de auréola em torno da cabeça) emanando tentáculo de si. Ao fundo há uma vegetação morta exibindo grandes espinhos e alguns humanoides cadavéricos espreitam a entidade. Seriam vítimas ou seguidores? De fato, a entidade, de olhos pálidos, traz um crânio nas mãos, lembra um crânio humano. Seria essa entidade o “Devine Vermifuge”? Não seria uma má ideia se um anti-helmíntico social e psicológico se abatesse sobre a sociedade em nível atômico, ao melhor estilo Bloody Violence.
Resenha por: Uillian Vargas
Revisão/edição: Renato Sanson
Formação:
Cantídio Fontes – Vocal e Letras;
Igor Dornelles – Guitarra (8
cordas) e composição das músicas;
Israel Savaris – Baixo;
Eduardo Polidori – Bateria;
Tracklist:
1 Letahl Nuclear Evil – 05:29
2 Lethal Nuclear Evil [Dyatlov Pass] – 06:49
3 Mother of the Dying – 03:59
4 Putrid and Damned – 04:00
5 Sky Burial – 05:12
6 Colares UFO Flap – 04:23
7 Overseers – 03:41
8 The Faithmaker 04:33
Embalagem: Digipack
Fotos: Chama Vídeos Independentes
e Marina Bischof
Gravação: Estúdio Hurricane,
POA-RS
Arte Capa: Rafael Tavares
Selos: Terceiro Mundo Chaos
Discos, Rock Animal, Violent Records & Oneye Rec .
Ou entra no face da banda e fala
direto com eles e tenta uma versão autografada!
Nenhum comentário:
Postar um comentário