Causou muita polêmica e incertezas (ou certeza de fracasso) o anúncio de um projeto envolvendo o Metallica e Lou Reed (The Velvet Underground), dinossauro do Rock e uma das figuras mais controversas da história da música.
Para quem não sabe, ambos os artistas se encontraram e tocaram juntos em 30 de outubro de 2009 durante o Rock & Roll Hall of Fame, sendo que daquela parceria surgiu a ideia de um disco conjunto.
Desde o inicio estava claro que os fãs do Metallica Thrash Metal, ou mesmo Heavy Metal como nos últimos anos, se deparariam com uma proposta diferenciada, sobretudo pela liderança de Lou Reed, que compôs as letras do que veio a ser esse odiado disco “Lulu” (2011) para uma peça teatral baseada na obra do escritor Frank Wedekind.
Começo de tudo: Metallica e Lou Reed tocando juntos em 2009
E quem foi na ilusão de que encontraria um disco com muito de Metallica, pode ter se decepcionado. Mas para este que aqui escreve, que foi na certeza de uma proposta que sairia, no mínimo, como um álbum ruim, precisei baixar a cabeça e levantar os punhos ao ar, pois esse projeto aí, meus amigos, é muito mais do que os ouvidos captam num primeiro momento.
O disco não é tão distante do que o Metallica fez nos anos 90, especialmente nos discos “Load” (1996) e “Reload” (1997), mas também não pode ser comparado, pois, como já disse, não é mais um álbum da banda.
A presença de canções caóticas, como “Pumping Blood”, ajudadas pelo “canto soletrado” de Reed, aliado a uma verdadeira “bateção” da bateria de Lars Ulrich (calma, não como foi em “St. Anger” de 2003), dão um aspecto “cult” ao álbum, ao mesmo tempo que pode também dar dor de cabeça a ânsia de vômito.
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A impressão que temos é bem essa: que Metallica foi a trilha sonora para a poesia doida de Reed, o que não deixa de ser algo interessante, pelo contrário, nunca me interessei por Lou Reed e agora me obriguei a olhar com mais atenção para esse velho louco gênio do Rock.
Ouvi algumas pessoas que ainda não tiveram coragem e encarar esse disco de frente de que James Hetfield (vocal e guitarra) não canta no álbum. Engana-se. É justamente nos trechos em que solta a voz que temos certeza de que estamos diante de um projeto e não de um disco da banda ou do Lou Reed. A melodia colocada por James em canções como “Cheat on Me” chegam a salvar a canção, tendo ele modesta participações em várias outras, mesmo como quase um backing vocal, mas com aquela força característica, o que vai agradar o Metallica maníacos.
Mas acontece que “Lulu” tem várias canções de grande impacto e, por que não, com uma pegada Heavy e Hard que aliviam um pouco a esquisitice dessa obra de arte. Obra de arte? Claro, porque preciso, para capturar melhor a proposta, compreender a história, as letras, entrar na viagem sonora e nas frases muitas vezes desconectas quase faladas por Reed.
Disco duplo, canções longas. Isso não seria grande novidade, vide o que o Metallica já fez com “...And Justice For All” (1988), mas dá um caráter diferente ao álbum. Solos de guitarra? O pesadelo de “St. Anger” (disco que excluiu os solos de guitarra) retorna, já que não temos solos de Kirk Hammet (guitarra), mas temos passagens acústicas e dedilhados de encher os olhos (ou ouvidos), como na longa “Junior Dad”, de longe a mais bela do álbum e que, eu aposto, vai agradar quem
Mas eu falava ali em cima de que há canções ótimas. E dentre essas, a dupla acertou em escolher “Iced Honey” para gravar o primeiro vídeo clipe, anunciado com fervor que será dirigido por Darren Aronofsky (“Cisne Negro”). De longe, é a mais próxima do Rock que tanto o Metallica quanto o Reed praticam ou já praticaram. Tem aquele clima de uma música “normal” do estilo, o que vai ser uma boa pedida para enganar os menos atentos, que verão o vídeo e irão comprar “Lulu” esperando mais algumas faixas daquele tipo. Ledo engano.
São faixas como a que abre o disco um, “Brandenburg Gate”, e a que fecha o disco dois, “Junior Dad”, que já valem a proposta, mesmo que canções como “Mistress Dread”, “Little Dog” e a já citada “Pumping Blood” sejam ou muito esquisitas (no sentido negativo da palavra) ou excêntricas demais a ponto de não empolgar ou agradar.
Quando “The View” foi liberada para audição, sendo a primeira palinha do álbum, já dava para ter uma ideia do que viria pela frente. Então, se você achou essa música ruim, passe longe do disco, pois ela representa bem a maioria dos quase 90 minutos dessa união mal recebida por muitos, mas compreendida e apreciada por outros tantos menos radicais e que sabem separar o que é Metallica e Lou Reed nas suas carreiras, e Metallica e Lou Reed, em “Lulu”.
Deixo um parágrafo para destacar “Junior Dad”. Quase 20 minutos, violino, clima de despedida, e o melhor: os dedilhados, aliado à voz de Reed que chega a realmente cantar nessa música, uma letra belíssima e trágica, ao mesmo tempo, fazem dessa a mais significativa desse projeto. Talvez por isso tenha ficado por último, para lavar a alma e nos deixar pensando “afinal, este disco não é tão ruim”.
Agora, crie coragem e ouça (no site oficial foi disponibilizado para audição completa), deixe de lado suas expectativas e vá com os ouvidos limpos e prontos para o encontro com o inesperado e o básico, o grandioso e a ousadia. Melhor que muita coisa que saiu neste ano, mas, claro, tomara que a banda venha com um disco verdadeiramente Metallica, já que com “Lulu” provaram, mais uma vez, que não gostam de se repetir e que ousar mantem a chama do grupo acessa.
Stay on the Road
Texto: Eduardo Cadore
Fotos: Divulgação
Ficha Técnica
Banda: Lou Reed & Metallica
Álbum: Lulu
Ano: 2011
País: EUA
Tipo: Experimental/Rock Progressivo/Heavy Metal
Formação
Lou Reed (Vocal)
James Hetfield (Vocal e Guitarra)
Kirk Hammet (Guitarra)
Lars Ulrich (Bateria)
Robert Trujillo (Baixo)
Tracklist
CD I
01. Brandenburg Gate
02. The View
03. Pumping Blood
04. Mistress Dread
05. Iced Honey
06. Cheat On Me
CD II
07. Frustration
08. Little Dog
09. Dragon
10. Junior Dad
Veja trailer do album aqui.
Acesse o site oficial do projeto para mais fotos e vídeos.
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