Chega a ser um paradigma as pessoas definirem que o Rock brasileiro é simbolizado pelo Barão Vermelho, Cazuza, Raul Seixas, Capital Inicial e entre outros, uma injustiça e até um equívoco brutais, mostrando total desinteresse e falta de informação da história do Rock em terras tupiniquins. Primeiramente, há que dar destaque a Os Mutantes, Made In Brazil, Patrulha do Espaço, O Terço, O Som Nosso de Cada Dia, Casa das Máquinas e etc. Desses grandes nomes partiu também a influência às bandas de Heavy Metal e Hard Rock que estavam surgindo, seguindo a mesma linhagem sonora e significando a evolução, além de priorizar as composições em português. O exemplo e influências são seguidos até hoje, e o Kamboja, banda com integrantes que veio dessa leva e bebeu nessa fonte, mostra em “Viúva Negra”, seu primeiro trabalho, o verdadeiro significado e cara do real Rock nacional.
Mirar gênero ou um estilo que especifica a predominação e
a atitude sonora feita pelo Fabio Makarrão (vocal, ex-proprietário do Black
Jack Rock Bar e criador do programa Sleevers), Edu Moita (guitarra), Frank
Gasparotto (baixo) e a lenda Paulo Thomaz (bateria, ex-Centúrias, Harppia,
Firebox e atualmente no Baranga), pois o quarteto faz um Rock acessível, para
aqueles que têm bom gosto e sem qualquer tipo de incógnita, ignorando qualquer frescura, fazendo jus ao contagiante e nobre Hard Rock clássico praticado em
meados nos anos 70 e 80, vindo da escola, principalmente, do Motörhead, AC/DC,
Lynyrd Skynyrd e de outros dinossauros das respectivas décadas citadas, feita de forma atual, suja e instigante.
Comparado ao EP, lançado em 2012, “Viúva Negra” mantém o
mesmo nível apresentado no curto trabalho anterior (letras que fala sobre
diversos assuntos do cotidiano), mas que ganhou dosagens mais pesadas e secas
com a chegada do guitarrista Edu Moita (ocupando o lugar que foi deixado pro
André Curci), que tem como foco priorizar harmonia através de riffs abrasivos,
fazendo-se união às pegadas ‘Bluesing’; Fábio Makkarão(responsável por ter
composto todas as letras) mostra sempre sua vontade e empolgação por trás dos
microfones, com vocais que transitam do mais suave, grave e agudo; já Frank
Gasparotto e Paulão Thomaz mantém uma base rítmica de baixo e bateria na sua devida
altura, sem perder controle nenhum.
A produção bem limpa, masterização e mixagem de ótima
qualidade, ficaram a cargo de Eric Cavalcante e Rogério Wecko, gravado no estúdio
CdAudio/Hell’s Cage em São Paulo; a parte gráfica, que mostra um clima bem
soturno (de acordo com a nomenclatura do disco) foi ilustrada e direcionada
pelo artista José Proença.
Nas primeiras cinco faixas de “Viúva Negra”, são apresentadas músicas totalmente novas e quentes, começando pela faixa que dá o nome ao álbum, iniciando com um tema bem sarcástico para, logo em seguida, a banda entrar em ação de maneira simples e reta, apresentando ótimos riffs e refrãos bem postados, preenchida de solos bem elaborados de puro feeling; “Virtual” impõem um andamento mais rápido e acelerado, flertado com o Hard Rock e apresentando guitarras bem ganchudas, acordes de baixo martelados, abrangendo um pouco de humor na letra, que retrata a inocência que existe no mundo das redes sociais e da internet;
“Contagem Regressiva” prossegue de maneira mais cadenciada, conduzida por arpejos que transitam a melodias mais limpas, com timbre de voz bem variado e a bateria segurando perfeitamente a base; a lenta “Sangrando” vem arrastada e azeda, com um inicio bem exótico de slide-guitar, mas que não poupa energia e peso no instrumental, sendo o ponto mais alto do disco; “Batendo de Frente” mostra toda pureza e a vibração do Rock, com inicio a la Motörhead, onde baixo e bateria unem forças, e riffs explosivos no estilo AC/DC, tendo arranjos muito bem sacados pra serem executados ao vivo, perfeita para o público entrar no clima da música.
Pra quem tem curiosidade de saber como o Kamboja se comporta ao vivo, a banda registrou mais três faixas inéditas, gravadas nos estúdios da rádio Brasil 2000. “Mentira”, que tem um comportamento mais radical e "bravo" em todos os aspectos, e a letra abordando um assunto bastante relevante à humanidade, principalmente aqui no Brasil. Só ouvindo a pessoa vai saber do que se trata; “Não Vá em Vão” prioriza riffs abafados e pulsantes de forma bem efêmera e coesa no aspecto "bateristico"; “Alien Nação”, no geral, segue a mesma linha da anterior, só que de forma mais introspectiva e serena.
A parte final do disco segue com as faixas do EP “Kamboja”,
de 2012, como um extra-bônus, destacando “Se Deus Pudesse Me Ouvir” (retratando
os problemas políticos do Brasil), “Acelerando” (perfeita para correr na
estrada) e “Dona da Madruga”, minhas favoritas, mas que num contexto
geral, todas soam ótimas, até sendo injusto destacar alguma em especial.
Qualidade e experiência não falta para os
músicos que integram o Kamboja, que mostram como fazer Rock contagiante,
agradável e raçudo, sem precisar de muita frescura, e que não deixarão a peteca cair tão cedo.
Texto:
Gabriel
Arruda
Revião/Edição:
Carlos
Garcia
Fotos:
Divulgação
Ficha
Técnica
Banda:
Kamboja
Álbum:
Viúva
Negra
Ano:
2015
Estilo:
Hard
Rock/Rock ‘n’ Roll
País:
Brasil
Gravadora:
Independente
Formação
Fábio Makkarão (vocal)
Edu Moitta (guitarra)
Frank Gasparotto (baixo)
Paulo Thomaz (bateria)
Track-List
01. Viúva
Negra
02. Virtual
03. Contagem
Final
04. Sangrando
05. Batendo
de Frente
06. Mentira
(Brasil 2000)
07. Não
Vá em Vão (Brasil 2000)
08. Alien
Nação (Brasil 2000)
09. Se
Deus Pudesse Me Ouvir
10. Acelerando
11. Tarde
No Bar
12. Bomba
Relógio
13. Dona
da Madrugada
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