domingo, 13 de outubro de 2024

Cobertura de Show: Living Colour – 12/10/2024 – Tokio Marine Hall/SP

Poucas bandas têm um som tão característico e tão impactante quanto os nova-iorquinos do Living Colour e sua mescla flamejante de rock, punk, soul e funk. Atualmente composta por Vernon Reid na guitarra, Corey Glover no vocal, Will Calhoun na bateria e Doug Wimbish no baixo, o quarteto realizou sua décima passagem pela capital paulista com um show eletrizante no Tokio Marine Hall, uma das maiores casas de show da “cidade da garoa”, com capacidade para aproximadamente 4 mil pessoas. A gira atual não passaria só por terras tupiniquins, mas também pelo Chile e pela Argentina, ambos “queridinhos da banda”, contando com 4 e 8 visitas, respectivamente. Aquele sábado, feriado, prometia ser mais uma apresentação histórica, recheada de clássicos.

Chegando no Tokio, o bairro inteiro estava apagado, escuridão para todos os lados, menos a própria casa, que estava completamente acesa. Sair na rua - completamente apagada - no final do show, que estava previsto para COMEÇAR às 22:00 seria algo complicado, mas aí é uma história à parte. Mesmo assim, já havia uma quantia decente de pessoas na parte de fora da casa, esperando para ver o Living Colour ao vivo e à cores. Lá dentro, era aquele esquema típico dos shows da Toplink, estande de merchan no saguão (que curiosamente contava com exemplares do disco acústico do Angra) e um pequeno palco perto da entrada da pista, com alguns equipamentos para outra banda assumir e tocar alguns covers no final dos shows.

Por volta das 20:40, subiu ao palco o Black Pantera, acompanhados por palavras do Mano Brown pelo PA. Para quem ainda não conhece, são um power trio mineiro composto pelos irmãos Charles e Chaene Gama (guitarra/voz, baixo respectivamente) e o baterista Rodrigo Pancho. Foram uma escolha certeira para abrir para o Living, visto que a influência dos nova-iorquinos no som do Black Pantera é palpável, fora o fato de ter uma noite em uma das maiores casas de show de São Paulo só com músicos negros. Quem já foi em algum show deles, sabe bem como é, um show objetivo, direto, com uma energia incrível, mas também recheado de interação com os fãs. 

Desde o meio do ano, seguem com a turnê de seu quarto álbum, “Perpétuo”, e foi ele o foco do repertório. Das 13 músicas, só não foram do último disco as já clássicas “Padrão é o Caralho” e “Fogo nos Racistas” e as enérgicas “Dreadpool Zero”, “Boto pra Fuder” e “Recolução é o Caos”, que começou com Chaene tocando a introdução de “Anesthesia (Pulling Teeth)” no baixo. Das do disco novo, vale destacar “Provérbios”, que começou a noite com tudo, a linda “Tradução”, dedicada às mães presentes e “Fudeu”, que foi prefaciada por “September”, aquela, do Earth, Wind and Fire pelo sistema de PA. 

No geral, mostraram porque são uma das bandas nacionais que mais crescem nos últimos tempos; não só fizeram um show muito bom, direto ao ponto, mas também esbanjaram uma presença de palco absurda, interagindo bastante com os fãs e se divertidndo visivelmente, tocando com um sorriso no rosto, pulando, batendo cabeça.

Os headliners assumiram a casa um pouco atrasados, mas nem tanto, às 22:10, ao som da marcha imperial do Star Wars. Começaram com “Leave it Alone”, destaque de seu terceiro álbum, “Stain” (1993). Não se passaram nem 2 minutos, já dava para sentir a energia incrível que tomava o Tokio Marine Hall. Som incrível, galera animada, banda tão animada quanto, evidentemente felizes no palco. Tem tanta banda que toca parecendo que precisa bater ponto e ir embora, cumprir tabela, mas o Living Colour com certeza não é uma delas.

Seguiram com a volta para o passado, tocando “Desperate People”, de seu primeiro trabalho, “Vivid” e novamente destacaram “Stain” com a dobradinha de “Ignorance is Bliss” e “Bi”, que começou com uma troca de “everybody” entre Glover e os fãs. Foi só o Will Calhoun começar aquela introdução no cowbell que a galera já sabia o que ia rolar, “Ausländer”, mais um petardo diferenciado, banhado de efeitos, do “Stain”. “Never Satisfied” fechou a sequência de “Stain”, abrindo as portas para “Funny Vibe”, de “Vivid”, que mostrou claramente as habilidades incríveis da banda. Calhoun é um relógio na bateria, Doug Wimbish, que teve seu primeiro show com a banda aqui na capital paulista, no Hollywood Rock, toca as linhas de baixo complexas como se fossem músicas de punk e Vernon Reid e Cory Glover nem se fala, um Deus da guitarra com um estilo próprio e um vocalista que mesmo beirando os 60, ainda chega nos mesmos agudos que chegava no auge dos anos 90.

“Sacred Ground”, lado B de “Collideøscope” (2003) deu sequência à festa, que contava com um Tokio Marine Hall quase cheio. A groovadíssima “Open Letter (To A Landlord)” veio à seguir, esfregando na nossa cara o fato de que Cory Glover, aos 59, canta melhor do que muito jovem por aí. Depois dessa performance incrível, até os proprietários de imóveis que estavam presentes começaram a viver de aluguel. Glover descreveu o baterista como a nona, décima e décima-primeira maravilha do mundo, e o solo de bateria que eles fez realmente explicou o porquê.

“Flying” terminou com um pedido de aplausos para o Vernon Reid. Quando o público parou, Glover mostrou seu carisma e disse, “dont stop, dont stop”, brincando com o público. O vocalista passou a tocha para Doug Wimbish, que além de baixista da banda, também gravou diversos artistas no começo da cena do hip-hop nova-iorquino, oferecendo uma pequena medley com músicas da época, White Lines (Don’t Don’t Do It), do Grandmaster Flash e Melle Mel, “Apache”, da The Sugarhill Gang e “The Message”, de Grandmaster Flash e o Furious Five.

A folia continuou, agora de volta ao rock, com “Glamour Boys”, cantada junto pelo público. Mostrando toda sua versatilidade, foram da quase pop “Love Rears Its Ugly Head” para “Time’s Up”, rápida e objetiva, com cheiro de Bad Brains com uma facilidade absurda. Ambas foram recebidas calorosamente pelos fãs, que cantaram “Love Rears” junto, a plenos pulmões e ficaram vidrados pelos solos de derreter o rosto que Vernon Reid fez em “Time’s”.

Com o show já chegando ao fim, tocaram aquela música, a famigerada, a icônica, a mais pedida (não a do Raimundos), “Cult of Personality”. Foi só a introdução começar, que um mar de celulares foi ao ar, e justificavelmente, foi um momento digno de ser registrado. Quem nunca viu isso acontecer ao vivo ainda não viveu direito. Ouvir “Cult of Personality” ao vivo deveria ser obrigatório por lei. Pensa numa música boa, pensa numa energia incrível, pensa numa banda que replica o instrumental perfeitamente, pensa num público envolvido. Foi isso que rolou naquele sábado.

Antes de irem embora, falaram que viram o Black Pantera na passagem de som e acharam incrível, então queriam dedicar um último som a eles. Para fechar a noite, foi escolhida a “Type”, faixa enérgica, pé na porta, sem massagem, vinda também do “Time’s Up”, de 1990. Fecharam o show com chave de ouro, com uma energia ímpar.

No geral, mostraram porque são um dos maiores. Repertório muito sólido, som perfeito, presença de palco absurda, banda de abertura acertadíssima, público envolvido. A única reclamação que pode ser feita realmente é o horário. Não tem necessidade de fazer algo tão tarde assim, especialmente com a cidade toda apagada, tornando a saída um perigo. Bom, deixando isso de lado, o show em si foi incrível, inacreditavelmente bom. Produção e banda estão de parabéns! Baron, já pode trazer eles ano que vem de novo…


Texto: Daniel Agapito 

Fotos: Belmilson Santos 


Realização: Top Link Music


Black Pantera - setlist:

Provérbios 

Padrão é o Caralho

Dreadpool Zero

Boom!

Perpétuo 

Fogo nos Racistas

Tradução

Fudeu

Black Book Club

Sem Anistia

Candeia

Revolução é o Caos

Boto pra Fuder


Living Colour - setlist:

Leave it Alone

Desperate People

Ignorance is Bliss

Bi

Ausländer

Never Satisfied

Funny Vibe

Sacred Ground

Open Letter (to a Landlord)

Solo de Bateria

Flying

White Lines (Don’t Don’t Do It) / Apache / The Message

Glamour Boys

Love Rears Its Ugly Head

Time’s Up

Cult of Personality

Type

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