terça-feira, 15 de outubro de 2024

Cobertura de Show: Shawn James – 11/10/24 – Carioca Clube/SP

Muitos o conheceram depois da inclusão de sua música “Through the Valley” no jogo Last Of Us Part II, no começo da pandemia, mas o Shawn James, cantor de blues/folk nativo de Chicago, Illinois têm estado na ativa desde 2012, impressionando tanto fãs quanto críticos ao redor do mundo com sua voz incrível. Aqui no Brasil, sua primeira apresentação veio em 2022, voltando em abril do ano passado, no Fabrique Clube. Agora, em outubro de 2024, o americano voltou para terras tupiniquins, trazendo 6 de 12 apresentações da perna latinoamericana de sua nova turnê, “Muerte Mi Amor Tour” para a nação verde-amarela, passando por São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Brasília, Belo Horizonte e pelo Rio de Janeiro. A “gira” começou em São Paulo, em uma sexta-feira, dia 11, no Carioca Clube. Veja como foi.

Perto das 19:00, horário de abertura das portas, já havia uma fila decente do lado de fora da casa, dobrando a Cardeal Arcoverde. Dentro da casa, pessoas corriam de um lado para o outro, tentando garantir um lugar perto do palco. Mais ou menos umas 19:40, a luz começou a pipocar, ficar meio instável. Em várias regiões da cidade, começou uma chuva forte, derrubando a energia de vários lugares. Quase uma hora depois, nada do Shawn no palco. Ele só foi subir às 20:45, mais de uma hora depois de acabar a luz.

Logo de cara, os fãs enlouqueceram, gritando e batendo palmas, mas assim que Shawn pegou no violão, dava para ouvir até um cílio cair no chão. Foi só o nativo de Chicago começar “Six Shells (The Outlaw’s Anthem)”, com sua voz poderosa ecoando pelo Carioca como fortes trovoadas que a galera acordou de novo. Inicialmente, até havia um coro singelo o acompanhando, mas acabaram deixando a cantoria só para James. O músico até tentou agradecer o público no final na música, mas não deu nem para ouvir o que ele tinha a dizer, por conta do volume absurdo dos gritos dos fãs.

“The Curse of the Fold”, por sua vez, foi cantada inteira a plenos pulmões, por uma massa de fãs que estava claramente maravilhada, estavam vidrados pelo Shawn. Esse apreço foi retribuído pelo cantor, que disse que “não há lugar melhor no mundo que São Paulo”, logo antes de iniciar “When the Stones Cried Out”, que também foi recebida de maneira tão calorosa quanto a sua antecessora. 

Shawn mostrou estar incrivelmente grato pelo apoio dos Brasileiros, apontando que o show que fez na capital paulista no ano passado, no Fabrique, havia sido o maior de sua carreira, então, com o show daquele domingo, São Paulo estaria quebrando seu próprio recorde. Ele falou que não tinha palavras para descrever o apoio que recebia do pessoal daqui, dizendo que genuinamente adora o país. Seria chover no molhado dizer que vindo dele, parecia ser algo verdadeiramente genuíno, diferente de muitos artistas. “The Thief and the Moon” e “Eating Like Kings” deram sequência ao show, cada uma ocasionando um mar de aplausos. A sintonia entre James e o Carioca Club, quase lotado, era espetacular, ele tocava com um sorriso no rosto, pulando pelo palco, e os fãs iam verdadeiramente à loucura. “Eating Like Kings” veio com a história comovente de sua origem: composta originalmente por Baker (Gravedancer), um dos melhores amigos de James, ela é o resultado emocionante de estar lutando no Afeganistão pelo exército americano.

Entre conversas com quem estava lá, destacou também “I Want More”, de seu mais novo álbum, “Honor and Vengance”, de novembro de 2023 e tocou “Pendulum Swing”, de “Deliverance” (2014). Era incrível que não importava a música, os fãs cantavam junto. Honrando o halloween, a chamada “spooky season”, foi executada “Burn the Witch”, que o cantor admitiu ser uma de suas favoritas. Mostrando seu carisma, soltou um “vamo, caralho!” e chamou alguém (que este que vos escreve não identificou) de arrombado. Troçando os xingamentos por elogios, introduziu sua banda de apoio e todo o time por trás dessa turnê, tour managers, técnicos de som e até sua mulher, que aparentemente estava encarregada de fazer sua segurança.

O bloco “plugado” de seu show foi encerrado com “Orpheus”, que abriu as portas para “Muerte Mi Amor”, faixa que dá nome à turnê e foi a primeira de 6 consecutivas a ser tocada de maneira acústica. “Muerte” foi prefaciada com um discurso um tanto deprimente, com Shawn falando que já havia terminado o último disco, quando começou a pensar sobre sua própria morte, criando a letra da música. No palco, havia só ele e o baixista, que havia assumido o violão, criando um clima um pouco mais intimista. O baixista saiu do palco, deixando só James, claramente surpreso com o apoio do público, falou que tocaria mais algumas músicas que não estavam no setlist. A primeira dela foi “That’s Life”, clássico do Frank Sinatra.

Para realmente enfartar seus fãs, Shawn tirou uma dobradinha absurda da manga, “The Guardian (Ellie’s Song)”, famosa por conta de sua inclusão na segunda parte do The Last of Us e um cover arrepiante do “The Number of the Beast”, hino absoluto do heavy metal. A energia naquele momento foi indescritível. Não há como fazer jus à o que foram aquelas duas músicas, especialmente escutar um clássico do metal na voz de Shawn James. Veja:


“Midnight Dove”, composta para sua irmã, que à época batalhava contra o câncer, foi seguida por “Through The Valley”, e desculpe meu palavreado, mas puta que pariu, caralho, porra, vai tomar no cu, que música bonita. Veja também. Não tem nem porque tentar descrever. Mantendo a energia lá no alto, os fãs gritavam “Shawn, eu te amo! Shawn, eu te amo!” e ele, segurando uma dose de cachaça, trazida pelo baixista, que voltava ao palco, virou como se não tivesse amanhã.


Continuando com a sequência de hits, Bill Withers foi homenageado com “Ain’t no Sunshine”, novamente linda, com uma energia indescritível. Shawn até estendendo a parte do “I know, I know, I know”, vendo o ânimo dos fãs. O violinista já estava pra lá de maluco, virando uma lata de cerveja, soltando o cabelo e batendo cabeça que nem louco. Estava um clima de festa mesmo, bem descontraído. Com a banda toda já no palco e seu bloco acústico para trás, tocou “Flow”, uma das favoritas dos fãs, julgando pelo número de celulares que foram ao ar para registrar o momento.

O Chris Cornell é um dos melhores vocalistas da história, ele tinha um timbre de voz único, uma intensidade ímpar, e nunca, ninguém vai chegar no nível dele, nem sequer superá-lo. Mesmo assim, (desculpe minha vulgaridade), puta merda, como esse Shawn James canta. “Like a Stone” coube na voz dele como uma luva. Ele tem um pouco da mesma intensidade e do drive natural do Cornell. Ouvir uma música tão clássica, em uma versão tão diferente ser cantada a plenos pulmões por mil fãs apaixonados não tem preço, é mais que especial. Sei que parece que estou com preguiça de escrever, mas nada faz jus à performance de Shawn James, veja só você:


Deixando um pouco do melhor para o “final” - como se o show inteiro já não estivesse um arregaço de bom - executou as enérgicas “The Wanderer” e “Blood From a Stoner”, ambas incrivelmente enérgicas, dava quase para abrir mosh. Transbordando carisma, pegou novamente a garrafa de cachaça e virou um pouco na goela de cada músico de apoio.

Para o Bis, o americano nem saiu do palco, só soltou o violão e pegou, pouco tempo depois. “Voltaram” com uma versão de “Bad Moon Rising”, do Creedence Clearwater Revival, ainda não lançada, que estão tocando só nessa turnê e 2 autorais, “Hellhound” e “Haunted” de “On the Shoulders of Giants” (2016) e “The Dark & The Light” (2019). “Hellhound” foi introduzida com uma pequena amostra das habilidades do baterista irlandês, acompanhado do violinista, já doidasso das ideias. James, incentivando o público a “enlouquecer” naquela sexta à noite, começou o riff, banhado em distorção, criando um peso até inesperado. Apesar de uma falta de cantoria, seria chover no molhado dizer que quem esteve lá se divertiu, batendo palmas, trocando “oooos” no refrão e até batendo cabeça.


Com uma lata de cerveja na mão e o público na outra, gritou “one more”! Levando a galera à loucura, “Haunted” foi a faixa que teoricamente fecharia a noite. Foi um frenesi generalizado, gente pulando, copos de cerveja indo ao ar e “o caralho a quatro” - a energia estava animal, justifica mais um último palavrão, vai. Agradecendo a presença e energia de todos, ao som de gritos de “mais um! mais um!”, anunciou “Hunger”, música originalmente do projeto dele com sua banda, Shawn James and the Shapeshifters. “Hunger” tem dois pés fincados no southern rock, com partes que quase beiram o punk. Foi certamente um ponto alto da noite e o melhor jeito de fechar o show, com a energia lá em cima. Acentuando ainda mais o espírito punk, o violinista nem esperou a música terminar para “meter o louco” e moshar do palco, recebido pelos braços do público.


Vou falar a verdade, não estava esperando que fosse um show incrível. Vi um monte de vídeos dele ao vivo, em estúdio, todo material Shawn Jamestico que tinha para consumir, eu consumi. Um dos comentários que eu mais vi nos vídeos do YouTube foi “his voice turned me gay” (a voz dele me fez virar gay), e mesmo com os comentários sendo 100% na zoeira, dá para entender tranquilamente. A potência que o Shawn James tem é algo para ser estudado pela NASA. A presença de palco dele nem se fala. O repertório, perfeito, sem erros. Quem não foi, perdeu um dos shows do ano, e olha que sou metaleiro chato.





Realização: Agência Powerline



Shawn James - setlist:

Six Shells (The Outlaw’s Anthem)

The Curse of the Fold

The Stones Cried Out

The Thief and the Moon

Eating Like Kings

I Want More

Pendulum Swing

Burn the Witch

Orpheus

Muerte Mi Amor*

That’s Life*

The Guardian (Ellie’s Song)*

The Number of the Beast*

Midnight Dove*

Through the Valley*

Ain’t No Sunshine

Flow

Like a Stone

The Wanderer

No Blood From a Stone

Bis

Bad Moon Rising

Hellhound

Haunted

Hunger

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