quarta-feira, 10 de março de 2010
Entrevista: A Sorrowful Dream e Uma Caminhada Pelo Gothic/Doom Metal
O Road to Metal tem o prazer de neste mês trazer uma entrevista exclusiva com uma das expoentes do Gothic/Doom Metal nacional: A Sorrowful Dream.
A banda, que surge em 1997 no interior do Rio Grande do Sul, construiu sua trajetória na capital gaúcha, alçando vôos com shows em várias cidades de vários estados do Brasil.
Ano passado a banda lançou seu primeiro álbum de estúdio, “Toward Nothingness” (2009). Este é o sexto trabalho da banda entre singles, Eps, e álbuns completos.
O grupo é formado por seis membros, mais o baterista convidado Mano. Fazem parte desse time Éder (vocal), Josie (vocal), Jô (guitarra), Lucas (guitarra/violino), Mari (teclados), Tuko (baixo).
Aqui você acompanha a banda falando de sua carreira, o novo lançamento, a cena do estilo no país, além dos planos futuros. Aproveitem! Stay on the Road
Road to Metal: Agradecemos à banda pela disponibilidade em conceder esta entrevista. Queremos apontar que o nosso pequeno trabalho é de buscar formas de fazer crescer o reconhecimento do cenário Metal underground brasileiro, principalmente.
Primeiramente, como e quando a banda surgiu. Qual o significado do nome da banda (quem sugeriu, o que lhes representa)?
A Sorrowful Dream: O nome foi inspirado pelo álbum “Into the depths of sorrow”, da banda Americana Solitude Aeturnus. O Éder, nosso atual vocalista, que também participou do início da banda, gostou do nome e da sonoridade da palavra “sorrow”. Então surgiu a idéia do ‘triste sonho’ traduzido na forma de A Sorrowful Dream que soou legal e todos gostaram. Além disso, há uma certa “moral” escondida por trás do nome, pois não se trata de um pesadelo...quando temos um sonho triste, acordamos com uma sensação muito peculiar, como a de que algo em nós foi descoberto, como se descobríssemos algo escondido, demônios adormecidos. No CD, a música “A Sorrowful Dream” se refere exatamente aos “segredos” contidos em nossa alma: as amarguras que não desaparecem, mas se escondem nos recônditos de nossa mente.
RtM: A banda tem um trajetória bastante significativa, sendo reconhecida entre os apreciadores de Gothic/Doom Metal. Como vocês caracterizam a banda desde seu primeiro lançamento, a demo de 1998 "The Echo of your Cry" até o recente álbum "Toward Nothingness" (2009)?
ASD: O que se pode dizer da banda em termos musicais é exatamente a conservação dessa vertente Gothic/Doom, sempre presente em nosso som desde sua criação até os dias de hoje. Mas a A Sorrowful Dream desde sempre também incorporou outros estilos e outras referências muito além, até mesmo, do próprio Metal. Por ser uma banda de muitos integrantes, cada qual com seus estilos e influências próprios, e por tantos músicos terem passado pela banda e inserido sua marca pessoal no seu devido tempo, a ASD apresenta uma diversidade dentro do próprio estilo ao qual ela nunca deixou de pertencer sem se prender aos estigmas que essas ramificações muitas vezes carregam.
RtM: Constantes foram as mudanças na formação da banda, sem esta, entretanto, abandonar a cena, tocando em outros estados brasileiros, inclusive. A que vocês devem isso?
ASD: Talvez por dois fatores importantes: o primeiro é o Lucas, nosso guitarrista e co-fundador da banda. É o nosso verdadeiro “guerreiro”, que sempre acompanhou a banda desde o início, nos tempos bons e nos tempos ruins. Se a A Sorrowful Dream está aí até hoje, é, sem dúvidas, porque ele sempre acreditou na banda e continuou com o sonho mesmo quando tínhamos todos os motivos para desacreditar. O segundo fator é nosso público, sempre fiel e apoiador. Somos imensamente gratos pelas pessoas que nos acompanham desde o início, nos apóiam, se interessam pelo nosso material e freqüentam nossos shows. Se não tivéssemos uma resposta assim tão grande, talvez não encontrássemos motivação para seguir em frente em alguns momentos.
RtM: Atualmente o line-up da banda conta com seis integrantes. Como é para os músicos da banda terem que dividir o espaço na banda entre os músicos, quando as demais bandas geralmente não passam de cinco integrantes?
ASD: Na verdade, ao todo somos sete, se contarmos com o baterista que já há algum tempo não é fixo na banda. Não encontramos qualquer problema em dividir o espaço, pois cada um tem uma função bem específica dentro da banda. Se temos sete músicos – e oito instrumentos, contando o violino – é porque nossa música abre espaço para todos os oito. E tudo flui da melhor maneira possível.
RtM: Entre as demo já lançadas ("The Echo of your Cry"; "Promo 2000" (2002); "A Garden of Stones" (2003); "In Your Dry Lips" (2004), qual vocês escolheriam como a que melhor representa o “espírito” do grupo?
ASD: Cada trabalho demo melhor representa o “espírito” da banda exatamente como ela era na época do lançamento de cada um desses materiais. Dizer que algum deles melhor representa ou se aproxima do que a banda é hoje é impossível, dadas as transformações que o grupo sofreu até chegar aqui. A atual formação só pode ser bem representada pelo que ela produziu em conjunto, e o ápice disso é o último lançamento da banda, o Toward Nothingness. Esse é o trabalho que resume nossos esforços e idéias, é ali que a banda, como ela é hoje, está representada.
RtM: Em relação às apresentações ao vivo, vocês seguem a linha desse estilo de Metal. Como vocês veem a reação do público em seus shows?
ASD: A reação do público sempre varia de show pra show, de local pra local. Se tocamos em um festival mais voltado pro doom, a reação tende a ser uma; se o festival é de um estilo mais extremo, a reação tende a ser outra. O importante é que aprendemos a lidar com reações diferentes e a deixar o show a fluir a partir disso, pois a relação banda-público é inerente ao ato de se tocar ao vivo, seja uma relação de respostas boas ou de respostas não tão boas assim. No fim das contas é o público quem dita nosso ritmo de show e nossa performance em palco; a gente também reage ao ânimo deles, num eterno esforço de fazer o melhor show possível.
RtM: Como é a agenda da banda em termos de shows? Quais as principais cidades em que a banda já se apresentou e qual cidade e/ou evento a banda deseja um dia tocar?
ASD: Nossa agenda é muito aquém do que a gente poderia desejar. Não é fácil encontrar organizadores dispostos a nos levar para muito longe, pois somos muitos e estamos bem no sul do país, o que gera custos altos. Além disso, a cena do Metal não é a mais privilegiada em estrutura e incentivos, principalmente financeiros, como no caso de patrocínios para shows e eventos. Ainda assim é possível listar shows muito marcantes que já fizemos país a fora em locais que, com certeza, gostaríamos de voltar a tocar, como Curitiba, Joinville, Campinas, Indaial, também já tocamos em Montevideo (Uruguai), e vários bons festivais pelo interior do RS, como em Taquara, Caxias do Sul, e até mesmo em Porto Alegre. Se dependesse de nós, tocaríamos em todo e qualquer lugar possível, dentro e fora do país. Por enquanto, estamos apenas correndo atrás de organizadores da região e de estados mais próximos para fecharmos algumas datas para o ano de 2010.
RtM: Vamos ao último trabalho do grupo. "Toward Nothingness" (2009) teve seu lançamento oficial dia 06/11/09 em Porto Alegre/RS. Como foi a festa, o show e a recepção das novas músicas?
ASD: As músicas não eram exatamente o que a gente poderia chamar de inéditas, sendo que algumas delas já vínhamos tocando com freqüência em alguns shows anteriores. As demais músicas o público também pôde ter conhecimento com a venda antecipada dos CDs, que já aconteciam cerca de duas semanas antes do show de lançamento. Então o show não surpreendeu de todo os espectadores que já sabiam mais ou menos o que ouviriam em palco. Acho que o ponto mais marcante para quem estava presente aquela noite foi que, além de prestigiar o show da banda ao vivo, nós nos dedicamos a fazer uma apresentação muito mais extensa do que é normal fazermos, resgatando músicas antigas da banda e até mesmo executando covers que o pessoal sempre pede ou que já tínhamos feito em outras ocasiões. Além de apresentar o material que gravamos recentemente, então, o pessoal pôde realmente matar a saudade dos velhos tempos ou, no caso de alguns, conhecer um pouco do que era feito nos primórdios da banda. Foi cansativo, mas muito gratificante ver a resposta do público até o final do show, que durou cerca de duas horas. Era algo que a gente devia ao nosso público pela paciência e apoio que sempre nos foi dispensado.
RtM: Vocês já possuem certa experiência em estúdio. Os fãs podem já ir pensando em algum trabalho ao vivo?
ASD: Não existe nada concreto, fora o nosso constante e real desejo de apresentar nossos trabalhos em perspectivas diferentes. Mesmo no show de lançamento de Toward Nothingness cogitamos fazer uma filmagem oficial e até mesmo capturar o áudio em canais separados, como uma experiência própria, mas também para analisar se seria possível lançar esse material assim. O problema é que a cena atual e a estrutura que a gente encontra pra tocar hoje, ainda mais como banda independente, impossibilita levarmos essas ideias a cabo da maneira mais satisfatória tanto pra nós como para o público. Mas sempre estudamos possibilidades de tornar isso tudo realidade. Pode ser que, em breve, alguma boa notícia nesse sentido surja.
RtM: Entre as 9 faixas que compõem o álbum, quais vocês podem assinalar como destaques do álbum?
ASD: Essa é uma pergunta cruel! Na realidade, para a banda, não existe uma ou duas músicas que se destaquem. Cada uma está no álbum da forma como a gente queria, porque a gente queria e no lugar que a gente queria, ou melhor, se as gravamos e optamos por colocá-las nesse álbum, é porque elas fazem sentido ali. É um trabalho que mostra exatamente o que somos e o que fomos até agora, ela resume o que as formações anteriores vinham sendo ao mesmo tempo que apresenta exatamente o que nós somos agora. Dizer que uma ou outra faixa tem mais destaque é ignorar todo o contexto que envolve a obra toda. Cada uma das faixas tem sua importância específica para nós, por todo o processo que envolve a composição e a gravação de cada uma delas.
RtM: Em relação às composições das músicas e letras, em geral, quem se envolve no processo diretamente? Quais as temáticas que circulam as letras da banda?
ASD: Todos se envolvem no processo de composição das músicas, que ocorre em estúdio ou em reuniões “extraordinárias”. Geralmente é o Lucas quem traz as ideias e linhas de instrumentos iniciais, e todos complementam com seus respectivos instrumentos e opinam até chegarmos num consenso de que a música agrada a todos. As letras sempre ficam a cargo de ambos os vocais. O curioso em Toward Nothingness é que ele trouxe músicas que já vinham de outras formações da banda, então nem só o Éder e a Josie compuseram suas partes nas músicas, mas também existe material da Vari e do Clark ali, por exemplo. No geral abordamos temas humanistas e existencialistas, mas não nos prendemos a temas específicos. Por força daquilo que sentimos que a música pode dizer e transmitir é que compomos nossas letras. Tratamos de crenças, medos, dúvidas e angústias próprios da condição humana, e também abordamos forças da natureza, simbologias e mitologia. Tudo o que nos parecer propício retratar em nossas músicas.
RtM: Para quem quiser adquirir o novo álbum e não mora na capital gaúcha, qual o procedimento?
ASD: Por enquanto é só mandar um email para o endereço que disponibilizamos no site e fazer a encomenda. O valor fica o mesmo, acrescido de custos postais.
RtM: Por falar em interior do estado, a banda tem se apresentado fora da grande Porto Alegre? Qual a previsão de shows de divulgação do novo álbum para o noroeste e norte do estado do Rio Grande do Sul?
ASD: Ainda não temos datas acertadas, mas pretendemos fechar alguns shows para divulgação do CD por todo o estado, o quanto for possível. Infelizmente já faz um bom tempo que não saímos da região metropolitana – o último show no interior do estado foi em Dezembro de 2008, em Santa Maria.
RtM: Desejamos sucesso à banda com esse novo trabalho sensacional. Gostariam de deixar alguma mensagem àqueles que acompanham o blog Road to Metal?
ASD: Gostaríamos de agradecer pelo espaço e pelo interesse. Além disso, queremos deixar o recado de que o sonho jamais acabará. Apesar do tortuoso caminho, temos a certeza de que continuaremos nessa luta, pois muito além de acreditarmos em nosso trabalho, percebemos que há um público que também acredita, e isso nos fortalece e nos faz crer ainda mais no que fazemos. Muito obrigado!
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Um comentário:
Muito interessante a entrevista. Pena não termos mais oportunidades para acompanhar os shows dessa ótima banda. Conheci no River Rock, em Indaial, SC e não vejo a hora de poder prestigiá-los de novo!
=D
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