Apesar do baixo público, Rio teve noite de puro Metal |
Com os portões do Odisséia abrindo depois do previsto, as poucas pessoas que ali se encontravam se preparavam para ver a primeira das três bandas de abertura da noite: a Tamuya Thrash Tribe. Apesar do nome, a banda liricamente influenciada por cultura indígena tem um gênero musical indefinido, e talvez classificá-la apenas como “metal extremo” seja o mais eficiente, uma vez que os riffs, melodias e solos têm diferentes variações de velocidade, agressividade e clima, caracterizando um som puxado para o Thrash/Death, mas com muitas características de Black, Groove e Doom Metal.
Tamuya Thrash Tribe iniciou as apresentações da noite com muito peso |
Muito pesada, o som da banda foi tirado não apenas dos dois álbuns gravados da banda, mas também de inéditas que se farão presentes em um trabalho futuro. Começando com “Last Ball”, o curto setlist se estendeu com a melódica “Agonising and Insufferable”. “Aqui, deus do trovão não é Thor, é Tupã!”, anunciava-se, pouco antes da intro da música homônima à banda. Embora a bela “Immortal King” não tenha se feito presente, a banda impressionou o público, que lentamente crescia, terminando com a música “Zumbi”.
Forkill apresentou seu excelente disco "Breathing Hate" |
O público crescia, mas de forma dolorosamente lenta, e ainda era um público tímido e pouco animado. Mesmo assim, subia no palco a Forkill, apresentando seu excelente disco “Breathing Hate” (2013). A banda trazia um Thrash muito rápido e pesado, e, ainda tendo uma pegada brasileira moderna em seu som, a banda faz um som com claras influências do Thrash americano dos anos oitenta... aquele que na época nem sequer era considerado Thrash, por ser demasiado rápido e denso. A agressividade musical se evidenciou quando a banda chamou um amigo ao palco para assumir os vocais de um excelente clássico: “Seasons in the Abyss”! Ainda que a escolha pareça um pouco incomum, a banda executou perfeitamente uma das maiores pirações de Jeff Hanneman e Tom Araya (Slayer), com o som seguinte, ainda, tendo sido precedido pela intro de “Raining Blood”.
Still Alive contrastou com as demais bandas, apresentando Heavy Metal com melodia |
Contrastando com as bandas extremas que precediam, subia então no palco a grandiosa do Power Metal carioca Still Alive. Apesar do contraste supracitado, a banda trazia vocais muito limpos, mais próximos aos da banda principal. Abusando de teclados e solos extra-melódicos, a banda trazia também influências diretas do Heavy tradicional, algo muito Maiden, principalmente nos vocais e contrabaixo, em uma excelente interpretação das músicas de seu disco, “Kyo”.
Primeira passagem da banda canadense em solo brasileiro |
Cerca de meia-hora depois do previsto, o Cauldron entrou em cena, agora com um público maior – mas definitivamente decepcionante, tendo em vista a grandiosidade do show, com cara de mini-festival. Mas os canadenses ainda foram energéticos e furiosos, começando com a perfeita introdução que precedia a faixa-título do último disco, o ótimo “Tomorrow’s Lost”! Apesar de seu som marcar, para muitos, uma forma moderna do Heavy Metal tradicional, a velocidade de seus riffs era tão grande quanto à de muitas bandas de Speed Metal, com impressionantes solos que perfaziam boa parte da música como a música seguinte, ainda do “Tomorrow’s Lost”, “Burning Fortune”, uma faixa curta, mas com uma grandiosa intensidade. Mas se ainda havia pessoas que não estivessem batendo cabeça, a maior pedrada do último álbum estaria vindo: “Nitebreaker”, totalmente com cara de Metal tradicional, com seus riffs grudentos e solos melódicos e extensivos, fez todos os presentes descobrirem o porquê do Cauldron ser uma banda aclamada.
Apesar de um setlist que deixou de fora algumas ótimas composições, Cauldron tocou seus clássicos |
Para descansar um pouco, a banda trouxe uma música muito mais lenta, com uma pegada quase Doom, do disco anterior, “Burning Fortune”: “Queen of Fire”. Foi um testamento para as habilidades na guitarra de Ian Chains. Já as habilidades na bateria de Myles Deck seriam provadas na faixa seguinte, a deveras veloz “Rapid City”. A faixa seguinte, voltando ao “Burning Fortune”, seria talvez a faixa que mais traz o aspecto de Metal tradicional à banda da noite: “Miss You to Death”, um petardo em velocidade moderada com vários riffs, um ritmo feito principalmente com o contrabaixo de Jason Decay, que canta aqui com uma voz mais grave que antes, às vezes deixando os backing vocals quase desnecessários.
O que viria a seguir traria uma surpresa para os que não acompanham o repertório da banda: um cover da clássica “Digital Bitch”, do Black Sabbath, mais precisamente do disco com Ian Gillan, “Born Again”! Não é a toa que seja uma das faixas mais bem faladas do disco em questão, pois é completamente Heavy Metal, e combina com o som veloz e limpo do Cauldron – ainda que os riffs sejam incrivelmente densos combinados com a distorção de forma que só Tony Iommi sabe compor. E para continuar com um clima rápido e intenso, a música emendada fora nada menos que “All or Nothing”, um já clássico da banda, cheia de solos rapidíssimos, questionando aspectos da vida que a todos irritam, e tendo, de longe, o refrão mais grudento da história da banda.
A última faixa a ser tocada do “Tomorrow’s Lost” no show talvez fosse ser um pouco morna, já que não é uma das mais populares, mas “Fight For Day”, além de ser a faixa mais bem balanceada entre contrabaixo e guitarra do disco, trazia riffs excelentes que praticamente pediam abuso dos pratos por parte do baterista, o que até suavizava o grito no final, que logo antecedeu um som muito menos limpo: a clássica titular de um antigo EP, “Into the Cauldron”, usando riffs mais diretos e vocais rasgados, baseada em graves tons da bateria. Apesar dos solos menos técnicos e maduros, era definitivamente o melhor som da banda para preceder o cover que viria a seguinte, de uma das bandas que mais influenciavam a banda desde o início: a super clássica do Venom: “Die Hard”!
O Venom nunca foi uma banda técnica, fazendo com que seu som ao vivo sempre parecesse diferente a cada concerto, algo aberto a interpretações até mesmo de bandas de estilos diferentes, como o Cauldron. Com os mesmos vocais rasgados e distorções sujas de “Into the Cauldron”, a música foi claramente um dos picos do show, e mostrava que a banda não se limitava a influências menos pesadas. Muito embora a música que fecharia o show fosse diferente, tinha um clima muito pesado: “Chained Up in Chains” tem um ritmo comercial no refrão, mas ao vivo, a música passa de atmosférica a monstruosamente densa e pesada, uma das pérolas da noite. Com partes soladas que deixavam o ritmo pesado a trabalho do baixo e bateria, a relativamente depressiva mudança de temporização entre os riffs, uma música tão sentimental parece um grande mix de estilos. Por ser a última faixa de um setlist curto, deixou-se o público querendo mais, e isso se enfatizava pelo fato de que outros clássicos absolutos do “Chained to the Nite” não entraram pro repertório... e não apenas “Dreams Die Young” e a popular “Conjure the Mass” ficaram de fora, como “Taken By Desire” e a visceral “Frozen in Fire”, ambas do rancoroso “Burning Fortune”, também não tiveram seu lugar na noite.
O público mais do que diminuto talvez não tenha sido um tributo merecido à memorável noite, ainda mais considerando que parte dele estava com uma fria atuação diante de uma calorosa performance de um dos atos que melhor demonstram o reavivamento do Metal tradicional em tempos modernos.
Texto/fotos: Lucas Cottica
Edição/revisão: Eduardo Cadore
Nossos agradecimentos à pessoa da Miky Ruta (Fame Entreprises) pelo credenciamento do nosso redator e total profissionalismo. Agradecemos a confiança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário