sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Hangar: É Preciso Ser Mais Forte do Que Nunca

 
Prestes a completar duas décadas de carreira, o Hangar lançou no mercado dois trabalhos de extrema qualidade, o novo álbum de inéditas "Stronger Than Ever" e seu primeiro DVD "elétrico", "Live In Brusque", um investimento elevado e ousado, tendo esses trabalhos, provavelmente, a melhor produção até hoje na história da banda, além de "STE" conter também algumas das composições mais fortes e complexas do grupo.

Ser músico já é uma tarefa que exige muita dedicação, coragem e determinação, músico em uma banda de Metal então, é preciso praticamente dobrar todos esses adjetivos, pois nada vem fácil para quem está nesse meio, com os investimentos geralmente não retornando a curto prazo. A banda partiu para divulgação e distribuição dos trabalhos,  sendo que "Stroger than Ever" foi lançado também na Europa e Japão, porém os resultados ainda não foram os esperados, e também a esperada tour para divulgação não aconteceu. Conversamos com Aquiles Priester, baterista e um dos fundadores do Hangar, para nos falar um pouco mais desses trabalhos e também sobre os resultados alcançados até agora, onde ele demonstrou certa frustração. Confira a seguir:



RtM: Olá Aquiles, aqui é o Caco Garcia, sempre um prazer falar com o amigo, e muito feliz com esses lançamentos da banda, e acredito que você também esteja muito satisfeito com a qualidade do material. 


Para começar, gostaria que você falasse sobre essa nova fase, que, tirando o retiro do Martinez, vem mantendo a mesma formação e tendo aí três trabalhos, contando com o “Best Of”, que trouxe, além de muitas músicas importantes na história do Hangar, algumas inéditas e também regravações  com o Pedro nos vocais. Você sente que agora a banda possa ter encontrado uma estabilidade novamente, e que isso será muito positivo?
Aquiles Priester – Não tenho a menor ideia. O fato da gente não estar tocando muito nos preserva muito dos desgastes de um relacionamento diário, como era antigamente. Não tem ninguém fazendo shows no Brasil e nós não temos a menor ideia de como isso vai terminar. Lançamos um disco e um DVD onde o investimento foi altíssimo e até agora só fizemos um show, o de gravação do DVD.


RtM: Uma coisa que você sempre comentava, é que, depois do Mike, os vocalistas que passaram pela banda contribuíam pouco em termos de composições, e agora com o Pedro, as coisas têm funcionado da maneira que vocês buscavam? E a gente sempre brincava que havia a “Maldição do Mike”, que nenhum vocalista conseguia durar mais de um álbum. He He. Uma brincadeira claro, o Mike sempre seguiu apoiando e ajudando a banda. 
AP – O espaço para composição sempre está aberto para quem quer participar. Se a ideia é boa e se encaixa na composição ela fica. Os direitos autorais são divididos em partes iguais para todos que participam da composição.

"Não temos a menor ideia de como isso vai terminar. Lançamos um disco e um DVD onde o investimento foi altíssimo e até agora só fizemos um show, o de gravação do DVD."

RtM: Falando sobre o DVD “Live in Brusque”, como que foi que surgiu essa oportunidade, que viabilizou finalmente o tão esperado DVD “plugado”? Vejo também que vocês, que sempre primaram pela qualidade, esperaram a oportunidade com paciência,  para que tivessem condições que permitissem lançar um produto de alto nível. Teve outros fatores mais que tenham impedido desse DVD ter saído antes? Pessoalmente, eu acho que esse DVD veio em um excelente momento, vocês tendo um grande álbum  como “Stronger Than Ever” recém lançado.
AP – Precisávamos de uma estrutura como a que nos foi oferecida pela Secretaria de Cultura de Brusque para nos motivarmos. Na verdade a gente achava que o CD e o DVD lançados num espaço curto de tempo iria nos dar maior exposição e com isso viriam as possibilidades de mais shows e consequentemente uma tour propriamente dita, mas não aconteceu isso.


RtM: O DVD foi lançado oficialmente esta semana na Expo Music. Conte um pouco como foram as primeiras reações do pessoal que pode conferir o trabalho, e como você está sentindo a repercussão nestes primeiros dias. 
AP – As vendas foram muito boas para um lançamento dentro do nosso estilo na atual situação financeira do Brasil. As pessoas estão comentando sobre a qualidade do DVD e principalmente sobre a boa escolha do repertório. Infelizmente na hora do show tivemos que cortar as músicas, "Dreaming of Black Waves", "Let me Know Who I Am" e "Some Light to Find my Way", pois a polícia já estava na área e o show atrasou 20 minutos para começar por problemas técnicos e isso custou a execução dessas três músicas para a banda. Com elas, o repertório ficaria ainda mais completo e perfeito.


RtM: O álbum “Stronger Than Ever” sairá também em alguns países da Europa e no Japão. E para o DVD? Você já tem algum contato a respeito? E como está a repercussão lá fora? Você está vendo chances concretas da banda tocar em algum desses países também?
AP – Se no Brasil está difícil, imagina fora do País onde a banda não é conhecida? Nada de concreto no momento.
 


RtM: E o processo todo para a gravação do DVD, a questão dos ensaios principalmente, pois vocês estavam com um CD recém  lançado, e tocaram várias músicas dele no Show. Como foi a “correria” pra que tudo saísse dentro do que vocês esperavam?
AP – Ensaiamos o suficiente para nos sentirmos confiantes para tocar as músicas no show. O resultado era exatamente o que a gente imaginava! Estamos felizes e mesmo que esse seja o último lançamento na história da banda, estamos muito orgulhosos com o resultado.


RtM: Agora falando sobre “Stronger Than Ever”, “A Letter From 1997 (MHJ)” é uma das minhas preferidas, e a que me chamou mais atenção desde a primeira audição do CD. Gostaria que você nos falasse mais a respeito da letra dela, e essa relação da data “1997”, que é o ano de formação da banda. Ah, e claro, o que significa “MHJ”? Todo mundo dever ter dado seus “chutes” He He.
AP – Foi uma das primeiras melodias de voz que eu compus para esse disco. Apesar de no início alguns integrantes da banda não entenderem onde a música iria chegar, eu já sabia e segui firme com a ideia. No final todos gostaram do resultado final e aconteceu a mesma coisa com a Just Like Heaven. Retirei a letra de um cartão que eu tinha recebido em 1997, e as iniciais MHJ ninguém deve saber mesmo...(risos)


RtM: Uma coisa que pude notar de diferença com relação aos demais álbuns do Hangar, é que em “Stroger Than Ever” todos os instrumentos e arranjos parecem estar mais definidos e mais claros. Acredito que Jesse Vainio realmente entendeu a sonoridade da banda, e soube trabalhar para que toda a capacidade instrumental, e também a pegada da banda fossem transmitidas ao ouvinte da forma mais fiel e clara possível. O que você me diz a respeito?
AP – Você já disse tudo! Quem for num show da banda vai ouvir todos os arranjos que temos no disco! O Jesse Vainio conseguiu dar para o Brasil a melhor mixagem da história de uma banda brasileira. As pessoas podem não gostar da banda ou das músicas do disco, mas a mixagem e masterização estão soberbas!

"O Jesse Vainio conseguiu dar para o Brasil a melhor mixagem da história de uma banda brasileira."
RtM: Dentre tantas faixas com muito peso, passagens complexas, temos a balada “Just Like Heaven”, que a exemplo de “Haunted by Your Ghosts”, traz essa levada mais Hard. Acredito que como um grande fã de Journey, músicas assim sempre devem pipocar na sua mente, e também servem para dar uma variedade bem legal ao repertório, e já é algo que está se tornando característico da banda.
AP – A "Just Like Heaven" também apareceu de uma melodia de voz minha e na hora que mostrei para o Mello e para o Cristiano e o Cristiano veio com a ideia para a parte C e na hora que eu cantava melodia e ele encaixou a nova parte, eu já saí cantando a nova melodia em cima e a música ficou pronta. A versão da demo é bem rude em comparação com a final, mas eu já tinha todos aqueles arranjos na minha cabeça. Posso dizer sem medo nenhum que é a música mais incrível que eu já participei trazendo as ideias embrionárias da composição.


RtM: Outra coisa bem legal, e que pudemos ter uma “pista” nas músicas inéditas do “Best Of”, foi a adição de mais peso ainda nas músicas, além de trechos mais progressivos, valorizando bastante o trabalho do Fábio. Então gostaria que você comentasse sobre essa nova fase, novos elementos na sonoridade, que inclusive, conforme o Nando e Cristiano me afirmaram em entrevista que fiz com eles “O novo CD vai surpreender todo mundo!”, e realmente, tivemos um Hangar revigorado e trazendo surpresas..aliás, algo que já meio que esperamos a cada lançamento. E não decepcionaram novamente...superaram expectativas.
AP – Essa é sempre a nossa ideia. Fazer algo que não tínhamos feito ainda. Como sempre gostamos de compor com todos na sala, essas partes mais progressivas foram aparecendo a gente foi gostando de dando mais espaço para elas. Com certeza o "Stronger than Ever" é nosso disco mais bem composto e mais completo em termos de resultado final.


RtM: Uma questão que vi que você comentou na mídia especializada, é que parece que muitos tem medo de dar o devido valor a um trabalho de banda nacional, e muitas vezes vemos trabalhos medianos de bandas do exterior que possuem um selo de maior porte por trás, uma divulgação maior, recebendo mais atenção e melhores notas. Gostaria que você comentasse mais a respeito, e se isso, uma quase “síndrome de vira-lata” por parte de imprensa e de artistas, é um dos fatores que impedem a nossa cena nacional de ter maior repercussão e retorno?
AP – Se o "Stronger than Ever" fosse de uma banda internacional, com certeza o resultado seria outro. Mas a gente não vai ficar só reclamando da cena que não existe. Estamos fazendo a nossa parte, mas se a gente não conseguir ver que existe mercado num futuro próximo, é muito pouco provável que a gente lance qualquer coisa nova. Esse será o legado da banda.

"Se o Stronger than Ever fosse de uma banda internacional, com certeza o resultado seria outro. Mas a gente não vai ficar só reclamando da cena que não existe. Estamos fazendo a nossa parte..."

RtM: Aproveitando toda essa bagagem que você reuniu tocando com diversos músicos e bandas, em vários cantos do mundo, como você vê o mercado para o Metal hoje, principalmente aqui no Brasil, e o que seriam para você características imprescindíveis para ter um destaque no cenário e uma longevidade?
AP – Não existe mais esse cenário no Brasil. Eu consigo manter uma boa agenda de workshops o ano todo, mas shows não estão acontecendo, pois a crise afetou tudo e todo mundo corta em primeiro lugar o entretenimento. Nós estamos sofrendo por ter lançado um CD de um DVD e agora não conseguimos aproveitar a novidade desse material e poder tocar ao vivo.



RtM: Você também está lançando o segundo trabalho ao lado do Gustavo Carmo, depois do CD em 2014, agora este DVD “Our Lives, 15 Years Later… Live in Studio!”, que possui também a mixagem do Jesse Vainio e masterização do Svante Forsback, além disso, a Foggy Films, sendo que os dois trabalharam com o Hangar no CD e DVD, respectivamente. Gostaria que você falasse um pouco sobre esse lançamento, e sobre essas parcerias com Jesse e a Foggy, que parecem ter dado muita liga! 
AP – Já conheço o Juninho por estarmos trabalhando na Noturnall juntos e a galera toda da Foggy Filmes tem um astral muito bom e querem sempre fazer o melhor. O Jesse tem uma mão incrível. Ele que chegou no som do CD "Stronger Than Ever" e os 8 dias que passei com ele finalizando a mix na Finlândia foram incríveis. Ele é extremamente dedicado e detalhista. Nenhum arranjo passa despercebido para ele. Em termos de sonoridade estamos muito bem servidos! Dificilmente vai aparecer um disco melhor em termos de sonoridade que o "Stronger than Ever.




RtM: Obrigado mais uma vez pela atenção de sempre, parabéns pelos lançamentos, todos de alto nível, e esperamos receber os amigos do Hangar por aqui novamente em breve! Grande abraço, e fica o espaço para sua mensagem final aos fãs.
AP – Obrigado Caco e espero rever todos vocês em breve. Muita gente fala para a banda Hangar ir tocar aqui e lá na cidade deles e ainda perguntam: Por que vocês nunca vem tocar aqui na minha cidade? A resposta é muito simples, porque ninguém nunca nos levou. Se você quer ajudar a cena, junte dez pessoas que gostam de Heavy Metal e sua cidade, crie uma cooperativa do Metal e leve as bandas... É muito mais simples que vocês imaginam.

(Nota do Redator: Com certeza, é uma boa ideia uma cooperativa. Aqui na nossa região, eu, Caco Garcia, junto com o Mauriel Ourique, conseguimos alguma ajuda como a cedência sem custos da estrutura da AABB local, ajuda com alimentação, e buscamos patrocínios, cerca de 20 apoiadores, assim pudemos solicitar valores menores, não pesando para ninguém, e dando para as empresas o espaço de divulgação, e também com apoio de amigos como o Eduardo Cadore e Álvaro Adam, trouxemos a banda toda para um workshop aqui na região, em São Luiz Gonzaga, em um evento, na palavra de membros da banda, dos mais organizados que o Hangar participou. Seguindo esse modelo, os fãs podem se unir, buscar patrocínios e apoio em estrutura, formando um tipo de cooperativa e podendo realizar eventos em sua cidade ou região.

A também a banda tocou duas vezes em Ijuí, depois em São Borja, além de vários Workshops aqui pela região, com Aquiles, com o Mello e Martinez e também Mike Polchowicz - alguns organizados pelo Álvaro e com nosso apoio - , então, não é tão difícil, é acreditar e arregaçar as mangas, mas pena mesmo que nos últimos anos isso diminuiu, e vejo somente pequenos festivais e eventos underground seguem acontecendo todo mês, lutando contra a maré.)

Entrevista: Carlos "Caco" Garcia
Agradecimentos especiais: TRM Press


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