quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Sepultura: Vivendo o Presente, Pressentindo o Futuro


É certo que o Heavy Metal aqui no Brasil iniciou ali no comecinho na década de 80, com bandas cantando em português, guerreiros que não desistiam dos seus sonhos mostrando forças com os parcos recursos da época. Tivemos o Stress, lançando o primeiro registro fonográfico do gênero em território nacional, longe do eixo Rio-São Paulo, engatinhando no Rio de Janeiro, com Dorsal e Metalmorphose,e em SP com os fundamentais "SP Metal I e II",  mas foi em Belo Horizonte que surgiu o nome que levou o Metal brasileiro a outro nível, o Sepultura, conquistando o mundo com o seu som calcado no Thrash/DeathMetal, sem medo de inovar na sequência, incorporando ritmos brasileiros, e apesar das mudanças de line-up, continua sendo relevante e influenciando muitas bandas tanto aqui no Brasil quanto lá fora, carregando 30 anos de êxito. E sem olhar pra trás, ao contrário de um nicho de fãs que relega a fase pós-Max, a banda chega ao 14º disco, “Machine Messiah”.

Desde o “Kairos” (2011), a banda vem seguindo a proposta de deixar o som mais rápido e atilado, mas sem possuir amarras e explorando coisas novas, procurando inovar e se mantendo atual, seguindo em frente e procurando não cair no "auto-plágio", fugindo do saturado e entediante. Aqui em “Machine Messiah”, podemos sentir a vitalidade que o quarteto emite nos shows, deslocando essa química do palco pro estúdio de maneira fácil, abrasiva e orgânica, guiada sempre pelos riffs ríspidos do líder Andreas Kisser (inconfundíveis, por sinal), combinado pelos vocais azedos do Derrick Green, a simplicidade do Paulo Jr. no baixo e da severidade de Eloy Casagrande, que imprimiu no som da banda seu jeito de tocar desde que assumiu as baquetas.



A produção e gravação do disco, pela primeira vez na história, foram realizadas na Europa, depois de vários percursos entre Brasil e Estados Unidos. E a banda convocou o produtor mais conceituado do velho continente para cuidar de toda parte sonora do álbum, o nada menos que Jens Bogren (Kreator, Opeth, Paradise Lost, Soilwork, Angra),  deixando a mixagem e a masterização irretocáveis, mais uma vez não deixou a desejar com seu profissionalismo, sabendo extrair da banda aquela fúria ao vivo, e com extremo cuidado nos detalhes. E uma grande novidade, é o uso de orquestrações, bem utilizadas para dar o clima nos momentos precisos. A capa, que lembra um pouco a do disco “Arise” exemplifica o conceito entre a robotização na humanidade.

Divisões e queixas de fãs que preferem a fase com os irmãos Cavalera sempre vão existir, até quer haja uma reunião, mas hoje não tem o porque ou motivos do Sepultura reunir a formação clássica para uma turnê, sendo que o momento atual, de ambos os lados (Irmãos Cavalera/Sepultura), são bons. E “Machine Messiah” não renuncia o jeito de ser do Sepultura, que mantem-se atual, sem renegar raízes, e sem se preocupar com que os “haters” pensam, seguindo sua ideologia naturalmente e sem angústia com tempos passados.

A faixa-título, “MachineMessiah”, entabula o disco com melodias harmoniosas e sublimes, incrementada pelos vocais limpos do Derrick, crescendo instantaneamente com riffs pesados e refrãos interativos; a conhecida “I Am The Enemy” é coagida pela atmosfera Thrash Metal. Uma verdadeira paulada, que surpreende com os solos técnicos do Andreas e da exuberância e agilidade do Eloy em seu kit de bateria; “Phantom Self”, que há pouco tempo ganhou clip, dosa ritmos brasileiros de primeiro momento, progredido pelos grooves de guitarra e adição de orquestrações, uma novidade no trabalho da banda, deixando o ambiente amedrontador; “Alethea” mostra diversificação técnica e dinâmica, transbordando mudanças de tempo e nuance diferentes, com riffs que ora são rápidos, ora cadenciados. A experimentação da banda aparece em “Iceberg Dances”, instrumental rico e heterogêneo, transitando melodias de música latina e batidas de samba, tendo um hammond como surpresa.



Chegando à metade do disco, “Sworn Oath” esbraveja peso descomunal, pincelada novamente por belas orquestrações e riffs impetuosos, assim como a “Resistant Paradise”, que percorre praticamente a mesma leiva com quebras de ritmos e riffs que te jogam contra a parede, frisando o timbre cavalar de baixo do Paulo no inicio; “Silent Violence” nos remete com aquele Thrash Metal clássico da BayArea, estampado por palhetadas abafadas. E novamente o Derrick entra em flagrante variando o seu vocal, adicionando vozes mais limpas no meio da porradaria; “VandalsNest” é uma daquelas que vai cair bem ao vivo, perfeita pra quebrar o pescoço e sentir o clima do ‘moshpit’, havendo forte influência de Mastodon no refrão; “Cyber God” encerra o disco de forma mais atenuante, havendo mais uma vez a variação vocal do Derrick entre o mais limpo e o rasgado, mas que não deixa a intensidade do instrumental de lado.

Este disco merece ser ouvido com atenção pra entender todo o conceito, não espere um novo clássico, dê uma chance, valendo a repetir a audição várias vezes e mergulhar na onda sonora desta banda que segue levando o Brasil ao mundo com orgulho!

Texto: Gabriel Arruda
Edição/Revisão: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação

Ficha Técnica
Banda: Sepultura
Álbum: MachineMessiah
Ano: 2017
Estilo: Thrash Metal
Gravadora: Nuclear Blast/Sony Music

Banda
Derrick Green (Vocal)
Andreas Kisser (Guitarra)
Paulo Jr. (Baixo)
Eloy Casagrande (Bateria)

Track-List
01. MachineMessiah
03. Phantom Self
04. Alethea
05. Iceberg Dances
06. SwornOath
07. Resistant Parasites
08. SilentViolence
09. VandalsNest
10. Cyber God



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