É certo que o Heavy Metal aqui no Brasil iniciou ali no comecinho na década de 80, com bandas cantando em português, guerreiros que não desistiam dos seus sonhos mostrando forças com os parcos recursos da época. Tivemos o Stress, lançando o primeiro registro fonográfico do gênero em território nacional, longe do eixo Rio-São Paulo, engatinhando no Rio de Janeiro, com Dorsal e Metalmorphose,e em SP com os fundamentais "SP Metal I e II", mas foi em Belo Horizonte que surgiu o nome que levou o Metal brasileiro a outro nível, o Sepultura, conquistando o mundo com o seu som calcado no Thrash/DeathMetal, sem medo de inovar na sequência, incorporando ritmos brasileiros, e apesar das mudanças de line-up, continua sendo relevante e influenciando muitas bandas tanto aqui no Brasil quanto lá fora, carregando 30 anos de êxito. E sem olhar pra trás, ao contrário de um nicho de fãs que relega a fase pós-Max, a banda chega ao 14º disco, “Machine Messiah”.
Desde o “Kairos” (2011), a banda vem seguindo a proposta
de deixar o som mais rápido e atilado, mas sem possuir amarras e explorando
coisas novas, procurando inovar e se mantendo atual, seguindo em frente e procurando não cair no "auto-plágio", fugindo do saturado e entediante. Aqui em “Machine Messiah”, podemos sentir a vitalidade que o quarteto emite nos shows, deslocando essa química do palco pro estúdio de maneira fácil, abrasiva e orgânica, guiada sempre
pelos riffs ríspidos do líder Andreas Kisser (inconfundíveis, por sinal),
combinado pelos vocais azedos do Derrick Green, a simplicidade do Paulo Jr. no
baixo e da severidade de Eloy Casagrande, que imprimiu no som da banda seu jeito de tocar
desde que assumiu as baquetas.
A produção e gravação do disco, pela primeira vez na
história, foram realizadas na Europa, depois de vários percursos entre Brasil e
Estados Unidos. E a banda convocou o produtor mais conceituado do velho
continente para cuidar de toda parte sonora do álbum, o nada menos que Jens Bogren
(Kreator, Opeth, Paradise Lost, Soilwork, Angra), deixando a mixagem e a masterização irretocáveis, mais uma vez não deixou a desejar com seu
profissionalismo, sabendo extrair da banda aquela fúria ao vivo, e com extremo cuidado nos detalhes. E uma grande novidade, é o uso de orquestrações, bem utilizadas para dar o clima nos momentos precisos. A capa, que lembra um pouco a do disco
“Arise” exemplifica o conceito entre a robotização na humanidade.
Divisões e queixas de fãs que preferem a fase com os
irmãos Cavalera sempre vão existir, até quer haja uma reunião, mas hoje não tem o porque ou motivos do Sepultura reunir a formação clássica para
uma turnê, sendo que o momento atual, de ambos os lados (Irmãos Cavalera/Sepultura), são bons. E
“Machine Messiah” não renuncia o jeito de ser do Sepultura, que mantem-se atual, sem renegar raízes, e sem se preocupar com que os “haters” pensam, seguindo sua ideologia
naturalmente e sem angústia com tempos passados.
A faixa-título, “MachineMessiah”, entabula o disco com
melodias harmoniosas e sublimes, incrementada pelos vocais limpos do Derrick,
crescendo instantaneamente com riffs pesados e refrãos interativos; a conhecida
“I Am The Enemy” é coagida pela atmosfera Thrash Metal. Uma verdadeira paulada,
que surpreende com os solos técnicos do Andreas e da exuberância e agilidade do
Eloy em seu kit de bateria; “Phantom Self”, que há pouco tempo ganhou clip,
dosa ritmos brasileiros de primeiro momento, progredido pelos grooves de
guitarra e adição de orquestrações, uma novidade no trabalho da banda, deixando o ambiente amedrontador; “Alethea” mostra diversificação técnica e dinâmica, transbordando mudanças
de tempo e nuance diferentes, com riffs que ora são rápidos, ora cadenciados. A
experimentação da banda aparece em “Iceberg Dances”, instrumental rico e
heterogêneo, transitando melodias de música latina e batidas de samba, tendo um
hammond como surpresa.
Chegando à metade do disco, “Sworn Oath” esbraveja peso descomunal, pincelada novamente por belas orquestrações e riffs impetuosos, assim
como a “Resistant Paradise”, que percorre praticamente a mesma leiva com
quebras de ritmos e riffs que te jogam contra a parede, frisando o timbre
cavalar de baixo do Paulo no inicio; “Silent Violence” nos remete com aquele
Thrash Metal clássico da BayArea, estampado por palhetadas abafadas. E
novamente o Derrick entra em flagrante variando o seu vocal, adicionando vozes mais limpas no meio da porradaria; “VandalsNest” é uma
daquelas que vai cair bem ao vivo, perfeita pra quebrar o pescoço e sentir o
clima do ‘moshpit’, havendo forte influência de Mastodon no refrão; “Cyber God”
encerra o disco de forma mais atenuante, havendo mais uma vez a variação vocal do
Derrick entre o mais limpo e o rasgado, mas que não deixa a intensidade do
instrumental de lado.
Este disco merece ser ouvido com atenção pra entender
todo o conceito, não espere um novo clássico, dê uma chance, valendo a repetir a audição várias vezes e mergulhar na
onda sonora desta banda que segue levando o Brasil ao mundo com orgulho!
Texto:
Gabriel
Arruda
Edição/Revisão:
Carlos
Garcia
Fotos:
Divulgação
Ficha
Técnica
Banda:
Sepultura
Álbum:
MachineMessiah
Ano:
2017
Estilo: Thrash Metal
Gravadora: Nuclear Blast/Sony Music
Banda
Derrick Green (Vocal)
Andreas Kisser (Guitarra)
Paulo Jr. (Baixo)
Eloy Casagrande (Bateria)
Track-List
01. MachineMessiah
02. I AmThe Enemy
03. Phantom
Self
04. Alethea
05. Iceberg
Dances
06. SwornOath
07. Resistant
Parasites
08. SilentViolence
09. VandalsNest
10. Cyber
God
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