sexta-feira, 14 de julho de 2017

Entrevista - Bendicta: Melódico, Moderno e Visceral!



Apesar do pouco tempo de formação (a banda nasceu em junho de 2015, em SP), o Bendicta já vem chamando atenção pela sua sonoridade pesada, melodiosa, visceral e moderna, mas sem relegar as influências mais tradicionais. Além disso, a banda aposta em letras em português e ainda tem o carisma e a voz marcante da vocalista Angel à frente, e demonstrando muita determinação e profissionalismo, o grupo vem crescendo, e recentemente lançou seu EP de estreia, "Recomeço", em evento bem especial no tradicional Manifesto em SP.

Conversamos com a simpática e carismática Angel, que nos contou mais a respeito da banda, suas opiniões sobre diversos assuntos do mundo da música, a participação no concurso "A Voz do Rock", e também sobre como iniciou sua carreira na música, que não foi exatamente no Rock ou Metal. Confira que o papo foi muito legal!


RtM: Olá Angel, gostaria de parabenizar a banda Bendicta pela excelente estreia com o EP “Recomeço”. 
Angel: Obrigada!  Foi uma enorme realização pra nós.

RtM: Primeiramente, vamos conversar um pouco sobre seu início de carreira e como você descobriu que queria ser cantora?
Angel: Costuma-se dizer que é a música que te escolhe e eu acredito muito nisso, está no meu DNA. Eu vim pra SP muito nova, tinha uns 9 anos, meu pai tinha uma dupla sertaneja e achou que aqui era mais fácil de acontecer. Infelizmente não deu certo pra ele, mas acabei seguindo os mesmos passos, embora num estilo totalmente diferente hoje em dia.
Eu tenho 3 irmãs, mas fui a única que ele tentou e notou que havia um talento escondido ali. Minha primeira experiência com o palco foi aos 5 anos, dublando “Lua de Cristal” da Xuxa com aquele microfone de rabinhos (Risos)! Pena que não tenho registro disso! 

"Costuma-se dizer que é a música que te escolhe e eu acredito muito nisso."
RtM: Legal! E sua primeira experiência cantando de verdade?
Angel: Meu primeiro palco cantando de verdade foi aos 11 anos, meu pai me inscreveu em um concurso, cantei “Seu Olhar” da Sula Miranda e nunca me esqueço disso, porque quase morri de tanta vergonha (sim, eu era extremamente tímida).  
No início foi bem difícil pra mim, porque embora eu gostasse de música, eu não tinha essa desenvoltura toda, e mesmo assim ele me colocava em várias “roubadas”, pra cantar em todas as festas da família com playbacks em fita cassete. Aos 14 anos fiz teatro na escola e entrei para o grupo de teatro da igreja católica que eu frequentava, isso me ajudou demais a encarar o palco e o público. Cantei em uma pizzaria algumas vezes com meu pai, mas percebi que sertanejo não era o meu forte.

Comecei a curtir o microfone de verdade na adolescência, quando fui fã do grupo teen Backstreet Boys, onde montei um grupo de meninas e comecei a compor minhas primeiras letras, e aprendi facilmente a fazer harmonização vocal ouvindo as apresentações deles “a cappella”.


RtM: E a primeira experiência com o Rock e outros projetos musicais antes da Bendicta ?
Angel: Aos 17 anos enquanto eu fazia parte de um grupo de street dance eu conheci meu primeiro namorado, que era tecladista de uma banda de rock, ensaiávamos no mesmo colégio, e em certa ocasião me convidou para ser backing vocal da banda dele “Dr. Lao” em 2002. A primeira música que aprendi a cantar no rock foi “Run to the Hills” do Iron Maiden, e daí por diante fui pegando gosto pela coisa. Tive essa certeza ao me apresentar pela primeira vez com a Dr. Lao, foi então que descobri a minha vocação para o Rock. Foi nessa minha primeira banda que conheci o Thigas (guitarra, vocal e principal compositor da Bendicta).

Tive diversas bandas e projetos, fiz muita coisa durante esses 15 anos. Tive uma banda autoral chamada “Ghost Dogs”, gravamos um disco na época, e também algumas bandas de festa como a “Louvre” e cover diversos estilos como “Rock to the Bone”, mas música nunca foi meu ganha pão, infelizmente, tudo o que eu faço é por pura paixão mesmo,  quem sabe um dia se torne a minha principal profissão, não custa nada sonhar!

Making off do clipe "Essência"
RtM: Fale um pouco sobre sua formação musical. Quais foram suas primeiras influências e quais são as atuais?
Angel: Eu me formei em Canto Popular pela EM&T em 2008, estudei com a professora lírica Eliete Murari. Fiz muitas apresentações na escola ao longo do curso, de vários estilos, o que contribuiu muito para a minha performance e expressão corporal. Mas o que realmente vale é a experiência de palco que tive com as tantas bandas das quais fiz parte.

Tenho várias influências musicais dentro e fora do Rock, acho isso super importante, principalmente para quem compõe, porque abre seu leque de possibilidades. Sou fã de artistas como Michael Jackson e atualmente Bruno Mars, e no Rock minha base vem do Hard Rock, vocalmente falando, esses são alguns dos vocais (antigos e novos) que me inspiram: David Coverdale, Bruce Dickinson, Steven Tyler, Robert Plant, Ronnie James Dio, Freddy Mercury, Sammy Hagar, David Lee Roth, Axl Rose, Bon Jovi, Layne Staley, Chester Bennington, Lzzy Hale, Jared Leto, David Draiman, Myles Kennedy, e muitos outros nessa linha.

RtM: Conte-nos um pouco sobre como a banda começou. 
Angel: A banda surgiu de um reencontro online entre o Thigas e eu, vou contar como foi do meu lado (risos).
Eu estava tocando bastante com a “Rock to the Bone”, mas sentia que faltava algo, e certa vez ao tocar no Evento “Rock In Midia” da 89 FM, o produtor Lampadinha estava lá, e ao final do evento veio falar comigo e perguntar se não tínhamos som autoral. Eu disse que não, mas que gostaria muito, só que achava que ali não iria rolar, até porque faltava tempo pra compor, fazer música é bem trabalhoso e exige muito dos integrantes, então ele me disse que eu estava perdendo tempo... fiquei atordoada com essa conversa, foi meio que um empurrão que eu precisava. Perguntei pra ele o que achava sobre letras, se o ideal seria em inglês ou português e ele me disse que pra tocar no Brasil, teria que ser em português. A semente estava plantada. 

RtM: Podemos dizer que a  partir daí começou a se desenhar a história do Bendicta?
Angel: Depois disso comecei a pensar muito, e decidi desistir da banda cover para montar uma focada somente em som autoral. Comecei a pesquisar sites de músicos, e já meio sem perspectiva, encontrei o Thigas online no Facebook e começamos a bater papo. Ele comentou que queria fazer umas gravações e gostaria que eu participasse, falou também que tinha algumas ideias dele gravadas. O Thigas sempre teve bastante envolvimento com som autoral, acho que isso foi providencial naquele momento. Falei do meu propósito e ele então me mandou uma das músicas que já tinha até vocal e letra, achei demais e desde o início acreditei que ele tinha um puta talento pra composição. Decidimos então fundar a banda e começamos a busca pelos demais integrantes, na sequência iniciamos os ensaios e a estruturação dos sons.

"Influências musicais dentro e fora do Rock...acho super importante, principalmente para quem compõe, porque abre seu leque de possibilidades..."
RtM: E como surgiu o nome “Bendicta”?
Angel: Escolher nome pra banda é sempre uma tarefa complicada, e “Bendicta” surgiu de um brainstorming entre todos, achamos que o nome era original, soava bem, curto e fácil de memorizar, além da sensação de trazer boas energias, e ainda não tinha nenhum registro na internet.

RtM: Hoje o cenário está bem mais “povoado” pelas bandas com integrantes femininos, mas nos fale como você vê a participação da mulherada, ainda tem alguma discriminação?  E o fato de ser mulher facilitou ou dificultou alguma coisa em termos de carreira musical?
Angel: Eu acho que ainda está muito longe do que se diz a respeito de igualdade, mas estamos caminhando. Eu acho que tudo na vida tem dois lados, assim como o fato de ser mulher nesse meio. O lado bom de ser mulher é que existe o lance do visual, o que afeta diretamente o público, ainda mais quando se tem uma personalidade bem marcante. O lado ruim é que, mesmo você tendo muito talento, muitas vezes é julgada por ter preferência ou maior destaque justamente por causa desse apelo visual, é bem complicado, nem todo mundo consegue lidar com isso, tanto a mulher quanto os demais envolvidos.

RtM: Quais foram os maiores desafios que você já encontrou durante sua carreira?
Angel: O maior desafio é nunca perder a fé, acreditar sempre que o seu dia vai chegar, trabalhar duro, persistir, mas acima de tudo, fazer com o coração, o resto é consequência. Ainda estou na fase de investimento, aliás, essa fase nunca acaba, você só renova. Aos poucos você vai colhendo os frutos e o reconhecimento disso.

RtM: Como você vê o atual momento da cena musical brasileira? 
Angel: A cultura brasileira nunca favoreceu o Rock, isso é fato, mas ele sempre existiu e todos os dias aparecem bandas novas, talvez não com a mesma visibilidade do que foi no passado ou comparado às bandas internacionais, mas isso está mesmo muito ligado à nossa cultura, que é criticar tudo o que é novo, principalmente vindo do público mais velho.
Eu acho que o mercado do Rock Nacional é carente e precisa de novas caras, precisamos deixar um legado para as próximas gerações, mas pra isso é preciso apoio das mídias em geral e principalmente do público consumidor de Rock.

"Acho que o mercado do Rock Nacional é carente e precisa de novas caras."
RtM: Sobre a sonoridade da Bendicta, gostaria que você falasse um pouco sobre as influências e como foi a construção dessa identidade da banda.
Angel: Cada membro da banda tem suas influências particulares, então tentamos unir aquilo que era comum a todos e mesclar com o que cada um tinha a oferecer do seu interior. Pensamos em fazer algo pesado, com afinação baixa, porém com elementos modernos/eletrônicos e vocais melódicos.

A construção da identidade de uma banda geralmente parte dos principais compositores, na Bendicta vem principalmente do Thigas na parte estrutural inicial das músicas, e depois o vocal acaba marcando com a melodia e o encaixe das letras. Os demais membros agregam na produção, e durante os ensaios testamos e fazemos as modificações necessárias para que a música soe bem e fique do nosso gosto.

RtM: E a decisão em apostar em letras em português, conforme nos falou antes, você levou em conta a opinião do Lampadinha?
Angel: Sim, a decisão de apostar em letras em português veio daquele papo com o produtor Lampadinha, pois queremos tocar no Brasil, e conseguimos achar uma forma de compor nas entrelinhas, deixando o tema como uma mensagem “subliminar”, fazendo com que o público entenda da sua maneira, proporcionando uma identificação de acordo com aquilo que está sentido naquele momento da sua vida.

RtM: E sobre o EP, gostaria que você nos falasse um pouquinho sobre a música “Essência”, para mim, o destaque desse ótimo primeiro lançamento oficial.
Angel: A música “Essência” foi a escolhida para ser o nosso primeiro single e também foi o nosso primeiro videoclipe gravado pela O2 Filmes e lançado pela Vevo.
Como disse o Thigas em uma outra entrevista, “Essência” expressa exatamente o que a música é: aquilo que vem de dentro, nossa identidade. É nosso single mais visceral numa combinação com elementos modernos. Essa é a nossa cara, mostra que o velho e o novo podem e devem caminhar juntos.

RtM: Com o crescimento das vendas de música online e serviços de streaming, você acha que isso ajuda ou atrapalha as bandas independentes? 
Angel: Eu sou uma pessoa totalmente adepta à tecnologia, na minha opinião tudo o que é online ajuda muito na divulgação, até mesmo porque hoje em dia ninguém vive de venda de música e sim de shows e merchan. Temos que evoluir junto, e aproveitar tudo o que a internet tem a oferecer, fazer disso um aliado para que cada vez mais pessoas de todos os lugares do mundo possam conhecer nosso trabalho.

Angel e Rane (TwoGuyz) no lançamento do EP do Bendicta
RtM: Como foi participar da competição “A Voz do Rock 2017”? O que você aprendeu com essa experiência?
Angel: Entrar nessa competição foi meio que uma superação pra mim e também foi super inusitado, porque fiquei sabendo através de um professor da academia, e é claro, deixei a inscrição para o último dia, faltando poucos minutos para o encerramento. A vida toda eu me inscrevi em todos os tipos de festivais que você possa imaginar, todos esses programas de TV, e NUNCA me chamaram pra nada (risos). Descobri que eu havia passado na seleção sem querer, quando estava jantando com uma amiga e comentei que havia me inscrito e fui ler a premiação pra ela, então vi meu nome lá no site e quase surtei!(risos)

RtM: Ha ha ha! Muito Bom! Acompanhamos que rendeu uma boa visibilidade para a banda.
Angel: A voz do Rock... Difícil até de explicar o que foi esse turbilhão de emoções, dois meses de muito aprendizado, as pessoas maravilhosas que conheci, e essa puta vitrine que foi pra mim. Desde o início o meu objetivo sempre foi entrar no festival pra divulgar a BENDICTA, e Deus é muito bom, porque eu consegui e foi muito rápido. Foram mais de 1.500 amigos/seguidores novos no facebook nesse período (hoje já dobrou esse número), muitos likes e views nos nossos clipes e foi daí que surgiu o convite para o lançamento do EP no Manifesto... Uma coisa surreal que eu nunca tinha vivenciado antes.

RtM: Conte-nos um pouco mais sobre sua parceria com o Rane (TwoGuyz ), vencedor da “Voz do Rock 2017”. 
Angel: O Rane é um querido, um ser humano incrível, desde a primeira vez que nos encontramos na semifinal já rolou uma amizade e uma admiração fantástica! Virou até motivo de piada da turma, porque antes mesmo da final já viramos uma “dupla” do Rock, uma parceria que só tende a crescer cada vez mais. 
Quando ele foi pra segunda fase da final, é claro que a minha torcida era pra ele, mereceu demais, ele tem a estrela, um puta talento, só falta o mundo conhecer.

"Torcemos para que um dia possamos viver desse sonho que move as nossas vidas."
RtM: Por que escolheram começar com o cover de “Watch over  You” do Alter Bridge?
Angel: A escolha da música “Watch over You” foi uma sugestão minha, adoro a banda Alter Bridge, e estou feliz da vida porque vou vê-los no Rock in Rio pela primeira vez! Uhuuu (risos)
Eu sugeri essa música porque ela tem o clima de dueto que eu queria, e achei que ficaria muito bacana pra dividir com ele e “tirar” um pouco essa imagem de “Anjo com voz de demônio” que o festival criou sobre mim, queria mostrar que também tenho o lado “anjo com voz de anjo” (risos) embora eu combine mais com o demônio (risos), além do que, para um clipe de início, o apelo seria bem legal, já que é uma balada.
Já temos outras músicas encaminhadas para gravação e lançamento, e também estou iniciando parcerias com outros participantes do festival, acho importante e também acaba agregando demais em nossos portfólios.

RtM: Quais serão os próximos passos da Bendicta?
Angel: Estamos trabalhando na divulgação do nosso trabalho, enviando material para todos os festivais que achamos interessante participar, e também estamos em fase de nos reunir com o nosso produtor Fernando Quesada para definir os pontos em relação à gravação de novos sons, os quais já estamos trabalhando paralelamente aos demais compromissos.
Iremos tocar no evento “A Voz do Rock Fest” dia 16/07 no Manifesto Bar, vai ser uma segunda parte do festival, que foi criado também pelo Nando Fernandes, onde foram selecionadas as bandas autorais de alguns destaques do festival.

RtM: Para encerrar,  nos fale de suas expectativas para o futuro.
Angel: Embora o Rock não seja tão forte no Brasil, as expectativas são boas, cada vez mais estamos tendo espaço pra divulgar nosso trabalho, e o retorno do público tem sido muito bacana. Torcemos para que um dia possamos viver desse sonho que move as nossas vidas.

Entrevista: Raquel de Avelar 
Colaborou: Carlos Garcia
Edição e Revisão: Carlos Garcia
Fotos: Arquivo pessoal cedido pela banda/Divulgação
Assessoria: TRM Press


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