No último dia 13 de julho, São Paulo viveu um dia memorável no Centro Esportivo Tietê com a realização do Esquenta RockFun Fest. Este evento não só antecedeu o renomado RockFun Fest, mas também se transformou em uma celebração do Dia Mundial do Rock, reunindo uma multidão de aproximadamente 15 mil pessoas, beneficiadas com ingressos gratuitos.
Com produção da Funlive Concerts, o festival - anteriormente conhecido como Rock na Praça -, acontece desde 2015 na capital paulista. Reunindo milhares de pessoas, o evento sempre se destacou por promover a música de forma gratuita, agregando culturalmente e dando oportunidade de todos participarem do evento. Esse ano marca a entrada do festival no calendário oficial de São Paulo, sendo o único evento de rock no mesmo.
Apesar do tempo frio e as ameaças de chuva, nada impediu que os fãs comparecessem em massa desde cedo. Os portões abriram pontualmente às 10:30, e os presentes se acomodaram estrategicamente próximos à grade, em busca de conseguir um bom lugar para receber o destaque da noite: Suicidal Tendencies.
A estrutura contava com praça de alimentação, algumas mesas e bancos, food trucks e, o problema relatado ano passado da falta de caixas para compra de créditos, dessa vez foi solucionado com “caixas ambulantes”. Além disso, haviam não somente pontos fixos de bar como também ambulantes.
Rockfun Legends
A primeira banda a subir ao palco, às 11 horas, foi a Rockfun Legends, formada pelo line up fixo de Dino Verdade na bateria, Alexandre Fabbri na guitarra e vocal e Rey Sky no baixo. O diferencial desta banda é a participação de convidados especiais a cada apresentação, e desta vez não foi diferente. Com Mayara Puertas (Torture Squad), Ciça Moreira (Six Continents Band) e Mi Vieira (Gloria) ao microfone, a Rockfun Legends fez jus ao seu nome, entregando uma apresentação arrebatadora que revisitou clássicos do rock e do metal. No repertório, sucessos de bandas icônicas como Rage Against the Machine, System of a Down e, é claro, Sepultura, levaram o público à euforia.
Corja!
Às 12:30 era a vez da Corja!, banda vencedora do concurso No Corre. O concurso tinha como principais regras a presença de pelo menos uma mulher em sua formação e ter músicas autorais e, além disso, os jurados se basearam em criatividade, originalidade e técnica. Foram 16 bandas escolhidas pelos jurados e nas etapas seguintes, a escolha foi por votação popular.
Vindo de Fortaleza, a Corja! é formada por Haru Cage (vocal), Pedro Felipe Leal (baixo) - na ocasião substituído por Rob do Inraza -, Helder Jackson (bateria) e Silvio Romero (bateria). Com letras que “exploram conflitos humanos, autocrítica e política”, unidos a riffs pesados e um vocal gutural impressionante da vocalista Haru, a banda que, já tem seunome consolidado na cena nordestina, provou com sua performance que não vai demorar muito para seu nome ecoar pelos quatro cantos do mundo.
Inocentes
O Inocentes, representante do punk rock paulistano, subiu ao palco às 13:50. Com muitos fãs presentes, o setlist trouxe clássicos como “Pânico em S.P.”, “Cala a Boca”, “Pátria Amada” e o cover do 365, “São Paulo”. Aqui já começaram a surgir, ainda que tímidas, as primeiras rodas. Apesar de alguns problemas técnicos no som, a apresentação foi leve e descontraída, com direito a uma homenagem ao grande Nelson Brito, da banda Golpe de Estado, falecido na última sexta-feira (12/07).
Enquanto muitos se perguntavam porque a escolha do Inocentes de tocar tão cedo no festival e, não ter um local de maior destaque no line up, o próprio Clemente afirmou - em encontro rápido - que teria outros compromissos durante o dia e que teria ainda mais um show a fazer mais tarde com a Plebe Rude.
Cali
Na sequência, o supergrupo Cali, subiu ao palco às 15:20. A banda, formada em 2017, possui dois álbuns de estúdio lançados e surgiu com a proposta de inserir seu toque em clássicos do rock nacional e internacional. O setlist teve vários momentos marcantes, incluindo músicas autorais, mas foram os covers, como as músicas do Tihuana (que inclusive acabou de anunciar seu retorno), “Pula”, “Tropa de Elite” e “Que Ves”, e também covers de Sepultura, Turnstile, Rage Against the Machine, Charlie Brown Jr, que animaram os presentes. A recepção do show foi ótima, com alguns moshes e bastante nostalgia.
Korzus
Com seus bem sucedidos 40 anos de carreira, a lenda do thrash metal, Korzus, trouxe peso ao dia. Em aproximadamente uma hora de apresentação, a banda passou por seus maiores clássicos, como “Never Die”, “Respect” e “Correria”, levantando completamente o público e até conquistando novos fãs. Aqui, voltaram a aparecer falhas técnicas no som, mas nem isso desanimou os headbangers, que abriam cada vez mais - e maiores - moshes. Assim como o Inocentes, o Korzus fez uma homenagem ao baixista Nelson Brito.
Oitão
Antecedendo os headliners da noite, o Oitão, banda do agora sócio da Funlive Concerts, Henrique Fogaça, subiu ao palco com seus integrantes mascarados e, com os problemas de som voltando. Para quem estava mais ao fundo do local, principalmente passando da torre de controle, era bastante difícil de entender as letras e até mesmo, a nitidez do som dos instrumentos. Isso impactou diretamente na performance da banda, que pediu para que o público interagisse mais e não obteve resposta. A iluminação também impactou na resposta do público, visto que o palco estava tão escuro que, certos aspectos podem até ter passado despercebidos. O cover de “Vida Ruim” do Ratos de Porão conseguiu alguma reação do público, que se quebrava em rodas como se não houvesse amanhã.
Em outro momento, parte do motoclube Insanos, o qual o músico e chef Fogaça faz parte, adentrou ao palco, onde permaneceu de braços cruzados enquanto a música “Tiro na Rótula” foi executada. Entretanto, o combo luz e som ruim + insatisfação dos músicos gerou uma receptividade negativa, o que ecoaria mais tarde, com vaias e risos ao fim da apresentação.
Suicidal Tendencies
Na sua turnê exclusiva no Brasil intitulada "Nós Somos Família", o Suicidal Tendencies realiza sua 10ª visita ao país. Além de São Paulo, a turnê inclui paradas em outras quatro cidades. A formação atual da banda apresenta Mike Muir nos vocais, o único membro original, além de Dean Pleasants e Tim Stewart – esse último substituindo Ben Weinmann, que não veio por conta de outros compromissos –nas guitarras. No baixo, Tye Trujillo, filho de Robert Trujillo do Metallica, e recentemente adicionado à formação, Jay Weinberg na bateria, ex-membro do Slipknot, no lugar de Greyson Nekrutman, que foi para o Sepultura.
Exceto por Mike, os outros membros realizaram a passagem de som, o que empolgou o público, que pensou que o show estava prestes a começar. No entanto, houve um engano, pois este foi o primeiro atraso do dia.
Com "You Can’t Bring Me Down", a banda deu início ao seu set, levando os fãs ao delírio. Rapidamente, os primeiros mosh pits se formaram e, sim, apesar da rigorosa revista na entrada, houve sinalizadores nas rodas.
O Suicidal Tendencies tem uma enorme base de fãs, muitos usando a bandana azul característica do vocalista Mike Muir. Ele corre incansavelmente de um lado para o outro do palco, incentivando o público a agitar e cantar sem parar, sempre recebendo uma resposta entusiástica. Contudo, nem mesmo a atração principal escapou de problemas técnicos, principalmente o guitarrista Dean, que enfrentou dificuldades com seu retorno e, posteriormente, com seu amplificador durante as primeiras músicas.
“Lost Again”, “I Shot the Devil”, “Send Me Your Money” e “War Inside My Head” mantiveram o clima caótico. Passando por outros clássicos de sua carreira, o auge foi em “Nós Somos Família”, música recém-lançada que conta com a participação de grandes nomes do rock nacional, na ocasião cantada por Alex Palaia (La Raza), Mayara Puertas (Torture Squad), Haru Cage (Corja), Egypcio (Cali), Antonio "Novato" Marques (Lado Direito do Palco), Yasmin Amaral (Eskröta), entre outros.
Outros clássicos como "Cyco Vision" e "How Will I Laugh Tomorrow" mantiveram o público completamente envolvido. Ao se aproximar do final com "Pledge Your Allegiance", Mike Muir chamou uma criança do público para subir ao palco, o que resultou em uma situação que rapidamente saiu do controle, com centenas de pessoas invadindo o palco e até mesmo impedindo os músicos de se moverem, ocorrido também nos shows do RJ e Curitiba. Lógico que em SP foi mais caótico pela quantidade de pessoas, mas é algo já "esperado" e "organizado" pela banda.
Devido ao atraso inicial de 20 minutos e à necessidade de cortar duas músicas do setlist, a banda concluiu sua apresentação. O horário limite do Centro Esportivo Tietê era às 22 horas e precisava ser rigidamente respeitado.
O Suicidal Tendencies, veterano de estrada, mostra que ainda tem a mesma energia e apelo a seu público e segue sendo referência do thrash metal crossover.
O Rockfun Fest está agendado para o dia 31 de agosto no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Diferentemente das edições anteriores, neste ano haverá cobrança de ingresso, embora a produtora tenha afirmado que haverá edições gratuitas no futuro. O Esquenta serviu como um excelente ensaio, e espera-se que as críticas do público sejam consideradas na organização do festival principal. Questões como problemas de som, falta de bebedouros sinalizados e, principalmente, a escassez de banheiros adequados para atender à grande quantidade de pessoas são aspectos cruciais a serem resolvidos. No entanto, além desses desafios, o festival possui todos os elementos para continuar sendo um sucesso.
Texto: Jessica Tahnne Valentim
Fotos: André Santos (Roadie Crew)
Edição/Revisão: Gabriel Arruda / Antonio "Novato" Marques (Lado Direito do Palco)
Realização: FunLive Concerts
Rockfun Legends
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