“Chega,
Gabriel! Preciso ir dormir, porque amanhã o dia vai ser complexo”, foi desse
jeito que entrevista com o Thiago Bianchi, vocalista do Noturnall, tinha
acabado na madrugada do dia 17 de outubro.
Exausto,
depois de uma longa viagem pra BH em busca de um Motor Home, que vai
transportar a banda durante a turnê brasileira que vai ser realizada em
novembro, o próprio fez questão de atender a equipe do ROAD TO METAL para um
longo e agradável bate-papo, também com muito bom humor, discutindo,
principalmente, sobre a recepção do primeiro disco, o recém-lançado DVD e a
satisfação com o atual momento, e ainda as declarações a respeito da cena
brasileira que causaram polêmica algum tempo atrás, e outros assuntos ligados à
música.
A conversa
rendeu tanto que tivemos que dividir a entrevista em duas partes! Confira a
primeira parte a seguir:
RtM: Antes de
falar do Noturnall é bom lembrar que você, o Fernando Quesada, Léo Mancini e
também Ricardo Confessori, em cerca de 7 anos de parceria, lançaram 3 álbuns e
um DVD, e agora vocês três, tendo Aquiles na bateria, lançaram o primeiro álbum
do Noturnall. Com a experiência adquirida através destes anos na música, que
elementos você acredita que são essenciais para uma banda se diferenciar no
cenário, consolidar-se e ter uma longevidade?
TB: Na verdade
isso nem vem tanto do Shaman, mas sim de uma vida inteira ligada a música. Eu
sou filho de cantora e de baterista, e estou no mundo da música desde que eu me
lembro. E música pra gente é nada mais e nada menos do que você realmente é, de
não tentar ser alguém diferente, ou não tentar fazer pra agradar ciclano ou
fulano, ou pra tentar se vender por dinheiro... Eu entendo que minha carreira
tem sido extremamente satisfatória pra mim, porque o que mais importa na vida é
você ser feliz, e justamente porque eu nunca tentei me vender e agradar os
outros mais do que eu.
"Realmente,
gosto de fazer música, e isso, em primeiro lugar, é o que importa, seja fazendo
música pelo que vem dentro de você, e não pelo que você gostaria que as pessoas
te enxergassem de certa forma."
RtM: Falando
agora no Noturnall, o som da banda apresenta muita agressividade e peso em
todos os aspectos, seguindo uma linha diferente do Shaman, que apesar também de
soar pesada, incorpora e investe mais nas partes melódicas. Sair um pouco fora
de um ambiente musical, de um círculo digamos, mais voltado ao Power Metal, e
apostar em coisas diferentes lhe dão uma sensação de liberdade?
TB: Todas as
bandas que eu fiz na minha vida, e digo mais uma vez: “Eu nunca fiz Música para
os Outros”. Sempre fiz música pra mim, mas não de forma egoísta, mas sim
simplesmente colocando a minha pessoa em primeiro lugar, sob o ponto de vista
de se eu estaria feliz fazendo aquilo. O Karma foi a minha primeira banda
profissional, por assim dizer, e foi a banda que, na verdade, me ensinou que a
música é isso.
E o Shaman foi uma consequência, porque eu tive que me adequar
numa outra realidade, que era a realidade de uma banda que já existia e que já
tinha obtido sucesso. E eu, simplesmente, segui os passos de uma pessoa que já
havia obtido esse sucesso dentro desse caminho: o cara trilhou um caminho,
achou um caminho, e eu vim num primeiro momento seguindo esse caminho e depois
descobrindo meus próprios caminhos, como as coisas tem que ser no mundo
natural, que é dar os seus primeiros passos! Bate as asas e voa.
RtM: O Shaman
foi uma parte importante, então, porque já tinha um nome e um conceito
praticamente consolidados, e isso lhes colocou uma responsabilidade grande...
TB: No nosso
caso a gente sentiu que o Shaman nos fez ter uma identidade quanto banda, sob o
ponto de vista de quatro indivíduos que se conheceram numa realidade diferente,
que era fazer um determinado tipo de música pra alguém que já esperávamos,
sendo o Fernando Quesada, Léo Mancini, Fabrizio Di Sarno e eu, e o Juninho
Carelli um pouco mais tarde. E a Noturnall foi, finalmente, uma espécie de
“nirvana”, que não é a banda, mas sim quando você atinge o seu ápice dentro do
budismo. E a gente entende que a
Noturnall entrou no seu ápice musical de liberdade, porque não devíamos nada
pra ninguém, não queríamos agradar ninguém e não queríamos ter nenhum tipo de
amarra, queríamos simplesmente fazer música pra quem tivesse a fim de ouvir
música do jeito que a gente gosta de fazer.
RtM:
Entendemos que o Noturnall seria o próximo passo, ao caminho estava aberto para
criar...
TB: E eu acho
que a Noturnall é a nossa experimentação máxima de liberdade musical justamente
por isso, que é por não ter amarras com ninguém, com nenhum outro estilo e com
nenhum tipo de fã. E simplesmente encontramos os fãs que sempre quisermos ter,
que são aqueles que amam música e não amam um determinado estilo, ou amam um
determinado estilo de vida ou um grupo de pessoas, e isso eu posso falar com
muita propriedade, porque eu vivo com esses caras dia a dia.
E eu sei que a
liberdade que a gente experimentou no Noturnall é um tipo de liberdade que a
gente nunca teve na carreira, e que não pretendemos voltar pra nada que seja
menos do que a gente está tendo agora. E a gente conseguiu ser feliz sem nenhum
tipo de parede nos impedindo de fazer o que a gente quisesse fazer, e a
Noturnall é a experiência máxima de liberdade no som, e por isso tem dado certo,
porque as pessoas entendem que é algo honesto e feito do coração, e não pra
agradar alguém ou vender pra quem seja.
RtM: Desde
2010, o Shaman não lançava um material novo. No ano passado, através de vários
meios de comunicações, vocês chegaram a divulgar que preparavam um disco novo,
que seria o 5º disco da banda. Mas com o passar do tempo, bem na metade do ano
passado, foi feito o anúncio de que vocês trabalhavam um novo projeto, o
Noturnall. Agora, com toda a repercussão podemos dizer que o Noturnall não foi
idealizado como apenas um projeto? Seria a prioridade? E quanto ao Shaman?
TB: A Noturnall
nunca foi um projeto, sempre foi divulgado como banda. Nunca foi algo que a
gente disse pra mídia que era uma coisa pra gente testar em fazer enquanto o
Shaman não voltasse, ou outro lance do tipo. O que acontece é simples: nós nos
sentíamos amarrados a um tipo de som e a uma agenda que não nos pertencia, na
qual não nos deixava ser donos dos nossos próprios narizes. E finalmente
resolvemos assinar a nossa própria carta de alforria, porque não aguentávamos
mais esperar outras pessoas resolverem o que queriam da vida. E resolvemos
fazer o que a gente tinha em mente, que foi fazer esse disco, até na própria
época do Shaman. Podiamos ter feito muitas coisas naquela época, mas a agenda
de outras pessoas, que não é só o Ricardo e não botando culpa nele diretamente,
mas sim de gravadoras e de gringos que esperavam algo da gente, botando amarras
ou nos colocavam em caminhos que a gente não tinha exatamente em mente seguir.
E por isso, às
vezes, eu soava tão falso, não pela questão musical, mas sim pela questão de
pensar, do tipo: “Será que era aquilo mesmo que essa banda deveria estar
fazendo?” E você pode ter certeza, que se você ouvir os CDs e assistir os DVDs
que a gente fez com o Shaman, você vai ver que sempre fomos honestos e sempre
colocamos o coração na ponta do microfone ou na ponta da palheta, que é uma
coisa até mais fácil de entender do que 2+2 são 4. Então isso não posso dizer,
que teve algum tipo de amarra, mas a questão de agenda sempre foi sufocante pra
gente.
"E quando
a gente viu a situação de que a própria música já não falava mais a nossa
língua, ficamos em sinal de alerta e falamos: ‘Isso aqui não é exatamente o que
o Shaman deveria ser."
RtM: Entendo.
Vocês já não estavam felizes com o que estavam fazendo, e ainda estavam se
sentindo “amarrados”...
TB: E tem o
respeito ao público, que espera um determinado tipo de música que a gente ajuda
construir, e também o que as pessoas esperam que a gente seja enquanto músicos,
do nosso estilo de ser e de viver. E não sentíamos que isso fazia parte do
Shaman, o que ajudou a tomarmos a decisão de que, além de tudo aquilo que
estava acontecendo musicalmente, a nossa situação “agendística” já não batia
com o que a gente esperava que a banda fosse, porque tinha se tornado uma banda
amarrada e dependendo da agenda de outra banda.
E isso é, no
mínimo, ridículo pra qualquer tipo de pessoa ou qualquer tipo de profissional
que queira botar a sua carreira em dia e que queira ser feliz com o que você
faz, porque o mais importante do que dinheiro é ser feliz. E não tínhamos mais
felicidade, porque a gente não conseguia fazer nada sem saber se a agenda de
outra banda ou de um determinado agente ou empresário tinha os mesmos
interesses que a gente. Então o inútil acabou se alinhando ao desagradável
nesse momento, porque simplesmente estávamos na lama, tanto em termos de agenda
e de música, porque tínhamos músicas honestas, felizes, bem montadas, mas que
não conseguíamos levar pra frente por conta das agendas de outras pessoas e dos
interesses de profissionais que não nos cabiam e de não deixar de viver como
gostaríamos.
RtM: Aí chegou
a hora de dar um basta?
TB: E
simplesmente mandamos todo mundo tomar no cú e resolvemos fazer nossas coisas
do nosso jeito, porque tudo que foi feito no Shaman, desde quando entramos na
banda até agora, foi sempre feito por nossas mãos, porque nunca dependemos de
ninguém, nem de dinheiro e nem da vontade de ninguém, além de nós mesmos. E o
Noturnall nada mais é do que uma continuação do que a gente fazia, com uma peça
a menos que estava mais concentrada na sua outra banda, que é o caso do Ricardo
com o Angra do que no Shaman. O ponto de vista e as motivações dele eu já não
posso te dizer, pois não sou alguém que pode te responder pelo Ricardo, mas
eram motivações que não nos cabiam. E tudo que a gente havia conseguido, todas
as músicas prontas, todas as linhas feitas, todas as linhas gravadas, Russell
Allen sendo convidado e aceitando, amizade com bandas mundo afora, gente nos
convidando pra tocar, fazer turnê...
Tudo isso
estava acontecendo, só não conseguíamos fazer a banda acontecer. E a música já
não cabia mais dentro do próprio nome, então foi uma questão mais do que
natural das coisas degringolarem do que jeito que degringolaram. E não podíamos
estar mais felizes, pois acho que o rio sempre corre pro mar. E a partir do
momento que as coisas mostravam pra gente que deveria ser dessa forma, e que
aceitamos ouvir o nosso coração, a voz do coração sempre é a mais certa de
todas, e isso foi comprovado mais uma vez nessa questão do Noturnall.
RtM: E quanto
a escolha do nome "Noturnall"? Pra mim soa como uma coisa nova e
diferente, inclusive a faixa “Not Turn at All” parece um jogo de palavras, cuja
pronúncia soa similar ao nome da banda. Qual o significado por trás do nome, e
como surgiu a ideia de batizar o grupo com esse nome?
TB: A gente
falou um pouco disso no documentário, que veio antes da banda. E foi exatamente
isso, pois tínhamos a música “Noturnall Human Side”. E claro que, em algum
momento, nós falamos: “Cara, essa é a música mais importante da nossa
carreira”, porque ela demorou tanto pra sair, pois ela teve 2 clips gravados
com pessoas diferentes, e fomos para Nova York 2 vezes pra fazer takes
semelhantes. Então, em cima de uma música, simplesmente achávamos que não
deveríamos descuidar dela, porque a música é simplesmente animal. Às vezes você
acha que é uma coisa ‘overcrow’, como os gringos chamam o que é feito duas
vezes, ou às vezes é feita vezes demais e que você acaba perdendo a magia dela.
E “Noturnall
Human Side” é uma música que a gente não conseguia deixar a magia dela sumir,
por mais que a gente fizesse cagada em cima dela ou que a gente gravasse de um
jeito. A gente simplesmente entendia que a música sobrevivia a tudo, porque ela
é uma espécie de poder nuclear. Então, por muitas vezes, pensamos em chamar a
banda de Noturnall e que, para qualquer metaleiro que tenha alguns dias de vida
no mundo do Metal, sabe que existe uma banda famosa chamada Noturnall.
E a gente não
tinha como passar por isso, porque não queríamos ter mais problemas com nome,
que foi algo que a gente viveu há tanto tempo no Shaman. Muita gente acha que o
nome foi roubado e que teve um começo esquisito, porque os caras saíram e o
baterista da banda ficou com o nome.
RtM: Verdade,
até você poderia nos contar sobre isso.
TB: E é uma
coisa que até gosto de relembrar, porque o que as pessoas não sabem é que a
banda era sim do Ricardo. E eu não ouvi falar sobre isso, pois eu estava no
momento em que a banda foi criada. E pra quem não sabe, eu produzi a demo e as
percussões do álbum “Ritual”, e eu mal sabia que me tornaria vocal da banda
depois de 5 ou 6 anos. Eu falo isso como muita naturalidade e com muito
conforto, por mais que o Shaman tenha tido os seus problemas pessoais e tal. E
essa história de nome me incomodava muito, porque era muita gente falando
besteira e no “diz que me diz”, que infelizmente, isso é uma coisa que acontece
muito aqui no Brasil, que é a fofoca. E no Metal poderíamos ser menos
fofoqueiros.
E isso é uma
coisa que eu estou feliz, porque atraímos pessoas com nosso nome, e não o
público fofoqueiro e mala. Eu acho que esse tipo de pessoal ficou pra trás e
ficou com os artistas que merecem esse tipo de público, pelo menos até aqui,
mas que vou lutar pra que isso não aconteça na nossa geração. E voltando ao
fato do nome, Noturnall era o nome que perseguia a gente e que até o Ricardo
ajudou a dá-lo, porque era justamente na época que estávamos com os planos de
fazer uma banda nova e fazendo alguns shows, e a amizade que a gente tinha com
ele nunca nos impediu de falar as coisas abertamente.
RtM: Acabou
então que o nome “Noturnall” praticamente veio até vocês.
TB: Noturnall
é um nome que sempre permeava a gente, até que a gente começou falar muito
sobre a questão de voltar atrás. E é melhor uma mudança tardia do que nenhuma
mudança, então isso em inglês acaba soando assim: “A late turns is better than
no turn at all”, que na verdade é o significado do nome, que é melhor você
mudar do que você nunca mudar, e viver achando que você poderia ter mudado e
não mudou.
Então “No Turn
At All” é uma coisa que ficou dentro do que a gente queria, casou
perfeitamente, com o nome que estava permeando os nossos corações e ainda
explicar o que estávamos passando naquele momento. E é um nome que chamou por
nós, porque não foi à gente que escolheu o nome, foi o nome que escolheu a
gente. E um nome legal de banda acontece desse jeito, tanto que, se você olhar
o nome da banda no CD, DVD e em todo lugar que aparece, você vai perceber que
tem uns pontinhos em “Noturnall”, que é um diminutivo de “No Turn At All”, pra
explicar que na verdade o significado completo é “No Turn At All”.
RtM: Eu vi que a
faixa "No Turn It All" está sendo trilha sonora do XFX da RedeTV! correto? Como surgiu essa oportunidade?
TB: Sério? Eu
sei que tem algumas pessoas que trabalham em redes de televisão que colocam
certas músicas nossas, e que chega pedido direto pra gente. A “No Turn It All”
realmente foi usada em UFC e em alguns momentos de trilhas de internet, mas não
tinha notícia de que tinha sido de televisão. Mas eu vou me informar, porque é
uma coisa animal. Gravamos o clip nos estúdios nogueira, que inclusive gostaria
de mandar um abraço para os irmãos nogueira, o Minotauro e Minotouro, que nos
batizaram naquele momento e deram a oportunidade de poder usar e abusar dos
octógonos deles.
E que prazer
saber disso, ainda mais no meio jornalístico. Gostamos muito de UFC não pela
violência, mas sim pela técnica, porque técnica nos atrai em tudo, seja na
medicina ou na porrada comendo no octógono. E técnica é tudo na vida! Você não
precisa de força, mas sim de jeito pra fazer as coisas. E isso não só na
música, mas sim no UFC, na medicina e em tudo no mundo. Uma estrela não precisa
de força pra nascer, ela só precisa de jeito. Muito obrigado por essa notícia!
RtM: Voltando
a sonoridade do Noturnall, percebe-se que a banda busca inovar e diversificar
em cada faixa, apostando em levadas que lembram muito as bandas de Thrash
Metal, principalmente naquela levada Pantera. Esse aspecto é uma tentativa de
atingir um novo público, apostando naqueles que curtem coisas mais pesadas,
algo mais atual ou moderno? Já que o Shaman tem características de Power Metal?
E aproveitando a brecha, você que acha que o estilo (Power Metal) hoje está em
decadência?
TB: Eu noto
que você está realmente querendo que eu chute ou respire, mas eu não vou fazer
isso (risos). Não cabe a mim dizer como o mercado tem se mostrado
financeiramente. Eu acho que é obvio pra todo mundo que as coisas não são como
foram outrora. Não tem como dizer isso pra você, que as coisas estão ótimas
como já foram nos anos 80, 90 e 2000. As coisas com certeza não são as mesmas,
mas que não são as mesmas pra tudo no mundo. As coisas não são as mesmas do
ponto de vista financeiro, do ponto de vista social e até se, você quiser,
esportista...
Nem o futebol
brasileiro é o que foi em outrora, então eu não posso virar pra você e dizer
que a culpa é desse cara ou daquele, eu só posso te disser que as coisas
simplesmente mudaram. Alguns anos atrás, eu fui uma das pessoas que mais
criticaram o estilo, de ser fã dos brasileiros e até dos gringos, mas só que
muito mais voltado aos brasileiros por conta de conversas e pela minha própria
amizade com os meus colegas de banda, até do próprio Fernando, que me ensinou
muita coisa.
RtM: Pois é,
são ciclos, alguns estilos se destacam, depois ficam em segundo plano, uns
voltam a ficar mais em voga...alguns outros se transformam...
TB: E as
pessoas, na verdade, mesmo que inconscientemente, esperavam mudanças dos
músicos pra agradá-las musicalmente. E não adianta dizer que não, porque você
vê, de década em década, que as músicas e os estilos vão mudando conforme o que o público gosta. Não dá pra você virar
e fingir que a galera não está comparecendo em show, e que são tudo uns bandos de
filho da puta e chupa pau de gringo, que por sinal, eu mesmo disse essa frase
bem antes do Edu Falaschi.
E quer saber,
eu estava parcialmente errado! Nós brasileiros fazemos o papel de uma população
colonial e vimos os gringos chegarem aqui desde o começo pagando de gatinho,
botando a gente pra trabalhar e achando isso muito bonito. Vide à corrupção que
a gente vive até hoje, vindoura lá de Portugal. Na questão musical isso
acontece também. Os gringos ainda são melhores do que nós aos olhos dos
próprios brasileiros, mas isso não quer dizer que a gente não tenha que nos
fortificar e nos obrigarmos a buscar novos caminhos e novos jeitos de fazer
música, e acabamos chegando à essa conclusão, e fizemos isso com a Noturnall.
RtM: Um novo
caminho, novas possibilidades...
TB: E quer
saber, isso deu certo e a pessoas abraçaram a ideia, porque tudo o que elas
queriam era uma coisa moderna. Acho que moderna é uma palavra meio babaca,
porque tudo que é moderno passa. E era uma coisa que agradasse que ainda não
tinha agradado e acontecido, que é uma espécie de atualização do estilo. Eu acho que a Noturnall veio pra atualizar um
estilo que estava defasado, mas isso não quer dizer que os dinossauros do meio
estão enganados, como o próprio Angra e o Dr. Sin, ou até os mais pesados, como
Sepultura, Krisiun e o Korzus. Essas são bandas que vão sempre abrir caminhos e
mostrar que o Brasil não é feito só de pagode, samba e futebol, mas sim de
Heavy Metal de qualidade.
RtM:
Resistência a coisas novas acaba sendo algo normal no ser humano, e às vezes,
nem todos aceitam certas mudanças.
TB: Mas é
importante que as pessoas entendam que existem coisas novas de muita qualidade
vindas por ai junto com que já existe de bom no mercado, que é isso que eu
tenho orgulho de fazer hoje em dia. Eu já fiz parte de alguém que trouxe
mudança no passado, que foi o Karma, quando eu já trazia algumas partes de Rap
com Thrash. Depois eu fiz parte de um movimento de caminhar com uma bandeira de
uma banda que já era grande, mas que tivemos que atualizar o som dela e fazer
coisas que a gente não tinha conseguido fazer, que foi o caso do Shaman, de ter
feito, por exemplo, um DVD feito com orquestra em Praga, coisa que nenhuma
banda fez até hoje, que é gravar um DVD num festival gringo e com uma orquestra
gringa.
E disso eu
tenho muito orgulho, que inclusive eu vou falar por um bom tempo. E mesmo que
alguém faça, eu vou dizer que fomos os primeiros. E foi com qualidade, com o
coração e não por grana.
E mais uma
vez, como terceiro passo, de você atualizar um som que estava querendo
atualização, então você acaba se encontrando numa situação de ser o portador
dessa bandeira, dessa tocha e de fazer com que essa coisa aconteça de uma forma
diferente. E quer saber, as pessoas foram atrás!
RtM: Não
estava acontecendo antes, e com o Noturnall, seguindo “a voz do coração”, como
você disse, as coisas começaram a acontecer?
TB: A
Noturnall é a banda que mais vendeu disco este ano e a banda que mais fez shows
este ano. Fizemos um CD e DVD, cinco vídeo clips, uma turnê privilegiada e
vamos terminar o ano com uma turnê Europeia. Isso com uma banda de apenas um
ano de idade. Isso pra mim é muito mais que uma vitória, isso é uma satisfação
e um prazer que não tem tamanho. E, claro, as pessoas querem que eu diga: “Ah,
é um cala boca pra quem te criticou no passado?”
Entenda como
você quiser, porque isso não é o que me move, o que me move é ser feliz. E se a
felicidade incomoda os outros já não faz parte da minha pessoa ficar dizendo se
isso é certo ou errado, eu só sei que estou feliz, meus companheiros estão
felizes.
E é uma banda
que eu consigo dividir felicidade, fazer dinheiro disso e uma vida pra minha
família. Estou totalmente completo musicalmente nesse momento.
Continua na
Parte II, que será publicada nos próximos dias, onde você poderá ler o restante
desse longo papo com Thiago, onde ele comenta sobre diversos detalhes deste
álbum de estreia do Noturnall, a parceria com Russel Allen, um pouco ais a
respeito de cada um dos integrantes e também como surgiu o convite para Aquiles
assumir as baquetas, as gravações dos vídeos oficiais, a produção do DVD e
muito mais!
Olha aí o que
vem pela frente:
A entrada de
Aquiles Priester:
"O
Aquiles foi o casamento perfeito de uma turma que já tinha uma boa
singularidade mesclada, que se juntou a um cara que, a meu ver, sempre foi um
grande gênio da bateria do Heavy Metal mundial."
A rápida
ascenção do Noturnall e grande aceitação do público:
"É aquela
história do ovo e a galinha, de saber quem vem primeiro. Não da pra saber que a
gente quis mais isso do que os nossos fãs queriam que isso existisse. Só sei
que o rio encontrou o mar e o fluxo aconteceu."
"O disco
da Noturnall foi o disco que mais vendeu na loja (Die Hard) em um dia, de todos
os títulos, e houve uma fila pra pegar o disco, que é uma coisa parecida com o
“Black Album”, visto no documentário “A Year and a Half in the Life of
Metallica”, cenas que só aconteciam nos anos 90 e nos primórdios."
"E ele
realmente foi um cara do bem e estendeu a mão pra gente, pois ele é um cara
maior, não só de estatura, mas sim de um dos nomes mais importantes do Heavy
Metal do mundo. Ele estendeu a mão pra gente e falou: "Vocês merecem toda a
força do mundo e eu vou ajudar para o que precisar"
É isso
pessoal, um gostinho do que ainda ficou para a sequência desta entrevista mais
que especial, com um cara que sempre buscou dar passos à frente, inovar, e,
apesar de causar algumas polêmicas, não agrandando todo mundo (lógico, ninguém
é capaz de agradar a todo mundo), um ser
humano com seus erros e seus acertos, mas nunca deixando de ser uma cara que
tenta e que faz acontecer.
Entrevista:
Gabriel Arruda e Carlos Garcia
Transcrição:
Gabriel Arruda
Edição/Revisão:
Carlos Garcia
Fotos:
Divulgação/Arquivo da Banda
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