A banda paranaense ANIMAL HOUSE foi formada em 2010 pelo vocalista
Mutley Animal. Com a proposta de fazer um som que fugisse da mesmice e com
influências de nomes como Black Label Society, Chrome Division, Motorhead,
Pantera, entre outros, o grupo lançou seu primeiro trabalho, FIRST BLOOD, em
2012. Prestes a lançar um novo trabalho (intitulado LIMBO), o Road to Metal
bateu um papo com a banda. Boa leitura!
Road to Metal: De onde surgiu a idéia pra formar a banda e quais as
principais influências do grupo no seu início?
Mutle¥: A ideia de montar uma banda surgiu
quando eu ainda morava em Maringá/PR. Eu estava descontente com a cena local,
achava as bandas que ali figuravam fracas e repetitivas, isso sem contar a
avalanche de bandas cover que se apresentavam em eventos picaretas. Queria
fazer algo diferente daquilo que estava sendo feito, algo único. Muitas pessoas
compareciam aos eventos pra ver essa ou aquela banda para tocar essa ou aquela
música de uma outra banda maior. Eu não queria isso, eu queria que as pessoas
fossem ver ANIMAL HOUSE pra ver a ANIMAL HOUSE, pra ver as músicas da ANIMAL
HOUSE, e não ouvir a música de alguma outra banda.
A banda
tinha membros diferentes, cada um com suas influências, eu puxava algo mais na
linha Hard N’ Heavy, era e ainda sou muito fã de bandas como Mötley Crüe, Thin
Lizzy, ZZ Top... Conforme o tempo foi passando, a banda acabou desenvolvendo
sua musicalidade própria, justamente o que eu queria. Se for parar pra
analisar, as bandas que mais me espelhei na época da gênese da ANIMAL HOUSE
foram Pantera, Chrome Division (os 2 discos iniciais na verdade), Motörhead e
Black Label Society. Mesmo os nossos trabalhos hoje, que estão bem mais puxados
para uma linha Heavy Stoner e Southern, ainda carregam muita influência dessas quatro
bandas.
RtM: Uma banda nova, principalmente se executa um Rock mais pesado,
passa sempre por dificuldades. Desinteresse do público, músicos por vezes sem o
foco necessário, etc... O grupo passou por estes problemas? Como seguir em
frente com um cenário até certo ponto, desfavorável?
Mutle¥: Sim, e como passou. Eu mencionei em
entrevistas anteriores que chegou um momento onde a ANIMAL HOUSE foi
completamente boicotada dos eventos locais. Chegou ao absurdo de na véspera de
um evento, o produtor desse evento me falar que nós estávamos fora do cast, por
que a banda principal (uma banda da cidade que tem até uma certa representação
no cenário nacional) disse que não queria que tocássemos nesse evento.
Outra
situação bastante humilhante foi quando a ANIMAL HOUSE foi convidada para fazer
a abertura de um show de Ozzy Osbourne cover, e a produtora do evento disse que
tocaríamos de graça. Eu recusei. Disse que não iria prostituir meu trabalho, e
que como havia músicos dessa formação naquela época que não residiam na cidade,
seria necessário ao menos uma ajuda de custo. Além de que estávamos começando
os preparativos do FISRT BLOOD, e estúdio não é barato. Perguntei ainda se caso
oferecessem para que a banda dela (outra banda que também vem ganhando bastante
expressão nacionalmente) tocasse de graça se ela aceitaria. Depois disso também
a ANIMAL HOUSE nunca mais foi convidada para eventos locais.
A verdade
é que esse tipo de coisa acontece muito, em todos os lugares. Muita gente fala
em união e amizade dentro do Metal, mas isso é mesmo da boca pra fora. Existe
muita inveja e intriga dentro da cena. Ao invés de as bandas se unirem para
construir algo sólido, é como se estivessem competindo por alimento em tempos
de escassez. Um querendo puxar o tapete do outro, um querendo prejudicar o
outro. Se não me engano, é nos extras do DVD Alive II do Anthrax, há uma
entrevista com a banda. E em um determinado momento, um dos músicos comenta sobre
aquilo que chamaram de Mercedes Tour. Onde o Anthrax e pelo menos mais umas três
bandas, se juntaram em quatro ou cinco carros, e saíram viajando de cidade em
cidade procurando lugar pra tocar. Ninguém pensou em lucro, queria apenas
pessoas para dividir as despesas.
Acho que
falta esse tipo de união na cena. Lá fora, todo mundo se uniu para construir
algo sólido, por isso que a cena lá é forte e se reinventa, aqui como eu disse,
cada um por si. È triste, mas temos que aceitar a realidade de que vivemos em
um país onde você prejudicar o outro em prol de benefício próprio é cultural e
socialmente aceito.
Sobre
seguir em frente, quando fundei a ANIMAL HOUSE eu decidi que a banda sempre
seria maior e mais forte do que qualquer obstáculo que encontrasse. E está
sendo. As coisas podem até não caminhar da forma como planejei, mas estamos na
ativa, trabalhando, compondo e mostrando nosso som. Motivos pra desistir foi o
sem dúvida o que não me faltaram. Mas ainda tenho muitas músicas novas pra
escrever com a banda.
Leia nossa resenha AQUI. |
RtM: “First Blood” foi lançado em 2012, e foi o cartão de visitas da
banda. Como foram as sessões de
gravação?
Mutle¥: Caseiras. Literalmente. A saída dos
integrantes originais além de bastante desagradável me deixou com um pepino na
mão, entre elas, dívidas de estúdio. Mas com eu disse na pergunta anterior,
ANIMAL HOUSE é e sempre será maior que seus percalços.
Consegui
renegociar e quitar as dívidas pendentes. Consegui um produtor e sempre que
precisávamos gravar, todos levavam os equipamentos em casa, plugávamos no PC e passamos
literalmente dias focados. Todo mundo se empenhou muito. O problema foi o
timing, eu estava de mudança para Santa Catarina na época, além de cursar duas
pós-graduações ao mesmo tempo.
Então
entre mudança, estudos, banda e procurar trabalho em outro estado da pra
imaginar que ficou bem corrido. O produtor que contratei estava fechando com um
dessas duplinha nojentas de sertanejo universitário na época e estava levando
os compromisso com o FIRST BLOOD empurrando com a barriga. Na verdade, eu exigi
que ele remixasse o disco pelo menos umas três vezes antes da versão final. Eu
já comentei também em entrevistas anteriores que não fiquei 100% satisfeito com
a qualidade do produto final, mas para a época, visto tudo que eu tinha que
fazer, precisei deixar passar algumas coisas.
Mas eu
fiquei sim muito orgulhoso com o trabalho, e devo muito aos músicos que estavam
comigo na época, Arion e José Augusto. Apesar das falhas técnicas e de
produção, quem escuta o disco consegue ver além disso, e perceber que se trata
de um trabalho sério, um trabalho literalmente feito por amor à música. O
título do disco reflete essas provações que a banda teve que passar. Eu
pretendo futuramente regravar e relançar o FIRST BLOOD, dessa vez com a
qualidade que tanto disco quanto público merecem.
RtM: O álbum mostra uma gama de influências de nomes como Black Label
Society e Chrome Division. O que soa bem diferente é o vocal, bem mais
agressivo que a maioria das bandas do estilo. Esse seria um dos diferenciais do
Animal House?
Mutle¥: Bom, primeiro eu gostaria de
agradecer pela pergunta, por que o vocal é justamente a parte que me toca. Eu
queria que a ANIMAL HOUSE fosse uma banda com uma sonoridade única, singular. E
isso passa obrigatoriamente por um vocal diferente, sem querer puxar a sardinha
para o meu lado, e sem querer desmerecer nem diminuir a importância de todo o
conjunto, a voz tem um papel vital na banda.
Um vocal
ruim pode arruinar uma melodia boa, dá mesma forma que um vocal bem posicionado
salva uma melodia medíocre, além de ser uma das maiores identidades sonoras do
grupo. Tentei vários estilos, um vocal mais limpo, mais agudo na linha Power
Metal, até algo mais gutural na linha Death Metal, mas desisti.
Não sei
dizer ao certo onde se encaixa minha técnica vocal, nunca gostei de rótulos,
mas acabei desenvolvendo algo que ficasse confortável pra mim. Pode parecer
estranho, mas eu fico muito confortável com o tipo de vocal que eu imprimo à
frente da banda. Minha professora de canto da época quase caiu pra trás, e
muitas pessoas não acreditam que sou eu cantando nas músicas da ANIMAL.
Na
verdade eu não gosto muito da minha própria voz, por que diabos alguém que não
gosta da própria voz iria ser vocalista eu não sei, mas me sinto bem assim,
sinto que consigo me expressar artisticamente, e o público gosta. Então
deixemos como está que está funcionando bem.
RtM: O cover de “Ghost Riders in the Sky” (Johnny Cash) é um dos
destaques do trabalho. Como essa música veio a figurar no álbum?
Mutle¥: Eu sempre fui muito fã de Johnny Cash.
Mesmo a música original não sendo dele, foi sem dúvida O Homem De Preto que
imortalizou a canção. Eu sou um grande fã de Southern Rock, e também de
Country/Blue Grass norte americano, e acho que isso é bem perceptível, tanto
para pessoas próximas à mim quanto para pessoas que acompanham os trabalho da
banda, e eu queria mostrar esse lado da ANIMAL, pegar uma música de um grande
nome do gênero, e dar à ela a cara da ANIMAL HOUSE.
Eu até
pensei em outra música que poderia utilizar, mas sempre acabava voltando nesta.
E foi a que ficou. Eu trabalhei nela sempre pensando: gostaria muito que Johnny
Cash estivesse vivo para ouvir e dar a opinião sobre esse novo arranjo.
Infelizmente isso não é possível. Essa música foi uma das últimas a ficar
pronta, e foi feita às pressas, finalizada em um dia e gravada no outro, e
ainda sim é uma das minhas preferidas, fiquei muito feliz e orgulhoso com o
resultado final.
RtM: O grupo já se encontra em estúdio gravando o próximo trabalho. O
que podemos esperar?
Mutle¥: Podem esperar um disco mais curto,
mas ainda mais técnico e agressivo que nosso debut. LIMBO possui apenas quatro
músicas, mas são todas músicas muito bem trabalhadas tecnicamente, e com uma
produção melhor. Eu consegui participar mais ativamente do processo dessa vez,
e a diferença é enorme.
Eu
pretendia lançar o disco na primeira metade desse ano, mas não foi possível,
levei quase dois anos para fazer às pazes com minha conta bancária depois do
FIRST BLOOD, e não queria passar por isso de novo. Por isso fui obrigado a
suspender o projeto por um tempo, mas estava decidido à lançar esse ano.
E na
verdade já estaria disponível se a gráfica não tivesse feito besteira na hora
de prensar as capas. Mas eu garanto que vai valer a espera. Já lançamos uma
música desse novo disco para audição gratuita em nossas páginas no soundcloud,
reverbtnation e facebook. Como dessa vez o disco será lançado exclusivamente em
mídia física, diferente do anterior, MONOCHROMATIC será a única faixa do disco
disponível para audição.
RtM: Agradeço a disponibilidade e
deixo aqui o espaço a sua disposição. Grande abraço!
Mutle¥: Gostaria de deixar um grande salve a todos que tiveram saco de ler até aqui, a todos os fãs da banda, que sempre
me apoiaram e sempre me cobram material novo. Isso me estimula muito e mostra
que estou no caminho certo. Gostaria de agradecer o espaço para essa
entrevista, a galera do Road sempre esteve ao lado da ANIMAL HOUSE, desde o
primeiro disco, e tem muita coisa boa ainda por vir. Forte abraço à todos.
Entrevista por: Sergiomar Menezes
Imagens: Divulgação
Edição/revisão: Renato Sanson
Conheça mais a banda:
Facebook: https://www.facebook.com/ahouseofficial
Reverbnation - http://www.reverbnation.com/animalhouseofficial
Soundcloud - https://soundcloud.com/mutleyanimalhouse
Twitter - @animal_house1
Baixe o disco "First
Blood": http://bit.ly/XNQ7sw
Assessoria de imprensa: www.heavyandhellpress.blogspot.com.br
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