O que motivaria pessoas a abreviarem sua volta para casa numa quinta-feira, em plena cidade do “tira casaco, bota casaco”, onde qualquer sistema de previsão do tempo está obsoleto? Além das bandas de abertura, o Septicflesh, é claro, proeminente nome do Death Metal Sinfônico mundial, que está de volta ao Brasil 6 anos depois de sua primeira apresentação.
Se você não conhece os caras, dê a mão para o tio aqui
e vem tranquilo. A banda vem da Grécia e teve 2 fases distintas, a primeira de
1994 a 2003, onde faziam um Death Metal técnico e melódico, flertando muitas
vezes com Black Metal e Doom. Provavelmente o caixa da banda andava cada vez
mais fraco, com boletos chegando e cabelos caindo, pois a banda se separou e
cada músico resolve se dedicar à outros projetos. Até que em 2008 eles resolvem
voltar com outra sonoridade, mais de acordo com a época, com muitas
orquestrações, provavelmente inspirados pelo Dimmu Borgir que fazia muito
sucesso naqueles tempos. De lá para cá eles têm esquecido a primeira fase cada
vez mais, se focando na segunda, e faturando com certeza. Money talks, my
friends. Deixando os fãs mais antigos e ‘tr00s’ um pouco decepcionados. Sejamos
honestos, o mundo é dos jovens, principalmente quando estes gastam dinheiro com
a banda.
A formação atual é Spiros Antoniou no baixo e voz,
Sotiris Vayenas na guitarra base, Christos Antoniou na guitarra solo, e Kerim
"Krimh" Lechner na bateria. Ainda bem que estamos em texto aqui, e eu
não preciso pronunciar estes nomes complicados. Vamos apenas seguir fingindo
que sabemos ler e pronunciar perfeitamente cada um deles.
Pois cá estamos novamente, em 2023, com a turnê de
divulgação do disco “Modern Primitive”, que saiu ano passado. Onde trazem orquestrações
muito inspiradas em filmes de terror modernos, cheios de cromatismos,
dissonâncias, e corais épicos, aliados ao Death Metal visceral da banda,
compõem uma sonoridade única e impressionante para qualquer apreciador do
estilo e curiosos musicais mundo afora. A banda conta também com vocais limpos
em trechos pontuais, que ao vivo saem via ‘sampler’ (pré gravados), para
balancear com os guturais que dominam a maioria do tempo.
A casa escolhida para a apresentação foi a já
tradicional Fabrique Club, que da primeira vez que botei meus pés lá, cheirava
a cimento fresco, mas hoje felizmente está muito melhor acabada e tem acomodado
cada vez mais shows de Heavy Metal em todos seus subgêneros.
Adverse
As 20:02, se dá início ao show da primeira banda da noite! Adverse, uma banda nova de Death Metal, encabeçada pela Juliana Novo (ex-Crucifixion BR) na bateria, além do guitarrista Michel Turim (ex-Crushing Souls), Jaque Albino (ex-Infestatio) no vocal e Patricia Schlithler (ex-Sinaya e Dr. Murder) no baixo. Eles acabam de lançar seu primeiro single/clipe "Hawthorn's Whispers" disponível no youtube da banda.
A pancadaria rola solta com as músicas próprias, além
de 2 covers, um do Crucifixion BR e o outro do Sepultura. Destaque para as
linhas de bateria complexas de Juliana e os vocais bem agressivos da Jaque. O
guitarrista Michel trouxe ótimos solos, e, junto à Patricia, entregam uma
presença de palco muito animada, que ganhou muito a galera, que gritou e
aplaudiu bastante entre as músicas.
Sempre fico muito feliz em ver bandas brasileiras entregando um material com personalidade, que da gosto de ouvir. A banda estreou muito bem, com um show especial e empolgante. Prestigiem bandas nacionais!
Intro
Hawthorn's
Whispers
Lights
of Hipocrisy
A Few Lies of
your Whole Light (Crucifixion BR cover)
Arise
(Sepultura cover)
Beyond
the Mist
In Element
Hermanos e hermanas, é chegada a hora dos argentinos
tomarem o palco, infelizmente com um pequeno atraso, as
20:52.
A banda que se chama de Death Metal, mas me soa mais como um Death Core, ou
Hard Core, ou qualquer coisa Core, que eu não sei nomear. Nada contra, só não é
o som que conheço, então fico devendo a hashtag correta. Apesar dos pesares,
não ficam devendo nada em peso ou velocidade.
Em algumas passagens e músicas fica claro que se trata
de uma banda bem moderna fazendo despertar em mim a sensação de que a velhice
está chegando. Como quando um desenho faz sucesso com a criançada, e nós, tiozões
pançudos, paramos para assistir 5
minutos sem entendermos nada. Fico aliviado pela banda usar máscaras, mas a
julgar pelo baterista, eu acredito que poderia ser pai de todos eles.
A banda fez um show muito intenso, não há do que
reclamar. Os jovens estavam satisfeitos, enquanto os velhos estavam com suas
respectivas barrigas coladas onde? No balcão do bar, é claro. Resmungando que
na nossa época as bandas não botavam teclados e batidas eletrônicas iguais as
de uma coletânea de sucessos de Euro Dance dos anos 90 em suas músicas.
A balada estava posta e animada, que incluiu até uma versão mega pesada e
inusitada de “In the Air Tonight” do Phil Collins.
Intro
Traitor´s Slayer (Música inédita do próximo disco “I
am the Universe”)
I Will Break Your Neck
Dark Haze (Música inédita do próximo disco “I am the
Universe”)
Until our Last Breath
In the Air Tonight (Phil Collins cover)
The Immortals Ones (Música inédita do próximo disco “I
am the Universe”)
Fear is the Virus
Septicflesh
Mas nós queremos o que? Queremos maldade! E queremos
quando? Queremos agora! Depois da sessão de ”drum ‘n’ bass com guitarra”, eu
quero rápido!
O
show começa às 22:00 com aquele clima de filme de terror, nunca sei se é só uma
introdução ou a música em si nesse tipo de banda. Mas descobri
rapidamente,
era a música mesmo. "Portrait of a Headless Man",
do disco “Codex Omega” de 2017, tem guitarras sincopadas no início, modulando
para acordes abertos mais à frente, até culminar
em trechos de skunk beat acelerados,
o aguardado Death Metal chegou. O povo, meu amigo, vibrou. Aqui a galera
começou a se apertar cada vez mais em direção ao palco.
Frio? Nenhum frio paulistano resiste ao calor humano de um show de Death Metal
recheado de fãs.
Em
seguida “Pyramid God”, do disco “The Great
Mass” de 2011,
nos entrega um Dark Metal mais moderno, com orquestrações cinemáticas gravadas
pela filarmônica de Praga. Um charme.
Depois
da introdução cheia de violões clássicos, “Neuromancer”,
do último disco “Modern Primitive”, puxa um riff bem Death Metal arrastado,
inspirado talvez em “Morbid Angel”
(“Where the Slime Live”), mas assim que a voz começa a cantar, as
orquestrações voltam e o clima muda para um som mais atual, com diversas
mudanças de batida e levada.
“The Vampire from Nazareth”,
também do “The Great Mass”, tem um dos começos mais arrepiantes com um
coral infantil tenso. A banda não poupa peso e velocidade entrando
com o resto dos instrumentos e vozes super agressivas.
“Hierophant”, também de “Modern Primitive”, é uma
música mais arrastada com harmonia tensa e backing vocals femininos.
Perfeita para a interação com o público que gritava muito empolgado seus “HEY”
sempre que solicitado.
Com “Martyr”, mais uma do “Codex Omega”, a banda
entrega um peso impressionante com o riff principal lento, que entra em dissonância
com a orquestração anterior, além de refrões macabros que são tensionados pela
orquestração perfeita.
Sempre comunicativo, o vocalista Spiros conta ao público que a próxima música é inspirada num personagem que é conhecido em muitas partes do mundo como “Satan”, mas para eles se chama “Prometheus“, a primeira que tocaram do disco “Titan” de 2014. O vocal começa em uma base de guitarra muito interessante com acordes dissonantes, e vai crescendo em tensão num refrão apoteótico recheado de corais líricos.
Com melodias inspiradas em temas do oriente médio, “A
Desert Throne”, de “Modern Primitive”, é mais uma música super pesada, mas que
dessa vez entrega clima super cinemático, com cara de trilha de filme mesmo. E
“Communion”, do disco homônimo de 2008, botou todos para agitar por começar já
com aquele lindo blast beat (levada de bateria inventada no Brasil,
diga-se de passagem, pela banda mineira Sarcófago, e chamada na época de metranca).
Ver todos os presentes gritando o nome da música no refrão foi inesquecível.
Ainda do disco “Modern Primitive”, “The Collector” já
empolgou os fãs em sua intro com instrumentos de corda e melodias árabes, em
tom de suspense. As guitarras pesadas e arrastadas se fizeram presentes mais
uma vez, convocando nossos pescoços para mais movimentos giratórios e cabelos
para o ar. A primeira parte do show fecha com “Persepolis“,
também de “Communion”. Outra música mais agressiva, rechada de blast beats insanos.
O show acabou, mas ficou aquele clima de “quero mais”
no povo. Ninguém acreditou quando a banda se retirou e tudo ficou escuro. O
país do Ivo Holanda vai cair nessa? É claro que não, seus gringo safado!
Logo voltou mais uma orquestração baixinha e tímida,
até que “Anubis”, ainda de “Communion”, chega batendo em nossa cara de forma
afável e lasciva, para deleite dos presentes, que cantaram praticamente a
música inteira, mas com mais intensidade e excitação no refrão, que se trata
apenas do nome da música, feita pra cantar juntinho.
A noite acabou tradicionalmente com “Dark Art”, de
“Codex Omega”, uma música atmosférica, cinemática, digna de algum filme Sci-fi
de alto orçamento. Arrepiando nossos pelinhos dos braços. Uma pena os vocais
limpos serem pré gravados e não ao vivo, já que se trata de um dos
guitarristas, Sotiris Vayenas, o responsável pela gravação.
O
show acabou as 23:22, com a casa quase
lotada em plena quinta-feira, com os presentes boquiabertos, suados e felizes.
Deu vontade de acender um cigarro até em mim, alguém que nunca fumou. Apenas me
deixem recobrar o fôlego enquanto deito e meus membros executam pequenos
espasmos. Uhm...
Portrait of a Headless Man
Pyramid God
Neuromancer
The Vampire from Nazareth
Hierophant
Martyr
Prometheus
A Desert Throne
Communion
The Collector
Persepolis
-Encore-
Anubis
Dark Art
Texto: Rafael
Orsi
Fotos: Bel
Santos (Fotografia)
Edição/Revisão: Gabriel
arruda
Realização: IDL
Entertainment
Mídia Press: Tedesco
Comunicação & Mídia
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